Colaboraram: Eclícia Pereira (Cursinho da Poli), Filipe Couto (Curso Pré-Enem, da Abril Educação), Vivian D’Angelo Carrera (Cursinho do XI), Eduardo Calbucci (Anglo Vestibulares) e Simone Ferreira Gonçalves Motta (Curso Etapa)
A transformação do papel da mulher na sociedade contemporânea
Contexto: A questão da transformação do papel da mulher na sociedade é um bom treino para a redação do Enem porque engloba, entre outros, tópicos relativos a mercado de trabalho e igualdade de direitos — abordagens de exames anteriores. “As redações do Enem em geral optam por temas de caráter social. A mudança do papel da mulher ainda não apareceu e, por isso, pode ser uma aposta”, diz a professora Vivian D’Angelo Carrera, do Cursinho do XI.
O primeiro passo para desenvolver esse tipo de assunto em um texto argumentativo é analisar, por exemplo, o contexto histórico da mulher na sociedade brasileira. “A história aponta para uma modificação grande e acelerada na atuação da mulher no último século. Isso fica claro quando lembramos que elas conquistaram direito ao voto em 1932 e que hoje há uma mulher à frente da Presidência da República”, diz a professora de redação do Curso Etapa Simone Ferreira Gonçalves Motta.
Apesar das conquistas, a mulher ainda não possui as mesmas oportunidades que os homens em muitas áreas e situações. Elas costumam, por exemplo, ganhar menos no mercado de trabalho para exercer a mesma função. Isso pode motivar abordagens sobre o que deve ser feito para garantir a elas direitos e oportunidades já conferidos a eles.
Desenvolvimento: Um bom ponto de partida para o tema é relembrar passagens importantes da história e, a partir disso, elaborar uma comparação entre os direitos que a mulher possuía no passado e os que possui atualmente. É o caso do já citado direito de voto. Hoje, elas são maioria no universo de eleitores do Brasil, segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As mudanças, é claro, não se restringem a essa. As mulheres obtiveram conquistas legais, mas não só. Do ponto de vista do comportamento derrubaram, especialmente após a II Guerra Mundial, antigas tradições e preconceitos. As vitórias incluem o direito de estudar, de trabalhar e de ter ou não filhos (e em que número). Nesse ponto, a transformação está intimamente ligada à revolução feminista, na década de 1960, impulsionada pela popularização da pílula anticoncepcional.
Os avanços não podem ignorar os problemas que perduram. É o caso das desigualdades no mercado de trabalho, o acúmulo de deveres dentro e fora de casa e também a violência doméstica.
Por norma, a redação do Enem cobra respeito aos direitos humanos. Ainda que a regra seja imprecisa, para dizer o mínimo, ignorá-la pode levar à anulação da dissertação. Na avaliação da professora Simone, a aplicação da norma ao tema do papel da mulher na sociedade contemporânea conduz obrigatoriamente à defesa da igualdade de direitos — inclusive entre gêneros. “Se todos são iguais, não há motivos para a mulher ser tratada de forma diferente, ganhar menos, por exemplo”, diz.
Tenha cuidado: Fuja de clichês como “sexo frágil”, que não servem mais como elogio; se mal utilizados, podem soar como preconceituoso. Não esqueça também que falar sobre abusos sofridos pelas mulheres, por exemplo, pode ser parte da dissertação, mas não o tema principal.
A questão do transporte urbano no Brasil
Contexto: Em alta desde a recente explosão de protestos pelo Brasil, iniciados com o intuito de reivindicar a revogação do aumento da tarifas de ônibus e metrô em São Paulo, o tema do transporte público urbano é pauta em qualquer roda de conversas e também na imprensa. Não se trata, contudo, de um problema recente. Por isso, a questão da mobilidade urbana, ligada à má qualidade de serviços e aos preços relativamente altos, é um bom assunto para a preparação para a redação. Pode até mesmo figurar na redação do Enem.
É importante entender que o sistema de transporte urbano está longe de atender com qualidade a população, principalmente nas metrópoles. A principal causa disso, apontam os especialistas, é a falta de planejamento urbano e a insuficiência de investimentos. Em reportagem de VEJA.com publicada em março de 2012, especialistas já apontavam que os aportes ao setor no Brasil estavam atrasados cinco décadas. O número levou em conta dois aspectos: descaso público na expansão dos sistemas de trens e metrô (principal alternativa para grandes deslocamentos em área urbanas e meio menos poluente) e falta de vontade política para a elaboração de um plano de mobilidade urbana.
Segundo Vivian d’Angelo Carrera, professora de redação do Cursinho do XI que sugeriu o tema, outro problema relacionado é o aumento dos congestionamentos nas grandes cidades. Esse fenômeno, é claro, é decorrência das questões citadas acima — que levaram à explosão do número de veículos particulares nas ruas, em detrimento de corredores exclusivos para ônibus, por exemplo.
Desenvolvimento: Um caminho possível para iniciar o desenvolvimento do tema é elencar os problemas enfrentados pela população. Além dos já citados, é possível trazer à luz as dificuldades técnicas enfrentadas pelas linhas de trens existentes (no Rio e em São Paulo há registros recentes de paralisações), a questão da mão de obra que trabalha no setor (a ocorrência de greves, por exemplo), e a superlotação de ônibus e trens.
Após esse levantamento, o candidato pode avaliar propostas de solução para o problema. Uma boa alternativa é listar exemplos de sistemas utilizados em outros países que conseguiram unir eficiência e qualidade. É o caso do transporte de Londres, que mantém uma das redes mais complexas – e funcionais – de integração urbana do planeta. O ponto de partida para a rede da capital inglesa é o metrô, que foi projetado para interligar todos os locais da cidade; em caso de problema nas linhas, uma eficiente rede de transporte alternativo serve de plano B à população. É o caso do sistema de ônibus — os famosos carros vermelhos de dois andares que trafegam em corredores exclusivos, o que garante uma boa velocidade durante a viagem.
Londres também é uma das cidades europeias que aprendeu a conviver pacificamente com bicicletas no trânsito. O exemplo poderia ser seguido pelos governantes brasileiros, criando mais ciclovias e sinalização para os ciclistas.
Tenha cuidado: Todas as providências necessárias para atacar o problema exigem investimentos por parte do governo. E gastos públicos, no Brasil, muitas vezes podem levar o candidato a discutir a questão da corrupção e desvios. Contudo, voltar a redação para esses assuntos pode caracterizar um desvio de tema, aumentando a dificuldade de conclusão do texto e apresentação de soluções, alerta a professora Vivian.
Álcool e direção: combinação fatal
Contexto: Promulgada em 2008, a lei seca tem como objetivo reduzir os acidentes provocados por motoristas embriagados, endurecendo as punições contra quem bebe antes de dirigir. Assim, um condutor abordado pela polícia passou a ser considerado legalmente bêbado através de um exame, de sangue ou de bafômetro, se é constatada uma concentração mínima de 0,10 grama de álcool por litro em seu sangue.
Em dezembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que torna mais rígidas as punições para motoristas flagrados dirigindo alcoolizados. Além do bafômetro e do exame de sangue, outros meios — como teste clínico, depoimento policial, testemunho, fotos e vídeos — passaram a valer como prova. A multa para quem for pego dirigindo bêbado é de 1.915,40 reais. E pode chegar a 3.830,60 reais se o indivíduo reincidir na infração no prazo de um ano.
O endurecimento da aplicação da lei seca também passou por mudanças em janeiro de 2013, quando o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) publicou uma medida que acabava com a margem de tolerância da quantidade de álcool por litro de sangue. Ou seja, o condutor pode ser autuado se for constatada qualquer concentração alcoólica no sangue. Porém, mesmo com a lei, o volume de acidentes de trânsito decorrentes do consumo de álcool ainda é preocupante.
Uma recente pesquisa do Ministério da Saúde, divulgada em fevereiro de 2013, apontou que 21% dos acidentes estão relacionados ao efeito do álcool. E uma em cada cinco vítimas atendidas nos prontos-socorros estava embriagada.
Na redação do Enem, o assunto pode motivar abordagens como: imprudência no trânsito e medidas para reduzir a quantidade de acidentes ligados ao álcool.
Desenvolvimento: É importante saber que desde 2008, quando a lei seca foi promulgada, não houve alteração significativa na quantidade de acidentes com motoristas embriagados. Segundo o Ministério da Saúde, em 2010, mais de 42.000 pessoas morreram em acidentes. Isso tem também um custo alto para o país. Em 2011, 200 milhões de reais foram gastos no Sistema Único de Saúde (SUS) com vítimas da violência no trânsito, valor que não considera os custos com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu), as Unidades de Pronto Socorro e Pronto Atendimento e o processo de reabilitação do paciente, entre outros.
Um caso recente, que teve repercussão nacional, foi o do motorista alcoolizado que atropelou um ciclista em São Paulo: o impacto da batida foi tão forte que o braço da vítima foi arrancado. O motorista fugiu sem prestar socorro. O acidente pode ser citado nos textos da proposta de redação, motivando discussões sobre impunidade: no caso, o jovem condutor obteve um habeas corpus na Justiça e continua solto.
Após a apresentação do problema, o candidato pode apresentar seu ponto de vista. Alguns possíveis caminhos são relatar as causas e consequências do uso indiscriminado do álcool, assim como avaliar as campanhas educativas feitas até agora pelo governo e sua real eficácia. Também é possível propor o aumento da fiscalização, assim como o enrijecimento das leis na hora de punir motoristas pegos sob o efeito de álcool.
Tenha cuidado: “Se o candidato ficar preocupado apenas com o problema do consumo de álcool e voltar à sua argumentação para a questão do vício nessa e em outras substâncias, pode ficar configurado um desvio do tema”, explica Vivian d’Angelo Carrera, professora de redação do Cursinho do XI.
Casamento gay
Contexto: Algumas nações vêm reconhecendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, caso de Argentina, França e Uruguai — o assunto está ainda na pauta de Grã-Bretanha e de váriosestados americanos. O tema também avançou no Brasil. Em 2011, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável homossexual. Em maio de 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que obriga os cartórios a realizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo — a medida ainda pode ser contestada no STF. Até então, os cartórios podiam se recusar a reconhecer tais uniões, e os casais precisavam recorrer à Justiça.
O assunto pode motivar abordagens como a igualdade de todos perante a lei ou ainda os novos arranjos familiares.
Desenvolvimento: A questão da igualdade de direitos é de fato o primeiro ponto a ser avaliado, diz Eclícia Pereira, professora de redação do Cursinho da Poli. No caso, casais homossexuais passam a ter as mesmas garantias e obrigações dos demais perante a lei.
Outra questão a ser observada é a mudança da estrutura familiar em curso. Além do núcleo tradicional — formado por pai, mãe e filhos —, estabelecem-se outros arranjos, a partir dos casais formados por parceiros do mesmo sexo. Até mesmo a adoção de crianças por esses casais pode ser um tema abordado.
Tenha cuidado: Para a redação do Enem, não importa sua opção sexual. Essa é, aos olhos dos examinadores, uma questão privada. O imporante é reconhecer no assunto um fenômeno social, que tem consequências e desdobramentos na vida de muitos cidadãos.
O petróleo do pré-sal brasileiro
Contexto: Em 2007, a Petrobras anunciou a extração de petróleo a 180 quilômetros da costa e a 7.000 metros de profundidade, logo abaixo de uma espessa camada de sal. A estimativa inicial é que existam no chamado pré-sal brasileiro — área que se estende por 800 quilômetros do litoral, de Santa Catarina ao Espírito Santo — reservas de até 80 bilhões de barris. Apesar disso, a produção só começará dentro de alguns anos, pois são necessários grandes investimentos para realizar a extração submarina.
Em seus últimos dias de governo, o ex-presidente Lula sancionou a lei que estabelece o regime da partilha da exploração do pré-sal, definindo que estado e empresas dividirão a produção de óleo e gás — à União cabera capturar a maior parte da riqueza gerada com a atividade. A primeira licitação, que dará a um grupo privado o direito de explorar a área de Libra, na Bacia de Santos, será decidida através de leilão marcado para outubro.
O assunto pode motivar indagações como quais as vantagens e desvantagens de um país como o Brasil se tornar um grande produtor de petróleo ou ainda o destino que tal riqueza deve tomar. Governo e Congresso discutem a ideia de reverter parte dos royalties do pré-sal exclusivamente para a educação.
Desenvolvimento: Um encaminhamento possível para a dissertação é observar a questão do ponto de vista econômico. Ser um grande produtor de petróleo certamente terá efeitos positivos para o Brasil. Um caminho complementar é olhar o assunto pela óptica do meio ambiente. Aqui, emerge um detalhe importante: como combustível fóssil, o petróleo não gera energia limpa — caso da eólica e da hidrelétrica, por exemplo. Além disso, é uma energia não-renovável, ou seja, um dia vai se esgotar.
"Temas ambientais são comuns no Enem. Esta pode ser a oportunidade de o aluno apresentar conhecimentos de geografia, por exemplo, e conceitos sobre sustentabilidade", diz o professor de redação do Anglo Eduardo Calbucci.
Tenha cuidado: É importante entender que não existe uma postura certa ou errada no assunto. É possível apresentar visões diferentes de mundo, contanto que o ponto de vista seja defendido com bons argumentos. Deve-se redobrar a atenção para não ficar "em cima do muro" ou se contradizer durante a argumentação.
A lei de cotas nas universidades
Contexto: A presidente Dilma Rousseff sancionou, em agosto de 2012, a lei das cotas, que reserva 50% das vagas de universidades federais a alunos oriundos de escolas públicas. A distribuição das 120.000 vagas a serem ocupadas dessa forma deverá observar ainda a cor da pele dos candidatos – sempre haverá, portanto, vagas reservadas a negros, pardos e índios na proporção dessas populações em cada estado. Metade dessas cotas é voltada a estudantes de famílias de baixa renda. As federais terão quatro anos para se adaptar às regras, sendo que, já em 2013, deverão reservar ao menos 25% das vagas.
Um tema como cotas poderia motivar diversas questões como as seguintes: as cotas universitárias podem minimizar desigualdades sociais no Brasil? Quais as prováveis consequências da adoção das cotas para as universidades brasileiras?
Desenvolvimento: A discussão sobre o sistema de cotas universitárias no Enem dificilmente discutirá se a adoção do mecanismo é certa ou errada, do ponto de vista do candidato. Isso porque as cotas já são uma realidade. Por isso, reflexões produtivas sobre o assunto devem se deter sobre as razões histórica da desigualdade entre os brasileiros e as ações possíveis para minimizá-la.
Redução da maioridade penal
O aumento de crimes cometidos por jovens com menos de 18 anos reacendeu a discussão sobre aredução da maioridade penal para 16 anos. A mudança alteraria o código do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) — que prevê que um jovem seja considerado culpado por suas ações apenas depois dos 18 anos. Isso faz com que a privação de liberdade para menores de idade infratores não supere os três anos.
Os examinadores do Enem poderiam questionar, por exemplo, qual a opinião do candidato sobre a eficácia da redução da maioridade penal.
Desenvolvimento: Para começar a refletir sobre o tema, levante questionamentos como: o que leva pessoas jovens ao crime? Por que elas trilham esse caminho? É um problema social ou de caráter? Questões como essas ajudam a desenvolver um ponto de vista; a partir de então, fica mais fácil defender uma posição ou outra.
Tenha cuidado: As regras do Enem exigem "respeito aos direitos humanos". Sendo assim, qualquer tipo de incitação à violência pode levar à desclassificação do candidato.
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