domingo 05 2012

Ex-advogado do PT, Toffoli diz ter voto sobre mensalão


Mensalão

Ao se manifestar contrário ao desmembramento do processo, ministro indica que vai participar do julgamento

Laryssa Borges
Juiz José Antonio Dias Toffoli comparece ao julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, em Brasília
Juiz José Antonio Dias Toffoli comparece ao julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, em Brasília (Ueslei Marcelino/Reuters)
O ministro José Dias Toffoli deu um claro sinal nesta quinta-feira de que não deverá se declarar impedido de participar do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar das ligações com o PT e com om ex-ministro José Dirceu, um dos réus do processo, ele participou ativamente da discussão de questões periféricas ao mérito do mensalão, como o pedido de desmembramento o processo.
“O voto que preparei sobre esse caso (mensalão) inclui a análise dessa preliminar (sobre desmembramento)”, disse o ministro.
Incumbido de defender a condenação dos réus do processo, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ainda não se manifestou sobre a eventual suspeição de Toffoli. A intervenção do chefe do Ministério Público, se levada a voto, poderia impedir a participação do ministro no julgamento do mais grave escândalo político do governo Lula.
O necessário afastamento de Dias Toffoli levaria em conta o fato de ele ter sido subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil na gestão de José Dirceu, advogado-geral da União (AGU) no governo Lula, assessor jurídico da liderança do PT na Câmara dos Deputados e, conforme VEJA revelou, advogado do próprio Dirceu no ano 2000. O hoje ministro do Supremo tinha uma procuração para agir em nome do dirigente petista em uma ação popular contra a privatização do Banespa.
Às vésperas de o mensalão ser levado a plenário, Roberto Gurgel disse que ainda analisava se pediria a suspeição de Toffoli. A participação do ministro em questões de ordem da ação penal dos mensaleiros, no entanto, já era interpretada como a intenção do magistrado de fazer parte de todo o julgamento.
Nesta quarta-feira, Dias Toffoli já havia votado, por exemplo, em uma questão de ordem sobre a possibilidade de recursos audiovisuais, como apresentações de powerpoint, serem utilizados pela defesa dos réus durante o julgamento. Ele entendeu que não deveria haver restrições a esse tipo de ferramenta, mas acabou vencido.
Ainda que em outras questões periféricas também no mensalão, o ministro também havia se manifestado favoravelmente à tese de que recursos de réus no processo fossem levados resumidamente ao Plenário, que os rejeitaria automaticamente se utilizassem argumentos repetidos. O caso foi analisado em fevereiro de 2011. Três meses depois, Dias Toffoli participou de julgamentos preliminares do mensalão ao avaliar um possível cerceamento de defesa de ex-diretores do Banco Rural.
 http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ex-advogado-do-pt-toffoli-discute-desmembramento-e-diz-ter-voto-sobre-mensalao

Mensalão Mensalão: manobras protelatórias colocam cronograma em risco Primeiro dia do histórico julgamento foi marcado pelo embate entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski


Protestos do lado de fora prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) - Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr








primeiro dia do histórico julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) acabou marcado pela discussão entre os ministros Joaquim Barbosa, relator do processo, e Ricardo Lewandowski, em função de uma tentativa de manobra do advogado Márcio Thomaz Bastos, que defende um dos réus no processo.
A discussão ocorreu após Thomaz Bastos apresentar um pedido de desmembramento do processo, o que resumiria o julgamento do STF a políticos que possuem foro privilegiado - apenas três dos 38 réus. Os demais responderiam pelos crimes imputados em instâncias inferiores do Judiciário.
"Vossa Excelência é revisor há dois anos. Por que não trouxe essa questão nesses dois anos? Por que exatamente no dia marcado, longamente antecipado?"

Joaquim
Barbosa

Ministro
do Supremo

A tese pelo desmembramento foi derrotada por 9 votos a 2. Apenas Lewandowski e Marco Aurélio Mello se alinharam à tese do desmembramento do processo, uma questão debatida desde 2006 e já superada pela Corte.
“Vossa Excelência é revisor dessa ação há dois anos. Por que não trouxe essa questão nesses dois anos?”, reclamou Barbosa. “Me parece deslealdade”, completou.
Lewandowski utilizou quase duas horas para defender o pedido de Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça do governo Lula e hoje ao lado de um dos réus. Pressionado a resumir seu entendimento, reclamou se tratar de um “julgamento histórico”, com potencial para mudar a vida de diversos réus. “O Supremo também pode errar, tanto na arte de proceder quanto na arte de julgar. E errando, não há a quem recorrer”, disse ele.
O atraso adiou a argumentação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, responsável pela acusação, e deve comprometer o cronograma estipulado pelo STF. A participação do ministro Cezar Peluso no caso também passa a correr riscos já que ele terá de deixar a Corte devido à aposentadoria compulsória. Ele completa 70 anos no dia 3 de setembro e terá de deixar o tribunal.
Toffoli - O risco de atraso no julgamento comprometeu até o pedido que Roberto Gurgel faria sobre a suspeição do ministro José Antonio Dias Toffoli. O chefe do Ministério Público admitiu que desistiu de questionar o impedimento do magistrado para evitar mais atrasos. “Decidi não pedir a suspeição. Caso isso acontecesse, poderia resultar na suspensão do julgamento e em um adiamento. Como ficou evidenciado hoje, a defesa se esforça para postergar o julgamento”, avaliou Gurgel.
Advogados dos réus contam com cada dia de protelação para pressionar o calendário e evitar a participação de Peluso.
Com a protelação conjunta dos advogados dos mensaleiros e do ministro-revisor, Ricardo Lewandowski, a exposição do procurador-geral, que vai consolidar as principais acusações contra os réus apontados como integrantes do esquema do mensalão, foi adiada para a tarde desta sexta-feira. Na ocasião, ele pedirá a condenação de 36 dos 38 mensaleiros – não viu provas contundentes contra o ex-ministro Luiz Gushiken e contra o ex-assessor do extinto Partido Liberal (PL, atual PR), Antonio Lamas.
Apenas na próxima semana, com sessões diárias no Supremo Tribunal Federal, os advogados dos mensaleiros começarão a tentar desconstruir a sólida tese de que houve compra sistemática de parlamentares para a formação da uma base governista no Congresso Nacional.
O julgamento será retomado na tarde desta sexta-feira.

Jefferson deixa hospital e diz que salvou o Brasil de Dirceu(VEJA)


Mensalão

Presidente nacional do PTB recebeu alta médica e deixou o hospital após ser submetido a uma cirurgia para retirada de um tumor no pâncreas

O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, tem alta do hospital Samaritano no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro na manhã deste domingo (05/08/2012)
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, tem alta do hospital Samaritano, no Rio (Fabio Teixeira/Futurapress)
Delator do esquema do mensalão, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, recebeu alta médica e deixou neste domingo o hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. Ele passou uma semana internado após retirar um tumor maligno no pâncreas.
"Recebi o diagnóstico de câncer com serenidade. Eu sou um guerreiro, já peitei o PT sozinho, o que eu não vou fazer com um cancerzinho de pâncreas? Dou de pau nele", disse o ex-deputado ao sair do hospital. Ele também disparou contra o ex-ministro José Dirceu, apontado pela Procuradoria-Geral da República como o chefe da quadrilha do mensalão. "A minha luta era com o José Dirceu. Ele me derrubou, mas eu salvei o Brasil dele. Ele não foi, não é e não será o presidente do Brasil. Caímos os dois, estou satisfeito."
Jefferson também comentou o julgamento do mensalão, em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) desde a última quinta-feira. Ele responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O petebista admitiu ter recebido 4,5 milhões de reais do esquema, segundo ele destinado a pagar dívidas de campanha.
“É o maior momento de afirmação da democracia no Brasil", disse. "O procurador (Roberto Gurgel) foi muito eficaz. Fez uma bela peça de acusação. Apesar de a prova ser frágil em muitos momentos, ele tem razão em muitas coisas que eu ouvi durante seu relatório de cinco horas. Falou a acusação, e agora, nesta festa democrática que estamos vivendo, falará a defesa a partir de segunda-feira."
O petebista minimizou o embate entre os ministros da Corte Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski no primeiro dia do julgamento. Lewandoswki se alinhou à tese da defesa dos réus pelo desmembramento do processo, o que restringiria o julgamento do Supremo aos três réus que possuem foro privilegiado. Os demais responderiam em instâncias inferiores da Justiça. “Eles são seres humanos como nós e, às vezes, os defeitos se avultam."
Segundo o hospital, o oncologista Daniel Tabak será responsável pelo tratamento de Roberto Jefferson. Em quatro ou cinco semanas, ele deverá ser submetido a sessões de quimioterapia. A previsão é de que o tratamento dure seis meses.

'Cinquenta Tons de Cinza' e outros tons de rosa


Livros

'Cinquenta Tons de Cinza' e outros tons de rosa

Sucesso estrondoso da obra da inglesa E.L. James sugere que, a despeito de décadas de feminismo, ser subjugada e dominada por um macho alfa ainda é a suprema fantasia feminina

Mario Mendes
Hans Neleman/ Getty Images
(Hans Neleman/ Getty Images)
Anastasia Steele é uma radiante garota na flor de seus 21 anos, prestes a se formar em literatura. Ingênua e bem-comportada, ela nunca teve sequer um namorado. Na verdade, ainda é virgem. Perto dos 30 anos, Christian Grey tem cabelos acobreados, é alto, forte, de corpo muito bem definido, porém não musculoso demais, e bi — isto é, bilionário. Os dois se encontram por acaso quando ela vai, no lugar de uma amiga, entrevistá-lo para o jornal da faculdade. A atração mútua é fulminante e avassaladora. Se Grey é a imagem perfeita do príncipe encantado dos sonhos de Anastasia, ele não suporta mais ficar um instante longe dela. Parece se tratar de uma união simplesmente divina, não fosse o fato de o magnata possuir um traço terrível e obscuro em sua personalidade. Na luxuosa cobertura envidraçada onde vive, na cidade americana de Seattle, entre valiosas obras de arte e um piano de cauda branco — que ele toca com o talento de um virtuose —, existe "o quarto da dor".
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Pornô para mamães - A trilogia de E.L. James tornou práticas sexuais nada ortodoxas palatáveis para o grande público: “As mulheres se sentiram encorajadas a voltar a falar sobre sexo”, diz a autora
Pornô para mamães - A trilogia de E.L. James tornou práticas sexuais nada ortodoxas palatáveis para o grande público: “As mulheres se sentiram encorajadas a voltar a falar sobre sexo”, diz a autora
Decorado com veludo vermelho e couro negro, o cômodo é equipado com cama gigante, almofadas confortáveis, chicotes, coleiras, correntes, algemas e todo o aparato necessário para intensas sessões de sexo sadomasoquista. Em vez de propor casamento, Grey espera que Anastasia se torne sua escrava sexual e principal objeto de prazer. "Não sou do tipo romântico", diz, em tom autoritário, para a aterrorizada porém perdidamente apaixonada donzela. Mesmo hesitante, ela aceita o desafio, que inclui total submissão, açoitamento, palmadas, olhos vendados, punhos atados e nenhum carinho. Tudo descrito nos detalhes mais gráficos, epidérmicos e voluptuosos. Conseguirá a inocente heroína conquistar o amor verdadeiro mergulhando nessa relação no mínimo doloridíssima?
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Devaneios delirantes - Apaixonada pela saga Crepúsculo, a inglesa E.L. James começoua escrever apenas como passatempo: 25% do mercado literário americano e direitos vendidos para o cinema por 5 milhões de dólares
Devaneios delirantes - Apaixonada pela saga Crepúsculo, a inglesa E.L. James começou a escrever apenas como passatempo: 25% do mercado literário americano e direitos vendidos para o cinema por 5 milhões de dólares
Esse é o enredo de Cinquenta Tons de Cinza, o livro que todo mundo está lendo, comprando, baixando na internet, comentando, recomendando, discutindo e, acima de tudo, a-do-ran-do. Devido ao caráter extremamente explícito das cenas de sexo, que vêm misturadas à linguagem simples dos romances baratos e ao enfoque descaradamente água com açúcar da história de amor, a obra já foi qualificada como "pornô para mamães" e "Cinderela tarada". Desde seu lançamento nos Estados Unidos, em março, vendeu mais de 10 milhões de exemplares em apenas seis semanas, tornando-se o maior fenômeno editorial dos últimos tempos e deixando para trás pesos-pesados como o mega-best-seller O Código Da Vinci e a saga Crepúsculo. Aliás, essa última é a verdadeira culpada pela existência de Cinquenta Tons de Cinza. Foram os romances vampirescos de Stephenie Meyer que levaram a até então desconhecida inglesa E.L.
James — ex-gerente de produção de TV, casada, mãe de dois garotos adolescentes e idade "lá pelos 40" — a escrever sua própria trilogia (as duas continuações,Cinquenta Tons Mais Escuros e Cinquenta Tons de Liberdade, estão vendendo tão bem quanto o original). Em 2008, depois de ler e se apaixonar pelas aventuras do vampiro Edward e sua amada Bella, Erika Leonard (só o sobrenome James não é o seu verdadeiro) passou a escrever variações da trama no popular site Fanfiction.net, no qual fãs podem postar histórias criadas a partir de livros de sucesso favoritos como, por exemplo, a série Harry Potter. Um dia ela decidiu ir além e começou a escrever o que viria a ser Cinquenta Tons de Cinza. O conteúdo on-line não demorou muito a atrair a atenção de uma pequena editora australiana, que propôs à autora cobrar pelo download da história e também fazer cópias impressas por encomenda. O sucesso da empreitada foi tão instantâneo e avassalador quanto a atração entre Anastasia e Grey.
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Rainha cor-de-rosa - A inglesa Barbara Cartland, a mais famosa escritora de best-sellers açucarados para mulheres: heroínas virgens que só se entregam ao amado no último parágrafo
Rainha cor-de-rosa - A inglesa Barbara Cartland, a mais famosa escritora de best-sellers açucarados para mulheres: heroínas virgens que só se entregam ao amado no último parágrafo
Quando Cinquenta Tons se tornou o número 1 na lista de e-books do The New York Times e a versão impressa se esgotou nas livrarias, as grandes editoras americanas começaram a disputar os direitos de publicação. A vitoriosa foi a Vintage Books, uma subsidiária da gigante Random House. Na semana passada, o serviço de verificação de venda de livros nos Estados Unidos, o BookScan, informou que a trilogia acabara de abocanhar 25% do mercado americano de ficção adulta, além de ter ganhado tradução para 37 idiomas. Também os direitos de adaptação cinematográfica já foram adquiridos, pela Universal e pela Focus Features, por alegados 5 milhões de dólares — um recorde que pertencia a O Código Da Vinci, comprado por 3 milhões. Detalhe: a escolha do elenco está sujeita à aprovação da autora. "Nunca, nem nos meus devaneios mais delirantes, imaginei que o livro se tornaria o que se tornou", declarou E.L. James, uma morena de humor transbordante, à editora executiva Isabela Boscov durante uma conversa num café de Londres pontuada por suas risadas e tiradas espirituosas. "A extensão da minha ambição era um dia ver o livro — um exemplarzinho só já estaria bom — na vitrine de uma livraria."
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Matriz clássica - Jane Austen, uma das maiores prosadoras da língua inglesa: os personagens de seu Orgulho e Preconceito viraram uma das inspirações para o casal improvável de Cinquenta Tons de Cinza
Matriz clássica - Jane Austen, uma das maiores prosadoras da língua inglesa: os personagens de seu Orgulho e Preconceito viraram uma das inspirações para o casal improvável de Cinquenta Tons de Cinza
"Estamos diante de um daqueles livros de suspense impossíveis de largar, espetacular e totalmente original", acredita Jorge Oakim, da Intrínseca, a editora que desembolsou 780 000 dólares para publicar a trilogia no Brasil (o lançamento está previsto para agosto) e deter os direitos da tradução em português para e-books em todo o mundo. Mas um momento: quem quer saber de suspense diante de um material quente como Cinquenta Tons de Cinza? É o sexo que interessa. Principalmente como são descritas as práticas S&M: "De maneira totalmente saudável, segura e consentida por ambas as partes", como observou um crítico americano. Metódico e cauteloso, Grey coloca em um contrato todas as suas exigências e expectativas sexuais para Anastasia. Em uma piscadela para a literatura de autoajuda, a trilogia funciona como um manual erótico para quem deseja sair da rotina sexual de um relacionamento, sem no entanto resvalar na perversão canalha ou na promiscuidade pura e simples. Além de estritamente monógamo, Grey só avança nos jogos violentos ("mas bem menos violentos que o S&M do mundo real", frisa a autora) com a absoluta aquiescência de Anastasia. Que, não obstante seus momentos de dúvida, topa tudo por amor.
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Ingênua, mas firme - Charlote Brontë: seu clássicoJane Eyre é um precursor das histórias de amor e dominação
Ingênua, mas firme - Charlote Brontë: seu clássico Jane Eyre é um precursor das histórias de amor e dominação
O tema também está longe de ser original. Submissão sadomasô é o mote de História de O, clássico erótico publicado nos anos 50 e filmado nos 70. Vale lembrar que, nos últimos setenta anos, várias escritoras — muitas delas de talento superior ao de E.L. James — se dedicaram a escrever histórias encharcadas de sexo ou livros inteiros sobre o assunto. Além disso, uma gorda fatia do mercado literário internacional se dedica aos chamados romances femininos. São livros de bolso impressos em papel barato que contam histórias de amor despudoradamente melosas, arrematadas com o esperado e inevitável final feliz e salpicadas aqui e ali com cenas mais palpitantes. A fórmula — subtraídas dela as cenas palpitantes — fez a fama da inglesa Barbara Cartland, a rainha da literatura cor-de-rosa (ela só se vestia nesse tom), cujas heroínas somente se entregavam ao amado no último parágrafo. Autora de mais de 700 títulos do gênero, Barbara vendeu mais de 1 bilhão de exemplares no mundo inteiro. Esse é também o nicho dominado pela editora canadense Harlequin — que em 1971 adquiriu outro gigante do gênero, a inglesa Mills & Boon, mantida até hoje como marca independente e milionária. Só a Harlequin lança cerca de 110 títulos por mês e, claro, também possui coleções eróticas, a exemplo da série sugestivamente intitulada Homens de Uniforme.
The Picture Desk/ AFP
Poder transformador - A Bela e a Fera, na versão do cineasta Jean Cocteau: o desejo feminino de mudar o homem
Poder transformador - A Bela e a Fera, na versão do cineasta Jean Cocteau: o desejo feminino de mudar o homem
E.L. James não esconde de onde vem a inspiração para a sua trilogia: Anastasia, a protagonista, é leitora devota do Orgulho e Preconceito de Jane Austen, do Jane Eyre de Charlotte Brontë e do Tess dos D'Ubervilles de Thomas Hardy, entre outros clássicos da literatura inglesa do século XIX. Os personagens dessas obras, aliás, emprestam traços marcantes aos seus próprios personagens: Christian Grey tem o cavalheirismo, a arrogância e a absoluta, ainda que adorável, falta de de autoconhecimento do James Darcy de Orgulho e Preconceito ("ele é homem, afinal", brinca E.L.), enquanto Anastasia é tão excitável, rápida no troco e desaforada quanto a mulher pela qual Darcy reluta em se admitir apaixonado, Elizabeth Bennet. Da mesma forma, Christian e Ana espelham o irascível Mr. Rochester e a ingênua, mas inquebrantável, Jane Eyre do romance homônimo. E, como Tess, Ana treme de medo diante da sedução do cafajeste D'Uberville e palpita de amor por Angel Clare — a diferença é que, neste caso, esses dois personagens são fundidos em Christian Grey como facetas polares de sua personalidade. "Quando me apontam essas semelhanças, porém, respondo que todas essas histórias têm a mesma matriz: A Bela e a Fera, que pode ser lida como um símbolo do poder transformador e revelador que as mulheres às vezes exercem sobre os homens — sem os quais, por sua vez, elas não podem atingir uma feminilidade plena", diz E.L.

A grande tolice com que advogados de defesa tentam ser notícia(VEJA)




Eis que vejo circulando a história de que os advogados de defesa apontam diferenças entre a acusação feita pelo procurador-geral da República na sexta e a denúncia oferecida ao Supremo no começo do processo.
E daí?
Era só o que faltava! Ainda bem! À denúncia inicial, basta apontar indícios de crime suficientes para que se abra o inquérito. No curso do processo, colhem-se as provas. É mais do que natural que haja divergências; eu diria que é uma necessidade. Tanto é assim que Gurgel pede a condenação de 36 dos 38 acusados. Em dois casos, não encontrou as provas.
É claro que o papel da defesa é “defender”. Mas existe um limite pra tolice.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-grande-tolice-com-que-advogados-de-defesa-tentam-ser-noticia/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+ReinaldoAzevedo+%28Reinaldo+Azevedo%29

Atenção, ministros do Supremo! PT acha que já pode censurar palavras na imprensa: quer impedir o emprego da palavra “mensalão”. Quem sabe um dia vocês entrem no chicote…(VEJA)




Ai, ai…
Um grupo chamado “advogados do PT” anunciou a disposição de recorrer à Justiça para impedir a imprensa de usar a expressão “mensalão”. Segundo eles, ao se referir ao caso que está no Supremo, os jornalistas têm de escrever “Ação 470”.
Um deles, chamado Marco Aurélio Carvalho, pensando estar na Coreia do Norte, afirma: “À imprensa cabe não a defesa de teses, mas explicar o que está acontecendo no processo”. Para ele, a palavra embute um juízo de valor. A direção do PT, como de hábito, não sabe de nada. Esse mesmo grupo recorreu ao TSE para impedir a realização do julgamento neste ano sob o pretexto de que há prejuízo eleitoral para o partido…
Vale dizer: o PT quer revogar os Artigos 5º e 220 da Constituição, que asseguram a liberdade de expressão. Acho que a intenção representa um excelente alerta para o Supremo: que sabem um dia os ministros entrem no chicote!
Marco Aurélio, ora vejam!, quer uma imprensa sem teses. Sei… Certamente ele não tentará nada contra os blogs vagabundos, financiados por estatais, que servem à causa. Lá, com dinheiro público, os adversários dos petralhas, os decentes, continuarão a ser tratados como cães sarnentos. Marco Aurélio acha que a gente não tem de se meter no que eles fazem com o nosso dinheiro. 
Muito bem, rapaz! Tente mesmo censurar a imprensa! Você é a verdadeira natureza do PT!
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/atencao-ministros-do-supremo-pt-acha-que-ja-pode-censurar-palavras-na-imprensa-quer-impedir-o-emprego-da-palavra-mensalao-quem-sabe-um-dia-voces-entrem-no-chicote/

Cientistas preparam-se para "7 minutos de terror" em Marte


Exploração espacial

A mais audaciosa missão ao planeta vermelho desde os anos 1970 está prestes a pousar. Mas antes que os cientistas descubram se há vida no planeta vizinho, a arriscada sequência de pouso tem que dar certo. Do topo da atmosfera até o solo, sete minutos definirão o futuro da exploração em Marte

Marco Túlio Pires
Missão vai tentar descobrir se há vida em Marte, mas primeiro precisa vencer a complicada sequência de pouso
Missão vai tentar descobrir se há vida em Marte, mas primeiro precisa vencer a complicada sequência de pouso(Divulgação)
Após oito meses de viagem interplanetária e 560 milhões de quilômetros percorridos, o jipe americano Curiosity pousará em Marte às 2h31 de segunda-feira. O principal objetivo da missão de 2,5 bilhões de dólares — a mais ambiciosa a Marte desde a década de 1970 — é encontrar vida no planeta vermelho. Mas tudo dependerá de um pouso bem-sucedido, previsto para durar sete minutos. A manobra é especialmente delicada para um jipão complexo e pesado como o Curiosity – com uma tonelada, é o mais pesado já enviado a Marte. Não é à toa que os engenheiros da Nasa batizaram esse intervalo de “os sete minutos de terror”.
Não se espera descobrir uma civilização marciana – oficialmente, o objetivo da missão é “procurar pelos tijolos fundamentais que levam à formação de vida”. Mas há grandes chances de os cientistas descobrirem que nosso vizinho foi colonizado por micro-organismos que prosperam na água salgada, poucos centímetros abaixo da superfície gelada do planeta. No fim da década de 1970, a missão Viking encheu de esperanças os cientistas ao retornar resultados “tentadores, mas absolutamente inconsistentes”, nas palavras do cosmólogo americano Carl Sagan, sobre a existência de vida no planeta vermelho. Agora, Marte será visitado por um grande laboratório móvel capaz de quebrar pedras, coletar amostrar e realizar experimentos complicadíssimos. Se a vida existe ou já existiu em Marte, essa é a melhor chance que a humanidade já teve para descobrir.
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O jipe Curiosity é o maior já lançado a Marte. Tem uma tonelada e custou 2,5 bilhões de dólares
O jipe Curiosity é o maior já lançado a Marte. Tem uma tonelada e custou 2,5 bilhões de dólares
Dez instrumentos científicos (um deles desenvolvido com a ajuda de um brasileiro), que vão desde uma estação meteorológica até um raio laser, vão escarafunchar o fundo da cratera Gale atrás de água e do passado geológico de Marte. A região fica próxima ao equador marciano, tem 154 quilômetros de diâmetro e canais que podem ter sido preenchidos por água no passado. Bem no meio da cratera há uma montanha de 5,5 quilômetros de altura. Suas rochas expostas podem "contar" a história do planeta. Assim como os geólogos conseguem descrever o passado da Terra ao analisar camadas de rocha, os cientistas da Nasa esperam conseguir o mesmo em Marte.

Única chance - Contudo, nada disso será concretizado se a sequência de pouso der errado. A Nasa já conseguiu enviar várias missões à superfície de Marte com sucesso, mas nenhum dos veículos e laboratórios que estão em operação tem o peso e a complexidade da nova missão. Por isso, não será possível aproveitar os airbags desenvolvidos para o Pathfinder (1997) e os jipes Spirit e Opportunity (2003) ou os foguetes usados com sucesso pelas missões Phoenix (2007) e Viking (1975).
A operação de pouso vai começar às 2h24 da manhã de segunda-feira. “A partir desse momento o Curiosity entra em modo automático e executará sozinho uma série de tarefas, uma depois da outra”, explica Matt Wallace, engenheiro responsável pelo sistema de voo do Curiosity, que trabalha desde 1990 no JPL, a fábrica de robôs da Nasa. Se qualquer uma delas der errado, o jipe vai se espatifar no chão. “Não há ‘plano B’. O sistema tem que funcionar”, diz. “Não é possível voltar à órbita e tentar outra sequência de pouso. Só temos uma chance.”
Guindaste aéreo - A espaçonave carregando o Curiosity entrará na atmosfera de Marte a uma velocidade impressionante: 20.000 quilômetros por hora. Por causa do atrito com a atmosfera, os cientistas desenvolveram um escudo térmico que vai proteger a nave nessa fase. Um gigantesco paraquedas vai então se abrir e reduzir a velocidade da cápsula até 320 quilômetros por hora, ainda rápido demais para o pouso. Nesse momento, a espaçonave vai abandonar o escudo térmico para abrir um campo de visão para os radares do Curiosity.
Uma vez determinada a localização, o Curiosity vai se desligar da espaçonave e de seu paraquedas. Uma série de foguetes reversos entrará então em ação para impedir que nave, paraquedas e jipe se choquem. Na etapa seguinte, os radares do Curiosity vão identificar exatamente o local de pouso. A 20 metros do chão, um cabo de 6,5 metros descerá o jipe da plataforma de foguetes, até que toque gentilmente o chão. A parafernália recebeu o apelido de “skycrane”, algo como um “guindaste aéreo”. Essa medida é necessária para impedir que os foguetes, caso se aproximem demais do chão, levantem uma nuvem de poeira capaz de danificar os instrumentos científicos. Quando o computador de bordo reconhecer que o jipe está no chão, o cabo será cortado e os foguetes levarão o guindaste aéreo para longe. Se tudo der certo, nessa hora o Curiosity enviará um sinal para casa avisando que chegou bem. 
Arte VEJA
Sete minutos de terror - Existem tantas coisas que podem dar errado durante a sequência de pouso (muito mais do que em missões anteriores), que é de se perguntar como uma solução assim recebeu sinal verde da Nasa. “É, sem dúvidas, a parte mais desafiadora da missão”, diz Wallace. “No entanto, o sistema é robusto e fizemos tudo o que podíamos para ele não nos decepcione”, diz o engenheiro.

O responsável pelo voo do Curiosity explica que os cientistas não poderão interferir na sequência de pouso porque não é possível controlar uma espaçonave em Marte em tempo real. “Um comando enviado a partir da Terra leva 14 minutos para chegar a Marte e o mesmo tempo voltar ao nosso centro de controle”, diz. Ou seja, com um atraso de 28 minutos é impossível guiar a espaçonave durante uma operação que leva "sete minutos de terror": quando os cientistas receberem a confirmação de que a espaçonave tocou o topo da atmosfera marciana, ela já estará no solo a pelo menos sete minutos. Intacta ou destruída.

Futuro - O sucesso do Curiosity não apenas pode desvendar o mistério da vida em Marte, mas abrir caminho para uma futura colonização humana. Wallace acredita que é uma questão de tempo e dinheiro. “Marte é nosso vizinho mais próximo, e há muitas similaridades com a Terra. É verdade que a exploração espacial depende de dinheiro, tecnologia e muitos outros fatores, mas o interesse em conquistar o planeta vermelho está sempre presente. Se não for a nossa geração, será a de nossos filhos, ou netos e assim por diante.”

Um texto que ouso chamar “histórico”. Ou: Márcio Thomaz Bastos, a Daslu e a sede dos canibais(VEJA)



Em julho de 2005, eu nem sonhava ainda em criar este blog. Estava no site e na revista “Primeira Leitura”. Eram dias dificílimos. Mais de uma vez ouvi nas agências que a revista publicava alguns dos melhores textos do país, mas, “você sabe como é, os homens consideram vocês inimigos; se ponho um anúncio na sua revista, vou sofrer retaliação”. Revista e site fecharam as portas em abril de 2006 por falta de anúncios, não de leitores — muitos deles migraram para este blog. Com algumas publicações alinhadas com o poder hoje em dia, acontece o contrário: não têm leitores, mas têm anúncios… de estatais! Não choramingo, não! Lamento o fim daquelas publicações e a dispersão daquela maravilhosa equipe — todos, hoje, felizmente, muitíssimo bem-sucedidos. Pessoalmente, no entanto, sofro bem menos, claro! Não preciso pensar em salário, férias e 13º dos outros…
Sigamos. Em 14 de julho de 2005 — há sete anos, portanto —, escrevi no site Primeira Leitura um texto sobre a prisão de Eliana Tranchesi, então dona da Daslu. Eu nem conhecia direito (nem eu nem ninguém) a acusação que havia contra ela. Mas pouco importava para os propósitos daquele texto. Eu estava apontando, e o artigo me parece quase quase premonitório, o espírito do tempo e os dias que nos aguardavam. O mensalão explodira havia menos de um mês.
Eliana, a dona da demonizada Daslu, se transformava num bode expiatório do “modelo Márcio Thomaz Bastos de Polícia Federal”, este mesmo Bastos que vimos tentando mandar pelos ares o julgamento do mensalão!!! O mesmo Bastos que fez da tese do “caixa dois de campanha” a tábua de salvação do governo Lula. Algumas referências do texto talvez se percam, mas o essencial se conversa. Avaliem vocês se eu estava ou não percebendo o que havia no ar…
A Daslu e a sede dos canibais
Deem um copo de sangue aos canibais, Eles estão com sede. Se Eliana Tranchesi cometeu um ou todos os crimes de que é acusada, que pague por eles. Mas já foi julgada e condenada? Digamos que seja inocente, algo a fazer com a sua reputação? Que Estado de Direito é este que primeiro pune para depois investigar? Todo empresário “deste país”, como diz aquele, deve recorrer ao STF para conseguir um habeas corpus preventivo. Sob qual pretexto? Qualquer um. A democracia à moda Putin-Lula-Chávez não precisa de motivos. Precisa de pretextos.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Quer dizer que a investigação está em curso há dez meses, e só agora se decidiu pela punição, invadindo a empresa e a casa de Eliana Tranchesi com homens armados até os dentes e coletes à prova de bala? Nada menos de 240 foram mobilizados. O que acharam que ela faria? Agredi-los com vestidos Chanel e gravatas Ermenegildo Zegna? Ainda que ela seja realmente sonegadora e tenha formado quadrilha, como se diz: a portaria de Márcio Thomaz Bastos (publicada nesta edição) foi respeitada? Vamos demolir a Daslu, como sugere ironicamente um leitor. Assim como se fez com o Carandiru. Vamos fazer da Daslu um monumento ao ressentimento e à vigarice.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Na TV, a casa de Eliana é chamada “mansão”. Vamos comer os ricos. Ricos não têm casa. Ricos têm mansão! Vamos prender Eliana Tranchesi e deixar os contrabandistas da 25 de Março à solta, já que cumprem uma função social. Vamos prender Eliana Tranchesi e deixar Marcos Valério, com seu habeas corpus preventivo (tenha o seu), à solta. E, junto com ele, Waldomiro Diniz e aqueles que compram congressistas e também os congressistas que se vendem.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. A operação se chama “Narciso”, uma referência, sei lá, às pessoas que recorrem à Daslu para satisfazer a própria vaidade, esse sentimento pernóstico nestes dias. Bonito é roubar merenda escolar. É nomear maganos do partido para a comissão de licitação nas estatais. É superfaturar serviços de propaganda para pagar mensalão. É lotear cargos públicos para achacar empresas privadas. Isso é bonito. E, depois, bater no peito e arrotar moralidade. Sim, é verdade: o governo Lula, finalmente, começou para valer.
Deem um copo de sangue aos canibais. No caso Schincariol, fez-se aquele carnaval antes mesmo que a empresa fosse autuada pela Receita. Não querem arrecadar. Querem punir para tirar o peso das suspeitas e das acusações dos próprios ombros. Reitero: se Eliana for culpada, que pague. Mas nada disso era necessário. A Polícia Federal não está defendendo o Estado de direito. Está ocupada em fazer videoclipe.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Sem a visibilidade dada à Daslu, nada disso estaria acontecendo. Não enfrentassem o governo e o partido oficial um tsunami de acusações, é provável que mesmo as irregularidades eventualmente comprovadas ganhassem um outro encaminhamento, extralegal talvez. Mas chegou a hora de dar a carcaça dos ricos aos pobres. Começou a fase Chávez do governo Lula. Que, atenção!, continuará, a exemplo do venezuelano, diga-se, absolutamente servil aos mercados e à jogatina financeira. Ou alguém acha que o Maluco de Caracas dá murro em ponta de faca? O risco da Venezuela está sempre pertinho do risco do Brasil.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Recebi mais de 40 e-mails sobre a Daslu. Os que me elogiam ou criticam, sem ofensa pessoal, estão publicados. Alguns ainda serão. Boa parte é impublicável, tal a grosseria — não contem comigo para me ofender, cambada! E tudo porque, há alguns dias, escrevi um texto sobre o preconceito e o ressentimento de que a loja e a empresária estavam sendo alvos. Ainda na coluna da Folha desta quarta, Elio Gaspari faz um gracejo com a sacola da Daslu, usada em seu texto como símbolo de alienação e elitismo. A moda pegou. Falar mal da Daslu, de Gaspari ao mais cretino dos homens, rende simpatia. Parece que foi ela que mandou Delúbio Soares ser quem é e fazer o que fez com o seu partido e com o Brasil.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. As redações já estão coalhadas com as “provas” enviadas pela Polícia Federal. Vocês conhecerão todos os “horrores” de Eliana Tranchesi antes que ela mesma saiba o que se diz dela. Assim entendem ser o Estado de Direito. Acham que, assim, não há discriminação. A regra de ouro é a seguinte: já que não há Estado de Direito para os pobres, que não haja também para ricos. Se um pobre e preto pode ser preso a qualquer momento, sem justificativa, por que não uma loura rica? É o socialismo da miséria material e da indigência intelectual. Não nos ocorre dar ao preto pobre os mesmos direitos da loura rica. A primeira coisa que se faz é cassar os da loura rica. Igualando todo mundo por baixo. Enquanto Lula faz discursos enérgicos na França sobre as injustiças sociais no… Haiti. Lula para presidente do Haiti! Eis o meu lema.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Um homem plantado pelo PT na Abin refere-se aos parlamentares da CPI como “bestas-feras num picadeiro”. O seu exagero de agora revela o escândalo pregresso: o da sua nomeação. Recuperem o que disse este senhor quando foi nomeado. Está hoje no site. Ofereceu-se para ser esbirro de um projeto de poder, não para servir ao Estado brasileiro. Assim começam a se desenhar as instituições no país sob o PT. O chefe da Abin deve cair porque ou se precipitou no seu juízo (isso deveria ser para uma etapa posterior da revolução de costumes) ou porque tornou pública a razão que sempre o animou no cargo. Mas é isso o que eles dizem lá entre eles sobre o Poder Legislativo. Mas quem merece a ameaça armada de 240 agentes é Eliana Tranchesi, presa em sua “mansão”. Vamos invadir o Palácio de Inverno dos ricos, expropriá-los, comê-los, satanizá-los, fuzilá-los. A menos que colaborem.
Deem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Márcio Thomaz Bastos, de fato, está sendo exemplar. Nunca um ministro colaborou tanto com um projeto de poder. Ninguém, como ele, consegue transgredir os limites do Estado de Direito, embora a sua ação mimetize o cumprimento de todas as suas regras. É seu mais fino e delicado operador. Chávez conta com a sua pantomima de Guarda Vermelha, os seus bolivarianos armados. O ministro da Justiça está armando a sua tropa de elite da Polícia Federal. É como se dissesse, em tom de desafio: “Vocês não reclamam da impunidade? Então, tomem!”. Reitero: se Eliana Tranchesi errou, que pague pelo seu erro. Mas será ela a merecer a companhia de agentes armados? Faz-se aqui o que Putin faz na Rússia com os seus adversários políticos, a exemplo do dono da Yukus. Arruma-se o pretexto legal para a prisão, escondendo os seus reais motivos. Democracias lidam com motivos. Ditaduras lidam com pretextos.
Os canibais fiquem certos. Não me arrependo de uma miserável linha do texto que escrevi em defesa da Daslu [eu tinha escrito um texto criticando os que atacaram a inauguração da megaloja porque eram nada mais do que ressentidos] ainda que Eliana seja culpada de tudo de que a acusam. Eu o assino de novo. Porque suas eventuais transgressões não diluem a névoa de ressentimento e canalhice invejosa que cobriu a inauguração de sua loja. Os que a hostilizavam não o faziam porque ela sonegava, mas porque a queriam responsável pelas misérias do Brasil. A nova Daslu, se não me engano, consumiu R$ 100 milhões em investimentos. Eliana trabalha há mais de duas décadas. Marcos Valério, sem produzir um parafuso ou vender uma gravata, movimentou R$ 1,5 bilhão em cinco anos. Mas o governo Lula, que começa para valer neste dia 13, já escolheu os bandidos do Brasil. Já decidiu quem vai para a cadeia e quem ajuda a governar o país.
Os canibais podem rosnar e soltar a sua baba vermelha. Não arredo pé.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/um-texto-que-ouso-chamar-historico-ou-marcio-thomaz-bastos-a-daslu-e-a-sede-dos-canibais/?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+ReinaldoAzevedo+%28Reinaldo+Azevedo%29

O Brasil que prende “pobre, preto e puta” tomará vergonha na cara para prender “político, petista e poderoso”? Com a palavra, os 11 ministros do STF. Eles decidirão que país teremos. Ou: O “domínio dos fatos”(VEJA)



Não tenho especial prazer em ser chulo — aliás, prazer nenhum, muito pelo contrário! —, mas também não temo as palavras. Ao Supremo Tribunal Federal caberá, sim, dizer se cadeia, no Brasil, continua a ser um “privilégio” que só atende aos três “pês”: pobre, preto e puta. Eu convido os ministros do Supremo, então, a democratizar a língua do “pê” e a dizer se “político” e “petista” também podem gozar desse benefício, o que significará acrescentar um outro “pê”, este sim fundamental: “poderoso”. Então ficamos assim: os ministros do Supremo dirão se o país que prende, com especial desenvoltura, “pobre, preto e puta” também tem a coragem de prender “político, petista e poderoso”. Tem ou não? É o que veremos.
Não, senhores! Eu não tenho, como sabem, a menor disposição para a vendeta de classes. Quem inventou a era de “Os ricos também choram” foi a Polícia Federal de Márcio Thomaz Bastos! E quem é Bastos? Hoje, o advogado-estrela do mensalão, apelidado de “Deus” — deve-se pronunciar o Nome D’Ele em inglês: “God”. Ainda me lembro da estrepitosa prisão de Eliana Tranchesi em 2005, por exemplo; em 2009, de novo. Nesse caso, mobilizaram-se 40 agentes da Polícia Federal para pegar a mulher em casa, de camisola. Imaginavam o quê? Que fosse reagir de arma na mão? Aí o ministro da Justiça já era outro: Tarso Genro — aquele que deu um jeito de manter no Brasil o assassino Cesare Battisti. Tranchesi, que morreu de câncer em fevereiro deste ano, foi condenada a 94 anos de prisão pela Justiça Federal! É claro que a sua prisão, nas duas vezes, foi um espetáculo midiático, o que não quer dizer, necessariamente, que não fosse merecida. Ocorre que a ideia, então, era menos fazer justiça segundo os autos e mais fazer justiça de classe. Uma empresária foi usada como a Geni do Brasil, enquanto, como é mesmo?, “a nossa pátria mãe dormia tão distraída, sem saber que era subtraída em tenebrosas transações”.
As operações espetaculosas da Polícia Federal — que têm a marca Márcio Thomaz Bastos, reitero — eram engendradas enquanto larápios se ocupavam de tomar grana do Branco do Brasil, por exemplo, para financiar operações políticas que eram do interesse do Palácio do Planalto e do petismo. Atenção! R$ 70 milhões do BB foram parar nas agências de Marcos Valério. Ao verificar os serviços prestados, encontrou-me menos de 1% do prometido. Era tudo mentira. Tranchesi sonegou impostos, deixou de arrecadar dinheiro para os cofres públicos. Tinha de ser punida, sim! — não humilhada, que isso é coisa de estado totalitário. Já o Banco do Brasil foi roubado, surrupiado. Esses são os nomes. Mas, claro!, a exemplo dos presos do filme “Carandiru”, todos são “inocentes”.
Por que escrevo esses parágrafos? Muitos ficaram chocados  — “Oh, que exagero!” — com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, quando ele pediu, clara e abertamente, a prisão dos protagonistas do mensalão. É mesmo, é? Por quê? Então estamos tão narcotizados por essa quadrilha que não podemos nem cogitar a hipótese de que gente que rouba um banco público para financiar larápios mereça mesmo é cana? Por quê? Um sonegador deixa de arrecadar — e merece ser punido, sim! Mas um ladrão subtrai. Um deixa de acrescentar o que deve; o outro tira o que não lhe pertence.
Disse Roberto Gurgel:
“Confiante no juízo condenatório dessa Corte Suprema e tendo em vista a inadmissibilidade de qualquer recurso com efeito modificativo da decisão plenária, que deve ter pronta e máxima efetividade, a Procuradoria-Geral da República requer, desde já, a expedição dos mandados de prisão cabíveis imediatamente após a conclusão do julgamento (…). Espera-se a condenação de 36 dos réus e a expedição dos mandados de prisão cabíveis. Em princípio, é algo que se aplica a todos”.
Que o leitor entenda tudo direitinho. Não estou dizendo que Eliana Tranchesi não deveria ter arcado com as consequências de seus atos, não! Deveria, sim! Em 2005, ainda no site “Primeira Leitura”, escrevi um longo texto a respeito (ver post nesta página). Eu só estou apontando agora, em 2012, sete anos depois, a grande ironia: ninguém menos do que Márcio Thomaz Bastos (aquele diante do qual se ajoelha, retoricamente ao menos, o ministro Ricardo Lewandowski), então chefe da PF que prendeu Tranchesi naquela megaoperação, é advogado de um dos acusados do mensalão e o grande esteio da defesa dos réus. Os crimes, sem sombra de dúvida, existiram. Os advogados tentarão, a partir de segunda-feira, demonstrar que nunca houve criminosos!
Cadeia, sim! Parabéns a Roberto Gurgel, procurador-geral da República, por ter tido a coragem de chamar as coisas pelo nome que elas têm.
ChateadosAdvogados que defendem os réus, alguns deles com muita penetração no que o petismo chama “mídia”, encarregaram-se de espalhar a falácia de que a denúncia de Gurgel é fraca e não traz evidências. Não é verdade! Ao contrário. Seu relatório foi muito mais consistente do que se imaginava. Os crimes estão perfeitamente caracterizados — são, na verdade, inegáveis —, e ele evidenciou, com clareza meridiana, as ocorrências segundo o que se chama em direito o “domínio dos fatos”.
Em alguns casos, a prova grita. Fim de papo! O sujeito foi lá e sacou a grana do esquema no banco. “Ah, mas era para pagar dívida de campanha…” Tanto pior se fosse! Mas poderia ser para comprar leite para os gatinhos “em situação de vulnerabilidade”, como diriam os esquerdopatas amorosos hoje em dia. Em outros casos, a prova é menos escandalosa porque deriva da ação mais sorrateira.
A defesa ficou, na verdade, chateada. Muitos por ali estavam acostumados a engravidar jornalistas pelo ouvido — “Ó, não há provas, tá?” —, que saíam por aí a reproduzir a inverdade. Ainda persiste, por exemplo, a falácia de que prova mesmo, de verdade, só com ato de ofício — um documento assinado. Não é o que está no Código Penal nem na lógica, já que o profissional da roubalheira, por óbvio, não assina papel.
Não caiam nessa conversa! A verdade é que a acusação do procurador surpreendeu os próprios advogados de defesa pela contundência. Do emaranhado gigantesco de acontecimentos, Gurgel conseguiu chegar a uma narrativa coerente, recheada de provas, a demonstrar que aquilo a que se chamou “mensalão” foi o mais ousado esquema de corrupção montado no seio do estado brasileiro.
Não por acaso, ele abriu o seu texto citando “Os Donos do Poder”, de Raymundo Faoro. O mensalão é nada menos que um aggiornamento do conhecido patrimonialismo, agora temperado por seu oposto combinado: o gangsterismo que se formou para supostamente lhe dar combate. O filme-símbolo do período que vivemos é “On the Waterfront” — ou “Sindicato de Ladrões”, como ficou conhecido no Brasil. Quem não viu deve fazê-lo hoje mesmo. Está em todas as locadoras e deve ser achável na Internet.
Os 11 do Supremo vão dizer se roubar o Banco do Brasil é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se roubar dinheiro público é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se conceder benefícios a um banco privado em troca de grana é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se comprar parlamentares e partidos com dinheiro sujo é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se agências de publicidade pagando parlamentares em nome de um partido é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer se pagar em 2003 uma campanha eleitoral feita em 2002, em moeda estrangeira, no exterior, ao arrepio de qualquer controle, é normal.
Os 11 do Supremo vão dizer, em suma, se a safadeza deve ser tomada como a medida da normalidade brasileira.
Para tanto, eles têm inteira clareza do domínio dos fatos. Uma coisa é certa: nenhum deles será esquecido. O poder petista, à diferença dos diamantes, não é eterno. Mas a memória histórica é, sim! Enquanto houver Brasil, haverá os 11 ministros que julgaram os réus do que se chamou “mensalão”. 
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-brasil-que-prende-pobre-preto-e-puta-tomara-vergonha-na-cara-para-prender-politico-petista-e-poderoso-com-a-palavra-os-11-ministros-do-stf-eles-decidirao-que/

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