quinta-feira 14 2013

Cientistas traçam mapa da resistência humana ao HIV

Aids

Pesquisadores analisaram as mutações genéticas que ocorrem no DNA do vírus, em consequência da defesa natural do corpo contra a doença

Modelo tridimensional do vírus da aids
Vírus da aids: segundo pesquisadores, novo estudo poderia levar a tratamentos individualizados, levando em conta a genética do paciente (Centro Nacional de Biotecnología (CSIC) / Comunicación CSIC)
Um grupo de pesquisadores suíços elaborou o primeiro mapa de resistência humana ao HIV, vírus causador da aids, que mostra a defesa natural do corpo contra a doença. O avanço poderá ter aplicações como a criação de novos tratamentos personalizados. O estudo foi publicado nesta terça-feira, no periódico eLife.
Quando uma pessoa é infectada pelo HIV, seu sistema imunológico devolve estratégias de defesa. Em alguns casos, elas são tão bem sucedidas que permitem controlá-lo sem o uso de medicamentos, como é o caso dos chamados “controladores de elite”, indivíduos que possuem o vírus HIV, mas não desenvolvem a aids.
Infelizmente, isso não acontece na maioria dos casos, pois o genoma do vírus também se modifica rapidamente, a fim de driblar as estratégias do sistema imunológico.  Mesmo assim, o esforço do organismo em combater o invasor deixa suas marcas no próprio vírus: mutações genéticas que indicam como ele reagiu aos ataques.
Analisando cepas do vírus que viveram em hospedeiros humanos, cientistas da Escola Politécnica de Lausanne e do Hospital Universitário de Vaud, ambos na Suíça, e diversas instituições de outros seis países, identificaram as mutações genéticas que ocorreram em resposta aos ataques do organismo. Dessa forma, reconstituíram toda a cadeia de eventos, criando o mapa da resistência ao HIV.
Combinações – Para isso, foram estudados vírus de 1 071 pacientes soropositivos. Os pesquisadores cruzaram mais de 3 000 mutações potenciais no genoma viral com mais de 6 milhões de variações no DNA dos pacientes. Com uso de supercomputadores, eles estudaram todas as combinações possíveis e identificaram correspondências entre os pacientes.
“Tínhamos de estudar as cepas virais de pacientes que ainda não tivessem recebido nenhum tratamento, o que não é comum”, explicou o pesquisador Jacques Fellay, um dos autores do estudo, em um comunicado divulgado pela Escola Politécnica. Por esse motivo, os cientistas basearam o estudo em bancos de amostras criados nos anos 1980, quando ainda não havia tratamentos eficazes contra o vírus.
Segundo os autores do estudo, esse trabalho permitiu obter uma visão mais completa dos genes humanos e sua resistência ao HIV. Isso permite não só entender melhor como o organismo se defende, mas também como o vírus se adapta a esses mecanismos de defesa. “Agora nós temos uma base de dados que vai nos indicar qual variação genética humana vai provocar que tipo de mutação no vírus”, explicou Amalio Telenti, integrante da equipe.
As descobertas podem ajudar no desenvolvimento de novas terapias contra o HIV e tratamentos individualizados, que levem em consideração as virtudes e desvantagens genéticas do paciente.
(Com agência EFE)

12 formas evitar o diabetes tipo 2

Perca a barriga


Um dos principais fatores de risco para o diabetes tipo 2 é o acúmulo da gordura visceral, ou seja, a gordura acumulada na região abdominal que também se concentra no fígado e entre os intestinos. “Essa gordura obriga o pâncreas a produzir cada vez mais insulina para que a glicose consiga entrar nas células. Esse excesso estimula uma série de mudanças no metabolismo, como aumento da pressão arterial e das taxas de colesterol no sangue”, explica Carlos Alberto Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Portanto, o ganho de peso pode significar o aumento da gordura visceral e, consequentemente, do risco de diabetes tipo 2.

Faça 30 minutos de atividade física diária

Muitos estudos já relacionaram o exercício físico ao menor risco de diabetes tipo 2, assim como outras pesquisas mostraram que o sedentarismo pode levar ao desenvolvimento da doença. Em 2002, um estudo clássico sobre diabetes, o Diabetes Prevention Program (DPP), mostrou que uma mudança no estilo de vida é melhor para evitar a doença do que medicamentos como a metformina, que reduz a resistência à insulina. Essa mudança no estilo de vida significa 150 minutos de atividade física por semana, uma melhora na alimentação e a perda de 7% do peso corporal em seis meses. “Embora a pesquisa tenha sido feita há dez anos, seus resultados foram comprovados pelos estudos que vieram depois”, diz Carlos Alberto Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Cuidado com o sono

Um estudo da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, que foi publicado neste ano mostrou que dormir mal — ou seja, pouco ou de forma inconstante — aumenta o risco tanto de obesidade quanto de diabetes. Isso ocorre porque noites mal dormidas alteram o relógio biológico e retardam o ritmo metabólico. Essa redução pode significar um aumento de 4,5 quilos ao ano sem qualquer alteração da prática de atividade física ou dos hábitos alimentares. Com isso, há o risco do aumento de glicose e resistência à insulina no organismo, fatores que podem levar ao diabetes.

Controle o stress

Por diferentes motivos, o stress pode elevar o risco de uma pessoa desenvolver diabetes tipo 2. Uma pesquisa feita no Canadá com mais de 7.000 mulheres, por exemplo, concluiu que o stress no trabalho chega a dobrar o risco de mulheres terem a doença. Os autores desse estudo mostraram que o problema emocional está ligado a um maior consumo de alimentos gordurosos e calóricos e a um maior sedentarismo, fatores que aumentam as chances de desenvolver a doença. Além disso, o trabalho sugeriu que o diabetes se favorece por perturbações geradas nos sistemas neuroendocrinológico e imunológicos, que provocam maior produção de hormônios como o cortisol e a adrenalina.

Coma pouco e devagar e não faça jejum

Comer muito, especialmente alimentos calóricos e gordurosos, aumenta o acúmulo da gordura abdominal, um fator de risco importante para o desenvolvimento do diabetes tipo 2. No entanto, não é só a qualidade e a quantidade do que se come que interfere nas chances da doença aparecer. De acordo com uma pesquisa apresentada no Congresso Internacional de Endocrinologia, em maio deste ano, na Itália, a incidência do diabetes é maior em pessoas que comem muito rápido em comparação com quem come mais devagar. O risco, segundo esse estudo, pode chegar a ser 2,5 vezes maior. A frequência com que comemos também interfere nessa probabilidade: uma pesquisa apresentada durante a FeSBE (Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental) de 2011, mostrou que intercalar períodos de jejum e comilança pode causar diabetes, perda de massa muscular e aumentar a produção de radicais livres

Sempre que puder, evite comer gordura

A gordura abdominal favorece a resistência a insulina, quadro que está relacionado ao diabetes tipo 2. Portanto, alimentos gordurosos são fatores de risco para a doença, como provaram diversos estudos sobre o assunto. Pesquisadores da Harvard, por exemplo, concluíram que o risco de desenvolver diabetes tipo 2 aumenta 51% se forem consumidos 50 gramas de carne vermelha processada por dia, e 19% se forem ingeridos 100 gramas diárias de carne vermelha não processada. No entanto, algumas mudanças nos hábitos alimentares podem evitar a doença. No mesmo estudo, esses especialistas mostraram que se uma pessoa que consome 100 gramas de carne vermelha todos os dias substitui o alimento por frutas secas para obter a mesma quantidade de proteínas, o risco diminui em 17%. Este número aumenta para 23% se forem consumidos cereais integrais.

Prefira alimentos integrais

Os alimentos integrais, como pães e arroz, por exemplo, são excelentes alternativas para substituir alimentos que possuem farinha de trigo, como o pão francês. Esse tipo de comida é conhecida por elevar rapidamente as taxas de glicose no sangue, o que pode favorecer o surgimento do diabetes tipo 2, especialmente entre pessoas com maior risco da doença. Açúcar branco, frutas em calda enlatadas e batatas também possuem alta carga glicêmica. "Quanto menor o índice glicêmico, melhor para o paciente evitar a doença. Alimentos ricos em fibra e integrais são ideais para isso", diz o médico Celso Cukier. 

Coma frutas, mas não exagere

Frutas fazem parte de uma alimentação saudável e devem ser ingeridas todos os dias. Porém, há uma grande disparidade na quantidade de frutose, o açúcar das frutas e do mel, que elas contêm. Como ela é metabolizada diretamente pelo fígado, não precisa de insulina para sua quebra primária. Porém, isso não permite o seu consumo em excesso. "A fruta tem muito carboidrato e frutose, mas ela não pode ser eliminada da dieta. Por isso, pessoas predispostas ao diabetes tipo 2 devem evitar as mais adocicadas, como as uvas ou o caqui, ou então consumí-las de forma moderada", diz Roberto Betti, coordenador do Centro de Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Coma queijo e iogurte, mas não exagere

Duas fatias de queijo ou meio pote de iogurte (55 gramas) por dia podem reduzir o risco de diabetes tipo 2 em 12%. O restante dos laticínios, porém, não surtem o mesmo benefício, embora não aumentem o risco da doença. Essas foram as conclusões de um estudo holandês publicado em julho deste ano. Segundo os autores dessa pesquisa, como o queijo, além das gorduras saudáveis, também contenha gordura saturada, o excesso desse tipo de alimento não é recomendado. "Alguns estudos já mostraram que existe uma inteiração entre as células de gordura e o cálcio que ajuda a prevenir a obesidade. No entanto, é preciso tomar cuidado com os excessos", diz Celso Cukier, nutrólogo do Hospital Albert Eistein.

Beba café descafeinado

Por causa do efeito da cafeína, o café nem sempre é recomendado a pessoas que apresentam tendência a ter doenças cardiovasculares. No entanto, um estudo americano publicado no início do ano mostrou que a bebida descafeinada, além de não provocar condições como pressão alta, pode proteger o organismo contra diabetes tipo 2. "Vários estudos mostraram que os antioxidantes presentes em bebidas como café e chá podem, de alguma forma, reduzir o risco do diabetes. O que falta sabermos é qual a quantidade e o tipo ideais da bebida que surtem tal efeito", afirma Celso Cukier, nutrólogo do Hospital Albert Einstein.

Se beber, vá de vinho tinto

Várias pesquisas já provaram os benefícios do vinho tinto à saúde (desde que consumido moderadamente). Por isso é possível considerar uma taça ao dia como um aliado na diminuição do risco de diabetes tipo 2, como confirmaram os resultados de um estudo da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida, em Viena, na Áustria. Porém, além do teor alcoólico, o vinho também pode ser extremamente calórico. Portanto, o exagero não só não reduz as chances do diabetes, como também eleva o risco.

Coma amêndoas

Pelo menos de acordo com os resultados de um estudo americano publicado no final de 2010, as amêndoas são armas poderosas contra o diabetes tipo 2, especialmente entre pessoas que têm predisposição à doença — ou seja, com níveis de glicose no sangue acima do normal ou com histórico familiar da condição. Segundo a pesquisa, esses alimentos aumentam a sensibilidade à insulina e, consequentemente, reduzem os níveis de açúcar na corrente sanguínea.

Diabetes causa uma internação a cada 24 minutos em SP

Saúde pública

No Dia Mundial do Diabetes, levantamento mostra que 60 pacientes, em média, são internados por dia na rede pública estadual por complicações da doença

Diabetes
Diabetes: Pessoas com a doença precisam controlar a taxa de glicose no sangue (Thinkstock)
A cada 24 minutos, uma pessoa é internada em algum hospital público de São Paulo por complicações do diabetes. É o que mostra um levantamento da Secretaria de Saúde do estado divulgado nesta quinta-feira, Dia Mundial do Diabetes. 
De acordo com o órgão, entre janeiro em agosto deste ano, 14 222 pacientes foram internados na rede pública paulista por esse motivo, uma média de quase 60 pacientes ao dia. Em todo o ano de 2012, foram registradas 22 076 internações (61 por dia, em média) e, em 2011, 23 250 (64 por dia, em média).
Uma pesquisa recente mostrou que, no Brasil, 34% dos diabéticos não sabem se têm o tipo 1 ou 2 da doença. O dado é preocupante, uma vez que os problemas possuem causas, complicações e tratamentos diferentes.
O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, que ocorre quando o corpo passa a atacar o próprio organismo. Nesses pacientes, o pâncreas deixa de produzir quantidade suficiente de insulina, o hormônio que ajuda a controlar a taxa de açúcar no sangue. Pessoas com a condição precisam medir seus níveis de glicose várias vezes ao dia e repor a insulina por meio de injeções. O tipo 2 da doença, por outro lado, é uma consequência principalmente do excesso de peso, mas o fator genético também aumenta o risco da condição. Manter um peso saudável, praticar atividades físicas e não fumar são as melhores formas tanto de diminuir o risco da enfermidade quanto de evitar que ela se agrave.

Brasil - Regime Militar

Entre 1964 e 1985, o Brasil foi governado pelos militares. Durante esse período, as instituições democráticas sofreram restrições, as liberdades individuais foram limitadas e a imprensa foi censurada. Em contrapartida, a economia do país teve um crescimento inédito. Lançada em 1968, VEJA viveu e registrou durante 17 anos o cotidiano brasileiro sob o comando dos generais. Poucos meses após a estréia da revista, o Ato Institucional nº 5 fechou o Congresso, cassou o mandato de mais de meia centena de políticos e suspendeu as garantias constitucionais. VEJA foi uma das primeiras vítimas do AI-5: a ediçãosobre o ato que endurecia o regime foi recolhida das bancas em dezembro de 1968. Por uma década, a sigla marcaria a fase mais feroz dos 21 anos de ditadura.

Agora a coisa vai.
Frase ouvida de um militar após o AI-5 (19/12/1968)
Se de um lado o estado massacrou liberdades básicas dos cidadãos, de outro, um punhado de jovens radicais e organizações de esquerda entraram no delírio de derrubar o regime na base daluta armada. As diferentes formas de resistência ao governo fardado renderam uma série de capas históricas, como a docongresso clandestino da UNE em Ibiúna, em 1968, ainda antes do AI-5. Ali, só podiam entrar os estudantes que tivessem em mãos um exemplar de VEJA daquela semana - a revista era a "senha". De leitores, os estudantes passariam a protagonistas da revista. Ao serem descobertos e presos, estamparam a capa da semana seguinte.

(...) Os rapazes e moças enrolados em cobertores coloridos, no frio do começo da tarde de sábado passado, não pareciam os perigosos líderes estudantis do Brasil inteiro, presos durante o 30º Congresso da ex-UNE. (...)

"O congresso interrompido", 16/10/1968
Também marcaram época o seqüestro do embaixador americano por um grupo guerrilheiro em 1969 e a perseguição a Carlos Marighella, o mais destacado líder da luta armada. A morte do ex-capitão de infantaria Carlos Lamarca, que trocou a farda pela subversão, também seria destaque em 1971.

(...) Surpreendido numa armadilha, cercado por quase quarenta policiais, Marighella não se rendeu. E foi aniquilado. Nem chegou a pegar sua arma. Está enterrado em cova rasa. (...)
"Estratégia para matar o terror", 12/11/1969
Ainda no fim de 1969, com duas reportagens de capa sobre o tema, VEJA se tornou o primeiro órgão de imprensa do país a investigar de maneira abrangente e detalhada a prática de torturas nos porões do regime militar. Duas décadas depois, já finda a ditadura, a revista publicaria outra capa sobre o assunto, desta vez com a inédita confissão de um torturador.

 A tortura causa um desgaste muito grande. Nunca me neguei a torturar alguém, mas só fazia quando havia necessidade. Mas a brincadeirinha não tem a menor graça, viu?

Marcelo Paixão de Araújo, ex-tenente (9/12/1998)
Na primeira metade dos anos 1970, o milagre econômico do governo militar exibia resultados, traduzidos em grandes obras de infra-estrutura, como estradas, hidrelétricas e redes de comunicação. Essa era a face benigna do regime. A maligna começaria a de desintegrar em 1978, com o fim mais do que tardio do AI-5. No mesmo ano, uma sentença que declarou a responsabilidade da União no caso do jornalista Vladimir Herzog - preso, torturado e morto nas dependências do DOI-CODI paulista -, colocou o Brasil no degrau das nações civilizadas, onde a administração pública responde pelos atos de seus agentes.

A decisão do juiz reabre uma participação real da Justiça na vida do país, como poder independente.

Raymundo Faoro, da OAB, no caso Herzog (1/11/1988)
A partir de 1979, a anistia foi o tema que dominou os debates. VEJA acompanhou a decisão do presidente Figueiredo desde o nascedouro até a conclusão do projeto de lei. Naquele ano, o general concedeu à revista a primeira entrevista exclusivaformal a um órgão de imprensa desde o golpe militar de 1964. O presidente que assinou a anistia e permitiu a transição para o poder civil foi o militar que mais vezes apareceu na capa de VEJA.

(...)Golbery, de olhos postos no futuro e sobretudo na sucessão presidencial, não parece interessado em discutir suas decisivas passagens pelo poder nos últimos vinte anos. Medici também acompanha com atenção os movimentos na ribalta, mas revela a preocupação de fazer a defesa de seu governo. (...)

"O momento de falar", 16/5/1984
Quando a campanha pelas eleições diretas evidenciava o ocaso do regime, a revista conseguiu também entrevistas históricascom dois personagens fundamentais da história do Brasil: Golbery do Couto e Silva e Emílio Médici, que quebraram o silêncio para uma edição de maio de 1984.

Restos mortais de Jango são recebidos em Brasília

Política

Cerimônia teve a participação de Dilma Rousseff e de três ex-presidentes; restos mortais passarão por perícia para averiguar as suspeitas de homicídio

Cerimônia de chegada a Brasília dos restos mortais do Presidente João Goulart

Os restos mortais do ex-presidente João Goulart chegaram nesta quinta-feira a Brasília e passarão por exames para averiguar a causa da morte do último ocupante do Palácio do Planalto antes do golpe de 1964. A urna funerária foi recebida no fim da manhã, na base aérea da capital federal, em uma cerimônia com as honras de estado que Jango não teve quando morreu, em 1976, na Argentina. 
A exumação do corpo teve início nesta quarta-feira, em um trabalho que durou dezoito horas e só foi concluído na madrugada desta quinta. Jango havia sido sepultado em São Borja (RS).

A presidente Dilma Rousseff, os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Collor e José Sarney estiveram presentes na cerimônia realizada na Base Aérea, ao lado de ministros, parlamentares e familiares do ex-presidente.

A urna funerária, coberta com a bandeira do Brasil, foi retirada do avião da Força Aérea por militares das três forças armadas. Vinte e um tiros de canhão foram disparados enquanto o Hino Nacional era tocado.

Ao lado de Maria Tereza Goulart, a viúva de Jango, Dilma depositou uma coroa de flores sobre a urna funerária. A bandeira que cobria os despojos foi entregue pela presidente à ex-primeira dama, que estava bastante emocionada. Não houve discursos.

Os restos mortais serão analisados pelo Instituto Nacional de Criminalística, mantido pela Polícia Federal. Não há prazo para a conclusão dos trabalhos. Há a suspeita de que a morte de Jango tenha sido provocada por agentes do regime militar. Os documentos oficiais falam em morte natural.
Após o evento, Maria Tereza Goulart disse estar agradecida pelas homenagens: "Foi um momento que não vou esquecer mais na minha vida. Fez até a gente esquecer um pouco do passado". Ela também explicou que, como o marido morreu fora do Brasil, a realização de uma autópsia detalhada não era uma opção viável na ocasião. "Na época, a gente estava muito longe, não houve esse momento de fazer uma autópsia. Ninguém foi capaz de fazer", disse.
Em sua página no Twitter, a presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira que o ato é "uma afirmação da nossa democracia". "Hoje é um dia de encontro do Brasil com a sua história", disse ela. A presidente também definiu a cerimônia como um "ato histórico".

À espera do Supremo, mensaleiros se preparam para prisão

Justiça

Advogados de Valério, Dirceu e Pedro Corrêa afirmam que seus clientes aguardam apenas expedição de mandados para se entregar à polícia

STF discute cassação de deputados condenados pelo mensalão, em 10/12/2012

  No dia seguinte à sessão em que o Supremo Tribunal Federal determinou a prisão imediata do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e da cúpula do mensalão, os réus afetados pela decisão da Corte já se preparam para entregar-se à polícia assim que os pedidos de prisão forem expedidos pelo STF. Dessa forma, pretendem se antecipar a ações policiais para o cumprimento dos mandados, como explicou ao site de VEJA Marcelo Leonardo, o advogado do operador do esquema, Marcos Valério, condenado a 40 anos e 4 meses de prisão. “Valério se entregará assim que o mandado de prisão for expedido”, disse o defensor, que evitou falar sobre a preparação psicológica do réu. “Não comento sobre o estado de espírito do meu cliente.”
Condenado por comandar o esquema criminoso, Dirceu já voltou da Bahia, onde descansava, para São Paulo. E aguarda a decisão do Supremo. Segundo afirmou seu advogado, José Luís de Oliveira Lima, à Rádio Estadão, o ex-ministro aguarda a expedição do mandado de prisão para apresentar-se à polícia. Também de acordo com Lima, os dois terão uma reunião ao longo do dia para acertar os trâmites. "Ainda não está claro onde será cumprido o regime semiaberto, se será no Distrito Federal ou no domicílio. Ele mora e trabalha em São Paulo. Vamos aguardar o dia de hoje para que a gente possa ter uma linha mais clara", disse. “Às 16 ou 17 horas a curiosidade de todos será atendida.”
A redação da sentença definitiva, com o cálculo da pena inicial de cada réu, será proferida pelo presidente da Corte, ministro Joaquim Barbosa, nesta quinta-feira. A tendência é que Dirceu comece a cumprir sete anos e onze meses de prisão em regime semiaberto. Esse tempo ainda poderá subir para dez anos e dez meses, o que fará com que ele migre para o regime fechado, se a Corte rejeitar seu embargo contestando a prática do crime de formação de quadrilha. O ex-presidente do PT na época do escândalo, deputado José Genoino (SP), e o ex-tesoureiro Delúbio Soares também vão começar a cumprir pena em regime semiaberto. Já Valério seguirá para regime fechado.
Condenado pelo Supremo a sete anos e dois meses de prisão no regime semiaberto pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva no processo do mensalão, o ex-presidente nacional do PP, Pedro Corrêa também aguarda a expedição do mandado de prisão para se entregar à Justiça. Ele se encontra na sua fazenda, Boa Esperança, no município de Brejo da Madre de Deus, no agreste pernambucano. "Ele já esperava a condenação e assim que for intimado vai cumprir o que a justiça determinar", informou seu filho, o advogado Fábio Corrêa, provável candidato a deputado federal, em entrevista, nesta quinta-feira, no calçadão da praia de Boa Viagem, no Recife, defronte do prédio onde ele e o pai moram. De acordo com o advogado, o pai não está tranquilo porque "ninguém fica tranquilo para ser preso", mas embora tenha brigado judicialmente pela sua liberdade, vai fazer o que for determinado pela justiça. "Ele não vai fugir, já entregou o passaporte", adiantou. A Polícia Federal em Pernambuco aguarda o mandado de prisão do ex-deputado.
Já o ex-deputado Roberto Jefferson, delator do esquema criminoso, comentou a decisão da Suprema Corte em seu blog. Sob o título "Nem tudo está perdido", o texto publicado às 9h56 desta quinta-feira diz: "Há oito anos denunciei ao país o maior escândalo que jamais presenciei no Planalto Central desde que me tornei deputado. Tudo realizado por quem, por décadas, apontou o dedo para muitos, acusando-os de corruptos, dando início à nefasta judicialização da política brasileira. Fui cassado e tive meus direitos suspensos por 10 anos; ontem [quarta-feira], a Corte Suprema do meu país decretou minha prisão. Estou satisfeito com a decisão? Mentiria se dissesse que sim; conforta-me, porém, a crença de que a política brasileira, daqui para a frente, pode ser melhor". Às 9h58, Jefferson mudou de assunto. Numa postagem breve, de título "Voltamos quando Deus quiser", disse: "Amanhã o Brasil comemora a Proclamação da República. Um bom feriado a todos. E não esqueçam: se forem dirigir, não bebam."
Ex-diretor do BB - Condenado no processo do mensalão a 12 anos e sete meses de prisão, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato estaria há pelo menos dois meses longe de seu apartamento, uma cobertura na rua Domingos Ferreira, em Copacabana, na zona sul do Rio. Helena Godoy, 76 anos, mora no 4º andar do mesmo prédio desde a infância. Diz que Pizzolato é "bom vizinho" e que se dá bem com a mulher dele, mas afirma que ele pessoalmente não é visto há algum tempo e que provavelmente estaria em propriedades da família em Santa Catarina.
Helena afirma que Pizzolato vinha fazendo nos últimos meses um trabalho pessoal de relações públicas, para melhorar sua imagem perante os vizinhos. Ele distribuiu para os condôminos um exemplar da revista "Retrato do Brasil", cujo título da edição de março e abril é "A construção do mensalão" - uma coleção de reportagens e artigos contrários à sentença do Supremo Tribunal Federal (STF) que condenou os réus envolvidos no escândalo. Uma das reportagens trata diretamente do caso do Banco do Brasil, intitulado "Não viu quem não quis: os R$ 73,8 milhões do BB foram gastos à vista de todo o País". Helena não acredita nem desacredita da versão do vizinho. "Ele distribuiu um outro lado da história. São argumentos válidos, mas no final a gente fica sem saber a verdade", afirma.
Vizinhos e funcionários do condomínio dão versões desencontradas sobre os últimos meses de Pizzolato. Alguns afirmam que ele parecia muito bem, alternando períodos no Rio e em Santa Catarina. Outros dizem que ele teria perdido peso e que estaria passando por depressão profunda.
(Com Estadão Conteúdo)
 http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-espera-de-ordem-do-stf-mensaleiros-se-preparam-para-prisao                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         

Cientistas brasileiros pedem fim dos testes de cosméticos em animais

Pesquisas com animais

Pesquisadores divulgam manifesto que reafirma a importância do uso das cobaias em estudos científicos, mas defendem que prática seja abandonada nas pesquisas de cosméticos

Guilherme Rosa
experimentos
Segundo os pesquisadores, a área de cosméticos pode ser considerada menos essencial, e já existem técnicas capazes de substituir os animais usados nessas pesquisas (Thinkstock)
Um novo manifesto assinado em conjunto pelos presidentes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe) defende o uso de animais como cobaias em experimentos científicos, mas afirma que seu uso pode — e deve — ser abandonado nos testes de cosméticos. Segundo o documento, esse tipo de procedimento já é proibido em alguns países do mundo e o setor conta com técnicas capazes de substituir os modelos animais.
A SBPC reúne mais de 6 000 pesquisadores de diversas áreas, com o objetivo de defender o avanço da ciência no Brasil. Já a Fesbe congrega sociedades científicas brasileiras de áreas voltadas à biologia experimental, como a biofísica, bioquímica, farmacologia, fisiologia, imunologia e neurociências — todas elas envolvidas diretamente com as pesquisas com modelos animais.
O documento afirma que o uso de animais em pesquisas científicas é essencial para o desenvolvimento científico brasileiro. Esse tipo de estudo já trouxe inúmeros benefícios para a humanidade, como "vacinas, medicamentos, desenvolvimento de próteses e cirurgias, terapias com células tronco e terapia gênica", diz o manifesto.
Segundo o documento, os pesquisadores têm realizado um esforço para reduzir o número de animais utilizados em suas pesquisas, fazendo o planejamento racional dos experimentos e substituindo-os por métodos validados sempre que possível. O uso desses métodos alternativos é, inclusive, exigido pela legislação brasileira. O problema é que, por enquanto, não existem métodos alternativos capazes de substituir por completo os animais. Não é possível simular toda a complexidade do corpo humano em pesquisas que buscam desenvolver novos medicamentos e vacinas, por exemplo.
Cosméticos — Segundo o documento, o mesmo não se aplica às pesquisas com cosméticos. "O uso de animais para testes cosméticos é menos essencial e metodologias alternativas validadas podem substituir o uso de animais para esse fim", diz o manifesto.  Esses testes já são proibidos em alguns países, como Índia, Israel e toda a União Europeia, e estão sendo abandonados pela maior parte da indústria. No Brasil, a lei ainda permite esse tipo de estudo.
O documento destaca, no entanto, que antes da proibição completa dessa modalidade de estudo no país, são necessárias algumas mudanças na legislação. Se elas não acontecerem, as técnicas alternativas usadas ao redor do mundo não poderão ser adotadas no Brasil. A Lei 9434/97, por exemplo, impede a comercialização de kits de pele humana, uma das ferramentas alternativas mais usadas no mundo para testar a irritabilidade dos cosméticos. "Esse kit certamente já poderia ser produzido e comercializado no Brasil, se não fossem as barreiras legais", diz o manifesto.
O próprio Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), órgão responsável por regulamentar as pesquisas com modelos animais no Brasil, cogita proibir o uso dessas cobaias nos testes de cosméticos. Em entrevista concedida ao site de VEJA em outubro, Marcelo Morales, coordenador do Concea, afirmou que o órgão estuda mudar as regras referentes a esse tipo de pesquisa, mas espera que os impedimentos legais sejam resolvidos antes disso.

“A comunidade científica está preocupada em acabar com os testes de cosméticos em animais de laboratório” 

Luiz Roberto Britto 
Pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e vice-presidente da Fesbe

Os testes com animais são mesmo imprescindíveis? Existe um consenso na comunidade acadêmica de que a pesquisa com animais é absolutamente fundamental, pois só assim é possível desenvolver novos medicamentos, vacinas e procedimentos médicos. A expectativa de vida no Brasil tem aumentado nos últimos anos, e não tenho medo de afirmar que boa parte desse aumento aconteceu por causa de pesquisas na área médica e biológica — e, para isso, a pesquisa com animais ainda é essencial. Esses testes também são importantes para a saúde animal. Quando cachorros e gatos domésticos são vacinados de forma segura, isso só acontece porque pesquisas foram feitas anteriormente.
Algum dia os métodos alternativos serão capazes de substituir por completo os modelos animais? É até possível que um dia a tecnologia chegue nesse estágio, mas não consigo ver isso acontecendo nas próximas décadas. Nos últimos anos, uma série de métodos alternativos, como as culturas de células, ajudou a diminuir o uso de animais usados em laboratório, mas estamos muito longe de poder fazer isso por completo. Não existe nenhum método alternativo para o teste de vacinas, por exemplo. De qualquer forma, os novos métodos e a nova legislação brasileira [de 2008] têm ajudado a diminuir em muito o número de animais usados em pesquisas.
E por que vocês defendem o fim do uso de animais nos testes de cosméticos? A pesquisa na área de cosméticos envolve uma questão que, para muita gente, pode parecer superficial, pois não é tão crucial quanto a saúde humana e animal. É preciso deixar claro que isso é discutível: a cosmética não trata só da beleza. Pesquisas nessa área podem levar ao desenvolvimento de produtos que visam tratar doenças de pele, por exemplo. Ainda assim, a comunidade acadêmica está preocupada em acabar com os testes de cosméticos em animais de laboratório. Acontece que existem diversos métodos alternativos que podem ser adotados para as pesquisas de cosméticos, como os kits que simulam a pele humana. Sendo assim, essa é uma área onde estamos muito próximos de acabar com o uso de animais.

Dinheiro de propina ficava guardado em armário da prefeitura

São Paulo

O auditor Eduardo Horle Barcellos detalhou o esquema de pagamento de propina, nesta terça-feira, ao firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público para reduzir sua pena

Felipe Frazão
Quatro agentes ligados à subsecretaria da Receita da gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab foram presos por suspeita de integrar esquema de corrupção que causou prejuízos de pelo menos R$ 200 milhões aos cofres públicos nos últimos três anos, segundo o Ministério Público (MP), em São Paulo
Os armários da Secretaria de Finanças serviram de depósito para as enormes somas de dinheiro de propina pago por construtoras aos auditores fiscais acusados de fraudar o pagamento do imposto sobre serviços (ISS). A informação foi revelada pelo auditor Eduardo Horle Barcellos, em depoimento nesta terça-feira, ao firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público. 
O auditor investigado, que decidiu colaborar com a investigação a fim de obter redução de pena, tem ajudado a detalhar o funcionamento do esquema. "Ele fala que quando o Ronilson saía de férias, os pagamentos continuavam. Os envelopes com dinheiro eram guardados num armário dentro da subsecretaria aguardando o Ronilson voltar e assumir as suas funções", disse o promotor Roberto Bodini nesta quarta-feira. "O gabinete funcionou como uma subsecretaria pessoal", completou.   
Segundo relato de Barcellos, Luis Alexandre de Magalhães e Carlos Augusto di Lallo Leite do Amaral trabalhavam no Edifício Andraus, sede do Departamento de Arrecadação e Cobrança (Decar). Lá, as empresas cooptadas pelo esquema davam entrada no processo e negociavam o valor a ser pago - desconto de 50% do imposto devido, sendo 30% a título de propina. Barcellos nega que houvesse achaques, conforme versão das construtoras. Magalhães e Amaral separavam, então, as partes de Ronilson Bezerra Rodrigues e Eduardo Horle Barcellos, que recebiam maços de notas no Edifício Matarazzo, onde funcionava o gabinete da Subsecretaria da Receita Municipal. Quem levava as notas era Amaral. E Magalhães lidava com os empresários.
Além deles, mais dois auditores também foram incluídos na lista de investigados pelo Ministério Público: Fábio Camargo Remesso, filiado ao PMDB, e Amilcar Cançado Lemos - indicado pelos auditores como um dos primeiros integrantes do esquema. Eles serão intimados a depor. "No nosso procedimento de investigação já são seis (auditores). Amilcar Cançado e Fábio Remesso ocupam posição de investigados. Com a oitiva do Eduardo Barcellos, de uma testemunha protegida e do Luis Alexandre já tenho elementos para inclui-los nessa investigação", diz o promotor Bodini. 
Hierarquia da quadrilha - Bodini diz que Amilcar chegou a fazer a função de Carlos di Lallo Amaral no "esquema do ISS" e que Remesso fazia as vezes de Ronilson ou atendia construtoras insatisfeitas com Luis Alexandre. "Ele [Amilcar] era o chefe da sala e trabalhava com Luis Alexandre operando na ponta. O Fabio Remesso substituía o Ronilson no período de férias, e as empresas que se indispunham com o Luis Alexandre o procuravam para que ele intermediasse junto ao subsecretário [Ronilson] para continuar o esquema."
"Na época do Amilcar, esses pagamentos eram feitos às sextas-feiras na casa do Ronilson. Ele já está com os bens sequestrados e responde a um procedimento civil na Promotoria do Patrimônio Público e Social", disse Bodini. Barcellos também afirmou, segundo Bodini, que o recém-exonerado secretário de Governo do prefeito Fernando Haddad (PT), vereador petista Antonio Donato, chegou a buscar dinheiro na casa de Ronilson. 
Barcellos indicou que, ele mesmo, pagou entre dezembro de 2011 e setembro de 2012, 20.000 reais mensais a título de doação eleitoral clandestina para a campanha de Donato. A propina era entregue por Barcellos a Donato no gabinete do vereador na Câmara Municipal. Donato nega as acusações.
O promotor Roberto Bodini disse nesta quarta-feira que Mauro Ricardo Costa, ex-secretário de Finanças na gestão Gilberto Kassab (PSD), foi omisso. 
"Ele [Barcellos] confirmou o recebimento de dinheiro vivo, pacotes e envelopes de dinheiro, na subsecretaria. Isso era semanal. Durante anos aquilo virou um verdadeiro balcão de negócios. Isso no 11º andar do edifício sede da Prefeitura, sendo que o secretário estava um andar acima", disse Bodini. "É necessário que haja uma explicação para isso. Se não pela ação, pelo menos pela omissão. O Ronilson era indicação direta do secretário, cargo de confiança dele. Ele [Mauro Ricardo] tem de se explicar, se sabia, se não sabia, o que o levou a permitir que funcionasse durante anos o recebimento de dinheiro criminoso dentro do prédio da Prefeitura."
Mauro Ricardo chegou a votar, no fim de dezembro, pelo arquivamento de uma sindicância contra os auditores por falta de provas - o que só seria feito pelo atual controlador-geral do município, Mário Spinelli, em fevereiro.
Além de Mauro Ricardo, Antonio Donato também será investigado e intimado a depor no Ministério Público, segundo Bodini, "pela coincidência de supostamente ter recebido dinheiro para campanha no mesmo período em que a fraude ocorreu". O depoimento do petista ainda não tem data marcada, nem o do ex-secretário de Kassab. Também citado, o vereador Aurélio Miguel (PR) ainda não será intimado.
Segundo Bodini, Barcellos afirmou que se sentiu "contemplado", assim como Ronilson, com a contrapartida ao suposto pagamento a Donato. Barcellos chegou a ir trabalhar no gabinete de Donato. E Ronilson foi indicado para a diretoria da São Paulo Transporte (SPTrans).
Silêncio - Segundo o promotor, Ronilson e Eduardo Barcellos chegaram a contratar um advogado, identificado pelo sobrenome Arão, para tentar comprar o silêncio da ex-companheira de Luis Alexandre de Magalhães, Vanessa Alcântara, que ameaçava denunciar a quadrilha à imprensa. 
Segundo Barcellos informou em depoimento, eles pagaram 100.000 reais ao advogado, que teria repassado 10.000 reais para tentar calar Vanessa. Ela sabia que eles estavam sendo grampeados, segundo Barcellos.

Senado aprova PEC do Voto Aberto em 1º turno

Política

Proposta extingue todas as hipóteses de voto secreto. Segunda votação ocorre na semana que vem

Gabriel Castro, de Brasília
Plenário do Senado durante sessão deliberativa
Senadores aprovam PEC do Voto Secreto (Arthur Monteiro/Agência Senado)
O plenário do Senado aprovou em primeira votação nesta quarta-feira a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece o voto aberto em todas as deliberações do Congresso. Foram 54 votos a favor do texto, dez contrários e uma abstenção. O texto já havia recebido o aval da Câmara. Mas ainda pode ser alterado porque sua sanção pelo Congresso depende de votação em segundo turno no Senado - o que deve ocorrer na semana que vem.
Parte significativa dos parlamentares apoia uma versão mais restrita da proposta: manter o voto secreto apenas na apreciação de vetos ou na apreciação de indicação de autoridades - ou ainda em ambos os casos. O argumento para essa proposta é que o Congresso precisa se proteger de possíveis ofensivas do governo.
Repercussão - "Em relação aos vetos presidenciais, o voto secreto é uma defesa do parlamento e da consciência parlamentar contra a pressão do governo", argumenta Aécio Neves (PSDB-MG), na sessão desta quarta.
"Sou a favor do voto aberto para a cassação de mandato de parlamentares. No entanto, acredito que há conquistas que nós não podemos transigir: devemos manter o voto secreto para o veto e para a escolha de autoridades", afirmou o líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM)
Já o senador Pedro Taques (PDT-MT) defendeu a aprovação do texto no formato vindo da Câmara, que defende a extinção total de todos os tipos de voto secreto: "O cidadão tem o direito constitucional de saber, sim, de que maneira nós votamos", afirmou o parlamentar.


A votação de propostas que extinguem o voto secreto foi retomada por causa dos protestos populares de junho. O texto aprovado pelo Senado nesta quarta-feira havia sido apresentado pelo ex-deputado Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) em 2001.

STF determina prisão de Dirceu e da cúpula do mensalão


Justiça

Corte determinou o imediato cumprimento das penas aplicadas aos réus; sessão foi confusa e marcada por bate-boca entre os ministros do tribunal

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, durante análise dos recursos apresentados pelas defesas dos 25 réus condenados pela corte, os chamados embargos, nesta quarta-feira (04)
Laryssa Borges, de Brasília
Mais de oito anos depois da revelação do escândalo do mensalão, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou nesta quarta-feira a prisão imediata do ex-ministro José Dirceu por ter comandado o maior esquema de corrupção da história do país. A decisão da Corte também atinge a antiga cúpula do PT e os demais réus que haviam sido condenados, mas ainda tentam diminuir suas penas por meio de recursos.

No caso de Dirceu, ele deverá iniciar o cumprimento da sentença em regime semiaberto até que seu último recurso – um embargo infringente – seja analisado pelo Supremo no ano que vem. A redação da sentença definitiva, com o cálculo da pena inicial de cada réu, será proferida pelo presidente da Corte, ministro Joaquim Barbosa, nesta quinta-feira. A tendência é que Dirceu comece a cumprir sete anos e onze meses de prisão em regime semiaberto. Esse tempo ainda poderá subir para dez anos e dez meses, o que fará com que ele migre para o regime fechado, se a Corte rejeitar seu embargo contestando a prática do crime de formação de quadrilha.

Glossário

EMBARGO DECLARATÓRIO
Recurso utilizado para esclarecer omissões ou contradições da sentença. Pode corrigir trechos do veredicto do tribunal, mas não serve para reformular totalmente a decisão dos ministros
EMBARGO INFRINGENTE
Recurso exclusivo da defesa quando existem quatro votos contrários à condenação e que permite a possibilidade de um novo julgamento do réu.  Apenas os trechos que constam dos embargos podem ter seus efeitos reapreciados; o restante da sentença condenatória segue intacta
O ex-presidente do PT na época do escândalo, deputado José Genoino (SP), e o ex-tesoureiro Delúbio Soares também vão começar a cumprir pena em regime semiaberto. Já o operador do mensalão, Marcos Valério de Souza, seguirá para regime fechado.

A sessão desta quarta-feira foi marcada por confusão e bate-boca entre os ministros. Irritado, o ministro Gilmar Mendes chegou a afirmar que havia uma tentativa de manipulação para evitar que os réus fossem presos. “Esse processo não caminha para a frente, ele anda em círculos. É preciso encerrar esse tipo de cena”, disse. Joaquim Barbosa afirmou que seus colegas na Corte fazem “firulas” para atrasar o desfecho do julgamento. O alvo mais uma vez foi o ministro Ricardo Lewandowski, que pressionou, inclusive, para que a Corte concedesse um último pedido de vista aos advogados dos mensaleiros.

A decisão do Supremo de impedir o chamado trânsito em julgado dos trechos contestados pelos embargos infringentes começou a ser definida no voto do ministro Teori Zavascki. Um dos novatos na Corte, o magistrado afirmou que, independentemente da possibilidade ou não desses recursos serem usados por determinados réus, a simples apresentação do recurso impede a execução do trecho da sentença contestado pela defesa. Isso porque, embora o STF tenha decidido acatar os embargos infringentes para réus que obtiveram ao menos quatro votos favoráveis, alguns deles apresentaram esse recurso mesmo sem os quatro votos. É o caso, por exemplo, dos deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT).
Valdemar e Henry foram condenados a penas acima dos sete anos de reclusão e começariam a cumpri-las em regime semiaberto. Mas, com a decisão desta quarta do STF de não permitir a execução de trechos contestados por meio dos infringentes, nenhum dos dois mensaleiros terão as penas executadas agora.
No futuro, a admissibilidade dos embargos infringentes daqueles que não tiveram quatro votos favoráveis pode ser decidida individualmente pelo relator do mensalão. Barbosa também poderá levar o tema ao plenário para debate conjunto da Corte.

Declaratórios - Antes dos debates sobre a execução das penas, os ministros rejeitaram em massa a segunda leva de embargos de declaração apresentados por dez mensaleiros condenados. Esse tipo de recurso busca esclarecer as sentenças e apontar eventuais contradições, mas, na interpretação do STF, foi utilizada essencialmente para protelar o fim do mensalão. No caso desses réus, incluindo o delator do esquema, Roberto Jefferson, a execução da pena também será imediata.
Na fase dos embargos de declaração, apenas o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), teve o recurso totalmente acolhido, mas o teor do apelo era essencialmente formal. O plenário aceitou o recurso para corrigir o acórdão e fazer constar o valor de 536 440,55 reais como o montante desviado pelo parlamentar no crime de peculato. Cunha foi condenado a nove anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Ele recorre de parte da sentença por meio de embargos infringentes e tentará reverter a condenação de lavagem.