sexta-feira 16 2013
Livro tenta desvendar transição de Machado de 'Iaiá Garcia' para 'Brás Cubas'
Por José Luiz Passos - Especial para o Estado, estadao.com.br
O sucesso de Eça de Queirós é tido por Castro Rocha como fundamental na transformação da escrita do autor brasileiro
Reprodução
"O escritor Machado de Assis"
Invulgar e provocador como de costume, João Cezar de Castro Rocha nos propõe em Machado de Assis: Por Uma Poética da Emulação o esclarecimento de um mistério. Como o Machadinho ordeiro e bem-comportado de Iaiá Garcia (1878) passou a Machadão, autor de Brás Cubas (1880)? A hipótese que o crítico lança é fascinante.
É comum dividirmos a obra de Machado em duas fases, e explicarmos a primeira em função da segunda. Por exemplo, no que se refere à temática dos ciúmes, tão presente no autor, Ressurreição (1872) muitas vezes é tomado como ensaio para o adensamento moral mais ambíguo e socialmente crítico que se encontra em Dom Casmurro (1899). Segundo João Cezar, essa operação é falaciosa: na primeira fase, "o ponto de vista machadiano era esteticamente tradicional e moralmente conservador". Não se trata do aperfeiçoamento de uma fórmula, mas da adoção de um modelo distinto de fazer literatura, calcado na crise de um autor que se sonda diante de um rival contemporâneo e, aparentemente, mais forte. Eis, aqui, o fator Eça de Queirós.
Os dois textos de Machado sobre os primeiros romances de Eça são, em geral, tomados como o ponto alto da sua crítica literária; mas, de acordo com o crítico, eles representam a perspectiva que o próprio Machado deixaria para trás. Na virada para os anos 1880, ambos os escritores reconsideraram suas carreiras, optando por um modo irônico de construção da narrativa e por um diálogo mais direto com fontes distantes das práticas vigentes. Nessa adoção de um "anacronismo deliberado" estaria a vigorosa reinvenção de Machado, que soube refazer-se, lançando mão de uma poética da emulação.
A poética da emulação consiste em um gesto de leitura e adaptação criativa de práticas retóricas abandonadas a partir do romantismo: "Partindo-se da imitação de um modelo considerado autoridade num determinado gênero, busca-se emular esse modelo produzindo uma diferença em relação a ele". João Cezar não é o primeiro a argumentar que o diálogo de Machado com autores e tradições diversas responde em parte pela novidade de um forma narrativa mais plástica, evidente a partir das Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Na proposta de um "retorno ao texto", o crítico realiza uma leitura cruzada, no vaivém do tempo, em busca de convergências entre contos, crônicas, peças de crítica, teatro e romance. Tal proposta evita sutilmente o confronto direto com a copiosa fortuna crítica sobre o autor, ao mesmo tempo em que constrói argumento elegante para expor suas diferenças. É curioso que alguns dos comentadores das mesmas questões ocupem o espaço das epígrafes, na abertura de cada uma das sete partes do livro. Aplicada ao texto do próprio crítico, a teoria da emulação revela um gesto irônico. Algumas das teses expostas foram debatidas por outros, sem que estes sejam referidos diretamente como participantes no debate. A presença estrutural do narrador volúvel, em Roberto Schwarz; a função da leitura e dos leitores na construção da assinatura machadiana, em Hélio de Seixas Guimarães; as figurações da chamada forma shandiana, em Sérgio Paulo Rouanet; o complexo jogo do intertexto estrangeiro, mapeado por Marta de Senna, entre outras interpretações, são postas em suspenso, a fim de que o texto de Machado compareça reapresentado pelos nexos de uma poética da emulação.
Na primeira fase, João Cezar identifica um narrador que "sabe tudo" e dita ao leitor o que pensar; já na transição para a maturidade, as narrativas são marcadas por maior abertura de sentido, aceitando a dúvida e convidando o leitor a comparecer com o juízo. A análise dos procedimentos de emulação pós-1878 leva o crítico a interpretar uma grande variedade de estratégias. O livro se adensa e ganha interesse. A divergência entre os autores transforma-se em método, e, afinal, a poética da emulação assume uma dimensão propriamente política: a cópia, em sistemas marginais, pode se constituir em desafio a modelos hegemônicos e fomento de respostas originais. Na consideração de paralelos com o cânone estrangeiro, além de obras de outros campos, a contribuição de João Cezar de Castro Rocha impressiona pela amplitude das questões abordadas.
Por Uma Poética da Emulação é livro erudito e variado. Desconfio: machadianos de carteirinha poderão torcer o nariz. Porém, o leitor encontrará aí um argumento original e instigante, devido, em parte, à própria fascinação de se desvendar um autor na verve das suas reinvenções. E sabe-se que a fascinação é muitas vezes toda a verdade.
MACHADO DE ASSIS
Ed.: Civilização Brasileira (366 págs., R$ 40)
Lançamento: Sexta (16), 19 h, no Memorial da América Latina (Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664). Debate do autor com Luiz Ruffato e Evando Nascimento
JOSÉ LUIZ PASSOS É PROFESSOR TITULAR DE LITERATURA BRASILEIRA NA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA E AUTOR DE MACHADO DE ASSIS, O ROMANCE COM PESSOAS (EDUSP)
Lewandowski prepara terreno para beneficiar trio mensaleiro do PT
Justiça
Pano de fundo no bate-boca entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski é a tentativa de atenuar as penas do trio petista nos crimes de corrupção
Laryssa Borges, de Brasília
O áspero bate-boca entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, que encerrou precocemente a última sessão plenária do julgamento do mensalão, nesta quinta-feira, intrigou os advogados dos réus e os demais integrantes da corte. Não que o antagonismo e as rusgas entre os dois magistrados, que ocupam o papel de relator e revisor do mensalão, respectivamente, seja novidade. O que chamou a atenção foi a virulência com que Barbosa tentou impedir o colega de tribunal de discorrer sobre a possibilidade de aplicar-se uma legislação mais branda na definição da pena dos mensaleiros condenados por crimes de corrupção. A reação pareceu - e foi - desmedida. Mas também é fato que a intervenção de Lewandowski pouco tinha de inocente.
Após a confusão, o site de VEJA ouviu de dois ministros da corte e de advogados envolvidos no julgamento a mesma avaliação: Barbosa identificou na conduta de Lewandowski uma tentativa de preparar terreno para aliviar a pena de réus centrais do esquema, mais precisamente a cúpula do PT no auge do mensalão.
A briga começou porque Barbosa acusou Lewandowski de tentar usar um embargo de declaração - recurso destinado a esclarecer eventuais omissões ou contradições na sentença - para reabrir um tópico do julgamento. O questionamento foi apresentado pelo réu Bispo Rodrigues, que era deputado federal do extinto PL (hoje PR) na época do escândalo. Rodrigues foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro - seis anos e três meses de prisão. Ele questiona o fato de ter sido condenado por corrupção passiva com base na Lei 10.763, de 2003, que prevê penas mais altas para corrupção. O argumento do réu é que o acordo financeiro firmado entre o PT e o PL ocorreu em 2002, quando estava em vigor uma legislação mais branda para crimes de corrupção.
Legislação - Questionamentos sobre qual lei contra a corrupção deve ser aplicada nas condenações aparecem nas peças de defesa do trio petista. Uma mudança no entendimento assentado pela corte no acórdão poderia representar, no mínimo, um ano a menos de cadeia para José Dirceu e Delúbio Soares. No caso de José Genoino, a sentença final poderia ficar abaixo dos seis anos de reclusão em regime semiaberto. “Para quem foi condenado, um ano faz muita diferença”, diz o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende Genoino no mensalão.
Para Pacheco, que também questiona o uso da lei mais severa no apenamento do ex-presidente do PT, o crime de corrupção ativa se consolida na promessa ou oferta de vantagem indevida, e não no efetivo pagamento da propina aos mensaleiros. “O tribunal entendeu que a corrupção se exaure na promessa”, afirma o advogado. Por esta tese, seria irrelevante se e quando corruptor e corrupto receberam os benefícios que pretendiam.
O debate sobre a lei de corrupção ocorre porque em novembro de 2003 uma nova legislação entrou em vigor, ampliando as penas para corruptos e corruptores para intervalos de dois a doze anos. Os advogados de defesa alegam que os acordos para a distribuição de recursos no esquema criminoso teriam acontecido antes da vigência desta lei e, portanto, sob o guarda-chuva de uma norma mais benéfica (com penas de um a oito anos).
Acórdão - Ao longo do julgamento, os ministros do STF decidiram que, nos casos envolvendo os crimes de corrupção, deveria ser aplicada a lei mais severa, que prevê penas de dois a doze anos de prisão. No ano passado, a mudança na legislação foi lembrada por Lewandowski, que chamou atenção do plenário e informou que aplicaria a lei de 2003, com penas mais altas, para condenar réus como Marcos Valério. “Em face da Súmula 711, como os crimes começaram antes da vigência da nova lei e se projetaram no tempo para além da vigência da antiga redação, então eu estou me valendo da Súmula 711”, disse o revisor, conforme registrado no acórdão do mensalão.
No entanto, o próprio Lewandowski defendeu nos casos envolvendo denunciados por corrupção passiva que o primeiro recebimento de propina marcava a data para se contabilizar o crime. “A doutrina é absolutamente unânime, quer dizer, o primeiro recebimento é que caracteriza o crime do artigo 317 [corrupção passiva]. Os demais são parcelas, constituem mera consumação do primeiro delito, mero exaurimento”, disse o magistrado ao analisar o caso do ex-deputado Romeu Queiroz.
Agenda - Na próxima quarta-feira (dia 21), o plenário do STF vai retomar a discussão sobre a lei de corrupção que deve ser aplicada no julgamento do mensalão. Além de dar continuidade à análise do recurso do ex-deputado Bispo Rodrigues,os ministros preveem julgar recurso do advogado Rogério Tolentino, ex-braço direito do operador do mensalão, Marcos Valério. No recurso, a discussão é exatamente a mesma.
A partir de agora, as discussões levarão em conta dois aspectos: 1) o fato de o delito de corrupção ser formal e se consumar instantaneamente com a simples solicitação ou promessa da vantagem, independentemente do efetivo recebimento da vantagem; 2) se deve ser aplicado no caso do mensalão a súmula 711 do STF, que estabelece que aplica-se a lei mais severa se a participação criminosa se estendeu no tempo e se uma parte dos crimes ocorreu na vigência da lei mais grave.
Cade refuta ação política ao investigar cartel de trens
Por GUSTAVO PORTO E FÁTIMA LARANJEIRA, estadao.com.br
O presidente do Conselho Administrativo e Defesa Econômica (Cade), Vinícius Carvalho, refutou, no início da tarde...
O presidente do Conselho Administrativo e Defesa Econômica (Cade), Vinícius Carvalho, refutou, no início da tarde desta sexta-feira, 16, as acusações de que o órgão tenha agido de maneira política no processo de investigação do cartel de trens do Metrô e da Companhia Paulista de Três Metropolitanos, em São Paulo (SP). O órgão foi alvo das acusações por ser ligado ao governo federal, comandado pelo PT, e as investigações ocorrerem sobre ações do governo do PSDB em São Paulo.
"Não posso aceitar acusação de politização da investigação do cartel. Se empresa vem ao Cade, como o órgão pode ser acusado de estar politizando?", indagou Carvalho, lembrando que o processo teve início após uma empresa, a Siemens, ter assinado com o Cade um acordo de leniência, semelhante a uma delação premiada, no qual entregou os detalhes do cartel nos trens. "Questões políticas que envolveram a investigação não mudam a análise que o Cade faz do processo."
Carvalho, que participa nesta sexta-feira (16) de uma homenagem à ex-presidente do Cade Elizabeth Farina, na Universidade de São Paulo, criticou ainda as acusações de que o órgão vazou informações para a imprensa e ainda que tenha dificultado o acesso às informações do processo ao governo paulista. "O Cade não tem empecilho a compartilhar documentos desde que haja autorização judicial", afirmou.
Segundo o presidente do Cade, o foco legal do órgão é investigar apenas o crime de cartel. Por isso, "possíveis crimes de licitações com funcionários serão encaminhados ao Ministério Público", frisou.
Ele lembrou que o Ministério Público já teve acesso ao acordo e ao histórico de leniência e que os documentos apreendidos pela superintendência do órgão só serão encaminhados aos promotores caso haja a autorização judicial. Isso justifica, segundo o presidente do Cade, a necessidade de o governo paulista ter recorrido à Justiça Federal para ter acesso a apenas parte do processo que já é pública. "O governo de São Paulo teve acesso aos documentos do que o juiz de São Bernardo do Campo tornou público", concluiu.
Senado apura gasto de R$ 2 milhões com selos
Por Andreza Matais e Fábio Fabrini, estadao.com.br
Valor desembolsado em um ano e quatro meses daria para comprar 1,4 milhão de unidades; funcionários já foram afastados depois de auditoria
O Senado gastou quase R$ 2 milhões com a compra de 1,4 milhão de selos - considerando o valor de R$ 1,20 para uma carta comum - em um ano e quatro meses, mas não sabe o que foi feito com o material. Uma auditoria, aberta em junho, apura as despesas dos senadores e da área administrativa com a chamada cota postal. Funcionários já foram afastados e a distribuição de mais selos, proibida.
O gasto em selos seria suficiente para distribuir uma correspondência para cada morador de Goiânia, com 1,3 milhão de habitantes; ou 18 mil selos por senador. O que intriga os responsáveis pela auditoria é que não há previsão nas normas da Casa para a compra de selos.
As correspondências dos senadores e da Casa são seladas por meio de uma máquina franqueadora, equipamento utilizado para imprimir o valor da postagem na correspondência, como um carimbo. Em outras palavras, não há a necessidade de selos em papel.
Segundo fontes ouvidas pelo Estado, parte dos selos foi entregue a alguns senadores, que os requisitaram oficialmente, mas não há registro sobre o paradeiro da maior parte do material.
O líder do PTB, Gim Argello (DF), é um dos parlamentares que pediram selos, conforme um dos envolvidos nas investigações. A família dele é dona de agência franqueada dos Correios em Brasília. "Não me lembro, não. Foram quantos? Normalmente, mando carta quando tem aniversário de eleitor, mas não estou lembrado de ter pedido", afirmou o senador. De uma só vez, em dezembro passado, o Senado comprou R$ 360 mil em selos.
Moeda corrente. O selo é considerado moeda corrente. É fácil vender para qualquer empresa que faça uso dos serviços dos Correios. Cada selo tem um valor, a depender do peso da correspondência. O preço de envio de uma carta comercial varia de R$ 1,20 a R$ 6,40.
O ato que proíbe a compra de selos foi editado em julho pelo primeiro-secretário do Senado, Flexa Ribeiro (PSDB-PA), depois de aberta a investigação.
Os senadores não têm limite para gastos com o envio de correspondências. A norma do Senado, de 1991, diz que cada parlamentar pode enviar duas para cada mil habitantes de seu Estado, mas não diz qual o volume, o preço ou o peso máximo. O que significa dizer que não faz diferença enviar uma carta ou um contêiner.
O Senado estuda a definição de um limite em reais para o envio de correspondências. Procurada pelo Estado, a assessoria de imprensa da Casa não informou os nomes e o número de funcionários afastados.
Em nota, o Senado confirmou a abertura de auditoria, motivada pela "análise dos processos de gestão", que indicaram, em maio passado, "a necessidade de reformulação da área encarregada do envio de correspondências e de postagens em geral".
O Senado explicou que só após o fim da investigação interna saberá com exatidão o número de postagens e os gastos com serviços solicitados aos Correios. O contrato da Casa com os Correios é de R$ 10,8 milhões anuais e já teve dois aditivos no mesmo valor.
De 2011 a 2013, a soma alcança R$ 32,4 milhões. O Senado informou que este ano, até julho, ao menos R$ 4,1 milhões foram pagos, "não computadas eventuais despesas anteriores, ainda não identificadas".
'Queria falar da perda', diz Bruno Barreto de 'Flores Raras'
Cinema
Diretor se interessou pelo projeto de filmar a relação de amor entre a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires) e a poeta americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto) depois de se divorciar da mulher, a atriz Amy Irving
Mariane Morisawa, de Berlim
'Flores Raras', de Bruno Barreto, tem Glória Pires no elenco. O filme está na seção Panorama, a principal mostra paralela da Berlinale (Divulgação)
"Queria emocionar de uma maneira não manipuladora. Foi o filme em que tive mais dificuldade de encontrar o tom, embora seja o meu 19º. Isso é que é interessante, a gente sempre está aprendendo"
Bruno Barreto não lançava um longa-metragem no cinema desde 2008, quando estreou Última Parada 174.Você Nunca Disse Eu te Amo, que se chamava Flores Raras antes do 63º Festival de Berlim e volta agora a usar o primeiro nome, conta a história de amor entre a poeta americana Elizabeth Bishop (Miranda Otto) e a arquiteta brasileira Lota de Macedo Soares (Glória Pires). O filme foi bem recebido na sessão oficial na mostra Panorama, circuito não competitivo da Berlinale, o que deixou Barreto animado. O diretor estava empolgado quando falou ao site de VEJA, na última segunda-feira:
O que a exibição no Festival de Berlim representa para a carreira do filme? É a melhor coisa que poderia acontecer, porque o longa foi feito para o mundo. É legal o filme ficar pronto e você exibir em outro país. A sessão de gala foi muito legal. Nunca na minha carreira tive um momento tão... Eu não contei, mas, brincando, foram oito minutos de aplausos. Tive de falar "obrigado" umas quatro vezes para eles pararem. Aí, pude agradecer e pedir desculpas pelas logomarcas do início do filme (dos produtores e patrocinadores, que fizeram o público rir). Disse: "Desculpe, mas sem eles nós não estaríamos aqui". Foi uma complicação para conseguir patrocínio, porque a gente acha que o Brasil é liberal e não é. O Brasil é conservador.
Esse projeto começou anos atrás, quando a sua mãe, Lucy, comprou os direitos do livro Flores Raras e Banalíssimas, de Carmem Lúcia de Oliveira. Mas como você se interessou pela história? Minha mãe comprou os direitos em meados da década de 1990 e propôs o filme a mim e ao Hector Babenco. Mas nenhum dos dois se interessou na época, eu nem li o livro. Em 2004, minha ex-mulher (a atriz Amy Irving), fez Um Porto para Elizabeth Bishop, monólogo da Marta Góes, nos Estados Unidos. Comecei a achar interessante, fiquei ruminando aquela ideia. Não sabia ainda para que contar a história. Em 2008, depois de Última Parada 174 e de ter me divorciado da Amy – nada acontece por acaso –, vi que queria contar a história porque falava da perda. Não é uma biografia. Lota e Elizabeth são personagens dessa história de amor. Uma história em que a forte fica fraca porque não sabe lidar com a perda, e a fraca, perdedora, vai ficando forte porque lida melhor com isso. Grandes momentos de suas vidas ocorrem quando elas estão juntas. Elizabeth ganha o Pulitzer, desabrocha como escritora, porque teve estabilidade emocional e material. Não é por causa do Brasil. E a Lota tem a ideia do parque do Flamengo (talvez a sua maior obra).
Você chegou a pensar em fazer com a Amy? Inicialmente, sim. Não depois que achei o ângulo da história, mas quando a gente ainda estava casado, e eu comecei a me interessar pelo projeto.
E como foi escolher o elenco? A Glória já estava selecionada para fazer. Eu podia mudar a atriz, mas acho que não tinha ninguém melhor que ela. Além de tudo, eu nunca havia trabalhado com a Glória. A única vez em que escrevi uma carta como fã foi para ela, quando fez A Partilha. Ela fez tão bem aquela cena em que aparecia bêbada... Ela ainda falava bem inglês e tal. E, depois que ela fez os dois Se Eu Fosse Você, eu falava brincando que o laboratório para a o filme estava feito.
Como foi a procura pela atriz que faria a Elizabeth Bishop? Por questões de mercado, em princípio era uma coprodução internacional, quiseram que buscássemos nomes maiores. E apareceram duas ou três atrizes desse porte interessadas em fazer o filme, mas aí aconteceu um problema de agenda. O dinheiro saiu em fevereiro de 2012 e eu tinha de rodar tudo até o começo de agosto, quando a Glória ia começar a fazer a novela Guerra dos Sexos. Com os dois meses de preparação necessários, só restava filmar em maio e junho ou junho e julho. Para a atriz que faria a Elizabeth, o fato de ser uma personagem gay não era a dificuldade. O complicado era vir ao Brasil com armas e bagagens. O homem viaja e não precisa levar a família toda, a mulher quando viaja precisa levar todo mundo. Então, esse era o problema. E eu não podia achar outra Lota. Assim acabei ficando com a Miranda para o papel da Bishop.
Como foi a procura pela atriz que faria a Elizabeth Bishop? Por questões de mercado, em princípio era uma coprodução internacional, quiseram que buscássemos nomes maiores. E apareceram duas ou três atrizes desse porte interessadas em fazer o filme, mas aí aconteceu um problema de agenda. O dinheiro saiu em fevereiro de 2012 e eu tinha de rodar tudo até o começo de agosto, quando a Glória ia começar a fazer a novela Guerra dos Sexos. Com os dois meses de preparação necessários, só restava filmar em maio e junho ou junho e julho. Para a atriz que faria a Elizabeth, o fato de ser uma personagem gay não era a dificuldade. O complicado era vir ao Brasil com armas e bagagens. O homem viaja e não precisa levar a família toda, a mulher quando viaja precisa levar todo mundo. Então, esse era o problema. E eu não podia achar outra Lota. Assim acabei ficando com a Miranda para o papel da Bishop.
Como foi encontrar o tom delicado do filme? Foi o aspecto mais difícil. Eu não queria cair na chamada rede de segurança do minimalismo – quando, na dúvida, menos é mais. E, claro, não podia chegar no excesso. Queria contar essa história com toda a sua complexidade, todas as suas nuances. Ao mesmo tempo, queria contar com emoção, não queria fazer um filme intelectual. Foi difícil. Na coisa sexual, eu disse que não queria ser sensacionalista, queria tratar da relação com a maior espontaneidade, mas também não queria ser pudico, como se estivesse evitando o assunto. Era uma relação homossexual, e isso tem um peso na história e na época.
É difícil fazer cenas de poesia, porque podem ficar chatas e cafonas. Como foi o trabalho com a Miranda? Tive uma preocupação grande com essas cenas. Mas teve um elemento da realidade que ajudou muito: a Bishop gostava de ouvir o poema ao escrever. Ela lia alto. Então, isso facilitou. Mas procurei manter ao mínimo, porque o filme não é sobre isso, não é sobre o processo criativo dela. A minha maior preocupação era a emoção, porque se não emocionasse não funcionaria. E queria emocionar de uma maneira não manipuladora. Foi o filme em que tive mais dificuldade de encontrar o tom, embora seja o meu 19º. Isso que é interessante, a gente sempre está aprendendo.
Alguns brasileiros disseram que a Glória foi corajosa. Em 2013, é preciso ter coragem para fazer cenas de beijo com outra mulher? Precisa. E ela é corajosa. Fizemos uma projeção-teste em novembro, até para ajudar a encontrar esse tom. E os espectadores ficaram chocados. No primeiro beijo, teve um: “Opa!”. Isso vai ser um elemento que vai atrair gente e que vai também espantar.
Elizabeth Bishop, a poetisa americana que adotou o Brasil
Meire Kusumoto
Quando o nascimento da poetisa americana Elizabeth Bishop (1911-79) completou 100 anos, em fevereiro de 2011, as comemorações no Brasil foram tímidas, sem grandes eventos ou relançamentos. Uma injustiça com um dos maiores nomes da poesia americana do século XX, que viveu por cerca de 20 anos, entre idas e vindas, em terras brasileiras, de onde saiu boa parte de sua produção. Uma injustiça que o filme Flores Raras, do cineasta Bruno Barreto, que entra em cartaz nesta sexta-feira, ajuda a desfazer.
Foi no Brasil que Elizabeth viveu dois momentos cruciais, costumeiramente os mais lembrados quando se trata da biografia da poetisa: o anúncio de que ela tinha ganhado o Prêmio Pulitzer, em 1956, e o seu intenso relacionamento amoroso com a arquiteta carioca, embora nascida em Paris, Lota de Macedo Soares (1910-67), entre 1951 e 1967, quando Lota cometeu suicídio. O romance deu origem ao livro Flores Raras e Banalíssimas (Rocco, 248 páginas, 34,50 reais), da escritora Carmen Oliveira, que acaba de ganhar nova edição de carona no filme de Barreto, ao qual serviu de base.
Biografia - Quando embarcou no navio SS Bow Plate em Nova York rumo ao Brasil, em 1951, Elizabeth Bishop tinha 40 anos e planos de viajar pela América do Sul em busca de um sentido para a vida, até então marcada por perdas. Seu pai, William Thomas Bishop, morreu de insuficiência renal crônica quando ela tinha apenas oito meses e, a mãe, Gertrude, abalada, foi aos poucos perdendo o equilíbrio mental. Em 1915, mãe e filha se mudaram para Nova Escócia, no Canadá, onde residia a família de Gertrude e onde ela se internou no ano seguinte em uma clínica psiquiátrica. Elizabeth nunca mais veria a mãe, que em 18 anos morreria no mesmo hospital.
Sem os pais, a futura poetisa ficou sob os cuidados dos avós maternos até 1917, quando foi assumida pelos paternos e levada de volta para a sua cidade natal, Worcester, em Massachusetts. Ainda que tivesse conforto no lar dos abastados Bishop, Elizabeth se sentia só e abandonada, situação que piorou quando desenvolveu asma e uma série de alergias, que a impediram de frequentar a escola regular. A solidão era um mal que ela custou a superar: em 1948, escreveria para o amigo e poeta Robert Lowell, dizendo que era a pessoa mais solitária que já havia existido. Ao chegar ao Brasil, contudo, se sentiria em casa.
No ano seguinte, foi morar com uma tia e seu marido, Maude e George Shepherdson, que eram pagos para cuidar da menina, mas davam afeto e a deixavam visitar a família nas férias. Educada em casa, Elizabeth teve professores particulares e amplo acesso à biblioteca da tia, onde havia volumes de poetas como Robert Browning, Alfred Tennyson e Henry David Thoreau. Ela chegou a frequentar a escola por um ano, entre 1926 e 27, mas a sua educação formal só começou de fato em 1928, quando foi enviada para um internato na cidade de Natick. Em 1930, ela iniciou o ensino superior na Vassar College, em Poughkeepsie, estado de Nova York, onde se formou em Literatura Inglesa. Sem necessidade de trabalhar graças à herança que o pai, dono de uma construtora, havia deixado, após a formatura se dedicou a viajar e a escrever o primeiro livro,Norte e Sul, publicado em 1946, poucos anos antes de deixar os Estados Unidos.
Atividade física não ajuda a combater insônia de forma imediata
Sono
Segundo nova pesquisa, exercícios ajudam a melhorar a qualidade do sono somente se forem feitos de forma regular e a longo prazo
Insônia: Atividade física ajuda a melhorar a qualidade do sono, mas o efeito é obtido somente a longo prazo (Thinkstock)
Embora a atividade física seja recomendada para pessoas que sofrem de insônia, o vínculo entre exercícios e uma boa noite de sono só é estabelecido longo prazo - e com a prática regular da atividade. É o que indica estudo publicado nesta quinta-feira no periódico Journal of Clinical Sleep Medicine. Ainda segundo o estudo, não só o exercício interfere no sono, como o sono afeta a atividade física.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Exercise to Improve Sleep in Insomnia: Exploration of the Bidirectional Effects
Onde foi divulgada: periódico Journal of Clinical Sleep Medicine
Quem fez: Kelly Baron, Kathryn Reid e Phyllis Zee
Instituição: Universidade Northwestern, Estados Unidos
Dados de amostragem: 11 mulheres com idade média de 61 anos que sofriam de insônia
Resultado: A prática de 30 minutos de atividade aeróbica não melhorou o sono no mesmo dia do exercício. Porém, fazer esse exercício três vezes por semana e durante quatro meses surtiu efeitos positivos sobre o sono das participantes
Título original: Exercise to Improve Sleep in Insomnia: Exploration of the Bidirectional Effects
Onde foi divulgada: periódico Journal of Clinical Sleep Medicine
Quem fez: Kelly Baron, Kathryn Reid e Phyllis Zee
Instituição: Universidade Northwestern, Estados Unidos
Dados de amostragem: 11 mulheres com idade média de 61 anos que sofriam de insônia
Resultado: A prática de 30 minutos de atividade aeróbica não melhorou o sono no mesmo dia do exercício. Porém, fazer esse exercício três vezes por semana e durante quatro meses surtiu efeitos positivos sobre o sono das participantes
“Dormir mal não altera a capacidade aeróbica de uma pessoa, mas muda a sua percepção de esforço. Ou seja, ela se sente mais exausta”, diz Kelly Baron, diretora do programa de comportamento do sono da Universidade Northwestern, Estados Unidos, e coordenadora da pesquisa.
De acordo com Baron, ela iniciou o estudo depois de ouvir de seus pacientes que a atividade física recomendada para tratar a insônia não surtiu efeitos imediatos. “Existe o conceito de que exercícios melhoram o sono, mas eu pensei que provavelmente isso não fosse tão simples para pessoas com insônia”, disse a pesquisadora em comunicado divulgado pela universidade.
O estudo foi feito com 11 mulheres com uma média de 61 anos e que sofriam de insônia. Elas foram orientadas a praticar 30 minutos de exercícios aeróbicos diários, três vezes por semana, durante quatro meses.
Efeito a longo prazo — Segundo os resultados, a prática de determinado exercício físico não melhorou o sono dessas mulheresno curto prazo. No entanto, depois desses quatro meses, as participantes relataram uma melhora no tempo de duração do sono a cada noite e também na avaliação que faziam sobre a qualidade do próprio sono.
“Pacientes com insônia têm um nível elevado de atividade cerebral. Leva-se um tempo para que esses níveis voltem ao normal de uma maneira que facilite o sono”, diz Phyllis Zee, coautor do estudo. Segundo o pesquisador, é importante saber que os exercícios físicos ajudam a resolver, embora somente a longo prazo, a insônia — mesmo em mulheres acima dos 60 anos. Isso porque muitos medicamentos usados para tratar o problema acabam prejudicando habilidades como a memória em pessoas dessa idade.
Os pesquisadores acreditam que esses resultados também sejam válidos para homens, uma vez que não há evidências de que existam diferenças significativas no tratamento de insônia entre os gêneros. “Os indivíduos precisam entender que precisam se exercitar e persistir nessas atividades para melhorar o sono”, diz Baron.
Justiça proíbe prazo de validade para créditos pré-pagos
Telefonia móvel
Decisão é válida para todo o território nacional, mas empresas podem recorrer
Tribunal determinou multa diária de R$ 50 mil para as operadoras que descumprirem a norma (Thinkstock)
A Justiça proibiu nesta quinta-feira que as operadoras de telefonia móvel estabeleçam prazo de validade para créditos de celulares pré-pagos. A decisão, unânime, foi tomada pela 5.ª Turma do TRF da 1.ª Região e é válida para todo o território nacional. As empresas de telefonia móvel ainda podem recorrer.
O processo teve início em uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a Anatel e as operadoras Vivo, Oi, Amazônia Celular e Tim. O MPF busca invalidar os contratos de telefonia móvel que preveem a perda de créditos pré-pagos após um determinado período de tempo ou que condicionam a continuidade do serviço à aquisição de novos créditos. Para o Ministério Público, essas cláusulas são abusivas e "manifestam afronta ao direito de propriedade e caracterização de enriquecimento ilícito por parte das operadoras".
Multa - A decisão desta quinta resulta da apreciação de um recurso do MPF contra uma sentença da 5.ª Vara Federal do Pará que não considerava irregular o prazo de validade para créditos pré-pagos. Para o relator do processo, o desembargador Souza Prudente, o estabelecimento de prazos de validade para os créditos pré-pagos de celular caracterizam um "confisco antecipado dos valores pagos pelo serviço público de telefonia". O magistrado frisou também que essa prática esbarra no Código de Defesa do Consumidor. Agora, as operadoras terão 30 dias para reativar o serviço de usuários que tiveram a conta interrompida e restituir o saldo existente à época da suspensão. O tribunal prevê ainda uma multa de 50 mil reais por dia para o não cumprimento da decisão.
Histórico – Uma resolução de 2007 da Anatel sobre o assunto estabelecia que os créditos pré-pagos poderiam estar sujeitos a prazo de validade desde que a prestadora oferecesse, no mínimo, opções de 90 a 180 dias de duração. No caso da inserção de novos créditos antes do período previsto para a rescisão do contrato, os créditos não utilizados seriam revalidados pelo mesmo prazo dos novos créditos adquiridos.
(Com Estadão Conteúdo)
O processo teve início em uma ação movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a Anatel e as operadoras Vivo, Oi, Amazônia Celular e Tim. O MPF busca invalidar os contratos de telefonia móvel que preveem a perda de créditos pré-pagos após um determinado período de tempo ou que condicionam a continuidade do serviço à aquisição de novos créditos. Para o Ministério Público, essas cláusulas são abusivas e "manifestam afronta ao direito de propriedade e caracterização de enriquecimento ilícito por parte das operadoras".
Multa - A decisão desta quinta resulta da apreciação de um recurso do MPF contra uma sentença da 5.ª Vara Federal do Pará que não considerava irregular o prazo de validade para créditos pré-pagos. Para o relator do processo, o desembargador Souza Prudente, o estabelecimento de prazos de validade para os créditos pré-pagos de celular caracterizam um "confisco antecipado dos valores pagos pelo serviço público de telefonia". O magistrado frisou também que essa prática esbarra no Código de Defesa do Consumidor. Agora, as operadoras terão 30 dias para reativar o serviço de usuários que tiveram a conta interrompida e restituir o saldo existente à época da suspensão. O tribunal prevê ainda uma multa de 50 mil reais por dia para o não cumprimento da decisão.
Histórico – Uma resolução de 2007 da Anatel sobre o assunto estabelecia que os créditos pré-pagos poderiam estar sujeitos a prazo de validade desde que a prestadora oferecesse, no mínimo, opções de 90 a 180 dias de duração. No caso da inserção de novos créditos antes do período previsto para a rescisão do contrato, os créditos não utilizados seriam revalidados pelo mesmo prazo dos novos créditos adquiridos.
(Com Estadão Conteúdo)
Inalador de insulina pode substituir injeções a partir de 2014
Diabetes
Produto deve chegar ao mercado americano no 2º trimestre do ano que vem
O "Dreamboat", inalador desenvolvido pela Mannkind (Divulgação/Mannkind Corporation)
Nesta quarta-feira, a empresa farmacêutica americana Mannkind deu uma boa notícia aos diabéticos: seu inalador de insulina, o Afrezza, pode passar a ser comercializado nos Estados Unidos no segundo trimestre de 2014. Segundo os fabricantes, os testes realizados até agora com o medicamento apresentaram resultados positivos e, para o Afrezza chegar ao mercado americano, falta apenas a aprovação da FDA (agência que controla remédios e alimentos nos EUA), que deverá ser anunciada entre abril e junho de 2014.
Saiba mais
DIABETES TIPO 1
Neste tipo da doença, a produção de insulina no pâncreas é insuficiente . Os pacientes precisam, então, de doses extras diárias (injeções) de insulina para conseguir manter a glicose em níveis normais. A doença é mais comum em crianças, adolescentes e jovens adultos. O aumento da doença pode ser explicado por sua etiologia multifatorial: ela pode ser desencadeada por infecções virais e aumento de peso, por exemplo.
Neste tipo da doença, a produção de insulina no pâncreas é insuficiente . Os pacientes precisam, então, de doses extras diárias (injeções) de insulina para conseguir manter a glicose em níveis normais. A doença é mais comum em crianças, adolescentes e jovens adultos. O aumento da doença pode ser explicado por sua etiologia multifatorial: ela pode ser desencadeada por infecções virais e aumento de peso, por exemplo.
DIABETES TIPO 2
Enquanto a diabetes tipo 1 ocorre pela falta da produção de insulina, na do tipo 2 a insulina continua a ser produzida normalmente, mas o organismo desenvolve resistência ao hormônio. É causada por uma mistura de fatores genéticos e pelo estilo de vida: 80% a 90% das pessoas que têm o tipo 2 da diabetes são obesas.
Enquanto a diabetes tipo 1 ocorre pela falta da produção de insulina, na do tipo 2 a insulina continua a ser produzida normalmente, mas o organismo desenvolve resistência ao hormônio. É causada por uma mistura de fatores genéticos e pelo estilo de vida: 80% a 90% das pessoas que têm o tipo 2 da diabetes são obesas.
O objetivo do Afrezza é substituir as canetas injetoras de insulina usadas pelos diabéticos para regular os níveis do hormônio no organismo — a expectativa dos fabricantes é que os portadores da doença prefiram inalar a substância a aplicar injeções.
De acordo com as orientações da Mannkind, o Afrezza deve ser inalado por meio do "Dreamboat", um pequeno inalador desenvolvido pela empresa, de 12 a 14 minutos antes das refeições, para que a insulina atinja seus níveis de pico no organismo e, assim, se iguale à liberação do hormônio que acontece em indivíduos não diabéticos durante as refeições. A Mannkind também afirma que o produto será capaz de ajudar portadores dos diabetes tipo 1 e 2.
Preço — Outra empresa farmacêutica, a Pfizer, já havia elaborado e comercializado um produto semelhante ao Afrezza, o Exubera. Com a mesma proposta de oferecer um tipo de insulina que pudesse ser inalada em vez de aplicada, a Pfizer retirou o medicamento de circulação mundial em 2007, dois anos após seu lançamento, por falta de aceitação do público. No Brasil, o Exubera foi comercializado por menos de um ano: chegou às prateleiras apenas em maio de 2007.
Segundo informações da Bloomberg Businessweek, as razões que levaram a essa falta de aceitação foram o alto preço cobrado pelo medicamento, se comparado ao das tradicionais canetas injetoras de insulina, além da falta de praticidade do produto, que não podia ser usado de forma discreta por conta de seu tamanho, igual ao de um tubo de bolas de tênis. O medicamento produzido pela Mannkind, porém, deve chegar ao mercado americano custando o mesmo preço que as injeções — aproximadamente 2 000 dólares anuais — e em um tamanho menor, cabendo na palma da mão.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/inalador-de-insulina-pode-chegar-ao-mercado-americano-em-2014
Estudo identifica mutações que dão origem a câncer
Cientistas anunciaram o que dizem ser um novo marco na pesquisa do câncer, após identificarem 21 mutações que estariam por trás da maioria dos tumores.
O estudo, que foi divulgado na revista Nature, afirma que estas modificações do código genético são responsáveis por 97% dos 30 tipos mais comuns de câncer.
Descobrir o que causa as mutações pode levar à criação de novos tratamentos.
Algumas dessas causas, como o hábito de fumar, já são conhecidas, mas mais da metade delas ainda são um mistério.
Durante o período de uma vida, células desenvolvem uma série de mutações que podem vir a transformá-las em tumores letais que crescem incontrolavelmente.
Origens do câncer
A equipe internacional de pesquisadores estava procurando as causas das mutações como parte da maior análise já feita sobre o genoma do câncer.
As causas mais conhecidas de mudanças no DNA, como a superexposição aos raios UV e o hábito de fumar, aumentam as chances de desenvolver a doença.
Mas cada uma delas deixa também uma marca única ─ um a espécie de assinatura ─ que mostra se foi o fumo ou a radiação UV, por exemplo, o responsável pela mutação.
Os pesquisadores, liderados pelo Instituto Sanger, do Reino Unido, procuraram por mais exemplos destas “assinaturas” em 7.042 amostras tiradas dos 30 tipos mais comuns de câncer.
Eles descobriram que 21 marcas diferentes eram responsáveis por 97% das mutações que causavam os tumores.
“Estou muito animado. Esses padrões, essas assinaturas, estão escondidos no genoma do câncer e nos dizem o que está realmente causando o câncer em primeiro lugar ─ é uma compreensão muito importante”, disse Sir Mike Stratton, diretor do Instituto Sanger, à BBC.
“É uma conquista significativa para a pesquisa sobre câncer, é bastante profundo. Está nos levando a áreas do desconhecido que não sabíamos que existiam. Acho que este é um grande marco.”
Mistérios
Outras marcas encontradas no genoma do câncer estavam relacionadas com o processo de envelhecimento e com o sistema imunológico do corpo.
As células respondem a infecções virais ativando uma classe se enzimas que modificam os vírus até que eles não funcionem mais.
“Acreditamos que quando ela (a célula) faz isso, há efeitos colaterais ─ seu próprio genoma se modifica também e ela fica muito mais propensa a se tornar uma célula cancerígena, já que tem uma série de mutações ─ é uma espada de dois gumes”, diz Stratton.
No entanto, doze dessas marcas genéticas encontradas no genoma do câncer ainda estão sem explicação.
Espera-se que se algumas delas puderem ser atribuídas a fatores ambientais, novas formas de prevenir a doença possam ser desenvolvidas.
As dúvidas também podem fomentar novas pesquisas. Uma das causas desconhecidas das mutações cancerígenas acontece no neuroblastoma, um câncer em células nervosas que normalmente afeta crianças.
“Sabemos que fatores ambientais como o fumo e a superexposição aos raios UV podem causar modificações no DNA que podem levar ao câncer, mas em muitos casos nós não sabemos o que provoca as falhas no DNA”, afirmou o professor Nic Jones, da instituição britânica voltada para pesquisa do câncer Cancer Research UK.
“As marcas genéticas encontradas nesse estudo fascinante e importante identificam muitos processos novos por trás do desenvolvimento do câncer.”
De acordo com Jones, entender o que causa esses processos pode levar a novas maneiras de prevenir e tratar a doença.
Fonte: BBC News, 14/10/2013http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130814_cancer_descoberta_jg_cc.shtml
Matéria de James Gallagher, Repórter de Ciência e Saúde da BBC News.
Créditos de celular pré-pago não poderão ter data de validade, decide Justiça
Boa notícia para quem utiliza celular pré-pago: uma decisão da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região proíbe que as operadoras estabeleçam prazo de validade para créditos de celular. Dessa forma, qualquer consumidor poderia permanecer com a linha ativa por tempo indeterminado sem precisar recarregar o telefone, enquanto possuísse créditos.
A decisão foi unânime entre os juízes, que anularam a resolução 477 da Anatel, que permite que as operadoras de telefonia possam oferecer créditos com qualquer prazo de validade, desde que viabilizem ao consumidor comprar uma quantidade razoável de créditos que vençam entre 90 e 180 dias.
O desembargador federal Souza Prudente, relator do processo, afirma que o prazo de validade em créditos de celular é uma maneira de confisco antecipado dos valores pagos pelo serviço de telefonia móvel. Atualmente, as operadoras podem congelar os créditos de celular quando vencidos. A partir do momento em que uma recarga nova é realizada, os créditos vencidos passam a valer com a mesma validade dos novos créditos adicionados.
Além dessa decisão, as operadoras Claro, Oi e TIM foram impedidas de “confiscarem” créditos de consumidores que tivessem créditos fora do prazo de validade. As empresas serão obrigadas a reativar o serviço dos clientes com o mesmo crédito em que as linhas possuíam no momento em que foram cortadas.
A decisão vale em todo o território nacional a partir do momento em que as operadoras e demais entidades, como a Anatel, forem notificadas. Essa notificação pode ser feita por meio de Oficial de Justiça ou mesmo através de uma publicação através do Diário Oficial da União. A operadora que não acatar a decisão será punida com multa diária de R$ 50 mil. Cabe recurso.
Isso poderá ser um problema para o número de linhas presentes no Brasil, uma vez que a decisão afirma que todas as linhas com créditos se tornam ativas. Como as linhas não se tornarão inativas automaticamente, não haverá limpeza de base e, assim, o número de linhas telefônicas desnecessárias só irá aumentar.
À Folha, o SindiTelebrasil, sindicato das operadoras de telefonia, afirmou que aguarda a comunicação oficial para avaliar as medidas cabíveis.
Com informações: O Globo
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