quinta-feira 05 2012

Suplementos de cálcio podem dobrar risco de ataque cardíaco


Saúde do coração

Embora consumo moderado do nutriente por meio de alimentos possa proteger o coração, o uso frequente de suplementos é prejudicial

Cálcio: nutriente a partir de alimentos, como o leite, pode proteger saúde cardíaca, mas suplementos surtem efeito inverso
Cálcio: nutriente a partir de alimentos, como o leite, pode proteger saúde cardíaca, mas suplementos surtem efeito inverso(Goodshoot)
Tomar suplementos de cálcio, que costuma ser recomendado para evitar desgaste ósseo em idosos e mulheres que passaram pela menopausa, pode dobrar o risco de um ataque cardíaco. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita com mais de 20.000 pessoas e publicada nesta quarta-feira no periódico Heart, que pertence à publicação British Medical Journal (BMJ).
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Associations of dietary calcium intake and calcium supplementation with myocardial infarction and stroke risk and overall cardiovascular mortality in the Heidelberg cohort of the European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition study

Onde foi divulgada: periódico Heart

Quem fez: Kuanrong Li, Rudolf Kaaks, Jakob Linseisen e Sabine Rohrmann

Instituição: Centro Alemão de Pesquisa em Câncer e Universidade de Zurique, Suíça

Dados de amostragem: 23.980 pessoas de 35 a 64 anos

Resultado: Quantidades moderadas de cálcio ao dia diminuem risco de ataque cardíaco em 31%, mas suplementos do nutriente podem chegar a dobrar esse risco
Embora estudos anteriores tenham mostrado o contrário, ou seja, que o cálcio pode proteger o coração contra diversas doenças, essa nova pesquisa indicou que, apesar de o consumo moderado do nutriente possa ser benéfico, o uso frequente de suplementos do composto prejudica a saúde cardíaca.
Nesse estudo, pesquisadores do Centro Alemão de Pesquisa em Câncer e da Universidade de Zurique, na Suíça, acompanharam, ao longo de onze anos, 23.980 pessoas que tinham entre 35 e 64 anos quando o trabalho começou. Durante esse período, os participantes responderam a questionários sobre hábitos alimentares e consumo de suplementos vitamínicos. Ao final da pesquisa, foram registrados 354 ataques cardíacos, 260 derrames e 267 mortes.
O trabalho indicou que indivíduos ingeriam quantidades moderadas de cálcio (820 miligramas ao dia) tanto por fontes alimentares quanto por suplementos, tiveram 31% menos chances de sofrer um ataque cardíaco do que aqueles que menos consumiam o nutriente. No entanto, os participantes que ingeriam mais do que 1.1 miligramas de cálcio ao dia não tiveram menores riscos de problemas cardíacos.
Os pesquisadores também descobriram que as pessoas que fizeram uso regular de suplementos de cálcio, além de outros suplementos de vitaminas e minerais, foram 86% mais propensos a terem um ataque cardíaco do que as pessoas que não tomavam o suplemento. Esse risco foi ainda maior entre os que fizeram uso apenas de suplementos de cálcio: eles tiveram o dobro de chances de enfartarem do que quem não fez uso de nenhum suplemento.

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CÁLCIO
O cálcio pode ser encontrado em alimentos como os laticínios, alguns vegetais, especialmente os de folhas verdes (brócolis, couve-flor e repolho roxo), peixes como sardinha e salmão, feijão, entre outros. O Ministério da Saúde recomenda o consumo de 1.000 miligramas de cálcio ao dia para adultos e de 700 miligramas para crianças de 7 a 10 anos. 100 gramas de queijo muzzarela, por exemplo, tem 875 miligramas de cálcio.
Prós e contras — Os autores do trabalho afirmam que, mesmo que esses suplementos protejam mulheres que passaram pela menopausa da osteoporose, esse efeito é modesto, diminuindo, em média 10% os riscos das pacientes terem o problema. Uma pesquisa publicada em abril de 2011 no BMJ mostrou que esses suplementos aumentam em 25% as chances das mulheres terem um infarto. Os autores desse estudo concluíram, então, que esses riscos superam a eficiência do produto em prevenir problemas como as fraturas ósseas.
“Os suplementos de cálcio têm sido amplamente adotados por médicos e pela população em geral, que o consideram um produto natural benéfico para a saúde dos ossos. No entanto, está se tornando claro que esse nutriente em doses concentradas diárias não é natural, já que não produz os mesmos efeitos do que o cálcio obtido por fontes alimentares”, escreveram os autores no artigo. "Devemos voltar a ver de cálcio apenas como um componente importante de uma dieta equilibrada, e não como um remédio milagroso de baixo custo para o desgaste ósseo na pós-menopausa".

Vitamina D e cálcio juntos podem aumentar expectativa de vida de idosos


Nutrição

Ingestão diária de suplementos desses nutrientes reduz em 9% o risco de mortalidade em um período de três anos entre pessoas com 70 anos

idoso
Idoso: Combinar suplementos de vitamina D e de cálcio pode ajudar a prolongar a vida (Thinkstock)
Idosos que tomam suplementos de cálcio e vitamina D podem ter uma expectativa de vida maior do que aqueles que não ingerem quantidades suficientes dos nutrientes. Essa é a conclusão de um estudo publicado na edição deste mês do periódico Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism. Segundo a pesquisa, feita na Universidade da Aarhus, na Dinamarca, os suplementos reduzem em até 9% as chances de mortalidade em um período de três anos entre pessoas com idade média de 70 anos.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Vitamin D with Calcium Reduces Mortality: Patient Level Pooled Analysis of 70,528 Patients from Eight Major Vitamin D Trials

Onde foi divulgada: periódico Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism

Quem fez: Lars Rejnmark, Alison Avenell, Tahir Masud, Frazer Anderson, Haakon Meyer, Kerrie Sanders, Kari Salovaara, Cyrus Cooper, Helen Smith, Elizabeth. Jacobs, David Torgerson, Rebecca Jackson e outros

Instituição: Universidade da Aarhus, Dinamarca

Dados de amostragem: 70.528 idosos com idade média de 70 anos

Resultado: Fazer uso de suplementos de cálcio e vitamina D pode reduzir em até 9% as chances de mortalidade em um período de três anos
“Uma diminuição de 9% em relação ao risco de morte pode parecer um benefício pequeno, mas, essa redução entre uma população de idosos já é de grande importância”, disse à agência Reuters o coordenador do estudo, Lars Rejnmark. “Há poucas intervenções conhecidas capazes de reduzir a mortalidade entre pessoas dessa faixa etária. A principal é o fim do tabagismo, mas é preciso descobrir outras".
Os autores da pesquisa chegaram a essa conclusão após analisarem outros oito estudos clínicos sobre os efeitos de suplementos de vitamina D e de cálcio sobre a saúde do indivíduo. Ao todo, esses trabalhos envolveram mais de 70.000 idosos, a maior parte mulheres aos 70 anos.
De acordo com a pesquisa, esse benefício foi encontrado com a ingestão diária suplementos contendo de 10 a 20 microgramas de vitamina D e 1.000 miligramas de cálcio — quantidades correspondentes às recomendações do Ministério da Saúde. O estudo ainda observou que, sozinho, o suplemento de vitamina D não tem impacto sobre a redução da mortalidade.
Para os pesquisadores, embora estudos anteriores tenham mostrado que a combinação desses dois suplementos pode evitar a osteoporose entre idosos, principalmente do sexo feminino, isso não explica a diminuição da mortalidade. Segundo Rejnmark, pode ser que os suplementos ajudem a reduzir a incidência de mortes por câncer, mas são necessários outros trabalhos para que essa hipótese avaliada. 

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CÁLCIO
O cálcio pode ser encontrado em alimentos como os laticínios, alguns vegetais, especialmente os de folhas verdes (brócolis, couve-flor e repolho roxo), peixes como sardinha e salmão, feijão, entre outros. O Ministério da Saúde recomenda o consumo de 1.000 miligramas de cálcio ao dia para adultos e de 700 miligramas para crianças de 7 a 10 anos. 100 gramas de queijo muzzarela, por exemplo, tem 875 miligramas de cálcio.
VITAMINA D
Também chamada calciferol, a vitamina D promove a absorção do cálcio pelo organismo após a exposição solar. 90% da vitamina D que precisamos vem da exposição ao sol. A deficiência da vitamina pode provocar raquitismo, alterações no crescimento e nos ossos, além de reduzir a imunidade. A vitamina D está relacionada ainda ao bom funcionamento do coração, do cérebro e da secreção de insulina pelo pâncreas. A presença significativa da substância é vista em poucos alimentos, como fígado, óleos de peixes gordurosos e gema de ovo.

Para evitar fraturas em idosos, pesquisa recomenda ingestão diária de vitamina D maior do que a recomendada


Nutrição

Pesquisa concluiu que 20 microgramas ou mais do nutriente ao dia diminui em até 30% probabilidade de fratura em idosos

Corpo humano é capaz de produzir a vitamina sozinho, desde que seja exposto a uma quantidade suficiente de luz do Sol
Corpo humano é capaz de produzir vitamina D sozinho, desde que seja exposto a uma quantidade suficiente de luz do Sol(Thinkstock)
Uma pesquisa que observou os efeitos da vitamina D sobre o risco de fraturas em idosos concluiu que, para que essas chances sejam reduzidas, é necessária uma ingestão diária maior do que a costumeiramente recomendada pelas autoridades de saúde no mundo — inclusive no Brasil. Atualmente, o Ministério da Saúde indica o consumo de 10 a 20 microgramas de vitamina D por dia para adultos. O estudo, publicado nesta quinta-feira no periódico The New England Journal of Medicine, mostrou que consumir 20 microgramas ou mais do nutriente ao dia diminui em até 30% a probabilidade de fraturas, mas que o risco não se altera com uma quantidade menor do que essa.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: A Pooled Analysis of Vitamin D Dose Requirements for Fracture Prevention

Onde foi divulgada: periódico The New England Journal of Medicine

Quem fez: Heike A. Bischoff-Ferrari, Walter Willett, Endel Orav, Paul Lips, Pierre Meunier, Ronan Lyons, Leon Flicker, John Wark, Rebecca Jackson, Jane Cauley e outros

Instituição: Universidade de Zurique, Suíça

Dados de amostragem: 31.022 pessoas (sendo 91% mulheres) com idade média de 76 anos

Resultado: Ingerir menos do que 20 microgramas ao dia não altera risco de fratura entre idosos. No entanto, a ingestão de uma quantidade maior do que essa diminui as chances do problema em até 30%
Ainda são conflitantes os resultados dos estudos que abordam os efeitos da vitamina D para a saúde óssea do indivíduo, especialmente das mulheres, que têm maior risco de apresentarem problemas como a osteoporose. Embora diversas pesquisas tenham apontado para os benefícios do nutriente, alguns trabalhos alertaram para os possíveis efeitos negativos de grandes quantidades da vitamina, como doenças cardiovasculares e renais.
Nesse trabalho, pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça, analisaram outros onze estudos sobre suplementos de vitamina D e os efeitos na saúde. Ao todo, essas pesquisas envolveram 31.022 pessoas, a maioria do sexo feminino, com idade média de 76 anos. Os resultados mostraram que os indivíduos que ingeriam menos do que 20 microgramas de vitamina C ao dia não tinham redução significativa no risco de fraturas. Por outro lado, o consumo de uma quantidade maior do que essa diminuiu essas chances em até 30%.

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Vitamina D
Também chamada calciferol, a vitamina D promove a absorção do cálcio pelo organismo após a exposição solar. 90% da vitamina D que precisamos vem da exposição ao sol. A deficiência da vitamina pode provocar raquitismo, alterações no crescimento e nos ossos, além de reduzir a imunidade. A vitamina D está relacionada ainda ao bom funcionamento do coração, do cérebro e da secreção de insulina pelo pâncreas. A presença significativa da substância é vista em poucos alimentos, como fígado, óleos de peixes gordurosos e gema de ovo. 100 gramas de salmão, por exemplo, tem 11,8 microgramas de vitamina D.
Fraturas em ascensão — De acordo com os pesquisadores, se as pessoas passassem a ingerir mais do que 20 microgramas de vitamina D ao dia, poderia haver um impacto enorme na saúde pública, uma vez que o número de fraturas entre idosos vem crescendo. No Brasil, por exemplo, o número de fraturas no quadril provocadas por fragilidade óssea deve aumentar em 16% até 2020 e 32% até 2050, especialmente devido à osteoporose entre idosos. Esses dados fazem parte de um levantamento da a Fundação Internacional para Osteoporose (IOF, sigla em inglês) divulgado em maio deste ano, que ainda mostrou que 121.700 fraturas ósseas ocorrem todos os anos no país.

Maria Bethânia - Café da Manhã

Maria Bethânia - Primavera, de Vinícius de Moraes y Carlos Lyra

Filha de Madonna brinca com famoso corselete da cantora (GLOBO)





Lourdes Leon, de 15 anos, posa para a foto usando o famoso sutiã em forma de cone

Lourdes brinca com o corselete eternizado pela mãe
Foto: Reprodução


Lourdes brinca com o corselete eternizado pela mãeREPRODUÇÃO
RIO - A filha adolescente de Madonna gosta de brincar com as roupas da mamãe. Nos bastidores de um show da popstar, Lourdes Leon, de 15 anos, resolveu vestir o famoso corselete com sutiãs em forma de cone da cantora. Ela ainda fez cara de sexy para a foto, divulgada no Twitter pela Material Girl, a grife da Rainha do Pop, de 53 anos.

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Memorial do amor: Pilar del Río administra a saudade e o legado de José Saramago (GLOBO)

Ela está à frente da Fundação do autor, aberta ao público no mês passado em Lisboa

PILAR DEL RÍO com a Casa dos Bicos, sede da fundação, ao fundo (à direita) e a centenária oliveira transplantada de Azinhaga, aldeia de Saramago; a árvore faz sombra às cinzas do escritor, com quem viveu 22 anos
Foto: Daniela Martins Gutierrez


PILAR DEL RÍO com a Casa dos Bicos, sede da fundação, ao fundo (à direita) e a centenária oliveira transplantada de Azinhaga, aldeia de Saramago; a árvore faz sombra às cinzas do escritor, com quem viveu 22 anos Daniela Martins Gutierrez


LISBOA - A enorme janela do escritório tem uma vista invejável para o Rio Tejo, mas o que realmente prende a atenção de Pilar é a oliveira que fica no passeio. Ela interrompe a conversa para fazer um comentário sobre o grupo que lá embaixo tira fotos ao lado da árvore.
— É assim o tempo todo — diz, cheia de orgulho.
Aquela oliveira quase centenária foi trazida de Azinhaga há um ano por um motivo muito especial: fazer sombra às cinzas de José Saramago. Da aldeia do escritor veio a árvore. De Lanzarote, ilha onde ele e Pilar viveram durante 17 anos, foi trazida a terra. E do romance "Memorial do convento" foi extraída a frase que está gravada na calçada da Rua dos Bacalhoeiros: "Mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia: José Saramago 1922-2010."
No dia 18 de junho de 2011, em uma cerimônia que lembrou o primeiro ano da morte do Nobel português, os restos do escritor foram depositadas em frente à Casa dos Bicos, na Baixa de Lisboa. Nesse prédio de quatro andares e cinco séculos de história funciona a sede da Fundação José Saramago. Ali estão a biblioteca e o acervo pessoal do escritor. O local foi aberto ao público no último dia 13 e servirá como espaço para exposições, lançamento de livros, exibição de filmes e realização de palestras. Mais do que cuidar do legado do Nobel, a fundação presidida pela espanhola Pilar del Río tem por objetivo servir de centro cultural.
Entusiasmo de sobra
Depois da morte do marido a jornalista pediu e obteve a nacionalidade portuguesa, e se mudou a Lisboa para comandar a fundação de perto. No documentário "José e Pilar", dirigido por Miguel Gonçalves Mendes, há uma cena em que Saramago diz que quando morrer quer que suas cinzas estejam embaixo de uma pedra no jardim da casa de Lanzarote, aos pés da esposa, para que ela, quando pensasse nele, depositasse ali uma flor. Os planos mudaram. Pilar conta que pouco antes da morte do escritor eles tiveram uma conversa e ela lhe disse que não pretendia ficar na ilha.
— Ele queria que as cinzas estivessem onde eu estivesse. Eu disse que não ficaria em Lanzarote. "Você fez uma fundação, quem vai tocar a fundação? Eu vou para Lisboa", eu disse para ele. E por isso decidimos trazê-lo para cá.
De seu escritório, no segundo andar da Casa dos Bicos, ela faz o que Saramago lhe pediu que fizesse: dá continuidade a sua obra. Diariamente recebe dezenas de solicitações de financiamento de projetos, pedidos de entrevistas, propostas de parcerias e e-mails de estudantes que querem mostrar suas teses de mestrado e doutorado sobre a obra do Nobel português.
Aos 61 anos, Pilar tem disposição de sobra. Chega cedo à fundação, vai embora tarde e não reclama. Faz tudo com extremo cuidado, paciência e uma praticidade espantosa.
Costuma dizer que não pode se dar ao luxo de ficar "desesperada nem desesperançada" e completa:
— Porque tenho tudo. Inclusive força para combater.
É com essa energia e com muito trabalho que ela administra a saudade de Saramago, com quem foi casada por 22 anos.
— Não sei como será uma morte que chega a destempo. Uma mãe que tem que enterrar um filho, por exemplo. Tem que ser terrível. Agora, vida que chega ao seu término natural... dói muito, muito, muito, há um vazio, uma dor, mas também há uma enorme serenidade, porque são vidas cumpridas. O problema são as não cumpridas. Uma morte com a vida cumprida traz paz — diz ela. — Com o José foi assim. Ele deitou a cabeça para trás e me disse: "Pilar, deixa-me descansar um pouco".
Pilar põe ênfase no fato de que Saramago, mesmo muito debilitado, trabalhou até o fim da vida.
— Há quem diga: no final ele estava muito diminuído. Sim senhor, seu corpo estava doente, mas era lúcido e valente como poucos. Com seu corpo doente ele trabalhava todos os dias, e não era pouco. Trabalhava 12, 14 horas. Sua vida culminou sem decadência, terminou escrevendo "Caim", que é um romance maravilhoso e é um grito. Juntamos todos os jovens do mundo e eles não têm o valor de Saramago, que sabendo que está para morrer escreve a Deus: "Y tu, de que vás?".
A história de José e Pilar começou em 1986 quando ela, por recomendação de uma amiga, leu "Memorial do convento". Ficou fascinada, voltou à livraria e comprou "O ano da morte de Ricardo Reis". Terminado o livro decidiu que tinha que agradecer ao autor. Quando foi a Lisboa, ligou para Saramago, se apresentou e disse que gostaria de conhecê-lo.
— Eu não estava em busca de um amante, por favor. Para mim seria o mesmo se ele fosse um homem ou uma mulher. Já havia feito outras vezes, de agradecer a alguém por ter escrito algo que me tocou — conta ela.
Saramago, em entrevista ao documentarista Miguel Gonçalves Mendes, descrevia assim esse telefonema: "Um dia de junho de 1986 telefona para minha casa em Lisboa, onde eu então vivia, uma senhora que dizia chamar-se Pilar del Río, de profissão jornalista, leitora minha e que queria, uma vez que viajaria a Lisboa, gostaria, se eu tivesse tempo, de conhecer-me. E eu disse que sim senhor".
No dia 14 de junho daquele ano, às quatro horas da tarde (momento congelado pelos relógios da casa de Lanzarote), José Saramago entrou no Hotel Mundial, no centro de Lisboa, à procura da hóspede Pilar del Río, sem ter a menor ideia do que ia acontecer. Perguntou por ela na recepção e se sentou a esperar. "A ver o que aparecia. E apareceu essa pessoa que, enfim, vocês conhecem. Foi para mim uma surpresa muito agradável. Tratava-se de uma mulher muito bonita, como continua a sê-lo", contou na entrevista. Pilar tinha 36 anos e José, 63.
— Ele descreve nosso encontro na "Jangada de pedra" e diz que sentiu a terra tremer — diz ela.
Muitas coisas em comum’
No livro, os personagens José Anaiço e Joana Carda se encontram pela primeira vez também na recepção de um hotel. Ele sente como se estivesse sobre um barco no mar, "o chão de tábuas como um convés". Ela, como se ele estivesse a "aproximar-se de muito longe", ainda que fossem apenas "três, quatro passos". E Pilar, não sentiu nada quando viu o José?
— Eu não senti nada, mas eu não sou literata. Ele é. Depois de conversar, sim, eu vi que tinha muitas coisas em comum. Vi que tínhamos demasiado em comum para não continuar aprofundando essa amizade — desvia o olhar e faz uma pausa, parece relembrar essa primeira vez.
Naquele dia conversaram muito, mas não entraram em assuntos pessoais. José ficou sem saber se Pilar tinha alguém, e ela foi embora com a mesma dúvida em relação a ele. Começaram a trocar cartas em que falavam de literatura e política, e a curiosidade foi aumentando.
Até que um dia o português lhe escreveu uma carta que, em suas palavras, era "um modelo de diplomacia sentimental". Dizia que iria a Madri e a Granada e gostaria de, "se as circunstâncias da vida dela permitissem", passar por Sevilla — onde ela morava. Você duvidou por algum segundo em dizer que sim, Pilar?
— Não — diz convicta, e a resposta vem em português (toda a entrevista foi em espanhol, mas há palavras que ela escolhe para dizê-las na língua de Saramago). Fecha um pouco os olhos, faz uma pausa e dá um sorriso discreto. — Ele entrou na minha casa e ficou.
Quero saber de Pilar se o amor de Saramago por ela o fez viver mais. No fim de 2007 o escritor esteve internado por causa de uma pneumonia.
— Ele esteve morto uns instantes e os médicos me disseram já, já. E eu pedi que tentassem mais. Eles queriam entubá-lo e eu disse que não, eu dizia: "Deixa ele respirar, deixa ele respirar". E ele voltou a respirar.
A dedicatória de "Viagem do elefante", livro que Saramago escrevia naquela época, é: "A Pilar, que não deixou que eu morresse". Foi assim?
— Quem o salvou foram os médicos — responde para tirar o dramatismo da pergunta.
Tento argumentar que a história de amor deles é muito bonita, mas sou delicadamente interrompido:
— Insisto, o amor é uma coisa que se pode construir. Que todo mundo pode construir. Acredito que todo ser humano pode fazer sua vida. Saramago escreveu "Levantado do chão", e eu acho que todos podemos nos levantar. Se uma pessoa quer viver uma relação de amor vive. Porque o amor não é o que uma pessoa recebe, é o que põe. E ninguém está impedido de amar.
Saio do prédio acompanhado de Pilar, que assusta um cachorro com a velocidade com que desce a ruela de pedregulho. Brinca com ele, lhe pede desculpas, se diverte sozinha e continua andando rápido. Chega frente à oliveira e comenta:
— Amanhã preciso trazer uma rosa branca. A que eu trouxe ontem levaram, e estas já estão feias.
Terminamos a entrevista e eu proponho acompanhá-la até o carro.
— Não precisa, homem. Eu consigo ir sozinha — diz.
O que parecia uma resposta ríspida se torna carinhosa quando avança até mim e me dá dois beijinhos antes de dizer que se precisar de alguma coisa mais é só lhe escrever. Então vira as costas e caminha sobriamente, como se não usasse salto alto e nem pisasse em um chão irregular de pedras. E me pego concordando com Saramago: é uma mulher extraordinária, dessas que fazem o chão tremer.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/memorial-do-amor-pilar-del-rio-administra-saudade-o-legado-de-jose-saramago-5366551#ixzz1zmtzExVr
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Saquê contra as rugas


CLAUDIA SARMENTO03.07.2012 08h00m
 
Algumas destilarias de saquê japonesas decidiram investir na área de cosméticos, resgatando um segredo antigo de beleza das gueixas: o uso de saquê para deixar a pele lisa. Linhas de produtos à base da bebida, que por sua vez é feita do arroz, estão ficando populares. Uma feira de cosméticos realizada no fim de semana, em Tóquio, confirmou a tendência. O saquê é rico em aminoácidos, que seriam indicados para hidratar a pele. As loções criadas pela destilaria Kiku-Masamune, por exemplo, têm o cheiro da bebida. Abaixo a linha da marca Moist Moon, desenvolvida por uma destilaria que produz saquê há mais de 300 anos. E antes que vocês achem a coisa estranha, os japoneses também andam investindo em outros produtos típicos de cada região do país para fazer cremes, como algas de Hokkaido, tomates de Kumamoto, ameixas de Wakayama e gengibre de Kochi. (CLAUDIA SARMENTO)
 

Meat The Truth - Uma verdade mais que inconveniente - legendado

cristão passa vergonha no programa do Jo

Jô Soares fala sobre o dom de línguas na Bíblia

A FARSA DO FICHA LIMPA