domingo 25 2015

O amor precisa da presença, não da eternidade

 por Eduardo Benesi 


Em Paris existe uma ponte em que casais selam o amor eterno trancando cadeados simbólicos nas grades de proteção. Por uma ironia do destino, essas grades começaram a ceder devido ao peso desses cadeados. São muitos, muitos mesmo, de várias cores e amores. Vejo nisso uma irônica metáfora. Existem pesos que o amor não aguenta. Amor não se tranca, não é gaiola, não é nó. Amor é laço. O cadeado é o paradoxo do amor, não a representação.
Existem os que na vida abraçam a contradição. Existem aqueles que se escondem na hipocrisia. A hipocrisia é quando você mente pra si e pros outros tentando fingir que a contradição não existe. Existem os que pensam que no mundo todos falam a verdade. Existem outros que sabem que gente verdadeira é aquela que de tão honesta, assume que mentiu.
Existem os que pregam o amor no Facebook, talvez porque o “amor” seja diretamente proporcional ao like. O curioso é que alguns desses pregadores são pessoalmente agressivos. O amor, às vezes, pode ser só essa mentira que serve de alívio social. Gente agressiva sente ressaca moral, geralmente se arrepende, mas pra num doer tanto, abraça a hipocrisia de achar que o problema é sempre o mundo, não ela. Essa gente nos ensina tudo o que o amor não é, ou que ele é, mas nunca assume ser.
Tem gente que sofre tanto por amor que precisa provar pros outros que já esqueceu a pessoa amada. – Ah, preciso contar que já me esqueci de fulano! O interessante é que quando alguém alardeia que se esqueceu de uma pessoa, está nesse mesmo momento cometendo o ato da lembrança. O amor às vezes não esquece, ele apenas não lembra. Ou lembra, sem querer.
E o mundo é assim, cheio de contradições e falsos alívios. Eu por exemplo como um prato gigante de comida, mas pra “amenizar” minha culpa, peço junto uma Coca-Zero. Quem fala do defeito alheio acaba de mostrar um dos seus. Existe gente que diz não fazer questão de elogios, e nessa hora está elogiando a si mesma. E tem o maço de cigarros que é quase a metáfora do cafajeste confesso: ele diz que é bonzinho, mas no verso avisa escancaradamente: – vou te fazer mal. Quem diz que não se preocupa com a opinião alheia, acaba de se preocupar em dizer isso. Quanto mais você se esconde, mais aparece tentando se esconder. Tem gente que na igreja promete que é pra sempre e um belo dia, descobre que não era bem assim. Eu era contra a Copa no Brasil, mas não via a hora dela começar. Diz à frase: “tem gente que é tão pobre, que só tem dinheiro”. Hipocrisia é um paradoxo inconfessável, mas não invisível. Tem gente que fala dos políticos desonestos, mas que vive furando fila. Tem intelectual de esquerda com discurso inclusivo, mas que de tão arrogante, segrega. Tem gente que se defende do racismo praticando machismo, e gente que é contra a homofobia, mas vive sendo gordofóbica. E essa moda de criticar a moda que nunca se acaba. Seriam neo-hipsters os que destilam discursos contra os hipsters, mas se comportam como tais. Gente que se acha tanto a exceção da exceção que é previsível por querer sempre surpreender. Gente que oprime o Português do outros, mas que vive pedindo pro Google “soprar” a palavra certa.
Não, o perigo não é o paradoxo. Um dia você descobre que ser contraditório é da nossa natureza. Perigo é achar que o mundo é sempre coerente, que as peças sempre se encaixam e que as pessoas nunca derrapam em suas supostas verdades. Ser leve é assumir as suas fragilidades. O mundo precisa de mais espelhos e menos escudos. O amor precisa é da presença, não da eternidade.

Levy abre o jogo: modelo de crescimento do Brasil mudou

Fórum Econômico Mundial

No painel final do Fórum Econômico Mundial, ministro da Fazenda diz que país deve crescer impulsionado pelo investimento – e não mais pelo consumo

Ana Clara Costa, de Davos
"Nosso crescimento é muito baseado no consumo, mas estamos mudando a demanda em direção aos investimentos", disse Levy
"Nosso crescimento é muito baseado no consumo, mas estamos mudando a demanda em direção aos investimentos", disse Levy (Ana Clara Costa/VEJA.com)
Uma mudança no modelo de crescimento é o que prevê o ministro Joaquim Levy para o Brasil neste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. O ministro da Fazenda participou do painel de encerramento do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e afirmou que o país deverá crescer puxado pelos investimentos, e não mais pelo consumo. "Nosso crescimento é muito baseado no consumo, mas estamos mudando a demanda em direção aos investimentos. E, para elevar os investimentos, é preciso confiança e menos incertezas. Então estamos tomando algumas medidas para reforçar a confiança", afirmou. O painel de encerramento também contou com a presença de Larry Fink, presidente do fundo BlackRock, Mark Carney, presidente do Banco Central da Inglaterra, Benoît Coeuré, conselheiro do Banco Central Europeu (BCE), Haruhiko Kuroda, presidente do BC do Japão, e Min Zhu, diretor adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Levy afirmou que para dar velocidade à retomada dos investimentos, será preciso usar "ferramentas muito tradicionais", como a política fiscal, que prevê o cumprimento da meta de superávit primário, ou seja, a economia feita pelo governo para pagar os juros da dívida pública. "Vamos fazer um superávit de 1,2% do PIB este ano, que é um grande aumento. No próximo ano, será um pouco maior", disse. O ministro falou ainda sobre o realinhamento de preços administrados, como o da energia, e na importância dos reajustes para dar confiança ao investidor. O ministro repetiu a palavra confiança constantemente ao longo de sua fala e disse ainda que, se as medidas forem tomadas rapidamente, a economia responderá rápido também. "O Brasil é uma economia dinâmica. Talvez não tanto como os Estados Unidos, mas ainda assim é muito ágil", disse.

Por ser o último dia do evento, a plateia não estava cheia, mas o discurso do ministro atraiu a atenção de autoridades. Olli Rehn, ex-comissário da Comissão Europeia e atual vice-presidente do Parlamento Europeu afirmou que as palavras de Levy mostraram disposição do Brasil em retomar o caminho da estabilidade. "A economia brasileira enfrentou um período difícil nos últimos anos. O fato de o ministro focar em mudanças e reformas estruturais, além de estimular o investimento, sinaliza disposição que todos os emergentes precisam ter para passar por tempos difíceis", disse o comissário.
O ministro transmitiu a mensagem clara de que os ajustes estão sendo desenhados para agradar ao mercado. Apesar de ter citado, ao final de sua fala, esforços para melhorar a educação, além da criação de emprego como consequência da retomada dos investimentos, Levy deixou claro que o período será de mudanças profundas chanceladas, como ele mesmo afirmou, pela presidente Dilma Rousseff.

O discurso encerra uma cruzada de quatro dias, em que o ministro percorreu todas as salas de encontros bilaterais do Fórum Econômico com apenas um objetivo em mente: fazer o mercado internacional acreditar que o Brasil do protecionismo e do descontrole fiscal não existe mais. A estratégia previu ainda conversas com a imprensa internacional, como o jornal Financial Times, a Bloomberg e a Dow Jones. A eficácia de tal empreitada ainda não pode ser medida com clareza, mas o ministro investiu horas tentando.

A agenda pró-mercado está alinhada com o que os grandes empresários que frequentam o Fórum de Davos pensam. Mas está bem longe do que o PT e a própria presidente  Dilma previam alguns meses atrás, às vésperas das eleições. Afinal, Levy é ministro do mesmo governo que afirmou, em campanha, que um Banco Central independente subiria juros e tiraria comida da mesa dos brasileiros. A agenda dos adversários foi incorporada pelo ministro com propriedade e transmitida ao mundo todo. Para os eleitores, resta o ranço do engano.

'Pensamento positivo impede que nossos sonhos sejam realizados'

Entrevista - Gabriele Oettingen

Para a psicóloga alemã Gabriele Oettingen, o otimismo é o pior caminho para alcançar os desejos. Nesta entrevista ao site de VEJA, uma das maiores especialistas em pensamento positivo explica como combinar imagens de um futuro feliz a seus obstáculos é a melhor forma de tornar os sonhos realidade

Rita Loiola
Gabriele Oettingen, autora do livro 'Rethinking Positive Thinking' (Repensando o Pensamento Positivo, em tradução livre), lançado nos Estados Unidos
Gabriele Oettingen, autora do livro 'Rethinking Positive Thinking' (Repensando o Pensamento Positivo, em tradução livre), lançado nos Estados Unidos (Divulgação/VEJA)
“O pessimismo nunca ganhou nenhuma batalha”, disse certa vez o presidente americano Dwight Einsenhower (1890-1969). Para a psicóloga alemã Gabriele Oettingen, ele deveria acrescentar que o otimismo também é incapaz de vencer qualquer combate. 

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Rethinking Positive Thinking
  
Divulgação/VEJALivro Rethinking Positive Thinking
Uma das maiores especialistas no mundo em pensamento positivo, a psicóloga alemã Gabriele Oettingen mostra visualizar os sonhos realizados não é o caminho para alcançar o que deseja. Reunindo duas décadas de pesquisas no tema, a professora da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, explica como, junto ao otimismo é necessário juntar os obstáculos da realidade e trabalhar duro para que sejam superados. Assim, garante, os sonhos têm mais probablidade se tornarem reais.

Autor: OETTINGEN, GABRIELE
Editora: CURRENT/PENGUIN GROUP
Apoiada em 20 anos de pesquisas sobre o pensamento positivo, a professora da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, e da Universidade de Hamburgo, na Alemanha, derrubou em mais de uma centena de experimentos científicos a crença de que, para alcançar um sonho na vida, basta imaginá-lo realizado. De acordo com Gabriele, o universo não conspira a favor de ninguém. Ao contrário do que afirmam gurus e best-sellers de autoajuda, como o livro O Segredo, o caminho para alcançar uma meta não é esperar que ela se realize em um passe de mágica, mas trabalhar duro.

“Em qualquer perspectiva, a sabedoria convencional da psicologia e da literatura de autoajuda está errada: o pensamento positivo não ajuda sempre”, diz a psicóloga, autora do livro Rethinking Positive Thinking(Repensando o Pensamento Positivo), lançado recentemente nos Estados Unidos.

​Esperança — Gabriele começou a pesquisar o tema quando vivia na Alemanha, na época em que o Muro de Berlim (1981-1989) separava a cidade em duas. Seu interesse era a esperança que os habitantes de Berlim Oriental alimentavam de poder sair da cidade ou viver dias melhores, apesar de não existir qualquer perspectiva de mudança. A então bióloga queria entender o propósito das fantasias e imagens positivas que povoam a mente de milhares de pessoas que passam por situações difíceis.
Na metade dos anos 1980, Gabriele foi para os Estados Unidos trabalhar com o psicólogo americano Martin Seligman, mais conhecido por seus estudos sobre felicidade e um dos principais representantes de uma corrente chamada psicologia positiva, que pesquisa o papel das emoções no equilíbrio físico e mental. Uma década depois, quando começou seus próprios experimentos sobre o pensamento positivo, os dados mostraram à pesquisadora que fantasiar ou imaginar um futuro em que os desejos são realizados não ajuda a consegui-los. Gabriele replicou os estudos com diversos grupos de idades e sexo diferentes, nos Estados Unidos e Europa, com objetivos de saúde, trabalho ou relacionamentos. Os resultados foram sempre os mesmos. Viver mentalmente os sonhos apenas baixa a pressão sanguínea, causando um estado prazeroso de letargia.
A partir dessa descoberta, Gabriele analisou as táticas daqueles que se saíram melhor em seus experimentos e começou a sistematizá-las. Desenvolveu uma técnica que leva em conta obstáculos reais que precisam ser superados quando se persegue um objetivo e a batizou de "contraste mental" – também exaustivamente testada em laboratório durante as duas últimas décadas.
Costumamos acreditar que visualizar os sonhos e imaginar sua realização ajuda a alcançá-los. No entanto, seu livro mostra o contrário. Quando percebeu que estava indo contra a corrente? No início, eu também acreditava fortemente no poder do pensamento positivo. Então, em 1991, fiz um estudo com 25 mulheres obesas que participavam de um programa de redução de peso. Pedi que contassem como se viam no futuro e como se sentiam diante dos maiores obstáculos para que emagrecessem. Depois de um ano, voltei a falar com elas. Aquelas que acreditavam que iriam emagrecer tinham perdido cerca de 10 quilos a mais que as que não achavam que iriam perder peso. No entanto, as mulheres que imaginavam que teriam dificuldades perderam ainda 10 quilos a mais que as que tinham imagens muito positivas do futuro. As mulheres que se imaginavam longilíneas ou passando pela mesa de doces sem olhar tiveram os piores resultados. Sonhar com o desejo realizado não ajudou e, mais que isso, impediu que ele fosse realizado.
Por que isso aconteceu? Fiquei curiosa e comecei a replicar esses estudos, com mais pessoas, com outros objetivos, para ter certeza do que estava começando a descobrir. Na época, a crença no pensamento positivo era muito forte e ele era pouco estudado. Durante 20 anos, analisei estudantes que queriam tirar boas notas, recém-formados que começavam no mercado de trabalho, homens e mulheres que queriam iniciar uma relação amorosa, discursos otimistas de presidentes e sua relação com a economia e mais dezenas de sonhos. Medimos a pressão sanguínea e descobrimos que as imagens positivas do futuro fazem as pessoas relaxar e induz um estado de prazer. Todos os resultados de nossos estudos, em grupos pequenos e grandes, com diferentes faixas etárias, gêneros, nos Estados Unidos e Europa mostraram o mesmo.
Relaxar e aproveitar o sonho não pode ser positivo? Isso rouba a energia e tira a motivação para seguir o difícil caminho de conquista dessas metas na vida real. Desse modo, as pessoas não se sentem preparadas para superar as adversidades e não percebem quais atitudes são necessárias para tornar os sonhos realidade.
O otimismo nunca é útil? Se estiver interessado em alguns momentos de prazer é muito interessante imaginar quão maravilhoso o futuro será. Ele também ajuda a explorar as diversas possibilidades da vida. Se não estou certa se quero ser cientista ou artista, qual é minha grande paixão, então fantasiar e imaginar como seria o futuro é uma boa ideia. O pensamento positivo também é útil quando estamos presos em situações nas quais não podemos agir. Como os alemães que estavam cercados em Berlim Oriental querendo passar para o outro lado. Ou quando fazemos uma prova ou entrevista de emprego e estamos esperando o resultado. Imaginamos como seria trabalhar na empresa ou receber uma boa nota e isso nos deixa relaxados. Sonhar acordado é necessário para entender o que queremos e dar direção às ações, mas não é o suficiente. Se ficarmos apenas nisso, estaremos tão felizes que é impossível tirar as dificuldades do caminho para alcançar qualquer coisa.
Entretanto, diversas pesquisas mostraram que pessoas otimistas têm melhor saúde cardiovascular, são mais magras e saudáveis. O otimismo não faz bem à saúde? Nossos estudos mostraram que quando o pensamento positivo ou as altas expectativas são construídos com base em sucessos passados, ele é realmente útil. Mas, nossos estudos com jovens deprimidos mostraram que, se essas imagens de um futuro brilhante são boas no curto prazo, elas promovem a doença no longo prazo. Elas agem de forma semelhante aos mecanismos que aliviam dores extremas, como medicamentos ou drogas. São boas no momento, mas tornam as pessoas passivas, inábeis para mudar sua situação. Um experimento que fizemos com pacientes que se recuperaram de cirurgias no quadril mostrou que, quanto mais essas pessoas imaginavam uma recuperação fácil e rápida, pior era sua reabilitação. Aquelas que imaginavam que estariam bem e compreendiam todos os passos necessários para a reabilitação mostraram os melhores resultados.
Ou seja, o segredo para conseguir nossos desejos não é imaginar um futuro dourado, mas, simplesmente, olhar para a realidade e trabalhar duro? Sim, é exatamente isso. Não podemos explorar demais as imagens positivas a ponto de estarmos desligados da realidade. A ideia é: por que vamos nos esforçar em conseguir algo se podemos aproveitar os resultados em nossa mente? Para o cérebro, viver as experiências na imaginação ou na realidade tem o mesmo impacto. Sonhar não é agir. E precisamos sentir a resistência da vida real para sabermos que ainda não chegamos lá.
Como fazemos isso? Contrastando as fantasias com seus obstáculos. Quem ensinou isso foram as pessoas que fizeram parte dos meus estudos. Os participantes que pensavam em um futuro positivo considerando os obstáculos e as tentações no caminho eram os que se saíam melhor. Então vimos que essa estratégia, que batizamos de contraste mental, poderia ser uma saída. O que fizemos foi imitá-los e submeter essa técnica a novos experimentos. Basicamente ela consiste em nomear os desejos e metas e enumerar os obstáculos importantes. Fazendo isso, a pressão sanguínea aumenta, fornecendo a energia e motivação necessárias para a ação.


Em vez de criar essa estratégia não seria mais simples diminuir as expectativas? Por que o contraste mental é melhor que assumir nossos limites? Se você está falando de expectativas no sentido de aspirações ou padrões, sim, baixar os padrões ou ajustar os desejos é muito bom. É isso que o contraste mental faz. Vamos supor que o grande desejo de alguém é correr sete dias por semana. Mas para isso, essa pessoa terá que passar por alguns obstáculos e ela não pode, por exemplo, chegar mais tarde ao trabalho ou deixar o filho sozinho todos os dias. Mas ela pode fazer isso três vezes durante sua semana. Então ela vai correr não sete, mas três vezes. O que fez foi ajustar o desejo e compreender o que impedia de realizá-lo, agindo para isso. Dessa forma, é possível ter uma vida construída em ações e não em sonhos.
As pessoas otimistas que conseguem seus objetivos não poderiam estar utilizando essa técnica inconscientemente? Nossos estudos mostraram que, espontaneamente, poucas pessoas utilizam o contraste mental. Apenas uma em cada seis faz isso instintivamente. O comum é fantasiar em relação ao futuro e parar por aí. Ou então ruminar os obstáculos e se sentir paralisado. O grande segredo é combinar as duas coisas: fantasiar positivamente e considerar as pedras do caminho.
Essa estratégia é bastante racional para algo que, durante muito tempo, foi considerado um mistério. Ela pode ser tão controlada? O mais interessante sobre o contraste mental ou WOOP [sigla em inglês para wish, outcome, obstacle, plan ou, em português, desejo, resultado, obstáculo, plano], que é o contraste mental planejado, é que ele funciona inconscientemente. É uma técnica de visualização consciente e racional, que faria algo como ‘limpar’ a vida por meio da compreensão do que podemos realizar. É uma espécie de ‘pegar ou largar’ que nos deixa com a consciência tranquila sobre o que queremos e podemos fazer, abandonando os objetivos inalcançáveis. O que ocorre é que o futuro e a realidade, as imagens positivas e seus obstáculos se tornam muito conectados. E isso faz com que a realidade ganhe novos sentidos.
Como assim? Tanto a realidade como os obstáculos são vistos no mesmo plano. Por exemplo, vamos imaginar que há uma reunião importante na segunda-feira, mas você foi convidada para uma festa incrível no sábado anterior. Essa festa pode atrapalhar sua preparação. Quando você faz o contraste mental, a festa não se torna apenas diversão, mas também um obstáculo para o sucesso da reunião. Ou seja, você percebe a realidade de outra forma. Sua pressão aumenta e sua energia também. Há mudanças no processo motivacional que não são conscientes e que têm efeito no comportamento. Nossa pesquisa mostrou que, após um tempo usando essa estratégia, chegamos ao fim do dia, ou de meses, e percebemos que os desejos realmente vão sendo realizados. É como se funcionasse por conta própria.
Mais ou menos como ensinam os livros de autoajuda sobre o pensamento positivo. Mas sou uma cientista que observa o mundo e aprendo com o que os dados mostram. O mais interessante é que é possível sentir os resultados e conseguimos medi-los estatisticamente.
Há alguma área da vida em que essa técnica é mais eficaz? Ela ajuda a melhorar a saúde, os relacionamentos pessoais, ser bem-sucedido no estudo e trabalho. Temos os primeiros resultados de um estudo randomizado com pessoas deprimidas que, usando o contraste mental, conseguiram sair de casa, fazer exercícios ou conversar com amigos durante um curto período de tempo. A estratégia também ajudou adolescentes que são estigmatizados a ser mais bem aceitos por seu grupo. 
eu livro menciona que o contraste mental é um caminho para encontrar a liberdade. O que isso quer dizer? Essa nova forma de pensamento positivo é capaz de dar direção aos nossos desejos, bem como energia e motivação para consegui-los. Hoje, ninguém nos diz o que fazer ou como devemos conduzir nossas vidas e, por isso, essa estratégia pode ser um guia que usamos sozinhos, que mostra o que vale a pena e o que pode ser deixado de lado. Ela nos dá uma sensação de poder e liberdade para descobrir quem somos. É preciso um pouco de humor também, porque nem sempre essa descoberta é agradável. Há coisas em nós que são obstáculos não só para um sonho, mas para várias metas de nossa vida.


Por que ainda acreditamos que o pensamento positivo é o caminho certo para a felicidade? Há muito workshops, treinamentos e coachs que, o tempo todo, nos dizem para pensar positivo, ser otimista e acreditar em nossos sonhos. Uma das razões para essa crença é que é muito prazeroso pensar em um futuro positivo. Ficamos relaxamos e somos recompensados quando falamos às pessoas para serem otimistas – é bem mais agradável incentivar um sonhador que enumerar as dificuldades ou questioná-lo. 
Conheça a técnica que realizará seus sonhos

O que é o contraste mental ou WOOP

Durante as duas décadas de pesquisas em pensamento positivo, a psicóloga alemã Gabriele Oettingen desenvolveu uma técnica que batizou de WOOP (sigla em inglês para wish, outcome, obstacle, plan ou, em português, desejo, resultado, obstáculo, plano). Trata-se da técnica do contraste mental com um plano. Aperfeiçoada e testada em diversos experimentos, a estratégia descrita no livro 'Rethinking Positive Thinking' ('Repensando o Pensamento Positivo') consiste em quatro passos que ajudam a tornar o pensamento positivo um aliado na realização de pequenos e grandes objetivos. Veja como a pesquisadora descreve essas etapas e conheça os aplicativos desenvolvidos em seu laboratório para tornar a estratégia mais eficaz.

Desejo

Encontre um lugar tranquilo e pense em seu desejo ou em algo que seja um desafio, mas que você acredita que pode realizar em um determinado período de tempo. Pode ser um dia, uma semana, um mês ou anos. Mas é preciso que tenha a convicção de que pode realizá-lo.


Resultado

Visualize seu desejo ou meta realizados. Qual é a melhor coisa que associa a esse sonho? Como você se sentiria se resolvesse seu problema? Imagine as experiências e situações como se estivessem acontecendo com você, nesse momento, e deixe a imaginação fluir.

Obstáculo


Após visualizar seu sonho realizado, pense no obstáculo que o impede de chegar até ele. O que, em você, não deixa que seu desejo seja alcançado? Seja honesto. Pode ser um pensamento, um comportamento, um preconceito. É comum acreditar que obstáculos são apenas impedimentos externos. No entanto, quem imagina que um sonho é realizável em geral já leva em conta as barreiras exteriores. O objetivo dessa técnica é identificar elementos internos que barram o caminho em direção às metas. Pode ser ansiedade, cansaço ou um mau hábito. Imagine esse obstáculo em ação, o mais vividamente possível. 

Plano


Faça um plano: o que pode fazer para superar o obstáculo? Nomeie o pensamento ou atitude mais eficaz para transpor a barreira e imagine como será a próxima vez que o obstáculo vai entrar em ação. Então faça seu plano: Se o obstáculo X acontecer, terei o comportamento Y. Repita esse plano mais uma vez em sua mente.

WOOP escrito


A técnica WOOP também pode ser feita por escrito: Em uma folha de papel, anote seu desejo em três a seis palavras. Então descreva seu sonho, usando o espaço que desejar. Em seguida, escreva o nome do obstáculo. Imagine ele em ação e o descreva por escrito. Após essa etapa, anote a ação específica que terá para superar o obstáculo. Descreva o lugar e o momento em que o obstáculo pode ocorrer e anote seu plano: Se o obstáculo X ocorrer, terei o comportamento Y. Repita seu plano em voz alta.

Aplicativo WOOP


Para tornar a técnica ainda mais prática, Gabriele criou dois aplicativos que podem auxiliar a realizar os desejos. Um deles é para jovens que desejam entrar na faculdade e outro para adultos que querem realizar seus objetivos. Eles estão no site WOOP e podem ser baixados gratuitamente pelo celular.

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