quinta-feira 13 2014

Morre o poeta Manoel de Barros, aos 97 anos


Memória

Escritor foi internado em outubro, na cidade de Campo Grande, para tratar uma obstrução intestinal

Manoel de Barros, poeta brasileiro

Morreu nesta quinta-feira o poeta mato-grossense Manoel de Barros, aos 97 anos. Internado desde o dia 24 de outubro no Hospital Proncor, em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Barros deu entrada na unidade para tratar uma obstrução intestinal. Na quarta-feira, ele era mantido sedado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), com condição clínica instável, segundo boletim médico. A causa da morte ainda não foi divulgada. 
No início de 2014, Barros teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC), que o deixou sem andar, falar e escrever e passou a ficar aos cuidados da mulher, Stella, e da única filha viva, Martha, na casa da família, em Campo Grande. O poeta havia perdido seus dois filhos homens, João e Manoel, em 2007 e 2013, respectivamente.
Autor de duas dezenas de livros de poesia, Barros também se aventurou pela literatura infantil, em que retratou as mesmas paisagens rurais dos versos e rememorou sua própria infância. Vencedor de dois prêmios Jabuti, em 2002, por O Fazedor de Amanhecer, e em 1990, por O Guardador de Águas, o poeta também foi reconhecido por prêmios da Academia Brasileira de Letras (2000 e 2012) e do Ministério da Cultura (1998).
O sepultamento do escritor será no cemitério Parque das Primaveras, em Campo Grande. Ainda não há informações sobre o velório. 
Trajetória — Manoel de Barros nasceu em 19 de dezembro de 1916 em Cuiabá, capital do Estado do Mato Grosso. Filho de fazendeiros, passou parte da infância no Pantanal, até começar os estudos em um colégio interno em Campo Grande. Quando do lançamento de seu primeiro livro, Poemas Concebidos sem Pecado, em 1937, Barros morava no Rio de Janeiro, onde conheceu amigos que o ajudaram na tarefa de fazer, artesanalmente, os 21 exemplares da coletânea de poemas.
Depois de se envolver e se decepcionar com o Partido Comunista Brasileiro, quando seu líder, Luis Carlos Prestes, declarou apoio a Getúlio Vargas, o poeta vive em trânsito, morando em países como Bolívia, Peru e Estados Unidos -- por lá estudou cinema e artes visuais. De volta ao Brasil, ele conhece Stella, com quem se casa em três meses. Os dois se mudam para o Mato Grosso do Sul e administram a propriedade rural deixada pelos pais do escritor. Barros continua a escrever sua poesia, mas sem receber reconhecimento por ela.
Na década de 1980, assina contrato com sua primeira editora, a Civilização Brasileira, e sai do anonimato graças a Millôr Fernandes, que passa a elogiar o então recém-publicado Livro de Pré-Coisas (1985), quando já contava quase 70 anos. Desde então, Barros arrebanhou fãs anonimos e famosos, como Antonio Houaiss, que o chamou de "visionário da humildade", e Carlos Drummond de Andrade, que na época o titulou como o "maior poeta brasileiro" vivo. 
Os elogios deram verniz à obra do cuiabano, que preferia uma vida reclusa, o que dificultava a divulgação de seus textos. Em 1989, ganhou seu primeiro prêmio Jabuti, por O Guardador de Águas. O segundo viria em 2002, com O Fazedor do Amanhecer. Também foi laureado com o Prêmio Nacional de Literatura do Ministério da Cultura, pelo conjunto de sua obra, em 1998. 
Manoel de Barros passou pelas editoras Civilização Brasileira, Record e Leya, cujo contrato venceu no final de outubro. A obra do poeta foi levada pela família para o selo Alfaguara, da Objetiva, que passa a publicá-la em 2015. 
A poesia de Manoel de Barros

Rio inventado

“No caminho, antes, a gente precisava
de atravessar um rio inventado.
Na travessai o carro afundou
E os bois morreram afogados.
Eu não morri porque o rio era inventado.”
(Exercícios de Ser Criança, editora Salamandra)

Normalidade

“Desfazer o normal, há de ser uma norma.”
(Memórias Inventadas: A Segunda Infância, editora Planeta)

Coisas do mundo

“Eu não sei nada sobre as grandes coisas do mundo, mas sobre as pequenas eu sei menos.”
(Memórias Inventadas: A Segunda Infância, editora Planeta)


Quando sou árvore

"Eu não amava que botassem data na minha existência. A gente usava mais era encher o tempo. Nossa data maior era o quando. O quando mandava em nós. A gente era o que quisesse ser só usando esse advérbio. Assim, por exemplo: tem hora que eu sou quando uma árvore e podia apreciar melhor os passarinhos.”
(Memórias Inventadas: A Segunda Infância, editora Planeta)

Infantil

O menino ia no mato
E a onça comeu ele.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do
menino
E ele foi contar para a mãe.
A mãe disse: Mas se a onça comeu você, como é que
o caminhão passou por dentro do seu corpo?
É que o caminhão só passou renteando meu corpo
E eu desviei depressa.
Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
Eu não preciso de fazer razão.
(Poesia Completa Brochura, editora Leya)

Meninice

Um dia deu de olho com a menina
com a menina que ficou reinando
na sua meninice
Dela sempre trazia novidades:
— Em seus joelhos pousavam mansos cardeais…
Está com um leicenço bem na polpa
quase pedi o carnegão pra isca de rubafo…
Dela sempre trazia novidades:
— A ladeira falou pro caminhão: “pode me
descer de motor parado, benzinho…”
Era o pai dela no guidão
(Poesia Completa Brochura, editora Leya)

'Tranver' o mundo

“O olho vê, a lembrança revê, a imaginação transvê. É preciso transver o mundo.”
(Livro sobre Nada, editora Record)

Mãe

“No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos do quintal : Meus filhos, o dia já envelheceu, entrem pra dentro.”
(Livro sobre Nada, editora Record)

'Avoar'

"Mais alto que eu só Deus e os passarinhos.
A dúvida era saber se Deus também avoava.
Ou se Ele está em toda parte como a mãe ensinava."
(Memórias Inventadas: A Segunda Infância, editora Planeta)

Dilma sabia de irregularidades em refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, desde 2009

Petrobras

Segundo jornal 'O Globo', quando ministra da Casa Civil, a atual presidente chegou a pedir uma apuração do caso para a Controladoria Geral da União, mas caso foi arquivado sem punições

Refinaria Abreu e Lima
Refinaria Abreu e Lima já absorveu R$ 7 bilhões apenas da Petrobras (Bobby Fabisak/Exame/VEJA)
Quando era ministra da Casa Civil, a presidente Dilma Rousseff foi informada em 2009 sobre “indícios de irregularidades graves” nas obras da refinaria Abreu e Lima, obra superfaturada da Petrobras, segundo informações do jornal O Globo desta sexta-feira. Documentos mostram, segundo a publicação, que Dilma chegou a pedir para a Controladoria Geral da União (CGU) apurar o caso, mas o processo acabou arquivado em janeiro de 2014, sem punições. Outro processo havia sido arquivado pela CGU em 2012.
A primeira suspeita de irregularidade que Dilma ficou sabendo se referia a um dos primeiros apontamentos feitos pelo TCU, ainda na fase de terraplanagem. O consórcio de empreiteiras responsável teria se beneficiado de um superfaturamento de 59 milhões de reais, segundo auditoria. Além de Dilma, o TCU também enviou ofícios para o presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, senador Fernando Collor (PTB-AL), em julho de 2009. Em agosto do mesmo ano, Collor enviou ofício a Dilma sobre o tema e, em setembro a Casa Civil repassou o caso à CGU para a abertura de processo. 
A CGU justifica o arquivamento com a falta de braço. Segundo consta em uma nota informativa do órgão de janeiro deste ano, há poucos funcionários - apenas três - para fiscalizar a Petrobras, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) e a Secretaria de Petróleo do Ministério de Minas e Energia e, por isso, auditorias em obras como Abreu e Lima não são prioridades. Outra justificativa é que a obra já tinha avançado bastante desde 2011 - 80% da refinaria já havia sido construída até o dia do arquivamento. 
Em outro processo também sobre a refinaria em 2010, o então presidente da Comissão Mista de Orçamento, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) repassou ao governo informações sobre irregularidades apontadas pelo TCU. Em 2012 ele foi arquivado. 
No caso de Pasadena, a CGU abriu investigação em dezembro de 2012, chegou a trocar correspondências com a Petrobras por seis meses, mas o processo ficou parado até abril de 2014, quando foi apensado a um novo.
Com a polêmica sobre o voto favorável de Dilma à compra da refinaria de Pasadena, no Texas, e novas denúncias contra a estatal, a CGU desarquivou os casos em 15 de maio, mas não se sabe como está o andamento do caso agora.
Respostas - O Palácio do Planalto afirmou que a CGU tem investigações em andamento sobre a Petrobras. Em relação à refinaria de Pasadena, diz que o relatório está “em conclusão” e poderá resultar “na apuração de responsabilidades de agentes públicos e empresas”. Sobre Abreu e Lima, afirmou apenas que a CGU “acompanha as deliberações do TCU em relação às obras e as providências adotadas pela Petrobras”. O Planalto destacou que há investigações em andamento sobre a atuação da Petrobras em “diversas frentes”.
Em nota, a CGU informou que os processos que instaurou em 2009, 2012 e 2013 não eram auditorias. Os processos, segundo a CGU, foram abertos apenas para monitorar o atendimento pela Petrobras do que fora determinado pelo TCU.
Denúncias - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso em março na Operação Lava-Jato, contou no último mês à Polícia Federal detalhes sobre esquemas irregulares na Petrobras e relevou, conforme publicado por VEJA, nomes de quem estaria envolvido em esquemas ilegais. Seus depoimentos, acordados em delação premiada, renderam 68 páginas, como mostrou a coluna Radar do site de VEJA. Nesta semana, outro envolvido na Operação Lava-Jato, o doleiro Alberto Yousseff, aceitou também acordo de delação premiada, se comprometendo a entregar tudo o que sabe sobre a engrenagem bilionária que envolvia desvio de recursos públicos, inclusive da Petrobras, e lavagem de dinheiro.

Falta de pagamentos em Abreu e Lima leva Petrobras à Justiça

Refinaria

Tribunal concedeu liminares favoráveis a empreiteiras e ao sindicato de trabalhadores da obra. Estatal não paga fornecedora e por isso terá de arcar com salários de funcionários

Ana Clara Costa
Refinaria Abreu e Lima
Refinaria Abreu e Lima: atrasos e suspensão de pagamentos podem criar judicialização (Bobby Fabisak/Exame/VEJA)
Em menos de uma semana, a Petrobras sofreu dois revezes na Justiça envolvendo a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A primeira ação foi movida pelo Consórcio Rnest Edificações, liderado pela Engevix, que possui um contrato de cerca de 1 bilhão de reais para construir os edifícios da parte administrativa da refinaria. A empresa alega que realizou 94% da obra e recebeu apenas 50% do valor acordado. Para minimizar perdas, a Engevix conseguiu liminar da 30ª Vara do Tribunal de Justiça de Pernambuco que lhe permite deixar a obra inconclusa sem ter de arcar com multas por descumprimento contratual. A segunda ação é de autoria do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplenagem de Pernambuco (Sintepav), que representa os mais de 40.000 funcionários que já passaram pela obra. A liminar concedida na terça-feira exige que a Petrobras arque com os encargos trabalhistas de funcionários de uma das fornecedoras de Abreu e Lima, a Alusa. A origem das duas ações está no fato de a Petrobras ter atrasado desde o início do ano — e, mais tarde, vetado — todos os pagamentos de contratos da refinaria que foram firmados pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa. Sem os pagamentos, as ações judiciais devem se multiplicar.
Procurada pelo site de VEJA, a Petrobras disse não ter sido notificada das decisões e afirmou que está em dia com suas obrigações contratuais. “Os pagamentos estão sendo realizados de acordo com a legislação vigente e com o estabelecido em contrato”, disse a estatal, em nota. Esse cenário de normalidade é posto em dúvida, no entanto, pelas dificuldades por que estão passando diversas empreiteiras diretamente envolvidas na construção de Abreu e Lima. Desde o início do ano, três empresas pediram recuperação judicial: Jaraguá, Fidens e Inepar, controladora da Iesa. Outras estão em dificuldades e tiveram de abandonar a liderança de seus consórcios, ficando apenas com a cota simbólica de 0,1%. É o caso da Alusa, da EIT, da Egesa, da Setenco e da Lomater. Também enfrentam problemas a Galvão Engenharia, a Thomé e a Engevix. É possível que as dificuldades dessa empresas se devam a uma combinação de causas, mas é certo que os contratos com a Petrobras são fundamentais para a saúde financeira de todas.
Torneiras fechadas — Estão vetados, por exemplo, os pagamentos de cláusulas adicionais que já haviam sido acertadas entre as construtoras e a refinaria, que se referem a serviços que já até foram executados. Tal dinâmica evidencia, inclusive, o clima de informalidade em que as obras eram geridas. Na liminar concedida em favor da Rnest Edificações, à qual o site de VEJA teve acesso, o grupo alega que desde o início de 2012 a Petrobras tem mudado o escopo do contrato, sem que haja revisão nos custos.
Segundo investigações da Polícia Federal feitas no âmbito da Operação Lava Jato, as cláusulas adicionais, chamadas no jargão jurídico de "aditivos", são justamente a ferramenta que o ex-diretor Paulo Roberto Costa teria usado para drenar a propina recebida de grupos prestadores de serviços da Petrobras para partidos políticos. De acordo com dados da PF, fornecedores da estatal irrigaram as contas de firmas de fachada operadas pelo doleiro Alberto Youssef, que, tudo indica, tinha a função de “tesoureiro” do esquema de Paulo Roberto. Uma planilha apreendida pela polícia lista pelo menos dezoito grupos envolvidos. A Rnest Edificações, por exemplo, teria pago, segundo a PF, 3,2 milhões de reais a uma das firmas do doleiro. 
Mas, antes mesmo da suspensão dos pagamentos, a dinâmica de aprovação de aditivos já havia mudado. Desde que veio à tona a Operação Lava Jato, em março deste ano, os gestores da refinaria foram impedidos de autorizar qualquer mudança contratual. Os cronogramas de negociação e pagamentos de aditivos, já aprovados no nível gerencial, passaram a ser chancelados pela diretoria, o que tornou o processo de liberação mais moroso e detalhado. Uma reunião ocorrida em outubro deliberou, finalmente, que tudo seria suspenso — inclusive os próprios aditivos que estariam na pauta de aprovação do dia. “A ordem que temos é de não fazer nada adicional porque não será remunerado”, afirma um gestor da obra, contratado por uma das empreiteiras. Tal sistemática tem colocado alguns fornecedores à beira do colapso, sobretudo os menores. “Ninguém recebe se não for à Justiça. Para uma empresa grande, é possível sobreviver. Mas elas são meia dúzia. O restante vai sucumbir”, diz um executivo.
A tendência é que o veto se mantenha. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a suspensão parcial dos repasses do governo à obra de Abreu e Lima. O relatório do tribunal, que fiscalizou 102 obras públicas entre junho do ano passado e julho deste ano, aponta irregularidades em quatro contratos da refinaria, que acumularam sobrepreço de ao menos 368 milhões de reais. O TCU expediu ainda uma medida cautelar impedindo reajustes de preços em contratos já firmados.
Trabalhadores na berlinda — Os principais prejudicados, se houver uma judicialização dos contratos em Abreu e Lima, são os funcionários da obra. Atualmente, 26.000 trabalhadores estão nos canteiros — esse número já foi de 40.000. Uma das principais empregadoras é a Odebrecht, que lidera o consórcio Conest. O site de VEJA apurou que a empreiteira tem planos de demitir, nas próximas semanas, 1.200 dos 6.000 funcionários que trabalham atualmente na obra. Segundo o Sintepav, o principal temor é que as demais empresas sigam o caminho da Alusa e deixem de pagar os salários, fundo de garantia, ou as rescisões. Segundo o sindicalista Rogério Rocha, há casos de trabalhadores passando fome e até mesmo tentativas de suicídio nos alojamentos. “Nós comunicamos a situação à Petrobras, mas não tivemos qualquer retorno”, afirma Rocha.
O sindicalista relata que, após um mês sem receber e mandar dinheiro para a família, um funcionário da Alusa tentou se enforcar — só não morreu porque foi socorrido por um colega. “Luz e água foram cortadas dos alojamentos por falta de pagamento e não há qualquer assistência. O trabalhador não é culpado pela guerra que a Petrobras criou”, afirma.
Segundo o sindicato, até o momento, a Alusa é a única que deixou de pagar funcionários. Contudo, há a expectativa que a situação se agrave depois da proibição de repasse às empreiteiras. “Agora ainda estão pagando. Mas não esperamos que continuem. Em janeiro os problemas trabalhistas devem começar”.

Arno Augustin: o malvado favorito de Dilma Rousseff

Perfil

Secretário do Tesouro deve permanecer no próximo governo da presidente com poder ainda maior: será a ponte entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda

Ana Clara Costa
Arno Augustin, secretário do Tesouro
  Arno Augustin, secretário do Tesouro (Rodrigo Pozzebom/ABr/VEJA)
É sabido que Dilma Rousseff é severa com seus subordinados. Os que melhor se adaptam ao seu estilo de gestão são aqueles que ou se curvam às suas ideias, ou compartilham delas. O secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin faz ambas as coisas. Como na célebre animação Meu Malvado Favorito, toda vez que Dilma trama algo na economia, pode contar com Arno: ele é o seu 'minion' perfeito.
Arno guarda as chaves do Tesouro Nacional desde 2007. No governo e, sobretudo, fora dele, as preces são para que sua temporada na administração federal termine este ano. Contudo, o caminho será inverso. O secretário deverá ganhar mais poder. Dilma o quer mais perto e, por isso, deve “promovê-lo” a assessor especial, com direito a sala no Palácio do Planalto. Uma promoção e tanto para um homem que é malquisto não só por parte dos técnicos de sua própria secretaria, como também por políticos, empresários e pela alta cúpula do PT.
Levam a sua assinatura as medidas de “contabilidade criativa” que dilaceraram a credibilidade das contas públicas e que podem conduzir o país a um rebaixamento de nota pelas agências de classificação de risco em 2015. Também é atribuída a ele a parternidade de ações intervencionistas como a Medida Provisória 579, que provocou desequilíbrios no setor elétrico, e a redução da taxa de retorno para investidores interessados em dar lances nas concessões de infraestrutura feitas ao longo do governo Dilma.
Novo pitbull — No novo governo, Arno Augustin deverá servir de ponte entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda. A depender de quem ocupe essa pasta, pode ser uma tarefa muito, muito árdua. Cresceu ao longo da semana a expectativa de que Dilma convide o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para comandar a Fazenda. Depois de se reunir com Lula, na segunda-feira, a presidente está propensa a ceder e convidar Meirelles. Assessores próximos de Dilma reconhecem que ela não morre de amores pelo banqueiro, mas ficou balançada com a pressão vinda de seu antecessor. O argumento mais forte usado por Lula, afirmam, é de que uma guinada na economia será essencial para pavimentar a volta do ex-presidente na disputa eleitoral de 2018. E, para Lula, tal guinada só poderá acontecer se houver uma reconciliação com o mercado que Meirelles seria capaz de conduzir. Não que tenha mudado suas convicções ou reconhecido erros. Mas ela tampouco quer arcar com a culpa de ser a responsável pela saída do PT do poder.
Se Meirelles aceitar assumir a pasta, condicionará sua volta a Brasília à escolha de sua própria equipe econômica e a interferência mínima do Palácio do Planalto. Nesse contexto, a presença de Arno Augustin será crucial. “Ele será o pitbull de Dilma na área econômica. Como ele é de sua inteira confiança, Dilma vai delegar ao Arno todo o desgaste com a Fazenda”, afirma um assessor que acompanha as discussões sobre a troca ministerial. No PT, o secretário é visto com antipatia. Sua interferência na relação da Presidência com o setor privado, ainda que ele tenha apenas seguido ordens, é vista como um problema que poderia ter sido evitado. Diz um petista que se reuniu com Lula na quarta-feira, em São Paulo, que o desprezo do cacique petista por Augustin é tal que “não quer nem ouvir falar dele”. 
Soldado fiel — De fala mansa-esganiçada, vida simples e discrição pouco usual entre os caciques de Brasília, Augustin nada tem de truculento. Quem o conhece ressalta características como a boa educação e, em muitos casos, a docilidade — que só dá lugar à rispidez quando suas ordens são contrariadas. Seu domínio técnico e dedicação ao trabalho no Tesouro também são características constantemente mencionadas. Diz um senador petista que, ao participar como convidado das reuniões da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, sempre que questionado sobre números e conceitos, Augustin sabe tudo na ponta da língua e se mostra sempre solícito em ajudar.
Sua dedicação ao PT, partido ao qual é filiado desde 1987, somada à sua experiência na Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, fez com que fosse alçado ao posto de Secretário do Tesouro ainda durante o governo Lula — posto que continuou ocupando na gestão seguinte, num grau de poder que jamais havia sido oferecido a um secretário. Dilma foi responsável por trazê-lo a Brasília, nos idos de 2003, por ver nele um soldado fiel. Com Augustin, a presidente compartilha uma linha de pensamento econômico com forte viés à esquerda, que vê no emprego, e não na estabilidade macroeconômica, a chave para o desenvolvimento do país.
A subserviência do secretário à presidente, a quem não costuma responder com negativas, coloca em xeque sua própria credibilidade como técnico. Augustin lança mão da ortodoxia econômica para vetar a liberação de empréstimos a estados, mas pode ser o mais heterodoxo dos economistas ao criar medidas contábeis que mascaram as derrapadas fiscais do governo federal. Notórias foram as vezes em que, durante o governo Lula, o secretário criou disputas entre o Tesouro e governadores devido à sua “mão fechada”.
Numa ocasião, quando ainda era secretário no Rio Grande do Sul, brigou por uma linha de crédito de 1 bilhão de dólares junto ao Banco Mundial que, ao ingressar no Tesouro, decidiu negar. O ato suscitou revolta de parlamentares gaúchos. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) fez vigília no Senado, num discurso de mais de seis horas, para tentar chamar a atenção do Executivo. O estado era então governado pela tucana Yeda Crusius. Outro governador tucano, o paranaense Beto Richa, chegou a pedir à Justiça estadual uma mandado de prisão contra o secretário justamente por ele ter negado aval a um empréstimo de 600 milhões de reais ao estado. À época, Augustin alegou que liberar o limite significaria o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Curiosamente, hoje, devido à contabilidade criativa de Augustin e aos efeitos nocivos da política econômica de Dilma Rousseff, o país deverá encerrar o ano com déficit fiscal. Ou seja, até o momento, a diferença entre a arrecadação e os gastos do governo está negativa em 15 bilhões de reais, o pior resultado da história. A previsão do governo era de um superávit de 99 bilhões de reais para este ano. Diante da impossibilidade de se chegar a tal número, o Executivo tentará aprovar uma nova meta fiscal antes do apagar das luzes de 2014 — proposta que a oposição já sinalizou que combaterá. Se não conseguir aprovar a nova meta no Congresso, o governo terminará o ano descumprindo a LRF que o secretário dizia respeitar, o que poderá acarretar sanção penal contra a administração federal.
Pobre menino rico — Nascido numa abastada família da cidade de Carazinho (RS), Augustin encantou-se, ainda jovem, pelo pensamento trotskista. Por ser ainda criança durante os anos de chumbo da ditadura, nada teve a ver com a resistência, muito menos luta armada. Mas desenvolveu uma peculiar sensibilidade aos temas sociais e sempre se mostrou desprendido da riqueza que seu pai, de quem herdou o nome, acumulava com o passar do tempo. Dono de terras, comerciante de máquinas agrícolas e empresário do setor automotivo, Arno pai tentou trazer os filhos para o comando dos negócios.
Avesso à política e a qualquer ideologia que não fosse o trabalho duro, o patriarca escalou o filho mais velho, Claudio, para tocar a empresa. Um contemporâneo dos irmãos Augustin contou ao site de VEJA que, em poucos meses, o primogênito organizou uma greve de funcionários na empresa paterna e foi demitido. Claudio, um dos fundadores do PT no Rio Grande do Sul, foi uma das grandes influências políticas na vida do irmão, Arno Filho. Ambos deixaram Carazinho ainda jovens para estudar em Porto Alegre — e nunca mais abandonaram o engajamento político. Enquanto Arno se dedicou à administração pública de seu estado, daí sua devoção a Dilma Rousseff, que também iniciou carreira em solo gaúcho, Claudio se tornou líder sindical e hoje preside o Sindicado dos Funcionários Públicos do Rio Grande do Sul. O único a seguir o caminho do pai foi o empresário Carlos Ernesto Augustin, que hoje comanda um conglomerado de agronegócio, em especial de soja e algodão, com sede em Rondonópolis, no Mato Grosso.
Com reportagem de Naiara Infante Bertão e Talita Fernandes

Aécio: governo produz déficit e quer chamá-lo de superávit

Contas públicas

Senador tucano diz que a presidente da República incorre em crime se não cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal

Aécio Neves durante discurso no Senado
Aécio Neves durante discurso no Senado (Geraldo Magela/Agência Senado/Divulgação)
O senador tucano Aécio Neves disse que a oposição vai trabalhar para derrubar a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que elimina da meta fiscal o limite de abatimentos de gastos com PAC e desonerações. "Estaremos vigilantes para impedir um cheque em branco para o governo", disse. Segundo Aécio, que foi derrotado por Dilma Rousseff no pleito presidencial deste ano, afirmou que o Planalto quer, com a mudança, produzir um déficit e chamá-lo de superávit. 
Aécio disse que, além de derrubar a proposta, a oposição estuda tomar medidas judiciais contra a proposta do Executivo. "Vamos discutir, inclusive, do ponto de vista judicial, quais as demandas cabíveis porque a presidente da República incorre em crime de responsabilidade se não cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal", afirmou o tucano, em entrevista na saída do plenário do Senado.
Para o tucano, o governo deveria ter a "humildade" de dizer que fracassou. "Um governo que foi perdulário, que não foi responsável do ponto de vista da administração dos gastos públicos, não tem autoridade moral para pedir ao Congresso que altere uma lei por ele aprovada", disse.
Aécio lembra que até poucos meses atrás, as principais autoridades do governo diziam que cumpririam o superávit primário de 1,9% do PIB. Contudo, até o momento, tem-se apenas um déficit de 15 bilhões de reais. 
Também nesta quarta-feira, a manobra fiscal que o governo tenta emplacar no Congresso foi alvo de críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. FHC ironizou a iniciativa, dizendo que nem mesmo o Rei Pelé conseguiria driblar a meta fiscal. "É um drible que não da certo, vai mostrar a incompetência de bem gerir a economia do Brasil. É um gol contra, não tem sentido".
Segundo o ex-presidente, se aprovada, a proposta de lei permitirá que o governo termine o ano com déficit fiscal, sem que seja penalizado por isso. "Dilma falou que eu quebrei o país três vezes. Não sei quando. Agora é ela quem está quebrando (o Brasil)", disse FHC, durante palestra num evento de tecnologia, em São Paulo.
(Com Estadão Conteúdo)

CGU confirma negociata entre holandesa SBM e Petrobras

Investigação

Ministro-chefe da CGU, Jorge Hage determinou abertura de processo de responsabilização da SBM Offshore. Segundo ele, empresa procurou o órgão com o objetivo de fazer um acordo de leniência. Caso foi revelado por VEJA

Teminal Transpetro da Petrobras, em Barueri
Teminal Transpetro da Petrobras, em Barueri (Reinaldo Canato/VEJA)
A Controladoria-Geral da União (CGU) concluiu que ocorreram graves irregularidades no relacionamento entre as Petrobras e a holandesa SBM Offshore, que firmou acordo na Holanda para pagar 240 milhões de dólares por supostos pagamentos de propina em vários países no mundo, incluindo o Brasil. As investigações iniciadas em abril pela CGU apontam que seis funcionários da estatal, entre ex-diretores e empregados que ainda trabalham na empresa, estão envolvidos com negociatas feitas com a companhia holandesa, que fornece navios-plataforma e tem contratos com a estatal brasileira que somam aproximadamente 27 bilhões de dólares.
A apuração aponta obtenção de vantagens indevidas e o pagamento de propina a agentes públicos federais, como revelou reportagem de VEJA em fevereiro deste ano. "Sem dúvida houve irregularidade no relacionamento entre a SBM e seus representantes no Brasil e a Petrobras", disse nesta quarta o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage. A CGU, segundo Hage, investigou todos os contratos ativos que a SBM mantém com a Petrobras. Ao todo, são oito contratos de longa duração, alguns iniciados ainda na década de 1990. A partir dos relatórios realizados, Jorge Hage determinou nesta quarta-feira a abertura de processo de responsabilização da SBM Offshore.
A punição da empresa pode levar ao impedimento de celebrar novos contratos com a Petrobras. A notificação da SBM para apresentar defesa deve ocorrer até segunda-feira, após a publicação da portaria de instauração do processo no Diário Oficial da União. A empresa e os funcionários da estatal terão dez dias para apresentar defesa, prazo que pode ser prorrogado por mais dez dias. Hage informou que não pode mencionar o nome dos seis funcionários e ex-funcionários da Petrobras envolvidos nas irregularidades. 
É sabido que os contratos internacionais da estatal passavam diretamente pelas mãos do ex-diretor da área internacional da petroleira, Nestor Cerveró, que foi acusado pela presidente Dilma Rousseff de ter omitido termos da negociação feita pela Petrobras em 2005, quando adquiriu a refinaria norte-americana de Pasadena.
Há possibilidade de que a SBM Offshore feche um acordo de leniência, pelo qual a empresa se compromete a colaborar com as investigações e, assim, não ser proibida de atuar. Segundo Hage, a SBM procurou a CGU com vistas a um possível acordo. "Nessa eventual acordo, cabe o ressarcimento pleno dos prejuízos causados", disse Hage, sem mencionar valores.
O objetivo da CGU é responsabilizar individualmente os agentes que participaram dos atos ilícitos. Esses processos estão em andamento na Corregedoria da CGU e, segundo Hage, têm contado com a colaboração da direção da Petrobras. Em maio, a presidente da estatal, Graça Foster, voltou a negar, em depoimento à CPI da Petrobras no Senado, a ocorrência de irregularidades em contratações feitas entre a estatal e a SBM Offshore. A petrolífera começou a ter negócios com a empresa em 1996.
À CPI, Graça chegou a dizer que houve ocasiões em que a SBM foi contratada por inexigibilidade de licitação, mas que isso ocorria apenas em ocasiões emergenciais. Uma dessas ocasiões se deu em 2001 - durante o governo Fernando Henrique Cardoso, citou Graça, quando a plataforma 36 (P-36) da estatal, que custou 350 milhões de dólares, afundou.
A Petrobras informou que sua comissão interna de apuração, criada em 13 de fevereiro deste ano para verificar as denúncias de supostos pagamentos de suborno a empregados da companhia, envolvendo a SBM Offshore, concluiu seus trabalhos em março, sem encontrar fatos ou documentos que evidenciassem pagamento de propina a empregados da estatal.
Hage disse que o trabalho interno feito pela Petrobras serviu como base para as investigações da CGU. "O relatório que nós recebemos da estatal foi útil como ponto de partida. Eles não têm instrumental interno para avançar mais. De qualquer forma, o trabalho deles não foi inútil ou escamoteador das coisas", comentou. Hage disse que espera que a conclusão total do processo ocorra no primeiro semestre do ano que vem.


(com agência Reuters)

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