terça-feira 12 2012

La Pire Haleine du Monde

Vida sexual de pinguins escandalizou explorador britânico


Comportamento Animal

Museu de História Natural de Londres descobre artigo de George Murray Levick quase cem anos após sua expedição à Antártica

Explorador britânico George Murray Levick
George Murray Levick, explorador britânico que relatou o comportamento sexual de pinguins durante viagem à Antártica(Reprodução)
Para o explorador britânico George Murray Levick (1876–1956), que quase morreu de fome e frio durante a Expedição Terra Nova  — que explorou a Antártica entre 1910 e 1913 —, o mais chocante da viagem não foram as condições extremamente adversas, mas sim observar o comportamento sexual dos pinguins de Cabo Adare, onde está localizada a maior colônia depinguins-de-adélia. Em um artigo que ficou perdido por 50 anos e só agora foi descoberto e divulgado pelo Museu de História Natural de Londres, Levick relatou casos de homossexualismo, pedofilia e necrofilia – a cópula de pinguins machos com fêmeas mortas. 

Saiba mais

EXPEDIÇÃO TERRA NOVA
A expedição liderada pelo capitão Robert Scott, da Marinha Britânica, durou de 1910 a 1913 e tinha como objetivo explorar o Polo Sul. Em janeiro de 1912, morreram o capitão Robert Scott e outros quatro integrantes da expedição. Levick e outros cinco companheiros sobreviveram, mas tiveram que aguardar a chegada do barco Terra Nova, preso no gelo durante o inverno.
Diário George Murray Levick
Imagem do diário de George Levick
PINGUIM-DE-ADÉLIA
Os pinguins-de-adélia têm a Antártida como habitat. Eles são uma das únicas espécies que se aninham no continente.
Levick ficou tão horrorizado com as descobertas que inicialmente as registrou em grego, para restringir o acesso dos leitores. Depois de sua volta a Londres, em 1913, ele escreveu um trabalho em inglês chamadoNatural History of the Adélie Penguin, do qual excluiu o relato sobre o comportamento sexual dos pinguins. Esse testemunho foi descrito em um outro artigo: Sexual Habits of the Adélie Penguin, até então desconhecido.
"Baderneiros" — No trabalho, Levick descreve que os pinguins machos formavam "grupos de baderneiros de meia dezena de indivíduos, ou mais, e vagam perto dos refúgios incomodando os ocupantes com seus reiterados atos de depravação."
De acordo com Douglas Russell, curador do Museu de História Natural que redescobriu o artigo de Levick, os hábitos sexuais dos pinguins que tanto escandalizaram o cientista podem ser causados pelas condições climáticas da Antártica.
Ele explica que os pinguins têm poucas semanas para completar o ciclo reprodutivo, que começa em outubro. "Os jovens adultos simplesmente não têm nenhuma experiência sobre como se comportar e podem usar pistas erradas", concluiu.
A descoberta do artigo de Levick contribui para o estudo de animais considerados termômetros da mudança climática. "Os pinguins de Cabo Adare precisam de gelo, a partir do qual mergulham para pescar. Quando o gelo desaparecer, o número de animais pode diminuir e então nós teremos um aviso claro que as coisas estão indo mal", diz Russel.
Russel fala sobre suas conclusões em trabalho publicado na revista Polar Record, que escreveu em conjunto com o professor William Sladen do Instituto Médico Johns Hopkins (Estados Unidos) e com o pesquisador de pinguins David Ainley.
(Com Agência France-Presse)

Quem ama, pelo visto, mata! Desde que a vítima seja homem e rico, e a assassina, uma prostituta redimida! Eis um mundo bárbaro, boçal! Ou: O feminismo de faca na mão!



Vou tratar de um tema que, na aparência, nada tem a ver com política. Na essência, no entanto, não poderia ser mais político. Não o evento em si, mas o tratamento a que vem sendo submetido. Vejam como os tempos politicamente corretos podem ser estúpidos e condescender até mesmo com um crime bárbaro. Se acharem procedente, passem adiante e façam o debate.*
Caras e caros, confesso que estou surpreso, e um tanto estupefato, com rumo que vai tomando o noticiário sobre o assassinato e esquartejamento do empresário Marcos Matsunaga. A razão, o decoro, a civilidade e o bom senso estão sendo devorados — lá vem barulho, eu sei, mas não posso fazer nada —  pelo feminino de botina e faca na mão que, tudo indica, tomou conta da imprensa. E pouco me importa se quem o pratica é homem ou mulher. Desde que Elize confessou ter matado o marido, começou o trabalho de construção da vítima e do vilão! A vítima, no caso, é quem matou. E o vilão é o morto!!!
Ontem, vi uma reportagem que sugeria que ela só deu um tiro na cabeça dele por legítima defesa. E por que decidiu fazê-lo em pedaços? É que tinha conhecimentos de enfermagem… Ah, bom! Quando operei o cocuruto, lembro de duas cenas com clareza: eu tentando ser engraçado instantes antes de levar Propofol na veia, que precede a anestesia pra valer, como se aquilo me acontecesse todo dia e não tivesse importância — todo mundo é meio idiota à beira do abismo, acho —, e o sorriso benevolente das duas enfermeiras que me acordaram, muitas horas depois, na UTI. Não eram esquartejadoras. Não eram, não! Depois eu levei flores e chocolates para elas. Pensei até em fazer uma poesia. Mas achei que a continuidade da rotina da vida não valia tanta solenidade. Melhor celebrar com as coisas que perecem: flores e chocolate! Volto ao ponto.
A história mexe com alguns clichês que foram sendo progressivamente abandonados até pelas novelas, dado o desgaste do enredo. A puta pobre conquistada pelo milionário já não rende fantasias, a menos que salte da telinha ou da telona para a vida real. É o caso. Elize era garota de programa, e Marcos, um cliente. Pelo visto, eles se apaixonaram, o que rendeu um casamento e uma filha — ele pai de uma criança de uma união anterior. Mas, oh desdita!, parece que o rapaz se sentia especialmente atraído pelo amor que ousa dizer seu preço. Já numa união estável com Elize — que sabia bem como o conheceu e tinha, portanto, pavimentado o caminho da desconfiança —, tornou-se amante de outra garota de programa, outra morena original (Elize havia se tornado uma falsa loura). Imagens gravadas por um detetive particular foram parar na televisão! À amante da vez, ele havia dado de presente um carro avaliado em R$ 100 mil! Era pródigo, pelo visto, nos amores que comprava.
O advogado de defesa de Elize deve estar rindo de orelha a orelha. A imprensa trabalha pra ele, de graça. A esta altura, Marcos, o assassinado e esquartejado, já está caracterizado como o marido infiel, colecionador de armas, viciado em sexo pago, que não soube — e este é seu maior pecado para o feminismo de faça na mão — reconhecer o valor da puta que se redimiu e se tornou a amante extremosa. O mais escandaloso nisso tudo é que a imprensa não está se dando conta de que as informações de bastidores saem só de um lado do conflito porque o outro já não pode se manifestar, não é mesmo? Essa imprensa que perde os limites não precisa de controle social, não! Basta um pouco de vergonha!
Atenção! Fosse Elize a dona de casa dedicada desde sempre, oriunda da mesma classe social de Marcos, que tivesse estudado em colégios caros, essa asquerosa simpatia que vem granjeando na imprensa não seria tão saliente, ainda que o comportamento do marido fosse o mesmo. O fato de ter sido garota de programa e de ter se tornado mãe de família e mulher ciumenta, ciosa do casamento (!), excita a estúpida imaginação politicamente correta de parte do jornalismo. “Coitada! Ela bem que tentou uma vida regenerada, mas ele não deixou, ele não permitiu; queria humilhá-la!” Há aí algumas fantasias cretinas que vão se combinando.
A primeira delas é a de que alguém se torna prostituta por alguma imposição do destino. Falso! Ainda que, excepcionalmente, possa ser assim, só continua no ramo quem quer — e o preço da remissão, obviamente, não há de ser um marido milionário. A segunda fantasia é a de que, na alma de toda puta, reside adormecida uma santa, esperando para acordar e passar lições de vida e moral. Não! Trata-se apenas de jeito nada digno de ganhar a vida. Ser mulher de empresário milionário certamente é mais fácil, e Elize, por óbvio, escolheu a lei do menor esforço, já que ele topou a parada. A terceira fantasia, dadas as origens dela e dele, é o confronto de classes. Se uma pobre — ou ex-pobre — mata um rico, supõe-se que, em alguma instância, isso representa uma forma de justiça e compensação. A quarta fantasia é mais difícil de detectar, mas compõe o substrato do noticiário e dá conta do espírito do tempo: de alguma maneira, Elize é a expressão, e não se espantem porque vou explicar direitinho, de um movimento de libertação da mulher — ainda que uma expressão trágica.
Ângela Diniz e Doca StreetEu tinha 15 anos quando Doca Street matou Ângela Diniz, a “Pantera de Minas”, em 30 de dezembro de 1976, numa praia de Búzios, com quatro tiros. Ambos faziam parte da fina flor da elite brasileira. Ele foi julgado em 1979 e saiu livre do tribunal, condenado apenas por homicídio culposo. Beneficiado por sursis, foi solto imediatamente. Do lado de fora, foi saudado como herói. O advogado de defesa era o lendário criminalista Evandro Lins e Silva (o que Márcio Thomaz Bastos gostaria de ser quando crescer), que havia sido ministro do Supremo Tribunal Federal entre 1963 e 1969, aposentado compulsoriamente pelo AI-6. Lins e Silva era um monumento do pensamento progressista brasileiro e assim continuou, até a morte, em 2002. Em 1992,  foi ele o advogado de Barbosa Lima Sobrinho, presidente da ABI ( Associação Brasileira de Imprensa), e de Marcelo Lavenère, presidente da OAB, autores da ação popular que solicitou à Câmara dos Deputados a abertura do processo de impeachment de Fernando Collor.
Por que lembro essas credenciais do ilustre criminalista? Porque, no julgamento de Ângela, ele defendeu a tese mais reacionária que estava a seu alcance: Doca matara Ângela para defender a sua honra. Hábil, Lins e Silva levou o júri a julgar a morta, não o assassino. Ela foi caracterizada como bissexual (era verdade), viciada em drogas (provavelmente verdade), promíscua (havia indícios de que sim), chegada a orgias (idem) etc. E ele? O homem apaixonado, que deixara um casamento estável com a milionária Adelita Scarpa, seduzido pelos ardis maléficos da “pantera”. Ainda me lembro de uma frase pronunciada por Lins e Silva: Ângela seria aquela que passava “mais tempo na horizontal do que na vertical”…
A promotoria recorreu, e um novo julgamento foi realizado dois anos depois. Aí a coisa toda já havia se invertido. Bastou esse tempo para que ficasse claro que “quem ama não mata”, nome de um movimento iniciado no país, especialmente por mulheres, que virou programa de televisão. No novo julgamento, Doca foi condenado a 15 anos de cadeia. Afinal, na história daquele “homicídio culposo”, havia um fato que a retórica inflamada de Evandro conseguiu minimizar: ele dera um primeiro tiro com a Beretta. A arma travou. Ele a destravou e desfechou mais três.
Volto aos dias de hojeA imprensa faz com Matsunaga hoje o que Evandro Lins e Silva fez com Ângela no julgamento de 1979 — com a ajuda de certa imprensa sensacionalista. O jornalismo sério já se escandalizava, como prova reportagem de VEJA, de 24 de outubro de 1979, que julgada, naquele caso, fosse a morta, não o assassino. A exposição que se fez da vida dissoluta de Ângela Diniz parecia — e, no fim das contas, era mesmo — uma espécie de justificativa da pena de morte que o amante decidira lhe aplicar. Ora, não é o que se está fazendo agora com Marcos Matsunaga?
Acho absolutamente indecoroso, asqueroso mesmo, que o filme gravado por detetives particulares contratados pela assassina, que mostram o empresário em companhia de uma garota de programa num restaurante, sejam exibidos na televisão. Digam-me: em que isso esclarece as circunstâncias da morte? ORA, ENTÃO ESTAMOS DE VOLTA AO ASSASSINATO “EM LEGÍTIMA DEFESA DA HONRA”? Há 31 anos, em 1981, no segundo julgamento de Doca Street, o país emitiu sinais claros de que não aceitava mais essa tese. Por que ela volta, agora, com essa força? Honra se lava com sangue?
Então agora volto ao ponto inicial. O pensamento politicamente correto — qualquer um —  é uma evidente expressão do mais detestável reacionarismo, só que com sinal trocado. Não duvidem: um marido que tivesse feito picadinho de uma adúltera estaria sendo execrado pela imprensa — e, se querem saber, com razão. Ou de que sociedade, afinal de contas, estamos falando? Este é um país que tem uma lei chamada “Maria da Penha” para coibir e punir o espancamento de mulheres. Quando os casos chegam à imprensa, ninguém se ocupa — com acerto — de saber detalhes do desentendimento conjugal que acabou resultando na agressão. E nem seria mesmo o caso. Não é para agredir e pronto!
Mas é próprio do politicamente correto ignorar o fato e as personagens em si para se fixar num enredo protagonizado por categorias. Elize está sendo tratada, no fim das contas, como a mulher que conquistou “o direito” ao crime passional, atingida pela mesma honra ferida que levava, ou leva ainda, os homens a matar. Não me lembro de ter visto nada parecido! O caso Ângela Diniz trouxe um bom ensinamento ao país no segundo julgamento: o assassinato para lavar a honra é inaceitável, não importa se a vítima é puta ou santa.
Marcos Matsunaga, o esquartejado, está tendo agora a honra feita aos pedaços pelos supostos bons preconceitos do politicamente correto. Se, em vez de uma amante, ele tivesse 10, faria alguma diferença?
Encerro com um apelo: parem de levar ao ar filmes e detalhes da vida desse homem que podem servir a qualquer coisa, menos para explicar por que aquela senhora deu um tiro em sua cabeça e esperou a rigidez cadavérica para fazê-lo em pedaços, enquanto a filha brincava no quarto ao lado. Esquartejamento passional??? Depois pegou o cartão de crédito dele e foi comprar malas Louis Vuitton.
Texto publicado originalmente às 5h43
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

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