Juiz federal divulgou nota depois de ser duramente criticado pelo presidente da Câmara, que classificou depoimento de delator como ilegal
Um dos alvos da pesada artilharia do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato em primeira instância, rebateu nesta sexta-feira as declarações do peemedebista, que atacou o depoimento em que o delator do petrolão Julio Camargo o lança no centro do escândalo. Moro afirmou, em nota, que não é papel dele "silenciar testemunhas ou acusados na condução do processo".
Em depoimento na quinta-feira, o lobista Camargo, da Toyo Setal, afirmou à Justiça que Cunha pediu 5 milhões de dólares do propinoduto da Petrobras em troca de contratos na estatal. De acordo com o delator, o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado como o operador do PMDB no escândalo do petrolão, foi o primeiro a repassar, em nome de Cunha, a reclamação de um "débito" de 5 milhões de dólares. A dívida total de propina naquele contrato de navios-sonda girava entre 8 e 10 milhões de dólares.
Em junho, Moro já havia autorizado que o executivo Julio Camargo prestasse novos depoimentos nos processos do petrolão, atendendo a um pedido da defesa do lobista Fernando. O despacho daquela data esvazia o argumento de Eduardo Cunha de que os investigadores teriam forjado o depoimento desta quinta para constrangê-lo. Ainda assim, o parlamentar alega que a delação premiada de Camargo deveria ser anulada porque o depoente teria mentido e porque a menção a autoridades com foro privilegiado levaria o caso necessariamente para o Supremo Tribunal Federal (STF).
"Moro acha que o Supremo Tribunal Federal e o Supremo Tribunal de Justiça se mudaram para Curitiba e que ele é o dono de todos. É um erro que ele comete, e que pode acabar tornando nulas muitas das ações que fez. Ele está invadindo uma competência que não é dele", afirmou o parlamentar nesta sexta, na entrevista em que anunciou seu rompimento oficial com o governo.