sábado 11 2014

Como manter a saúde em dia

Olhos


A consulta com um oftalmologista é necessária não só para detectar graus de miopia, hipermetropia ou astigmatismo do paciente, mas para o diagnóstico de doenças que acometem a vista, especialmente após os 40 anos. Essas condições incluem glaucoma, catarata e degeneração macular relacionada à idade (DMRI). "Uma pessoa com caso de glaucoma na família tem de dez a quinze vezes mais chances de apresentar o problema. Por isso, a partir dos 40 anos, ela deve acompanhada por um oftalmologista com frequência", diz Fabrício Witzel, oftalmologista do Hospital das Clínicas da USP.

Vacinação

Um adulto não vacinado não somente coloca em risco a sua saúde, mas pode servir como vetor de transmissão para crianças que ainda não completaram a imunização. Por isso, é essencial manter a vacinação em dia durante toda a vida. As vacinas para adultos incluem difteria e tétano (uma dose a cada dez anos); HPV (três doses entre 19 e 26 anos); tríplice viral (uma dose após os 19 anos, mesmo tendo tomado essa vacina na infância); varicela (caso não tenha tomado a vacina na infância); hepatite A e B (ambas para quem não tomou na infância ou nunca teve a doença); meningocócica (uma dose na vida); gripe (doses anuais); pneumocócica (uma dose a partir dos 60 anos).

Coração

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil tanto entre homens quanto mulheres, sendo responsáveis por 30% dos óbitos registrados no país, segundo o Ministério da Saúde. Por isso, é essencial ter cuidado com a saúde do coração. Toda consulta com um cardiologista inclui medida da pressão arterial e realização do eletrocardiograma. Esse exame, que traça o registro de atividade elétrica do coração enquanto o paciente está em repouso, identifica distúrbios do funcionamento do órgão e ajuda a prevenir problemas como morte súbita cardíaca. Além disso, pessoas sedentárias ou com mais de 40 anos que decidem praticar atividade física devem ser submetidos a um teste ergométrico. Ele avalia o coração em situação de stress, geralmente com o paciente se movimentando em uma esteira ou bicicleta estacionária. O exame pode identificar alterações do coração durante o exercício, como uma arritmia cardíaca, e ajudar a prevenir hipertensão ou algum evento cardiovascular.

Saúde bucal


Infecções que ocorrem na boca já foram relacionadas a uma série de problemas de saúde – entre eles, diabetes, doenças do coração e câncer. A periodontite, por exemplo, é o problema dentário mais comum entre adultos. Causada pelo acúmulo de bactérias, pode iniciar como uma gengivite e, sem cuidados adequados, evoluir para a perda de um ou mais dentes. Além disso, essas bactérias podem entrar em contato com a corrente sanguínea e se espalhar pelo corpo, infeccionando diferentes órgãos e tecidos. Por esse motivo, é essencial que a higienização bucal esteja em dia e que um dentista seja consultado regularmente para barrar o avanço das cáries e da gengivite, explica Alênio Calil Mathias, diretor Sociedade Brasileira de Estudos da Halitose. "A visita ao dentista deve ser, no mínimo, anual. Mas a frequência pode aumentar de acordo com os cuidados do paciente com a higiene bucal", diz.

Saúde da mulher

O Papanicolau é o exame para diagnosticar câncer de colo do útero, o terceiro mais incidente em brasileiras, com 15 000 novos casos esperados para 2014. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Papanicolau deve ser feito em mulheres com mais de 25 anos e que têm uma vida sexual ativa. As diretrizes recomendam que os dois primeiros exames sejam realizados anualmente e, caso os resultados sejam normais, a cada três anos. Já a detecção precoce do câncer de mama (57 mil novos casos previstos para 2014 no Brasil) pode ser feita com a mamografia. Não existe um consenso em relação à idade mínima em que a mulher deve se submeter ao exame. A recomendação do Inca é a cada dois anos para pacientes de 50 a 69 anos.

Saúde do homem

A partir dos 30 anos, recomenda-se que o homem comece a fazer o autoexame da próstata. "Basta apalpar o contorno do testículo durante o banho, uma vez a cada quinze dias. Se encontrar algum caroço ou outra anormalidade, é preciso procurar o médico", diz Valter Javaroni, chefe do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Já os exames para detecção do câncer de próstata – o PSA e o de toque retal — devem se iniciar aos 50 anos, segundo a SBU. A idade mínima cai para 45 anos no caso de pessoas negras, obesas ou com histórico da doença na família. Se os resultados forem normais, o paciente deve repetir os exames depois de um ano. Caso algum dos testes levante a suspeita de câncer, o médico realiza uma biópsia. O tumor de próstata é o mais comum entre homens no país. Para 2014, o Inca prevê 69 000 novos casos.

Exames laboratoriais

Os exames de sangue avaliam uma série de características do organismo. O hemograma, por exemplo, mede os níveis de glóbulos vermelhos e brancos na corrente sanguínea e pode acusar anemia ou infecções. Já os testes de glicemia e colesterol mostram como estão as taxas de gordura e açúcar no sangue, podendo revelar o risco de diabetes e problemas cardiovasculares, respectivamente. A checagem da tireoide calcula os níveis de hormônios como o TSH e TS4 livre, e acusa distúrbios a exemplo de hipotireoidismo e hipertireoidismo.

Câncer colorretal

A colonoscopia é o exame que detecta o câncer colorretal, que atinge uma parte do intestino grosso e o reto – 32 000 novos casos são estimados no Brasil em 2014, sendo 17 000 em mulheres e 15 000 em homens. Segundo as diretrizes do Inca, a colonoscopia é recomendável a pacientes com mais de 50 anos que apresentarem sangramento nas fezes. Caso uma pessoa dessa faixa etária não tenha esse sintoma ou alterações intestinais importantes, o exame deve ser repetido a cada dois ou três anos.

Ossos

A densitometria óssea é essencial para o diagnóstico da osteoporose, enfermidade que afeta uma em cada três mulheres com mais de 50 anos, segundo a Organização Mundial da Saúde. Segundo Gutemberg Almeida, diretor do Instituto de Ginecologia do Hospital Moncorvo Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela deve ser feita em pessoas com mais de 60 anos. A idade diminui caso o paciente tenha histórico familiar de osteoporose.

Fontes: Alênio Calil Mathias, dentista e diretor da Sociedade Brasileira de Estudos da Halitose; Danielli Haddad, coordenadora do Centro de Acompanhamento da Saúde e Check-up do Hospital Sírio-Libanês; Fabrício Witzel, oftalmologista do Hospital das Clínicas da USP; Gutemberg Almeida, diretor do Instituto de Ginecologia do Hospital Moncorvo Filho da UFRJ; Hélio Magarinos, patologista clínico; Valter Javaroni, chefe do departamento de andrologia da Sociedade Brasileira de Urologia do Rio de Janeiro

14 sintomas que devem levá-lo imediatamente ao médico

Diagnóstico

Da perda de peso a crises de vômitos sem explicação, alguns sinais do corpo podem servir como indicadores de graves problemas de saúde

Aretha Yarak
Casos de vômito repentino podem ser um prenúncio de infarto ou mesmo um indicativo de problemas vascular, digestivo ou neurológico
Casos de vômito repentino podem ser um prenúncio de infarto ou mesmo um indicativo de problemas vascular, digestivo ou neurológico (Thinkstock)
Sede intensa, perda de peso sem motivo aparente ou um caso de febre persistente. Algumas mudanças bruscas no funcionamento do corpo podem ser o primeiro indicador visível de doenças ou disfunções do organismo. Ao surgimento desses sintomas, especialistas são unânimes em alertar: procure um médico imediatamente. Quanto antes uma doença, um problema ou um transtorno forem diagnosticados, maiores são as chances de sucesso do tratamento.
De acordo com Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, a demora em procurar ajuda médica pode resultar em complicações no tratamento que poderiam, muitas vezes, serem evitadas. "O ideal é que se procure um médico já nas primeiras 48 horas após o aparecimento desses sintomas", diz.
Confira abaixo uma relação de 14 sintomas elencados por especialistas consultados por VEJA, que devem servir como um sinal de alerta importante. Ao surgimento de algum deles, o ideal é que um médico seja procurado para o devido diagnóstico do problema.
14 sintomas que não podem ser ignorados

Perda de peso sem causa aparente

Uma perda involuntária de mais de 10% do peso corporal nos últimos seis meses deve ser investigada. Diversas condições médicas podem causar o súbito emagrecimento. Entre elas estão o hipertireoidismo, o diabetes, a depressão e outros distúrbios psicológicos, doenças do fígado, cânceres ou outras doenças que interferem na maneira como o corpo absorve nutrientes.

Febre persistente

Normalmente, crianças têm mais casos de febres do que adultos e com temperaturas mais elevadas, mesmo em situações benignas. Mas, quando essa febre dura mais de uma semana acima dos 37,5 graus, é hora de procurar um médico. De acordo Arnaldo Lichtenstein, clínico geral do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, mais da metade das febres sem causa aparente são causadas por infecções — que podem ir de uma infecção urinária a casos de tuberculose. Ainda há casos que são causados por cânceres (como o linfoma), doenças autoimunes, uso contínuo de alguns medicamentos e doenças reumatológicas. Se a febre for muito alta, acima dos 39,4 graus, o médico deve ser procurado o mais rápido possível.

Falta de ar

Se a dificuldade para respirar ultrapassa as limitações de um nariz congestionado ou da prática de uma atividade física pesada, pode haver um problema respiratório como pano de fundo. Entre as causas estão a doença pulmonar obstrutiva crônica, anemia, bronquite crônica, asma, pneumonia, embolia pulmonar e problemas de coração e pulmão. "Em alguns casos a falta de ar tem fundo emocional", diz Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Os episódios de ansiedade costumam vir acompanhados de aumento na frequência cardíaca, sudorese, falta de ar e outros sintomas físicos.

Mudanças inexplicáveis nos hábitos intestinais

Entenda-se por alteração intestinal qualquer quadro que não seja o normal de cada pessoa. Entre as mudanças mais comuns estão: fezes com sangue, escuras ou amareladas; prisão de ventre ou diarreia persistente; e vontade incontrolável de defecar. Essas mudanças podem significar a presença de infecções bacterianas (como a Salmonella), virais ou parasitárias. Há casos ainda de problemas como a síndrome do intestino irritável, câncer de cólon e doença celíaca.

Mudanças repentinas no estado mental

Casos de confusões repentinas de pensamento, de concentração e de memória, ou desorientação tempo e espacial, e até mudanças súbitas no comportamento — como tornar-se agressivo — são sinais de que um médico deve ser procurado o mais breve possível. As mudanças rápidas no estado mental podem significar diversos problemas, como infecção, anemia, baixo índice glicêmico, desidratação ou problemas mentais. Em alguns casos, ela pode ser causada por um acidente vascular cerebral (derrame) ou por um tumor. 

Sentir-se saciado mesmo depois de comer pouco

Sentir-se saciado após ingerir pequenas refeições é um sinal de que há algo errado com o organismo. Para saber se a saciedade chega antes da hora, vale uma regra de comparação: se ao comer a mesma quantidade de sempre, a pessoa sente-se empanturrada. Assim, ela acaba tende de comer menos do que o habitual para ficar saciada. A sensação de saciedade pode vir acompanhada ainda de náusea, vômitos, inchaço, febre e perda ou ganho de peso. As possíveis causas para o problema são: refluxo gastroesofágico, síndrome do intestino irritável, gastrite, úlcera, problemas na vesícula ou no esôfago. Em casos mais severos, pode ser sinal de câncer.

Ver flashes de luz

Visualizar manchas brilhantes ou alguns flashes de luz pode ser um sinal de alterações na retina, como uma má circulação ou mesmo seu descolamento. Outros problemas são alterações no vítreo do olho, um líquido que fica entre o cristalino e a retina. Há casos ainda que esses sinais luminosos indicam o começo de uma crise de enxaqueca com aura.

Tontura ou sensação de desmaio

Casos em que a tontura ocorre após uma forte pancada na cabeça e vem acompanhada de febre alta, perda súbita de audição, dor no peito e visão podem ser graves e devem ser encaminhados imediatamente para o serviço de emergência hospitalar. Outros casos de urgência veem ainda acompanhados de enfraquecimento das pernas ou braços, fala embaralhada, perda de consciência e mal-estar. Entre as causas estão: problema cardíaco, anemia, enxaqueca, síndrome metabólica, transtornos de ansiedade, distúrbios emocionais ou neurológicos, lesões na cabeça e medicamentos.

Sede intensa e muitas idas ao banheiro para urinar

Beber quantidades elevadas de água (cerca de quatro litros por dia) e ir ao banheiro em intervalos menores do que o de costume podem ser sintomas de rinite alérgica ou de que os níveis de glicemia do sangue estão desregulados. "Em tempos secos, a pessoa com rinite bebe mais água e acaba indo ao banheiro", diz Arnaldo Lichtenstein. Mas como o sintoma pode ser ainda um sinal de diabetes, deve-se procurar um médico para o diagnóstico adequado.

Urina escura ou pele e olhos amarelados

Quando a urina está com uma aparência escura, chegando a manchar a roupa, ou os olhos e a pele estão amarelados, o organismo pode estar enfrentando desequilíbrios de substâncias no sangue. Esse amarelamento pode ser causado por icterícia, hepatite, cálculo biliar, câncer de pâncreas ou de fígado e processos infecciosos variados.

Vômito

Quando o vômito acontece de maneira inexplicável, em pessoas que não têm histórico de vômitos sem um motivo aparente, ele pode ser um prenúncio de infarto ou ainda de problemas vascular, digestivo ou neurológico.

Dores torácicas

Dores no peito e no tórax durante a prática de um exercício físico podem ser sinal de que algo está errado. Quando a dor é recorrente e costuma desaparecer dez minutos depois que a atividade física termina, ela pode ser um sinal de angina — um conhecido precursor do infarto cardíaco. Em casos mais amenos, no entanto, essa dor pode ser causada apenas pelo acúmulo de gases.

Tosse persistente

Uma tosse seca, do tipo que arranha a garganta e o pulmão e tem duração de mais de três semanas, pode ser reflexo do uso de alguns remédios ou o sintoma de problemas como tuberculose, sinusite ou mesmo de um refluxo de ácido do estômago.

Inchaço de membros

Pessoas acima do peso e com varizes têm, normalmente, um pouco de inchaço nas pernas ao fim do dia. Mas quando esse inchaço começa a aparecer mais cedo e vem acompanhado de falta de ar e inchaço no rosto, é hora de procurar um médico imediatamente. O sintoma, que acomete as duas pernas, pode estar sendo causado por problemas de coração e de rim. Quando apenas uma perna é afetada, no entanto, o inchaço pode ser o resultado de uma trombose e costuma vir acompanhado de dores fortes no membro.
* Fontes: Alfredo Salim, clínico geral e médico de família do Hospital Sírio-Libanês; Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica; Arnaldo Lichtenstein, clínico geral do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP); Clínica Mayo

Como manter a saúde em dia em 2014

Check-up

Conheça os principais exames e procedimentos recomendados para melhorar a qualidade de vida

Vivian Carrer Elias
Saúde: Exames e consultas médicas são essenciais para melhorar a qualidade de vida, mas não podem se tornar uma obsessão
Saúde: Exames e consultas médicas são essenciais para melhorar a qualidade de vida, mas não podem se tornar uma obsessão (Thinkstock)
Entre as promessas feitas com a chegada de um novo ano, cuidar melhor da saúde é uma das mais comuns. Comer alimentos nutritivos, praticar atividade física e controlar o stress são importantes, mas a cartilha do bem-estar inclui um mandamento muitas vezes negligenciado: o check-up. 
Qualquer pessoa, em qualquer faixa etária deve ser examinada de tempos. Esse cuidado evita o aparecimento de moléstias e ajuda a detectar – e tratar – doenças precocemente. Merecem atenção redobrada pacientes com fatores que predispõem enfermidades: sedentários, obesos, tabagistas, idosos e pessoas com histórico familiar de doenças graves.
Para Arnaldo Lichtenstein, clínico geral do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, uma boa avaliação médica começa com uma longa conversa no consultório. “O médico vai fazer uma exame clínico cuidadoso, conhecer o paciente, recomendar vacinas e, por fim, pedir exames”, afirma.
Zelar pela saúde não significa repetir incontáveis exames todos os anos. O excesso de procedimentos sem indicação correta podem gerar gastos e preocupação desnecessários. "O problema disso é muitas vezes achar doenças que não existem e submeter um paciente a procedimentos invasivos que podem ser inúteis", afirma Danielli Haddad, coordenadora do Centro de Acompanhamento da Saúde e Check-up do Hospital Sírio-Libanês.
Quem precisa de check-up? — Recomendações do governo e de entidades médicas que estipulam quais exames devem ser prescritos para quais pessoas, e com que frequência, ajudam a nortear os médicos. Essas diretrizes são elaboradas com base em estudos científicos consistentes (feitos com mais de 15 000 pessoas e durante mais de dez anos). Elas indicam os procedimentos que podem salvar a vida de um número considerável de pacientes e os que são dispensáveis.
Órgãos públicos, como o Instituto Nacional do Câncer (Inca), também consideram o fator econômico — ou seja, até que ponto o custo do diagnóstico vale a pena. "Se forem necessários 5 000 exames para prevenir uma morte, não compensa o investimento. Mas, se a cada 300 testes uma morte for evitada, o gasto é válido", diz Lichtenstein.
A conclusão de novas pesquisas altera a recomendação das instituições de saúde. Em novembro deste ano, por exemplo, a Sociedade Brasileira de Urologia aumentou de 45 para 50 anos a idade mínima recomendada para exames de PSA (proteína que, em níveis aumentados, pode indicar existência de câncer) e de toque retal em homens. A atualização foi feita quando especialistas detectaram um excesso de diagnóstico de câncer de próstata que não se desenvolviam de forma agressiva.
Além disso, as diretrizes variam de acordo com o país e a entidade médica. Enquanto o Inca, órgão oficial do governo, recomenda a mamografia a partir dos 50 anos para mulheres, há médicos que a solicitam para pacientes de 35 anos. Alguém está errado na recomendação? Difícil dizer, já que o debate sobre o assunto não foi encerrado. Se, por um lado, o exame pode diagnosticar tumores em fases iniciais e evitar sua progressão, por outro, ele expõe mais pessoas à radiação e induz à cirurgia pacientes cujos tumores poderiam nem ter se desenvolvido.
De acordo com Danielli Haddad, as recomendações oficiais não são uma regra incontestável — apenas sugerem um limite. Assim, uma pessoa pode receber indicações diferentes para a realização de exames, dependendo da avaliação médica. É o profissional quem decide, com base no histórico de cada paciente, quais exames realizar e com que frequência, além de determinar o retorno para uma nova consulta. Fato é que todas as pessoas que não fazem um acompanhamento da saúde há muito tempo devem procurar um médico que lhe dará essas recomendações. Ao paciente, cabe ficar atento a qualquer alteração em seu organismo e, claro, sempre procurar um bom especialista. "Está errado pensar que, quanto mais exame, melhor. O verdadeiro check-up é aquele que inclui muita conversa com o médico e poucos exames", diz Lichtenstein.  

Estudo mostra resultados promissores para vacina contra esclerose múltipla

Doença autoimune

Em teste com humanos, método foi capaz de diminuir o número de lesões cerebrais causadas pela moléstia, que afeta o funcionamento dos neurônios

Cérebro
A esclerose múltipla destrói a mielina, camada que reveste as fibras nervosas no cérebro, prejudicando a comunicação entre os neurônios e dando origem a uma série de problemas (Thinkstock)
Uma pesquisa realizada na Itália pode ser mais um passo rumo à prevenção da esclerose múltipla, uma doença autoimune incurável e de causas ainda desconhecidas. De acordo com um artigo publicado na última quarta-feira no periódico Neurology, os cientistas testaram, em humanos, a eficácia de uma vacina contra a doença e verificaram que o método foi capaz de evitá-la em mais da metade dos casos.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Effects of Bacille Calmette-Guérin after the first demyelinating event in the CNS

Onde foi divulgada: periódico Neurology

Quem fez: Giovanni Ristori, Silvia Romano, Stefania Cannoni, e outros

Instituição: Sapienza - Universidade de Roma, na Itália, e outras

Dados de amostragem: 73 pessoas com sintomas iniciais de esclerose múltipla

Resultado: Os pesquisadores descobriram que a vacina BCG, usada para a prevenção contra a tuberculose, pode ser eficaz também para prevenir contra a esclerose múltipla
A vacina testada pelos pesquisadores é a BCG (Bacille Calmette Guerin), que contém uma bactéria em estado atenuado capaz de induzir uma resposta imunológica do organismo, impedindo inflamações. Criada na década de 1920, a BCG tem sido utilizada em todo o mundo como uma forma de imunização contra a tuberculose. 
Como a esclerose múltipla e as demais doenças autoimunes costumam ser mais comuns em nações industrializadas, os cientistas responsáveis pelo trabalho defendem a hipótese de que as pessoas desses países têm menos contato com infecções na infância, o que impede o desenvolvimento de seu sistema imunológico. A exposição a certas bactérias por meio da vacina, portanto, seria capaz de fortalecer a imunidade. 
Trabalho — Os pesquisadores reuniram 73 pessoas que tiveram algum sintoma inicial de esclerose múltipla, como problemas relacionados a visão, equilíbrio ou dormência em partes do corpo. Todos os participantes passaram por exames de ressonância magnética que indicavam o início da doença. Os sinais do distúrbio costumam piorar e se tornar mais frequentes com o passar do tempo. 
Dos 73 voluntários, 33 receberam uma dose da vacina BCG, os demais não. Durante seis meses, os participantes de ambos os grupos foram submetidos a ressonâncias magnéticas mensais com o objetivo de verificar o grau de lesões cerebrais existentes. Ao fim desse período, enquanto os não vacinados tinham sete lesões, os vacinados tinham três. 
Depois dessa fase, todos os voluntários tomaram medicações indicadas por neurologistas para atenuar os sintomas da esclerose. Cinco anos depois, 58% dos vacinados estavam livres do distúrbio, ante 30% dos participantes que não tomaram a vacina. Segundo os pesquisadores, mais estudos são necessários para avaliar a segurança e os efeitos a longo prazo da vacina como prevenção da esclerose múltipla. 

Morre Ariel Sharon, guerreiro de Israel nos campos de batalha e na política

Memória

Ex-primeiro-ministro e general linha-dura foi responsável pela retirada unilateral da Faixa de Gaza

Jean-Philip Struck
Sharon em reunião com gabinete em 2005. Do seu lado direito está Ehud Olmert. À esquerda, Shimon Peres
Sharon em reunião com gabinete em 2005. Do seu lado direito está Ehud Olmert. À esquerda, Shimon Peres - Reuters
General e primeiro-ministro que devotou sua vida a preservar e expandir a influência de Israel, não importando o custo a ser pago, Ariel Sharon morreu neste sábado, aos 85 anos. Nos últimos oito anos, ele permaneceu em estado vegetativo, como consequência de um derrame ocorrido no início de 2006 – um fim melancólico para um veterano de cinco guerras que conduziu sua carreira política com a mesma tática de confronto e agressividade. No primeiro dia de 2014, o hospital Shaba, em Tel Aviv, onde Sharon estava internado, informou um sério agravamento do estado de saúde de 'Arik' (apelido de Ariel). Dois dias depois, Zeev Rotstein, diretor do hospital Sheba, comunicou a falência múltipla de órgãos vitais do ex-primeiro-ministro e sinalizou que Sharon poderia morrer em breve: "Não temos bons sinais para o futuro", disse.
Sharon sempre despertou reações fortes em Israel, onde era considerado tanto um falcão inconsequente, responsável por expandir colônias sem se importar com a repercussão internacional e protagonista na invasão do Líbano, em 1982, quanto o herói que teve um papel brilhante e determinante na salvação do Estado judeu na guerra de 1973, o que lhe valeu o apelido de “Rei de Israel”. Pouco antes de ser derrotado pelo derrame, Sharon parecia estar reinventando seu papel de guerreiro linha-dura. Com um pesado custo político, passou a investir nas negociações de paz com os palestinos  – sempre nos seus termos – e ordenou uma surpreendente retirada unilateral da faixa de Gaza, algo que parecia sinalizar uma possível nova fase na região.
Trajetória - Nascido em 1928, uma época em que o Estado judeu ainda era um sonho, Ariel Scheinermann (seu nome original) ou Arik Sharon, era filho de judeus bielo-russos que migraram para a Palestina, então sob mandato britânico, após a Revolução Bolchevique. Já na adolescência passou a integrar organizações sionistas, entre elas o Haganá, que viria a ser o embrião das Forças de Defesa de Israel. Sharon se destacou como líder de pelotão em duros combates na Guerra de Independência de 1948, durante a qual 173 membros da sua brigada morreram atingidos por balas disparadas pelas forças egípcias, jordanianas, iraquianas e sírias. O próprio Sharon foi baleado no estômago e no pé.
Após a vitória, a carreira militar de Sharon começou a prosperar, indicando quais seriam suas características marcantes quando se tratava de defender os interesses do seu país. Ele era impetuoso e podia beirar a insubordinação no trato com os superiores. Na condução de operações, era implacável — e com frequência brilhante na tática.
No início dos anos 50, passou a chefiar com a patente de major a chamada Unidade 101, um esquadrão de 50 homens que tinha como objetivo lançar operações de retaliação contra grupos de fedayin que realizassem ataques contra Israel. O esquadrão conseguiu enfraquecer os guerrilheiros apoiados pela Jordânia, mas também se envolveu em episódios controversos, como o massacre de Qibya, onde mais de 69 palestinos (a maioria mulheres e crianças) foram mortos quando as tropas de Sharon dinamitaram suas casas.
Em 1956, comandou uma brigada de paraquedistas que atuou em regiões próximas ao Passo de Mitla, na região de Suez, durante a guerra contra o Egito. Na operação, Sharon se antecipou às ordens dos seus superiores e ordenou a tomada da área. Os brutais combates que se seguiram culminaram na derrota dos egípcios, mas Sharon foi criticado por subordinados e superiores. Como resultado, nos anos seguintes sua carreira acabaria congelada.
A redenção só veio pouco antes do início da Guerra dos Seis Dias, em 1967, na qual ele conduziu as tropas contra o Egito. Seu papel na batalha de Abu-Ageila, que resultou na tomada do Sinai pelos israelenses, chamou a atenção mundial, e viria a se tornar objeto de estudo em academias militares mundo afora.

Nos anos seguintes, ele comandaria tropas no Sinai e no combate ao terrorismo promovido pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP) na Faixa de Gaza. Em 1973, deixou o Exército e ajudou a formar o Likud, o partido que se tornaria o guarda-chuva de diferentes agremiações de direita. Meses depois, no entanto, foi chamado de volta ao Exército, quando Egito e Síria atacaram Israel durante o feriado do Yom Kippur. No comando de uma divisão blindada e com conhecimento profundo da área, Sharon teve papel determinante em afastar a ameaça egípcia ao cruzar com suas tropas o canal de Suez e virar a maré da guerra. Apesar de novamente ter se envolvido em conflitos com superiores e colegas, a vitória tornou Sharon uma figura popular em Israel.  

De volta à política — após se desligar definitivamente do Exército em 1976 —, a agressividade de Sharon foi semelhante àquela mostrada nos campos de batalha. Em 1977, ele conseguiu seu primeiro cargo ministerial, sendo responsável pela pasta da Agricultura no governo de Menachem Begin (1977-1983). O cargo, longe de ser meramente burocrático, lhe permitiu forçar a expansão de Israel de outra forma: por meio da construção de colônias na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e até na península do Sinai, à época sob controle israelense. A iniciativa quase desandou as conversas de paz com o Egito.
Líbano - Em 1981, Sharon assumiu a sensível pasta da Defesa. Foi sob seu comando que Israel invadiu o Líbano, em 1982. Tal guerra, que teria consequências duradouras na região, foi iniciada com o objetivo de neutralizar a ação de organizações terroristas palestinas que operavam no sul do país vizinho. Com o apoio de milícias cristãs, as forças israelenses bombardearam até mesmo a capital Beirute. “Nós não negociamos com terroristas, só os matamos”, disse ele na ocasião. No final, a operação conseguiu reprimir os terroristas palestinos, mas resultou numa desgastante ocupação que durou quase duas décadas e terminou com uma retirada caótica e antecipada no ano 2000, além de levar o grupo xiita Hezbollah à posição de principal força terrorista da região. 
Durante a invasão, os israelenses contaram ainda com o apoio das milícias cristãs que cometeram o massacre nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, que estavam sob controle israelense. Em três dias, cerca de 3 000 pessoas, entre elas mulheres e crianças foram chacinados pela falanges cristãs. O ultraje internacional provocado pelo banho de sangue levou os israelenses a investigar o episódio. No mesmo ano, uma comissão considerou Sharon indiretamente responsável pelo massacre por não ter tomado medidas para evitá-lo e pediu sua demissão.
Ele deixou o cargo pouco depois e, transferido para postos com menor evidência, trabalharia para recompor sua influência. Pelos 18 anos seguintes, Sharon viria a ocupar pelo menos cinco ministérios e a chefia de outras organizações, incluindo a responsável pela imigração de judeus da antiga URSS, uma iniciativa que mudaria profundamente a composição de Israel.  
Em setembro do ano 2000, Sharon voltou a ganhar os holofotes quando visitou, cercado de seguranças e policiais, a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, um local sagrado para os muçulmanos. À época, ele travava uma disputa pelo controle do Likud, e a visita deveria servir como um gesto para marcar posição na direita evidenciando a soberania israelense sobre um lugar de profundas implicações religiosas. Mas a provocação acabou sendo usada como pretexto para que os palestinos iniciassem a já planejada Segunda Intifada, uma onda de violência que engolfou os territórios e Israel por mais de quatro anos e que resultaria na morte de milhares de palestinos e israelenses. Sharon acabaria ascendendo ao cargo de primeiro-ministro cerca de quatro meses depois.
Reviravolta - Como primeiro-ministro, jogou duro para conter a Intifada, chegando ao ponto de montar um cerco ao quartel-general do palestino Yasser Arafat. Nos primeiros dois anos de seu governo, mais de 500 israelenses foram mortos em ataques terroristas. Mas, diante da pressão por ação, em vez de recrudescer decidiu tomar uma decisão ousada: uma retirada unilateral da ocupação militar e das colônias da faixa de Gaza e de uma pequena parte da Cisjordânia como parte de um novo início nas conversações de paz.
A decisão foi movida por um cálculo pragmático: o crescente custo da ocupação militar e sua insustentabilidade no longo prazo. Era mais negócio dar aos palestinos um estado próprio e blindar as próprias fronteiras, num acordo cujos termos seriam ditados por Sharon. "Não podemos manter Gaza para sempre. Mais de um milhão de palestinos vivem lá em condições únicas de superpopulação, em bolsões de ódio crescente", disse ele à época. 
Assim, o velho “padrinho” das colônias ordenou a evacuação de 25 delas, que abrigavam mais de 9 000 de pessoas em 2005. As cenas de soldados retirando à força velhos e mulheres de suas casas e a desconfiança com o plano acabou provocando um cisma na direita israelense. Sharon decidiu insistir e, em outra jogada surpreendente, anunciou sua intenção de deixar o velho Likud e de formar um novo partido, o Kadima (que significa “avante” em hebraico) com alguns aliados.   
A nova sigla venceu as eleições parlamentares de 2006, mas Sharon, que sobreviveu a tantos combates, acabaria abatido pela própria saúde antes de ver seu último triunfo. Com um histórico de problemas – pesava quase 120 quilos distribuídos nos seus 1,70 m de altura –, Sharon sofreu um primeiro derrame em 18 de dezembro de 2005. Impulsivo, deixou o hospital dois dias depois para voltar a ser internado duas semanas mais tarde, quando sofreu o segundo derrame, que acabou por paralisá-lo completamente. Ehud Olmert, do Kadima, substituiu Sharon no posto de primeiro-ministro. 
Sem a sua mão forte, o legado de Sharon começou a atrofiar na mesma velocidade em que diminuíam as esperanças de que ele acordasse. A retirada de Gaza se revelou um prato cheio para que o grupo terrorista Hamas se apoderasse da área em 2007; a energia gasta na região deixou a fronteira norte desguarnecida, permitindo que o Hezbollah se armasse e arrastasse Israel para um conflito em 2006; as conversações de paz permaneceram congeladas pelos anos seguintes; e o Kadima, que parecia ser uma nova força no cenário israelense, caminhou rapidamente para a irrelevância por causa da inabilidade de Olmert, alvo de repetidas acusações de corrupção. 
Nos últimos anos, o corpo adormecido de Sharon havia se convertido em uma curiosidade da medicina. Médicos que o examinavam reportavam que o velho general parecia reagir e mostrava sinais de alguma atividade cerebral. No cenário político, seu próprio estado de saúde vinha servindo como metáfora para a paralisia das negociações de paz no Oriente Médio, que continuam a existir (ou respirar), sem ir a lugar algum.

Se gritar pegar ladrão



Vacina contra HPV também é indicada para prevenção de câncer anal

HPV

Apesar de ser considero raro, a incidência desse tipo de câncer tem aumentado

Human papilloma virus (HPV)
Papilomavírus humano, causador do câncer de ânus: Estima-se que a incidência dessa doença no Brasil seja de 3 a 5 casos por 100 mil pessoas (SPL/SPL RF/Latinstock)
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma nova indicação para a vacina contra o HPV (papilomavírus humano). A vacina, que já era utilizada para a proteção contra cânceres da vagina, vulva e colo do útero em mulheres e para verrugas genitais em homens e mulheres, passa a ser indicada para a prevenção do câncer anal, também em ambos os sexos.
De acordo com estimativas no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia das Doenças do Papilomavírus Humano (Instituto do HPV), a incidência do câncer de ânus no Brasil é de 3 a 5 casos por 100.000 pessoas, entre homens e mulheres, anualmente.
Aumento – Apesar de ser considerado um câncer raro, um estudo publicado na revista Femina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) em 2011 afirma que, nos últimos anos, a incidência do câncer anal aumentou 1,5 vez entre os homens e triplicou nas mulheres.
De acordo com Luisa Villa, coordenadora do Instituto do HPV da Santa Casa de São Paulo, o aumento da incidência de câncer anal tem sido observado em diversos países. Acredita-se que a causa desse aumento seja decorrente de uma maior liberação da atividade sexual que tem ocorrido desde os anos 60, uma vez que o vírus HPV é sexualmente transmissível.
Indicação – A nova indicação para a vacina entrou em vigor no dia 17 de dezembro de 2012. Porém, ela só é válida para uma das vacinas disponíveis atualmente, a vacina quadrivalente, que oferece proteção contra os tipos 6,11, 16 e 18 do vírus HPV. A outra vacina disponível é a bivalente, que protege apenas contra os tipos 16 e 18. A principal diferença entre as duas é que a bivalente protege apenas contra o câncer, não servindo para a prevenção de verrugas genitais.
Antes de chegar ao Brasil, a indicação da vacina de HPV para a prevenção de câncer anal foi aprovada em outros países, como Estados Unidos, Austrália e México, desde 2011.
Mais funções – Para Luisa Villa, é possível que, à medida que novos estudos forem realizados, a vacina para HPV receba novas indicações. "Os tumores da orofaringe (câncer de amígdala e de base de língua) são provocados grande parte das vezes pelo HPV 16, portanto espera-se que no futuro exista o benefício para a redução desses tumores também. Ainda não foi feito um ensaio clinico com esses tipos de câncer, por isso ainda deve demorar um pouco mais para que haja uma indicação formal", afirma.

Vacina contra HPV protege também contra cânceres na região da garganta

Câncer

Estudo da OMS mostra que a vacina reduz em mais de 90% infecções orais causadas pelos tipos 16 e 18 do vírus

HPV-16
HPV: o vírus é mais conhecido por causar o câncer cervical, mas também está relacionado a cânceres de orofaringe em homens e mulheres (Latinstock)
Um novo estudo da Organização Mundial da Saúde mostrou pela primeira vez que a vacina contra o Papilomavirus humano (HPV) também oferece proteção contra infecções orais, que estão associadas aos cânceres de orofaringe, popularmente conhecido como câncer de garganta, que inclui as amígdalas, a base da língua, o palato mole e as paredes da cavidade interna da faringe. Os resultados mostraram que a vacina reduz em mais de 90% infecções orais pelos tipos 16 e 18 do HPV, que costumam ser relacionados ao câncer de colo de útero.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Reduced Prevalence of Oral Human Papillomavirus (HPV) 4 Years after Bivalent HPV Vaccination in a Randomized Clinical Trial in Costa Rica

Onde foi divulgada: periódico Plos One

Quem fez: Rolando Herrero, Wim Quint, Allan Hildesheim, Paula Gonzalez, Linda Struijk, Hormuzd A. Katki, Carolina Porras, Mark Schiffman, Ana Cecilia Rodriguez, Diane Solomon e outros

Instituição: Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC, na sigla em inglês), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras

Dados de amostragem: 5.840 mulheres entre 18 e 25 anos

Resultado: As análises mostraram que, quatro anos depois, a vacina contra o HPV reduziu em 93% as infeções orais pelo vírus, que podem causar cânceres de orofaringe.
O estudo foi feito na Costa Rica, e é uma parceria entre pesquisadores do país, dos Estados Unidos e da Agência Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC, na sigla em inglês), da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ele foi pensado inicialmente para avaliar a eficácia da vacina de HPV contra o câncer de colo do útero, mas passou a incluir também a avaliação dos efeitos da vacina em outras regiões do corpo – entre elas, a cavidade oral.
Os pesquisadores recolheram amostras de células bucais de 5.840 mulheres entre 18 e 25 anos, que receberam a vacina contra o HPV ou contra hepatite A – utilizada no chamado grupo de controle. As análises mostraram que, quatro anos depois, a vacina contra o HPV reduziu em 93% as infeções orais pelo vírus. O artigo que descreve a pesquisa foi publicado nesta quinta-feira, no periódico Plos One.
“A vacina parece promover uma forte proteção contra as infecções orais pelos tipos de HPV que causam a maior parte dos cânceres de orofaringe. Existem muitos aspectos da doença que nós ainda não conhecemos, e precisamos de mais evidências de que a vacina previna esse tipo de câncer, mas os resultados indicam que nós podemos ter uma ferramenta importante para a prevenção desses males cada vez mais comuns”, afirma Rolando Herrero, da IARC, e principal autor do estudo.
Crescimento – A OMS estima que, por ano, surgem 85.000 novos casos de câncer de orofaringe. Apesar de serem tradicionalmente relacionados ao consumo de tabaco e bebidas alcoólicas, mais de 30% dos casos dessas doenças são decorrentes da infecção pelo HPV, em virtude de práticas como o sexo oral. Os homens têm quatro vezes mais chances de serem afetados pela doença do que as mulheres.
Um estudo recente dos Estados Unidos mostrou que, nos últimos 20 anos, a quantidade de tumores de orofaringe nos quais foi detectado o HPV passou de 16% para 70%. Isso levou os autores a estimarem que nas próximas décadas os Estados Unidos podem vir a ter mais casos de câncer de orofaringe relacionado ao HPV do que de câncer de colo do útero causado pelo vírus.
Para Herrero, se resultados similares aos das mulheres forem encontrados nos homens, a vacinação de meninos pode ser uma importante medida de saúde pública em regiões nas quais cânceres relacionados ao HPV são comuns no sexo masculino.

Ministéio da Saúde amplia faixa etária da vacina contra HPV

Imunização

A partir de 2015, meninas de 9 a 13 anos poderão receber as três doses da vacina gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde

Vacina contra HPV: o vírus é hoje responsável por 95% dos casos de câncer de colo do útero, a segunda maior taxa de mortalidade entre os cânceres que atingem as mulheres
Vacina contra HPV: o vírus é hoje responsável por 95% dos casos de câncer de colo do útero, a segunda maior taxa de mortalidade entre os cânceres que atingem as mulheres (Brand X Pictures/Thinkstock)
O Ministério da Saúde anunciou nesta quarta-feira que vai ampliar a faixa etária para a vacinação contra o vírus do papiloma humano (HPV), usada na prevenção de câncer de colo do útero. Em 2014, meninas dos 11 aos 13 anos receberão as duas primeiras doses necessárias à imunização — a segunda dose vem seis meses depois da primeira. A terceira deverá ser aplicada cinco anos após a primeira. Em 2015, outra faixa etária será beneficiada: pré-adolescentes entre 9 e 11 anos de idade, sem custo adicional. As aplicações serão gratuitas.
A previsão inicial, que foi divulgada em julho deste ano, era imunizar, em 2014, meninas de 10 e 11 anos; e, a partir de 2015, apenas as meninas de 10 anos. O esquema programado é de três doses, com a segunda dose sendo dada um mês após a primeira, e a terceira dose aplicada seis meses após a primeira.

Segundo o Ministério, o novo formato de imunização tem respaldo de estudos e práticas internacionais. "A estratégia segue recomendação da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) e foi discutida com especialistas brasileiros que integram o Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Vale ressaltar que o esquema já é utilizado por países como Canadá, México, Colômbia, Chile e Suíça", afirma nota do ministério.

O HPV hoje é responsável por 95% dos casos de câncer de colo do útero, a segunda maior taxa de mortalidade entre os cânceres que atingem as mulheres. O primeiro é o câncer de mama. A vacinação começa em março de 2014.

Rede pública recebe primeiro lote de vacina contra o HPV

Vacinação

Ministério da Saúde pretende imunizar 5 milhões de meninas de 11 a 13 anos na campanha nacional de vacinação deste ano

HPV: Vírus é responsável por 95% dos casos de câncer de colo do útero
HPV: Vírus é responsável por 95% dos casos de câncer de colo do útero (Jeffrey Hamilton/Thinkstock)
O Ministério da Saúde anunciou nesta sexta-feira que recebeu o primeiro lote de vacina contra o papiloma vírus (HPV), com 4 milhões de doses. Ao todo, a pasta pretende comprar 15 milhões de doses neste ano e distribuí-las a 5 milhões de meninas de 11 a 13 anos de idade (cada uma deve receber três doses) na campanha nacional de vacinação, que começa em março.
O anúncio foi feito durante o evento que oficializou o início de uma parceria que prevê a transferência de tecnologia da vacina contra o HPV do laboratório Merck Sharp & Dohme (MSD), atual produtor das doses, para o Instituto Butantan. De acordo com o Ministério, a vacina, usada na prevenção de câncer de colo do útero, também imunizará meninas de 9 a 10 anos a partir do próximo ano.
A vacina que será oferecida pelo Ministério da Saúde protege contra quatro tipos de HPV (6, 11, 16 e 18), sendo que dois deles, o 16 e o 18, são responsáveis por 70% de todos os episódios de câncer de colo do útero. O HPV é responsável por 95% dos casos dessa doença, que é o terceiro tumor mais prevalente entre as mulheres (15.000 novos casos são previstos no Brasil em 2014), atrás do de mama (57.000) e do colorretal (17.000).

É exceção, mas devia ser regra - Ordem, disciplina, atividades e instalações decentes. Essa prisão existe e fica no Brasil


Carlos Alberto
CELA PARA QUATRO - Cada preso tem sua cama: parece óbvio, mas é raridade
CELA PARA QUATRO - Cada preso tem sua cama: parece óbvio, mas é raridade




























​No Brasil das prisões sujas, depredadas e superlotadas, o complexo penitenciário de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, é a exceção que deveria ser a norma. Construído e administrado por uma parceria público-privada, em um ano de funcionamento a primeira unidade, com 672 detentos, é um primor simplesmente por fazer (bem) o que tem de ser feito. No espaço de 17 000 metros quadrados, as portas abrem e fecham eletronicamente. A segurança interna está a cargo de monitores treinados e munidos de cassetete. Nas revistas de cela (no mínimo, uma vez por mês), eles são acompanhados por agentes penitenciários da equipe que fica de prontidão do lado de fora. Só anda armado quem patrulha as guaritas e a área externa. Há dois diretores, um do consórcio privado e outro do estado.
Os presos podem estudar e trabalhar, como em qualquer prisão, com a diferença de que, em Ribeirão das Neves, as duas coisas de fato acontecem. Nas salas de aula, com retroprojetor e móveis novos, revezam-se quinze professores. Nas oficinas, os detentos fazem macacões, capas de chuva, calçados e, ironicamente, alarmes para residências. No posto de saúde, com médicos, dentistas e psicólogos, as consultas têm hora marcada. Nos pátios, no banho de sol, TVs exibem canais por assinatura. As celas para quatro pessoas têm quatro camas - óbvio, mas raridade no país. “Em todo presídio por onde passei antes, dividia cela com mais de vinte”, diz Douglas Costa, 27 anos, preso por tráfico. O cheiro predominante é - surpresa - o de produtos de limpeza. Os presos almoçam dentro das celas, e a comida, embora um pouco sem sal, está longe de ser a gororoba intragável das prisões. Na última quinta-feira, o cardápio, elaborado por uma nutricionista, incluía arroz, feijão, farofa, linguiça e salada. De sobremesa, gelatina.
O Estado repassa ao GPA, consórcio de cinco empresas com experiência na área, 2 700 reais por detento, mas desconta qualquer deslize. Lâmpada queimada que não for trocada, menos 150 reais. Preso pego com celular (nunca aconteceu), 6 500 reais. Fuga (houve uma), 11 000 reais. Até o fim do ano serão cinco unidades funcionando, a um custo de 380 milhões de reais. O presídio só deve começar a dar lucro a partir de 2028. O contrato vai até 2036. Preenchidos os requisitos básicos, as reivindicações mudam de nível. Em 2013, os presos de uma ala fizeram greve de fome de um dia por televisão em todas as celas, banho quente nos quartos de visitas íntimas e o direito de receber xampu, esponja e creme. Só não conseguiram as TVs.

Cecília Ritto