Nutrição
Levantamento global mostrou que 75% das pessoas no mundo ingerem o dobro da quantidade diária de sódio recomendada por órgãos de saúde. Consumo está ligado a hipertensão e mortes por problemas cardiovasculares
40% do sal de cozinha é composto por sódio: No mundo, a maioria das pessoas estrapola as recomendações para consumo diário da substância (Thinkstock)
Três em cada quatro adultos no mundo consomem cerca do dobro da quantidade diária de sódio recomendada pelos órgãos de saúde. Essa é a conclusão de um estudo apresentado nesta quinta-feira no encontro anual da Associação Americana do Coração, em Nova Orleans, Estados Unidos. Ainda segundo a pesquisa, o consumo excessivo de sal contribuiu para 2,3 milhões de mortes no mundo em 2010.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que não sejam consumidos mais do que dois gramas de sódio por dia — o que equivale a cinco gramas de sal (40% do sal é composto por sódio). Segundo essa nova pesquisa, a média de consumo de sódio entre adultos no mundo em 2010 foi de aproximadamente quatro gramas. As principais fontes de sódio são sal de cozinha, alimentos congelados e molhos ou temperos prontos.
O estudo levou em consideração 247 levantamentos sobre nutrição que fizeram parte do Global Burden of Diseases 2010 (Carga de Saúde Global 2010), pesquisa que avaliou as doenças e mortes em todo o mundo ao longo de 20 anos. Segundo o novo trabalho, os habitantes de 187 países, que representam 99% da população mundial, excedem as recomendações da OMS sobre ingestão diária de sódio.
Prejuízos — Os autores da pesquisa explicam que esses dados são preocupantes pois o sal em excesso é responsável por causar uma série de problemas, como a hipertensão — que, hoje, é o maior fator de risco à saúde no mundo, de acordo com o Global Burden of Diseases. Além disso, a pressão alta pode desencadear doenças cardiovasculares, as principais causas de morte ao redor do mundo.
O mesmo levantamento indicou que o consumo excessivo de sal está relacionado a 2,3 milhões de mortes que ocorreram ao redor do mundo em 2010 em decorrência de ataques cardíacos, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e outras doenças associadas a esses problemas. Esse número representa 15% de todos os óbitos por essas causas.
Saman Fahimi, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard e autor do estudo, espera que esses dados possam incentivar os governos nacionais a tomar medidas que reduzam a ingestão de sal entre a população. No Brasil, por exemplo, um programa do Ministério da Saúde e da Associação Brasileira de Indústrias de Alimentação, estabelecido em 2011, estipulou a redução de sódio de produtos processados no país de forma gradual. Até o final do ano passado, foram anunciadas reduções para 13 classes de alimentos, entre eles o pão francês e a maionese. A meta é retirar até 20 mil toneladas de sódio até 2020.
O consumo de sódio do brasileiro não foge da média global. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no Brasil, consome-se cerca de 12 gramas de sal por dia — aproximadamente 4,8 gramas de sódio e mais do que o dobro do recomendado pela OMS. Uma pesquisa feita em 2012 pela Anvisa identificou um alto teor de sódio em grande parte dos alimentos vendidos no Brasil. O queijo parmesão ralado foi o campeão em teor de sódio — cada 100 gramas do produto tem, em média, 1.981 gramas de sódio, praticamente a quantidade máxima recomendada para o dia todo.