RIO - A condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e do ex-presidente do PT José Genoino na terça-feira reverberou na imprensa internacional. Jornais do mundo inteiro noticiaram nesta quarta-feira a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). As publicações chamaram atenção para a proximidade dos condenados com o ex-presidente Lula e afirmaram que a condenação pode abrir um precedente no julgamento de casos de corrupção no país.
Para o "New York Times", o julgamento do mensalão "dá esperança ao sistema judiciário brasileiro". De acordo com o correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Simon Romero, a possibilidade de que políticos proeminentes e banqueiros possam ir para a cadeia após o julgamento pode mudar a máxima fatalista de que, no Brasil, "a polícia prende e a justiça solta".
O NYT ainda classifica o mensalão como "provavelmente o maior escândalo de corrupção do Brasil". Romero diz que "o julgamento(...), ao mirar em congressistas, membros do partido da situação e funcionários que trabalharam diretamente com um dos presidentes mais populares do país, aponta um raro avanço na responsabilidade política e se torna um marco de independência do sistema jurídico".
Na Espanha, o "El País" destacou a condenação do ex-ministro José Dirceu, descrito como "o segundo político mais poderoso do país, depois de Lula". O correspondente da publicação no Rio, Juan Arias, classificou o caso de Dirceu como o mais difícil de ser julgado, "já que as provas contra ele não eram tão evidentes quanto a dos outros acusados".
A reportagem ressaltou que a condenação de Dirceu foi consumada por um Supremo em que, dos 11 magistrados, oito foram designados por Lula e Dilma Rousseff. Segundo o correspondente, este fato significaria que "esta não foi uma condenação levada a cabo pelas filas da oposição, e sim por magistrados amigos de Lula".
O argentino "La Nácion" comparou a decisão do STF com uma final de Copa do Mundo, diante da atenção dada pelos brasileiros ao evento. A reportagem do repórter baseado no Rio Alberto Amendariz traça um histórico do caso e diz que o escândalo fez o ex-presidente Lula "cambalear" no poder em 2005. O jornal também lembra que "o julgamento acontece em um contexto muito delicado para o PT, já que no domingo foram realizadas eleições municipais".
O texto faz uma ressalva, no entanto, ao dizer que "a presidente Dilma Rousseff, sucessora política de Lula, vem mostrando baixa tolerância a casos de corrupção em seu governo". Da mesma forma que o NYT, o "La Nácion" também acredita que a decisão do STF sobre o mensalão sinaliza uma mudança na postura do judiciário brasileiro diante de casos de corrupção.
"De qualquer maneira, o julgamento estabelecerá um novo paradigma anticorrupção no Brasil, não apenas pelo alto nível dos acusados, mas também pela forma em que os juízes do Supremo Tribunal Federal tomaram as suas decisões, com a aceitação de 'provas indiretas' e do conceito de responsabilidade política", analisa a publicação.