Procuradoria pede também a condenação dos delatores do petrolão pelo crime de corrupção passiva
Nas alegações finais apresentadas à Justiça, o Ministério Público Federal pede a condenação da cúpula da Galvão Engenharia - o diretor-presidente, Jean Alberto Luscher Castro, o diretor de Negócios, Erton Medeiros Fonseca e o executivo Dario de Queiroz Galvão Filho - pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa. A empreiteira era uma das que integravam o chamado clube do bilhão. A procuradoria pede também que Castro seja condenado por associação criminosa e que Fonseca e Galvão Filho sejam condenados por organização criminosa. O MP recomenda ainda a absolvição do executivo Eduardo de Queiroz Galvão de todos os crimes pelos quais foi denunciado.
O juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, aceitou em dezembro do ano passado a denúncia contra os empreiteiros. A procuradoria pede também a condenação dos delatores do petrolão Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e Alberto Youssef pelo crime de corrupção passiva. O MP também recomenda a apreensão de bens e dinheiro resultantes da prática criminosa, incluindo os 42.156.815,80 reais já bloqueados dos réus. E que a Petrobras seja ressarcida em 224.915.631,62 reais, correspondente a 3% do valor total de todos os contratos e aditivos nos quais se comprovou corrupção.
Ao expor sua argumentação pela punição criminal dos réus, o MP pede que a pena aplicada em caso de condenação seja superior a 30 anos de prisão para cada um dos réus. "Se queremos ter um país livre de corrupção, este deve ser um crime de alto risco e firme punição", diz o texto. A procuradoria salienta ainda que os réus "ultrapassaram linhas morais sem qualquer tipo de adulteração de estado psíquico ou pressão, de caráter corporal, social ou psicológica". E continua: "A organização criminosa atuou de forma a influenciar o processo eleitoral - por meio do pagamento de propinas via doações oficiais e não oficiais. Se democracia é governo do povo, pelo povo e para o povo, a corrupção subverte-a, pois é o governo para o particular que está em posição privilegiada para pagar ou receber propina".
As investigações indicam que a Galvão Engenharia pagou propina de pelo menos 1% do valor dos contratos para conquistar obras como as do Terminal da Ilha D'Água (RJ), da Refinaria de Paulínea (SP), a Refinaria Landulpho Alves e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Em outubro de 2010, por exemplo, a Galvão Engenharia fechou um contrato com a empresa de fachada MO Consultoria, controlada por Alberto Youssef, e depositou cerca de 1,2 milhão de reais. Aproximadamente dois meses depois, a empreiteira celebrou outro contrato fictício com a empresa do doleiro para lavar dinheiro e acobertar o real motivo da transação.
Preso na sétima fase da Operação Lava Jato, o diretor da Divisão de Engenharia Industrial da empresa Galvão Engenharia, Erton Medeiros Fonseca, chegou a afirmar à Justiça que a empreiteira pagou 8,8 milhões de reais, de 2010 a 2014, em propina para um emissário da diretoria de Serviços da Petrobras, comandada por Renato Duque, indicado pelo PT para o cargo. No processo resultante da operação Lava Jato, a defesa de Erton Fonseca enviou notas fiscais e tabelas que, segundo o empreiteiro, comprovam a cobrança e o pagamento de propina. Ele afirma que "a Galvão Engenharia foi impingida a pagar à empresa LFSN Consultoria Engenharia entre os anos de 2010 e 2014, por determinação de Shinko Nakandakari". O último repasse, segundo os comprovantes anexados pela empreiteira ao inquérito, são de junho de 2014, quando a Lava Jato já havia sido deflagrada.
Às vezes, o indivíduo chega em casa depois de um dia de trabalho pesado, desaba sobre o sofá e geme –“Estou estressado”-, mas tem a cabeça leve e sonha com um futuro mais tranquilo e menos estafante. Isso não é estresse, é cansaço que se vence com algumas horas de repouso e de sono. No entanto, se as preocupações com a promissória no banco, o filho que não se acerta na vida, o risco de perder o emprego, os desencontros afetivos e a falta de perspectivas não o abandonam, em pouco tempo estará dominado por uma carga prejudicial de estresse. Evolutivamente, o homem não foi preparado para suportar o grau de tensão contínua e constante a que está exposto todos os dias. Ao deparar-se com a fera ameaçadora, o homem primitivo matava-a ou fugia. De volta à caverna, relaxava e recompunha o equilíbrio orgânico e emocional indispensável para sua sobrevivência. Hoje, o direito a essa pausa revigorante desapareceu da vida das pessoas. Mergulhadas nos compromissos e problemas, elas nem se dão conta de quanto corpo reclama dessa agressão permanente. Recomendar mudanças no estilo de vida pode parecer utopia. No entanto, se esse processo não for interrompido, os males causados à saúde e à qualidade de vida podem tornar-se irreversíveis.
ESTRESSE
Drauzio – Através de que mecanismos as emoções exercem influência sobre o corpo?
Marco Aurélio Dias – A influência das emoções sobre o corpo manifesta-se por vários caminhos. Vamos começar pelo estresse e suas consequências na vida do homem contemporâneo . Estresse é o estado de tensão gerado no interior do organismo dos animais mamíferos, entre eles o homem, diante de situação boa ou ruim que ameace perturbar seu equilíbrio interno. Embora usualmente o classifiquem como nocivo, todos necessitamos de uma cota de estresse para enfrentar os acontecimentos do dia a dia. O estresse constitui problema, quando o estado de tensão interior diante da perspectiva de situações ameaçadoras torna-se permanente, crônico, pois cada vez que nosso psiquismo percebe o perigo, envia ordens ao sistema endócrino e as glândulas suprarrenais liberam substâncias na corrente sanguínea, que preparam o organismo para um possível combate. Esse mecanismo é fisiológico e natural.
MECANISMO DO ESTRESSE
Drauzio – Pode-se afirmar, então, que sem estresse o homem não teria sobrevivido?
Marco Aurélio Dias – Nem o homem, nem qualquer outro animal. No entanto, temos de comparar o que acontecia nos tempos pré-históricos, quando o comportamento dos homens e dos outros animais era semelhante, com aquele que ocorre atualmente. Costumo dizer que o inimigo mudou muito, de exterior passou a interior, e que o mecanismo acionado para enfrentar as ameaças tem um componente subjetivo maior do que a realidade objetivamente representa. Há milhares de anos, quando o homem primitivo saía da caverna e topava com um tigre faminto, a ameaça era real, concreta. Hoje, ao sair de casa apressado para um compromisso importante, se não encontra as chaves do carro, o mecanismo físico desencadeado é exatamente o mesmo, embora seja desproporcional ao estímulo. Ora, o que é nocivo no estresse? É a perpetuação desse sistema de alarme, não as ocasiões agudas de raiva ou de medo que, muitas vezes, se resolvem por si mesmas. Prejudicial é o indivíduo permanentemente tenso, ansioso, angustiado, pronto para uma batalha que nunca se concretiza. Isso desgasta as artérias, faz subir a pressão arterial, compromete o coração e responde por longa série de outras doenças.
Drauzio – O homem que saía da caverna e dava de cara com o tigre, era obrigado a tomar uma atitude: ou voltava para a caverna, ou enfrentava o tigre, ou corria feito louco. Hoje, quando não encontra a chave do carro e está atrasado, fica nervoso, mas não toma atitude alguma que ajude a descarregar seu estresse. Entretanto, convenhamos, seu nervosismo há de ser infinitamente menor que o do homem pré-histórico diante do tigre ameaçador. Como se explica esse raciocínio?
Marco Aurélio Dias – Quando o psiquismo do homem percebe uma ameaça a seu equilíbrio que, no entender do organismo, põe em risco sua vida, desencadeia um sistema de alarme. Suponha um gato encurralado num canto por um cão. É certo que seu psiquismo reconhece o risco e, em questão de segundos, automaticamente, por ordem do cérebro, substâncias chamadas de catecolaminas (a mais conhecida delas é a adrenalina) são lançadas na corrente sanguínea para preparar o organismo para enfrentar o perigo. Como reage o gato? Seus olhos ficam maiores e as pupilas mais dilatadas para que enxergue melhor o inimigo. Seus pelos eriçam-se para que seu aspecto torne-se mais assustador. O coração bate mais rápido e mais forte, a pressão arterial sobe para que haja energia disponível para a luta ou para a fuga. O sangue resultante do aumento da frequência cardíaca será desviado da região central do corpo para as extremidades, para as patas do animal, porque o organismo sabe o quanto dependerá delas naquele momento. Os esfíncteres (pequenos anéis musculares que regulam a passagem do alimento do esôfago para o estômago, ou a saída das fezes e da urina) serão liberados, primeiro para que o odor da secreção assuste o inimigo e, depois, para deixar o animal mais leve durante o esforço físico a que será submetido. Diante de situações de estresse, o mecanismo físico e bioquímico do homem é idêntico ao do gato. Por isso, a gente se arrepia quando leva um susto ou empalidece de raiva ou de medo. Diante do perigo, nosso coração dispara e a pressão arterial sobe. Há pessoas que vomitam ou têm vontade de urinar, quando sofrem o impacto de um desgosto. Talvez parta daí a antiga expressão “borrou-se de medo” que se aplica a esses casos . É importante insistir, porém, que existem enormes diferenças entre nossa reação de estresse e a do animal. A primeira é o bloqueio da reação. O gato investe contra o cão ou, o mais provável, foge dele. De qualquer forma, sua musculatura vai ser ativada. O homem permanece estático. A segunda é a capacidade de relaxar. Livre do enfrentamento com o cão, o gato passeia pelos telhados ou espreguiça-se ao sol. O homem continua tenso. Por isso, defendo que se faz necessário investir na reeducação interior. Para exemplificar, vejamos o que habitualmente ocorre num congestionamento de trânsito. Muitas pessoas assumem atitudes irracionais. Metem a mão na buzina diante de um sinal mecânico que não se abala com a impaciência, pressionam os outros e a si mesmas por alguns metros de asfalto à frente ou uns segundos de vantagem. Expõem-se a acidentes, quando a lógica aconselharia que se distraíssem ouvindo música ou o noticiário, observassem as pessoas ao redor ou reavaliassem seus valores de vida. Se assim agissem, sem dúvida, seu prejuízo seria menor. Diante disso, cabe a cada um decidir como deve reagir à pressão externa. Não há como negar a insegurança das grandes cidades, as incertezas econômicas, a ameaça de desemprego, a pressão de consumo. As dificuldades existem, mas é o modo de encará-las que pode resultar em dose maior ou menor do indesejável estresse.
PAPEL DO ESTRESSE NOS ATAQUES CARDÍACOS
Drauzio– Ninguém discute que fatores como diabetes, cigarro, vida sedentária, colesterol elevado, influem na ocorrência dos ataques cardíacos. De acordo com sua longa experiência clínica, que força têm as emoções nessa patologia?
Marco Aurélio Dias – Acredito que desempenham papel preponderante, embora nos tratados de medicina o estresse apareça como fator secundário, provavelmente porque estudos epidemiológicos não conseguem identificá-lo nem quantificá-lo. Pode-se medir o valor do colesterol, a pressão arterial e a dosagem de açúcar no sangue, ou detectar uma alteração no eletrocardiograma. Como medir a alegria ou a tristeza de alguém, como quantificar sua emoção? Na minha opinião, se considerarmos o sentido amplo do conceito e nele englobarmos sentimentos como intranquilidade interior, sofrimento emocional, infelicidade, o estresse é o principal fator de risco para as doenças do coração. Quem está tenso volta a fumar, tem menos ânimo para as atividades físicas, come mais para compensar a ansiedade, fica obeso e eleva o colesterol. Além disso, a pressão alta tem clara vinculação com a intranquilidade e a agressividade contida que se volta contra a própria pessoa.
Drauzio–Depois de tanta experiência acumulada, quando alguém chega para uma avaliação cardiológica, você consegue quantificar, pelo menos grosseiramente, seu nível de estresse?
Marco Aurélio Dias – Há dois tipos de pessoas: as que demonstram, no primeiro contato, seu nível de ansiedade e sofrimento, e as introvertidas, que não se abrem. O tempo e a prática, porém, encarregam-se de fazer aflorar a dor escondida. Os anos de clínica mostraram-me que existem duas principais fontes de sofrimento: a família e o trabalho. Incluam-se, no trabalho, as dificuldades econômicas. A importância desses componentes, ou melhor dizendo, a importância do sofrimento interior no aparecimento da doença orgânica constitui a essência da medicina psicossomática. Para melhor avaliação, o primeiro passo é incentivar o paciente a falar bastante a fim de que sua queixa fique bem caracterizada. Em seguida, ele deve ser minuciosamente examinado. Depois, é preciso saber de sua vida, das suas dores e amores, para tentar descobrir o que há por trás dos sintomas e da doença. E sempre existe alguma coisa. É lógico que as pessoas apresentem diferentes graus de defesa para expor seus dramas pessoais. Talvez por estigma cultural, quem procura o cardiologista não está preparado para abrir a alma. Isso condiz com os consultórios de psiquiatria. Portanto, não é de estranhar que haja certa resistência no início, especialmente nos homens. As mulheres falam de suas emoções e de seus padecimentos com mais facilidade. Os homens, não. Para eles tudo vai bem e o que sentem não pesa. Há uma estratégia que ajuda a dimensionar a força das emoções. Pergunta-se, numa escala de zero a dez, que nota cada paciente daria para seu nível de felicidade. Em geral, as notas ficam entre 6 e 8. Nunca encontrei alguém que se desse 10. Esse número serve de gancho para identificar o que falta para chegar ao 10. Quando começam a falar, não é raro perceber que as pessoas foram condescendentes em sua avaliação. Não lhes faltaria motivos para uma nota bem mais baixa. Seria exagero e radicalismo afirmar que a emoção é responsável por todos os males. As doenças são multifatoriais. Características genéticas, ambiente, fatores de risco influem, mas o componente psíquico-emocional tem importância relevante, especialmente na doença coronariana que leva ao infarto e à angina.
COMO EVITAR O ESTRESSE
Drauzio– Já que não podemos evitar os problemas nem resolvê-los todos, qual a melhor maneira de enfrentá-los?
Marco Aurélio Dias – Como já salientamos, certo grau de estresse é inerente ao estar vivo e pode ser provocado por acontecimentos bons ou ruins. Por exemplo, se considerarmos duas importantes fontes de estresse, o casamento e a separação, veremos que, embora antagônicas, ambas são estressantes. Entretanto, se os efeitos do estresse comprometem a saúde, a qualidade de vida e os momentos felizes, é fundamental encontrar uma saída. Nesse caso, já que as pessoas não podem fugir dele, sugiro algumas dicas para ajudá-las a minorar seus efeitos nocivos.
Dica 1- BRIGA CONTRA O RELÓGIO
Estou convencido de que o tempo pode exercer pressão negativa sobre as pessoas. A falta de intervalo entre os compromissos e a preocupação em fazer o dia render representam os fatores mais imediatos de estresse na vida moderna.
Para acabar com essa “briga contra o relógio”, é preciso tentar programar melhor a vida. Como? Evitando assumir compromissos em horários muito próximos uns dos outros, saindo de casa com tempo suficiente para enfrentar alguns imprevistos sem desespero, planejando melhor as atividades, estabelecendo prioridades e respeitando, o mais possível, o planejamento estabelecido para aquele dia.
Dica 2- ATIVIDADE FÍSICA Atividade física regular é fundamental para o bem-estar das pessoas. Se me dissessem – Só posso pôr em prática uma de suas dicas -, sem dúvida recomendaria a atividade física, porque ajuda a combater os outros fatores de risco, facilita a descarga das tensões acumuladas e diminui os efeitos nocivos do estresse. O indivíduo que tem uma atividade física regular, o que não significa treinar para ser atleta ou correr a maratona, geralmente não é obeso porque o excesso de peso deriva da desproporção entre o que se come e o que se gasta, deixa de fumar com mais tranquilidade, baixa o nível do mau colesterol e eleva o do bom colesterol, controla melhor a pressão arterial. Quando falo em atividade física, insisto em três aspectos essenciais:
a) implementação de um estilo de vida mais ativo, isto é, procurar mexer-se sempre que possível. Quer alguns exemplos? Estacione o carro um pouco mais longe e caminhe até onde pretende ir. Esqueça-se do elevador e vá pelas escadas. Escolha lugares em que possa fazer as compras a pé;
b) movimentação das articulações – uma das coisas que mais comprometem a qualidade de vida das pessoas que envelhecem, é o enrijecimento das articulações. Os especialistas recomendam para quem trabalha sentado que, a cada 50 minutos, passe cinco ou dez minutos se mexendo. Espreguice, mova a cabeça de um lado para o outro, para cima e para baixo, vergue a coluna, ative as articulações para preservar sua flexibilidade e movimentos;
c) conceituação de atividade aeróbica regular – quando mencionamos atividade aeróbica, muitos pensam nas academias onde as pessoas se exercitam até a exaustão. Considera-se aeróbico o exercício que faz com que o organismo use oxigênio como fonte de energia. Todos os indivíduos possuem um limiar aeróbico. Por isso, se mantido o esforço, o organismo utiliza outras fontes de energia que não o oxigênio, o que era saudável passa a ser prejudicial.
A atividade aeróbica saudável é a que produz pouco cansaço e não deixa a pessoa ofegante, permitindo que converse normalmente durante os exercícios. Além disso, deve ser regular. Não é aconselhável passar a semana atrás de uma escrivaninha e, aos sábados e domingos, esfalfar-se jogando bola. O recomendado é que haja certa regularidade na prática de exercícios. O ideal seria exercitar-se pelo menos três vezes por semana sem contar os sábados e os domingos. Outro ponto importante é o tempo que se dedica a essas atividades. Trinta minutos são suficientes para condicionar o organismo e trazer benefícios à saúde. Se a pessoa não agüenta os trinta minutos seguidos, pode dividi-los em três períodos de dez e beneficiar-se do mesmo modo. Há quem diga que não tem tempo. Meia hora por dia, todos arranjam, se quiserem. Para tanto, basta vencer a inércia inicial. Depois, a gente se acostuma e não consegue mais imaginar a vida sem atividade física.
Dica 3 – O PAPEL NOCIVO DA COMPETIÇÃO
A competição é um dos grandes males da vida moderna. É um mal para a sociedade e para o indivíduo. Cada um de nós se desgasta demais comparando conquistas e perdas pessoais com as dos outros. Com isso se perde a medida do que de fato nos traria satisfação e felicidade.
É óbvio que devemos lutar por nossos sonhos e ideais, mas preocuparmo-nos apenas em aparentar superioridade é um contrassenso lamentável. Em busca de status e projeção, muitos se desgastam tanto que adoecem, fraudam a ética, violam as leis, abandonam a família por algo que, no fundo, não tem a menor importância. É indispensável não confundir competição com competência. Competência é querer fazer bem aquilo que se faz. Competição é desejar ser mais e melhor do que os outros. A competição traz consigo a inveja e a vaidade. Juntos, esses sentimentos podem amargurar a vida das pessoas. Quando cito a inveja, não me refiro à inveja saudável que impulsiona o indivíduo e o faz progredir. Se admiro alguém e isso me estimula a superar minhas dificuldades, essa inveja é construtiva. Se o sucesso do outro me incomoda e passo a combatê-lo, em geral subrepticiamente, essa inveja é perniciosa e o grande prejudicado é o próprio invejoso. Com a vaidade não é muito diferente. Certo grau de vaidade, todos devemos ter, até porque faz parte do instinto sexual atrair o interesse, o bem querer e a aceitação do outro. A encrenca começa, quando a vida passa a ser pautada pela opinião alheia. Longe de mim negar o valor da autoestima. Condeno a vaidade que escraviza o projeto pessoal de vida em nome do aplauso ou da crítica dos outros. Há uma história que ilustra bem o que quero dizer. Um homem saía de casa aborrecido e passou por um passarinho que cantava. Xingou o pássaro e seguiu caminhando. Pouco depois, outro homem cruzou com o mesmo passarinho e lhe disse: – Que bom, passarinho, ouvir você cantando para alegrar as pessoas! e foi-se embora contente da vida. Em seguida, passou um terceiro que sequer prestou atenção ao canto do pássaro. Pergunta-se, então, qual dos três foi mais simpático ao passarinho e a resposta é nenhum deles, porque o animalzinho não estava preocupado com o que os passantes iam achar. Cantava pelo prazer de cantar ou para atrair alguma fêmea, quem sabe, para o acasalamento.
Dica 4 – OS RELACIONAMENTOS
Estou convencido de que o segredo e a essência da qualidade de vida, da felicidade e, portanto, da saúde está na relação afetiva interpessoal que inclui não apenas o par amoroso, a família e os amigos próximos, mas todos aqueles com quem convivemos de uma maneira ou outra. Quem consegue gostar de gente e relacionar-se bem sofrerá menos os efeitos nocivos do estresse. Tenhamos ou não consciência disso, o objetivo primeiro de nossas vidas é sermos queridos e aceitos. Para atingi-lo, porém, é preciso implantar algumas mudanças em nosso modo de viver. Por conta das fragilidades interiores ou da insegurança, as pessoas têm medo de ferir-se nos relacionamentos afetivos e por isso cavam fossos, erguem muralhas, constroem paredes de vidro que impedem o toque e a proximidade com os semelhantes. Escondem-se atrás de armaduras com a falsa ideia de que assim estarão protegidos contra intrusos indesejáveis. Se conseguirmos, pelo menos em parte, arriar essas defesas e assumir nova postura diante das pessoas, seremos mais felizes e menos estressados.
Dica 5 -AS MUDANÇAS Se continuarmos presos ao modelo imposto pela sociedade moderna, não vamos longe. Para mudar essa perspectiva, a humanidade precisa conscientizar-se de que vale mais a cooperação do que a competição, a colaboração do que a dominação. Vivam onde viverem, é preciso que, desguarnecidas de defesas inúteis, as pessoas aproximem-se umas das outras para estabelecer laços afetivos que permitam construir um futuro mais promissor para todos.
Maurício Ramos Thomaz, que mora em Campinas, impetrou na Justiça Federal do Rio Grande do Sul, um habeas corpus preventivo em favor de Lula, pedindo que ele não seja preso pela Operação Lava Jato. A assessoria do ex-presidente nega que ele tenha algo a ver com isso. E acredito que não mesmo. Até porque Thomaz é o que a molecada chama um “causão”. Parece que adora aparecer em casos, digamos, ruidosos. Ele já fez o mesmo, entre outros, com Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, e com Simone Vasconcelos, ex-secretária de Marcos Valério e uma das pessoas condenadas no mensalão.
Segundo nota do PT, Lula já instruiu seus advogados a que requeiram à Justiça o não-conhecimento do HC. Em nota à Folha, o Instituto Lula disse estranhar que a divulgação de tal fato tenha partido do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos mais duros críticos do petismo. Bobagem! É mera teoria conspiratória. Basta ver a atuação pregressa do autor e a linguagem em que vaza o pedido. É “um deles”, embora me pareça certo que Lula nada tem a ver com isso.
O chefão petista tem dito por aí que se considera o próximo alvo. Ainda assim, é pouco provável que entrasse com um HC preventivo ou que instruísse outro a fazê-lo, especialmente do modo como a coisa vem a público.
Num dado momento, escreve o tal Thomaz: “As decisões de Sérgio Moro que alguns chamam de doutor estão para a Justiça do mesmo que as masturbações estão para uma relação sexual. A qualidade das suas decisões está no mesmo patamar que a ração wiskas está para a alta culinária. Nada de espantar. Afinal, o judiciário paranaense é o pior do Brasil, e a judiciária da roça iluminada de Curitiba é o pior de todos. (…) Ele [Sérgio Moro] não é um juiz e nem um justiceiro. É apenas um sujeito moralmente deficiente, como Joaquim Barbosa a quem ele auxiliou certamente naquela pornografia jurídica chamada AP 470, que a escória vil e vadia chama de “mensalão”.
O autor compara Moro ao “Mulo”, personagem da “Trilogia da Fundação”, de Isaac Asimov. E dispara: “O que Moro escreve e nada é (sic) a mesma coisa; é juridicamente estéril. Nada tem real valor jurídico. Como o Mulo, ele é um aborto, é alguém que deve ser detido, pois, como o Mulo, ele acha que pode fazer história, e prendendo o paciente seria um meio disto. Por enquanto, matematicamente, ele não representa um grande perigo, pois, como o Mulo, ele é estéril do ponto de vista do Direito, e o julgamento de Clio será severo com ele. Mas é uma anomalia que cria variáveis demais, e não há, até agora, nenhum “Primeiro Orador” – inimigo do Mulo — para detê-lo.”
O texto vem aos borbotões, com a pontuação estropiada, recheado de citações e até com uma sacada ou outra interessantes. Ele chama o titular da 13ª Vara Federal de Curitiba de “Sérgio Futuro do Pretérito Moro”, numa alusão à frequência com que o magistrado apela a esse tempo verbal em suas decisões: “teria, faria, poderia…” O diabo é quando se decreta a prisão de alguém na base do “seria”. E se não for?
A íntegra do pedido de habeas corpus está aqui. É evidente que Lula não tem nada a ver com essa coleção de muitos insultos e poucos argumentos. Os petistas são muito mais profissionais do que isso.