quinta-feira 13 2012
Plástica de mama pelo SUS poderá ocorrer junto com retirada de câncer
Cirurgia reparadora
Plástica não será feita se houver contraindicação médica ou recusa da paciente. Segundo relatora do projeto, mais de 20.000 mulheres esperam pela cirurgia
Câncer de mama: projeto de lei quer acabar com a fila para a cirurgia reparadora de mama (Thinkstock)
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) aprovou nesta quarta-feira um projeto de lei que obriga os profissionais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a realizar plástica reparadora nas mulheres submetidas à cirurgia para tratamento de câncer na mama. A plástica só não será feita se houver contraindicação médica ou recusa da paciente.
Já existe uma lei em vigor que assegura no SUS a cirurgia plástica reparadora na mama em caso de câncer. O projeto, de autoria da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), inova ao prever a simultaneidade da cirurgia reparadora e a plástica. A relatora da proposta, senadora Ângela Portela (PT-RR), disse que mais de 20.000 mulheres estão na fila aguardando a reconstituição da mama pelo SUS, "algumas delas, há mais de cinco anos."
Autoestima — "Durante esse tempo, enfrentam a deterioração de sua autoestima e as consequências estigmatizantes da mutilação", observou. Como o projeto foi aprovado em decisão terminativa, será submetido aos deputados, sem ser votado no plenário do Senado, se não houver recursos contrários de pelo menos nove senadores.
A senadora lembrou que o drama atinge sobretudo mulheres carentes, dependentes dos serviços públicos de saúde. "O que revela uma face inaceitável da desigualdade social marcante de nosso País", criticou. Ela entende que, quando a reconstituição não ocorre no mesmo momento da retirada da mama, a paciente se submete a novo risco cirúrgico.
Ângela Portela alertou igualmente para o risco de descumprimento do direito à plástica reparadora quando esta não é feita na sequência da cirurgia oncológica, o que, entende, pode ser igualmente corrigido pela nova lei.
A senadora lembrou que o drama atinge sobretudo mulheres carentes, dependentes dos serviços públicos de saúde. "O que revela uma face inaceitável da desigualdade social marcante de nosso País", criticou. Ela entende que, quando a reconstituição não ocorre no mesmo momento da retirada da mama, a paciente se submete a novo risco cirúrgico.
Ângela Portela alertou igualmente para o risco de descumprimento do direito à plástica reparadora quando esta não é feita na sequência da cirurgia oncológica, o que, entende, pode ser igualmente corrigido pela nova lei.
Mamografia pode aumentar risco de câncer de mama em algumas mulheres
Câncer de mama
Exposição à radiação eleva riscos do tumor em mulheres de até 30 anos que são portadoras de uma mutação nos genes BRCA1 e BRCA2
Mamografia: pesquisas sobre a eficácia do exame preventivo ainda são inconsistentes (Thinkstock)
Fazer exame de mamografia como prevenção ao câncer de mama pode acabar aumentando os riscos para o tumor em algumas mulheres. Segundo pesquisa publicada no periódico British Medical Journal, a exposição à radiação pode elevar em até cinco vezes as chances de mulheres jovens com uma mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 — responsáveis por controlar a supressão dos cânceres de mama e de ovário — desenvolverem a doença.
A exposição à radiação é um fator de risco já estabelecido para o câncer de mama na população em geral. Estudos prévios já haviam estabelecido que mulheres com mutação nos genes BRCA1/2 podem ter uma maior sensibilidade à radiação. Isso porque esses genes estão diretamente envolvidos no processo de reparo de quebras no DNA. Essa quebra pode ocorrer como uma consequência da exposição à radiação. De acordo com o estudo, os benefícios preventivos de uma exposição à radiação em jovens portadoras da mutação pode, portanto, não ser maiores que os riscos.
Pesquisa — O Instituto do Câncer da Holanda analisou, entre 2006 e 2009, 1.993 mulheres que tinham mutações nos genes BRCA1/2 e que moravam na Holanda, França e Grã-Bretanha. Todas tinham 18 anos ou mais e foram questionadas sobre a exposição: se haviam feito raio-X ou mamografia, as idades da primeira e da última exposições, número de exposições antes dos 20 anos, entre os 20 e os 29 anos e dos 30 aos 39 anos.
Descobriu-se, então, que 43% (848) das mulheres foram diagnosticadas com câncer de mama, sendo que 48% (926) relataram nunca ter feito um raio-x e 33% (637) uma mamografia. A idade média da primeira mamografia foi de 29 anos. Um histórico de qualquer exposição a exames de radiação no peito entre os 20 e 29 anos aumentou os riscos para o câncer em 43%, e qualquer exposição antes dos 20 anos aumentou os riscos em 62%. Nenhuma associação com o câncer foi encontrada para exposições entre os 30 e 39 anos.
Para cada 100 portadoras de mutações no gene BRCA1/2 com 30 anos, nove irão desenvolver câncer de mama aos 40 anos. O número de casos teria sido cinco vezes maior se todas tivessem feito mamografia antes dos 30 anos. Os autores dizem, no entanto, que essa estimativa "deve ser interpretada com precaução, porque poucas mulheres com câncer de mama que tiveram mamografia antes dos 30 anos participaram do estudo."
Os pesquisadores recomendam para aquelas mulheres com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 técnicas de imagens com radiação não ionizante, como a ressonância magnética.
Cientistas concluem primeira análise genética do carcinoma pulmonar
Câncer
Estudo pode abrir portas para melhorar a prevenção, a detecção e o tratamento da doença
O câncer de pulmão é considerado um dos mais letais, uma vez que sua detecção é feita em estágios tardios da doença(Hemera/Thinkstock)
A primeira análise genética abrangente do carcinoma pulmonar de células escamosas acaba de ser feita por pesquisadores americanos. Esse câncer é um tipo de tumor pulmonar comum, relacionado ao fumo, e que causa cerca de 400.000 mortes ao ano. A pesquisa pode ajudar a melhorar a prevenção, a detecção e o tratamento da doença, já que as drogas usadas hoje para o tratamento de outros tipos de câncer pulmonar (como o adenocarcinoma) não são eficazes para o carcinoma de células escamosas. Pela similaridade genética, os pesquisadores acreditam ainda que as drogas usadas para tratar outros tipos de tumores de células escamosas, como os de cabeça e de pescoço, podem ser eficientes no tratamento deste tipo de câncer pulmonar. O estudo foi publicado na versão online do periódico Nature.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Comprehensive genomic characterization of squamous cell lung cancers
Onde foi divulgada: revista Nature
Quem fez: Ramaswamy Govindan e equipe
Instituição: The Cancer Genome Atlas
Dados de amostragem: Amostra de tumores e tecidos de 178 pacientes com carcinoma pulmonar de células escamosas
Resultado: Foram encontradas mutações em 11 genes, incluindo o TP53, que tem papel na reparação do DNA danificado. A descoberta dessas mutações abre possibilidades para o desenvolvimento de novos tratamentos, além de poder melhorar a prevenção e a detecção da doença.
“Descobrimos que quase 75% dos cânceres pulmonares de células escamosas têm mutações que podem ser atacadas com drogas existentes — comercialmente disponíveis ou ainda em fases de testes clínicos”, diz Ramaswamy Govindan, um dos coordenadores do estudo, oncologista da Universidade de Washington e co-presidente do grupo The Cancer Genome Atlas. Isso porque essas drogas, normalmente usadas em tumores localizados em outros órgãos, usam como alvo de ataque mutações genéticas comuns a alguns cânceres de células escamosas.
Na pesquisa, descobriu-se que o câncer pulmonar de células escamosas tem mutações similares aos carcinomas de células escamosas que atingem a cabeça e o pescoço. A descoberta corrobora evidências de pesquisas anteriores que apontam que o câncer pode ser classificado por sua genética, e não pelo órgão primário que afeta. Isso indica que drogas usadas no tratamento desses cânceres do pescoço e da cabeça, por exemplo, poderiam vir a ser usadas também para o câncer pulmonar.
“Encontramos mutações no câncer do pulmão que vemos também em outros tipos de cânceres humanos”, diz Richard K. Wilson, diretor do Instituto de Genoma da Universidade de Washington. “Isso reforça algo que temos visto na nossa pesquisa. Trata-se muito menos do tipo de tecido, como pulmão, mama, pele, e muito mais de quais genes e vias que são afetadas.”
Pesquisa — Foram examinados tumores e tecidos de 178 pacientes com carcinoma pulmonar de células escamosas. Os pesquisadores encontraram mutações recorrentes em 11 genes que eram comuns em muitos pacientes . Quase todos os tumores tinham mutações no gene chamado TP53, conhecido por seu papel na reparação do DNA danificado.
Os tratamentos atuais para o câncer pulmonar de células escamosas incluem quimioterapia e radiação. Não existem, no entanto, drogas específicas para esse tipo de tumor. “Com essa análise, estamos apenas começando a compreender a biologia molecular do carcinoma pulmonar de célula escamosa”, diz Govindan. “Identificamos alvos potenciais para terapias a serem estudadas em futuros testes clínicos.”
O The Cancer Genome Atlas é um projeto que combina esforços dos principais centros de sequenciamento genético dos Estados Unidos. O grupo é financiado pelo Instituto Nacional do Câncer e pelo Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano — ambos fazem parte do Instituto Nacional de Saúde, dos Estados Unidos.
Pílula diminui pela metade risco de câncer de ovário
Pesquisa
Apesar disso, o anticoncepcional pode aumentar os casos de câncer de mama. Descoberta é válida para orientar mulheres com risco para esse tipo de câncer
Utilizar pílula anticoncepcional diminui pela metade o risco de desenvolver câncer de ovário (Thinkstock)
Mulheres que tomam pílula anticoncepcional por dez anos podem diminuir pela metade o risco de ter câncer de ovário, segundo sugere um novo estudo publicado no British Journal of Cancer.
CANCÊR DE OVÁRIO
É o câncer ginecológico mais difícil de ser diagnosticado. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, 75% dos tumores malignos apresentam-se em estágio avançado quando diagnosticados.
Entre os fatores de risco, estão os hormonais, ambientais e genéticos. Cerca de 10% das pessoas que têm esse câncer apresentam um componente genético.
Segundo estimativas do Inca, foram 3.837 novos casos em 2009.
É o câncer ginecológico mais difícil de ser diagnosticado. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, 75% dos tumores malignos apresentam-se em estágio avançado quando diagnosticados.
Entre os fatores de risco, estão os hormonais, ambientais e genéticos. Cerca de 10% das pessoas que têm esse câncer apresentam um componente genético.
Segundo estimativas do Inca, foram 3.837 novos casos em 2009.
Utilizar contraceptivos orais durante qualquer período está associado a uma redução de 15% no risco de câncer de ovário. De acordo com a pesquisa, o risco diminui proporcionalmente ao tempo de uso do anticoncepcional. Ao tomar pílula por dez anos, as mulheres tinham 45% menos risco.
Apesar disso, os especialistas afirmam que é preciso ponderar esses resultados em relação ao risco de câncer de mama, que aumenta com os contraceptivos orais. Para cada 100.000 mulheres que tomam pílula durante dez anos, há 50 casos a mais de câncer de mama e 12 casos a menos de câncer de ovário, mostra o estudo.
A gravidez também foi apontada como um fator que reduz o risco de câncer de ovário. Mulheres que tiveram bebê eram 29% menos propensas a desenvolver a doença do que aqueles que nunca engravidaram.
Para a pesquisa, os cientistas acompanharam mais de 300.000 mulheres que tomavam pílula anticoncepcional com a combinação de dois hormônios: estrogênio e progesterona. Os resultados mostraram que as mulheres que tomavam pílula durante dez anos tiveram o risco de desenvolver a doença cortado pela metade, em comparação com aquelas que usavam a pílula por um ano ou menos.
Os dados fazem parte de um estudo europeu em andamento chamado Epic (European Prospective Investigation of Cancer), que investiga como a dieta e os hábitos de vida podem estar relacionados ao câncer em mais de meio milhão de homens e mulheres.
Os resultados adicionam a pesquisas anteriores que sugerem que a pílula e a gravidez podem impactar no surgimento do câncer por conta das alterações dos níveis hormonais no organismo. De acordo com os pesquisadores, ele pode servir para orientar mulheres que tenham maior risco de ter esse tipo de câncer.
Apesar disso, os especialistas afirmam que é preciso ponderar esses resultados em relação ao risco de câncer de mama, que aumenta com os contraceptivos orais. Para cada 100.000 mulheres que tomam pílula durante dez anos, há 50 casos a mais de câncer de mama e 12 casos a menos de câncer de ovário, mostra o estudo.
A gravidez também foi apontada como um fator que reduz o risco de câncer de ovário. Mulheres que tiveram bebê eram 29% menos propensas a desenvolver a doença do que aqueles que nunca engravidaram.
Para a pesquisa, os cientistas acompanharam mais de 300.000 mulheres que tomavam pílula anticoncepcional com a combinação de dois hormônios: estrogênio e progesterona. Os resultados mostraram que as mulheres que tomavam pílula durante dez anos tiveram o risco de desenvolver a doença cortado pela metade, em comparação com aquelas que usavam a pílula por um ano ou menos.
Os dados fazem parte de um estudo europeu em andamento chamado Epic (European Prospective Investigation of Cancer), que investiga como a dieta e os hábitos de vida podem estar relacionados ao câncer em mais de meio milhão de homens e mulheres.
Os resultados adicionam a pesquisas anteriores que sugerem que a pílula e a gravidez podem impactar no surgimento do câncer por conta das alterações dos níveis hormonais no organismo. De acordo com os pesquisadores, ele pode servir para orientar mulheres que tenham maior risco de ter esse tipo de câncer.
Testes para detectar câncer de ovário não são efetivos
Diagnóstico
Especialistas dizem que as técnicas de diagnóstico não reduzem mortalidade e podem levar a falsos positivos, expondo pacientes a cirurgias desnecessárias
Guilherme Rosa
Métodos para diagnosticar o câncer de ovário podem levar a cirurgias desnecessárias (Thinkstock)
O câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura — cerca de 3/4 dos casos desse tipo de câncer já estão em estágio avançado no momento do diagnóstico. No entanto, especialistas americanos não recomendam que mulheres saudáveis façam os testes disponíveis para a detecção do tumor. Segundo o U.S. Preventive Services Task Force, grupo de trabalho que analisa as evidências científicas e faz recomendações para os serviços governamentais de prevenção, esses testes não são efetivos e podem até ser prejudiciais às mulheres.
Por sua localização, o câncer de ovário é extremamente difícil de detectar, impedindo o diagnóstico precoce. Os exames normalmente usados para descobrir sua presença são a análise do sangue para encontrar marcadores biológicos vinculados ao câncer e a ultrassonografia dos ovários. No entanto, quando aplicados em mulheres saudáveis, eles não reduzem a mortalidade da doença.
Além disso, estes procedimentos produzem muitos falsos positivos, que podem levar a cirurgias desnecessárias. "Não existe um método eficaz de detecção do câncer de ovário que permita reduzir a mortalidade", afirma Virginia Moyer, presidente do grupo. "De fato, uma grande porcentagem das mulheres que passam pelos testes recebem resultados positivos falsos e podem passar por cirurgias desnecessárias."
Recomendações parecidas já foram feitas por outras entidades americanas, como a American Cancer Society e o American Congress of Obstetricians and Gynecologists. No Brasil, nenhum dos procedimentos é recomendado pelo Ministério da Saúde ou pelo Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Os cientistas recomendam que os testes só devem ser feitos em mulheres que apresentem sintomas da doença ou mutações em genes ligados ao câncer, como o BRCA 1 e o BRCA 2. Nesses casos, eles podem ajudar os médicos a acompanharem os resultados do tratamento e o avanço da doença.
O câncer de ovário é bastante raro. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer estima que teremos 6.190 novos casos em 2012. Em 2010, 2.979 mulheres morreram por causa da doença.
Opinião do especialista
Jesus Paula Carvalho
Chefe da equipe do de ginecologia oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da USP
Chefe da equipe do de ginecologia oncológica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e professor da Faculdade de Medicina da USP
"Não existe nenhum método de diagnóstico precoce do câncer de ovário que seja recomendado. Não conheço nenhum país do mundo que recomende o teste de sangue e o ultrassom em mulheres saudáveis. Infelizmente, quando uma mulher nos pergunta se existe algum modo de detectar o câncer antes dele se espalhar, nosso resposta é negativa.
"Quando a mulher percebe os sintomas do câncer de ovário, ela já está em estágio avançado da doença. O tratamento deve ser cirúrgico e quimioterápico. Na mulher com os sintomas, esses testes de sangue e ultrassonografia têm validade para confirmar o diagnóstico e para orientar os médicos durante o tratamento.
"Em junho de 2011 foi realizado um estudo com 79.000 mulheres, para testar os métodos de rastreamento de câncer. Por causa deles, 1.800 das voluntárias tiveram de passar por cirurgia para tratar o câncer de ovário. No entanto, não houve nenhuma diferença na mortalidade por conta da doença entre as pacientes que fizeram parte do estudo e as que não fizeram. Mais de uma centena de mulheres tiveram complicações por causa da cirurgia.
"Pelo menos 10% dos casos de câncer de ovário são causados por alterações genéticas e estão ligados ao histórico familiar. Quando uma mulher tem história familiar sugestiva, com parentes que tenham tido esse tipo de câncer, ela passa a ser suspeita de ter a mutação nos genes. O ideal é que ela procure por aconselhamento genético. Se a mulher tiver uma mutação comprovada, os médicos irão recomendar a remoção do ovário.
"O câncer de ovário mais comum é causado pelo carcinoma seroso de alto grau. Durante décadas, os pesquisadores acharam que ele surgia no ovário. De alguns anos para cá, no entanto, novos estudos têm mostrado que a célula que dá origem ao carcinoma surge na tuba uterina. Quando o câncer chega no ovário, ele já está em metástase. Esse é um conhecimento muito novo, é a nova fronteira da pesquisa contra o câncer de ovário. Talvez o caminho para um método de prevenção seja a busca de mutações genéticas na tuba uterina. Acredito que nos próximos anos vão surgir testes moleculares para encontrar o câncer de ovário antes dele entrar em metástase."
"Quando a mulher percebe os sintomas do câncer de ovário, ela já está em estágio avançado da doença. O tratamento deve ser cirúrgico e quimioterápico. Na mulher com os sintomas, esses testes de sangue e ultrassonografia têm validade para confirmar o diagnóstico e para orientar os médicos durante o tratamento.
"Em junho de 2011 foi realizado um estudo com 79.000 mulheres, para testar os métodos de rastreamento de câncer. Por causa deles, 1.800 das voluntárias tiveram de passar por cirurgia para tratar o câncer de ovário. No entanto, não houve nenhuma diferença na mortalidade por conta da doença entre as pacientes que fizeram parte do estudo e as que não fizeram. Mais de uma centena de mulheres tiveram complicações por causa da cirurgia.
"Pelo menos 10% dos casos de câncer de ovário são causados por alterações genéticas e estão ligados ao histórico familiar. Quando uma mulher tem história familiar sugestiva, com parentes que tenham tido esse tipo de câncer, ela passa a ser suspeita de ter a mutação nos genes. O ideal é que ela procure por aconselhamento genético. Se a mulher tiver uma mutação comprovada, os médicos irão recomendar a remoção do ovário.
"O câncer de ovário mais comum é causado pelo carcinoma seroso de alto grau. Durante décadas, os pesquisadores acharam que ele surgia no ovário. De alguns anos para cá, no entanto, novos estudos têm mostrado que a célula que dá origem ao carcinoma surge na tuba uterina. Quando o câncer chega no ovário, ele já está em metástase. Esse é um conhecimento muito novo, é a nova fronteira da pesquisa contra o câncer de ovário. Talvez o caminho para um método de prevenção seja a busca de mutações genéticas na tuba uterina. Acredito que nos próximos anos vão surgir testes moleculares para encontrar o câncer de ovário antes dele entrar em metástase."
"O câncer de colo do útero pode ser erradicado", diz Nobel de Medicina
Entrevista
O cientista Harald zur Hausen ganhou o Nobel por descobrir que o HPV causa o câncer de colo do útero, segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres
Natalia Cuminale
(Divulgação A.C Camargo)
"A eficiência da vacina é comprovada e a imunização contra o vírus tem pelo menos oito anos de duração. Além disso, os efeitos colaterais são leves e os resultados muito eficazes, se comparados com a sua não utilização. O grande problema é o preço."
Em 2008, o médico alemão Harald zur Hausen foi laureado com o prêmio Nobel de Medicina por descobrir que o HPV (papilomavírus humano) causa o câncer de colo do útero, segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, a estimativa é que ocorram 18 casos a cada 100.000 brasileiras em 2010.
A descoberta de Hausen, 74 anos, salvou a vida de milhares de mulheres. A partir dela, foi possível identificar os tipos de HPV responsáveis por 70% dos casos câncer de colo do útero e desenvolver uma vacina que previne o aparecimento dos subtipos que causam câncer. Mas o número de vidas salvas poderia ser muito maior, diz o médico. “Se há intenção de erradicar esse vírus, é preciso realizar um programa global de vacinação."
Segundo ele, o grande problema, porém, é o preço elevado da vacina. “É extremamente cara”, critica. Para que seja eficaz, é preciso que sejam aplicadas três doses, antes do início da atividade sexual. Nos Estados Unidos, cada dose custa, em média, 120 dólares. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não disponibiliza a vacina para a população. Por enquanto, as brasileiras precisam realizar anualmente o exame papanicolau, capaz de detectar as lesões.
Apesar de ser conhecido por causar câncer de colo do útero, o HPV também pode atingir os homens, causando câncer de pênis, além de tumores no ânus, boca e faringe. Hausen esteve em São Paulo para a inauguração do Centro de Pesquisas em Oncologia do Hospital A.C Camargo e concedeu entrevista a VEJA.com.
Qual é a gravidade do HPV (papilomavírus humano)?
É uma infecção muito séria, mas pode confundir porque o paciente nem sempre apresenta sintomas e pode não saber que está infectado. Passam-se entre 10 e 15 anos até que a lesão se transforme em um tumor. Inicialmente, não é uma infecção muito grave e, em grande parte dos casos, é possível lidar com isso sozinho, já que o sistema imunológico elimina o HPV naturalmente. Porém, 10% das mulheres têm um risco maior de desenvolver câncer do colo de útero mais tarde.
O que mudou desde a sua descoberta? Qual foi o impacto para saúde pública após saber que existe uma relação entre o HPV e o câncer do colo do útero?
Com a descoberta, soubemos que 100% das pessoas com câncer de colo do útero eram positivas para esses vírus. Além disso, que alguns tipos desses vírus são de alto risco e responsáveis por tumores malignos. E ainda os estudos epidemiológicos realizados na América do Sul, que permitiram uma visão mais profunda e um conhecimento maior dos fatores de risco para o desenvolvimento do câncer.
Qual a importância da vacina contra o HPV?
A vacina é importante porque ela dá 100% de proteção contra os tipos responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo do útero: o HPV-16 e HPV-18. A vacina também é capaz de proteger contra outros dois tipos. Então, em termos de proteção, é possível dizer que a vacina previne 80% dos casos de câncer do colo do útero, principalmente contra as lesões pré-cancerosas. A eficiência da vacina é comprovada e a imunização contra o vírus tem pelo menos oito anos de duração - sabemos que ela pode durar ainda mais. Além disso, os efeitos colaterais são leves e os resultados muito eficazes, se comparados com a não utilização da vacina. O grande problema da vacina é o preço. Ela é extremamente cara.
O senhor acredita que é possível erradicar o câncer de colo do útero?
Sim, eu acho que é possível erradicar o câncer de colo do útero. Se há intenção de erradicar esse vírus, é preciso realizar um programa global de vacinação. Se você considerar o número de casos que ocorrem nos países e se você pudesse retirar 80% disso, acho que seria um grande avanço. Nesse caso, para garantir o fim, é necessário não vacinar apenas as meninas, mas os garotos também – antes do início da atividade sexual.
Sabemos que o câncer de colo do útero pode ser prevenido, mas por que não houve uma redução no número de casos em países em desenvolvimento nas últimas três décadas?
São dois grandes problemas. O primeiro é que os países mais pobres não possuem um sistema eficaz de prevenção. Como as lesões não são diagnosticadas e nem removidas, há um aumento significante de 70 a 80% de chances de desenvolvimento do câncer. O segundo motivo recai sobre o preço elevado das vacinas. Muitos países em desenvolvimento não conseguem proporcionar essa opção para a população por conta do alto custo.
Nos Estados Unidos, apenas 6% das mulheres que realizam o exame papanicolau apresentam anormalidades e precisam de um acompanhamento médico. Qual é a utilidade desse exame para a prevenção?
A vacinação e esse exame são para situações completamente diferentes. O exame é capaz de detectar lesões que precisam ser removidas cirurgicamente, que já estão instaladas em pessoas que foram infectadas. Já a vacina previne contra os tipos já citados anteriormente. É preciso lembrar que ainda existem outros tipos não protegidos pela vacina e que ela também não é capaz de curar lesões. Ainda é importante ressaltar que a vacina é eficaz quando aplicada antes do início da atividade sexual.
Recentemente, pesquisadores afirmaram ter modificado o vírus da herpes, que serviu para tratar com êxito o câncer de cabeça e de pescoço. O senhor acredita que no futuro nós vamos encontrar uma relação maior entre o câncer e as doenças infecciosas?
Em geral, 21% dos tipos de câncer estão ligados a alguma infecção. Não apenas vírus, mas também bactérias, parasitas. Minha suspeita é que esse número deve crescer no futuro e vamos ter mais ligações entre os casos de câncer e infecções. É uma área importante para ser pesquisada.
E o senhor acha que as pesquisas estão no rumo correto? O que é possível dizer para incentivar os novos cientistas?
Nunca é fácil definir se as pesquisas estão no rumo certo ou não. Porque sempre estamos abertos a grandes surpresas. É importante incentivar o interesse de novos cientistas para essa área, da infecção e o câncer. Porque quando eu comecei a trabalhar nesse campo de pesquisa, e encontrei a relação entre o HPV e o câncer, ninguém acreditava em mim.
Por conta de falsas promessas, algumas pessoas parecem céticas em relação ao tratamento do câncer. É possível incentivar o otimismo?
As preocupações com a prevenção são uma boa razão para que as pessoas sejam otimistas. É possível perceber um movimento maior que visa prevenir o câncer. Além disso, se você olhar para países com uma estrutura completa para tratar pacientes com câncer, você vê que em pelo menos 50% dos casos é possível encontrar a cura.
E o que o senhor indica para prevenir o aparecimento do câncer? Hábitos de vida podem influenciar?
Com certeza. Em primeiro lugar, se você não fuma, você reduz uma série de fatores de riscos para desenvolver alguns tipos de câncer. Se você não expõe a sua pele sem proteção ao sol, você diminui drasticamente as chances de desenvolver o câncer de pele. Se você mantém uma dieta saudável, se há uma redução na quantidade de carne vermelha, você também tem menos chances de desenvolver alguns tipos de câncer. Então há uma série de mudanças de hábitos que podem refletir diretamente na sua saúde. O mais importante é informar a população de todas essas possibilidades porque parece que não há muita informação sobre isso circulando ao redor do mundo.
Segundo ele, o grande problema, porém, é o preço elevado da vacina. “É extremamente cara”, critica. Para que seja eficaz, é preciso que sejam aplicadas três doses, antes do início da atividade sexual. Nos Estados Unidos, cada dose custa, em média, 120 dólares. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não disponibiliza a vacina para a população. Por enquanto, as brasileiras precisam realizar anualmente o exame papanicolau, capaz de detectar as lesões.
Apesar de ser conhecido por causar câncer de colo do útero, o HPV também pode atingir os homens, causando câncer de pênis, além de tumores no ânus, boca e faringe. Hausen esteve em São Paulo para a inauguração do Centro de Pesquisas em Oncologia do Hospital A.C Camargo e concedeu entrevista a VEJA.com.
Qual é a gravidade do HPV (papilomavírus humano)?
É uma infecção muito séria, mas pode confundir porque o paciente nem sempre apresenta sintomas e pode não saber que está infectado. Passam-se entre 10 e 15 anos até que a lesão se transforme em um tumor. Inicialmente, não é uma infecção muito grave e, em grande parte dos casos, é possível lidar com isso sozinho, já que o sistema imunológico elimina o HPV naturalmente. Porém, 10% das mulheres têm um risco maior de desenvolver câncer do colo de útero mais tarde.
O que mudou desde a sua descoberta? Qual foi o impacto para saúde pública após saber que existe uma relação entre o HPV e o câncer do colo do útero?
Com a descoberta, soubemos que 100% das pessoas com câncer de colo do útero eram positivas para esses vírus. Além disso, que alguns tipos desses vírus são de alto risco e responsáveis por tumores malignos. E ainda os estudos epidemiológicos realizados na América do Sul, que permitiram uma visão mais profunda e um conhecimento maior dos fatores de risco para o desenvolvimento do câncer.
Qual a importância da vacina contra o HPV?
A vacina é importante porque ela dá 100% de proteção contra os tipos responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo do útero: o HPV-16 e HPV-18. A vacina também é capaz de proteger contra outros dois tipos. Então, em termos de proteção, é possível dizer que a vacina previne 80% dos casos de câncer do colo do útero, principalmente contra as lesões pré-cancerosas. A eficiência da vacina é comprovada e a imunização contra o vírus tem pelo menos oito anos de duração - sabemos que ela pode durar ainda mais. Além disso, os efeitos colaterais são leves e os resultados muito eficazes, se comparados com a não utilização da vacina. O grande problema da vacina é o preço. Ela é extremamente cara.
O senhor acredita que é possível erradicar o câncer de colo do útero?
Sim, eu acho que é possível erradicar o câncer de colo do útero. Se há intenção de erradicar esse vírus, é preciso realizar um programa global de vacinação. Se você considerar o número de casos que ocorrem nos países e se você pudesse retirar 80% disso, acho que seria um grande avanço. Nesse caso, para garantir o fim, é necessário não vacinar apenas as meninas, mas os garotos também – antes do início da atividade sexual.
Sabemos que o câncer de colo do útero pode ser prevenido, mas por que não houve uma redução no número de casos em países em desenvolvimento nas últimas três décadas?
São dois grandes problemas. O primeiro é que os países mais pobres não possuem um sistema eficaz de prevenção. Como as lesões não são diagnosticadas e nem removidas, há um aumento significante de 70 a 80% de chances de desenvolvimento do câncer. O segundo motivo recai sobre o preço elevado das vacinas. Muitos países em desenvolvimento não conseguem proporcionar essa opção para a população por conta do alto custo.
Nos Estados Unidos, apenas 6% das mulheres que realizam o exame papanicolau apresentam anormalidades e precisam de um acompanhamento médico. Qual é a utilidade desse exame para a prevenção?
A vacinação e esse exame são para situações completamente diferentes. O exame é capaz de detectar lesões que precisam ser removidas cirurgicamente, que já estão instaladas em pessoas que foram infectadas. Já a vacina previne contra os tipos já citados anteriormente. É preciso lembrar que ainda existem outros tipos não protegidos pela vacina e que ela também não é capaz de curar lesões. Ainda é importante ressaltar que a vacina é eficaz quando aplicada antes do início da atividade sexual.
Recentemente, pesquisadores afirmaram ter modificado o vírus da herpes, que serviu para tratar com êxito o câncer de cabeça e de pescoço. O senhor acredita que no futuro nós vamos encontrar uma relação maior entre o câncer e as doenças infecciosas?
Em geral, 21% dos tipos de câncer estão ligados a alguma infecção. Não apenas vírus, mas também bactérias, parasitas. Minha suspeita é que esse número deve crescer no futuro e vamos ter mais ligações entre os casos de câncer e infecções. É uma área importante para ser pesquisada.
E o senhor acha que as pesquisas estão no rumo correto? O que é possível dizer para incentivar os novos cientistas?
Nunca é fácil definir se as pesquisas estão no rumo certo ou não. Porque sempre estamos abertos a grandes surpresas. É importante incentivar o interesse de novos cientistas para essa área, da infecção e o câncer. Porque quando eu comecei a trabalhar nesse campo de pesquisa, e encontrei a relação entre o HPV e o câncer, ninguém acreditava em mim.
Por conta de falsas promessas, algumas pessoas parecem céticas em relação ao tratamento do câncer. É possível incentivar o otimismo?
As preocupações com a prevenção são uma boa razão para que as pessoas sejam otimistas. É possível perceber um movimento maior que visa prevenir o câncer. Além disso, se você olhar para países com uma estrutura completa para tratar pacientes com câncer, você vê que em pelo menos 50% dos casos é possível encontrar a cura.
E o que o senhor indica para prevenir o aparecimento do câncer? Hábitos de vida podem influenciar?
Com certeza. Em primeiro lugar, se você não fuma, você reduz uma série de fatores de riscos para desenvolver alguns tipos de câncer. Se você não expõe a sua pele sem proteção ao sol, você diminui drasticamente as chances de desenvolver o câncer de pele. Se você mantém uma dieta saudável, se há uma redução na quantidade de carne vermelha, você também tem menos chances de desenvolver alguns tipos de câncer. Então há uma série de mudanças de hábitos que podem refletir diretamente na sua saúde. O mais importante é informar a população de todas essas possibilidades porque parece que não há muita informação sobre isso circulando ao redor do mundo.
Senado aprova vacina contra HPV para meninas
Saúde da mulher
Projeto de lei prevê a imunização de garotas entre 9 e 13 anos de idade contra o papilomavírus humano, que pode causar o câncer do colo de útero
Papilomavírus humano (HPV): dos 17.000 novos casos de câncer de colo de útero estimados para este ano no Brasil, 70% serão decorrentes de dois tipos (16 e 18) do vírus (SPL/SPL RF/Latinstock)
A Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou nesta quarta-feira o projeto de lei que institui a adoção da vacina contra o papilomavírus humano (HPV) para meninas entre nove e 13 anos de idade. Caso nenhum recurso seja apresentado, o projeto deverá seguir para a Câmara dos Deputados em cinco dias.
De autoria da senadora Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), o projeto prevê um gasto de 600 milhões de reais no ano em que for implantado, e 150 milhões a partir do ano seguinte. Nos Estados Unidos, desde que a primeira vacina contra o HPV foi aprovada, em 2006, as sociedades médicas têm recomendado sua adoção, inclusive para garotos e mulheres mais velhas, como forma de evitar doenças associadas ao vírus.
O HPV é a doença sexualmente transmissível mais comum, com mais de 40 subtipos, alguns dos quais podem causar câncer de colo de útero e verrugas genitais. Normalmente, porém, o HPV não causa sintomas, mas pelo menos 50% dos homens e mulheres sexualmente ativos contrairão HPV em algum momento de suas vidas. Geralmente o organismo humano consegue eliminar a infecção sozinho em dois anos, porém certos subtipos do vírus, conhecidos como cepas oncogênicas, podem evoluir para o câncer. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, haverá este ano 17.540 novos casos da doença, que, em 2010, matou 4.986 mulheres.
Redução a longo prazo — Para a professora Luisa Villa, coordenadora do Instituto de HPV da Santa Casa de São Paulo, a faixa etária escolhida é ideal, por cobrir o período antes do início da atividade sexual. "Alguns países vacinam até os 26 anos, outros só vacinam meninas de 10 ou 11 anos. Mas o importante é que a imunização seja realizada antes da exposição ao vírus."
Luisa estima uma grande redução das doenças causadas pelo vírus. "Na Austrália, uma vacina que protege contra 4 tipos de HPV atingiu cobertura de 80%. O resultado foi uma redução de 90% nas verrugas genitais. Eu não me surpreenderia se no Brasil houvesse uma redução de 30 a 50% nos tumores em 10 anos."
Classe C é a única que gasta mais do que ganha, diz pesquisa
Consumo
Pesquisa feita pelo instituto Kantar Worldpanel mostra que a classe média gasta 2% a mais do que ganha - e está endividada
Pesquisa mostra que classe C é o grupo que mais gasta além do salário (Sebastião Moreira/EFE)
De todas as classes sociais brasileiras, a única que gasta mais do que ganha é a C. Em estudo sobre consumo realizado pela consultoria Kantar Worldpanel, o segmento aparece com déficit de 2% na relação entre renda e gasto. Tanto a classe AB quanto a DE ficaram com saldo positivo nesta análise, de 1% e 4% respectivamente. "Praticamente todo mundo está gastando o que ganha, porque esses 4% da classe DE significam muito pouco", avalia a diretora comercial da instituição no Brasil, Christine Pereira. O estudo é feito semanalmente em 8.200 domicílios do país e monitora o comportamento de 27.500 mil consumidores. O resultado divulgado nesta quinta-feira compila dados do ano de 2011.
De acordo com Christine, a classe C representa 41% da população brasileira, e seu endividamento colabora para a recente desaceleração do consumo. A Kantar Worldpanel considera para o estudo que a classe C ganha em média 2.027,70 reais (renda familiar) e gasta 2.060,12 reais. Nos últimos dois anos, o segmento diminuiu o número de visitas mensais a pontos de venda de varejo tradicional em duas vezes, de 13 para 11 visitas no mês.
Despesas como educação e vestuário, classificadas como "outras despesas", respondem pela maior parte dos gastos da classe C (38%). Na sequência, aparecem despesas fixas, como habitação, transporte e serviços públicos (33%), seguida por uma cesta de bens de consumo não duráveis definida pela entidade (28%).
Produtos - O estudo analisou ainda a penetração de 120 categorias e subcategorias de produtos nas classes sociais. A classe C já conquistou 46% das categorias, está em processo de conquista de 31% e ainda precisa conquistar 23%. O estudo considera como consolidada a conquista quando a categoria de produto tem 50% de penetração nos domicílios. Nesse caso, a análise foi feita entre julho de 2011 e junho de 2012.
Em uma lista reduzida de 25 categorias, a classe C tem defasagem no consumo de dez itens: TV cabo e ou satélite, CD laser, aspirador de pó, ar condicionado, câmera digital, congelador/ freezer, câmera de vídeo/filmadora, home theater, secadora de roupas e lava louça. A classe AB não conquistou os quatro últimos itens listados.
Gasto - A classe C reforça o grupo de 52% das famílias que gasta mais do que ganha. Dentro do número de brasileiros que gastam mais do que ganham, 27% estão "enforcados" e 25% se mantêm relativamente equilibrados - gastando pouco a mais do que ganham, de acordo com o estudo da Kantar Worldpanel. Em 2008, o porcentual de famílias que estavam com gastos acima da renda era de 49%.
A expectativa da diretora comercial da Kantar Worldpanel é de que a quantidade de pessoas que gastam além da renda continue acima dos 50% até o final do ano. "Há uma sofisticação do consumo do brasileiro, que está incorporando novas despesas à sua vida. À medida que houver emprego e renda, o consumo vai continuar a crescer", afirma.
Outra análise feita pela instituição mostra que 72% das famílias paulistas e cariocas tem intenção de poupar. O número de pessoas que pensa em economizar dinheiro mais que dobrou desde 2008, quando o porcentual era de 29%.Na comparação com a América Latina, o país também sai na frente na intenção de poupar, já que 63% do bloco afirmou que pretende economizar.
Metade dos brasileiros que responderam que querem poupar afirmaram que gostariam de economizar 10% da renda. Em primeiro lugar na intenção de investir aparece a reserva para o futuro. Na sequência, vêm reformas e melhorias na casa e a compra da casa própria. O estudo foi realizado nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
(Com Agência Estado)
Homens e mulheres não enxergam do mesmo jeito, diz estudo
Sexo
Cientistas afirmam que elas sabem diferenciar melhor os tons de cor, e eles, os objetos em movimento
Cientistas concluíram que homens e mulheres não enxergam do mesmo jeito (Thinkstock)
Homens e mulheres não enxergam do mesmo jeito, concluíram dois estudos conduzidos por cientistas americanos, publicados no periódico Biology of Sex Differences nesta terça-feira. Os resultados não são nenhuma surpresa para as mulheres que criticam seus parceiros por não combinarem corretamente as peças de roupa. Nem para os homens que se reclamam que suas namoradas ou mães não entendem a graça dos videogames.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Sex & vision I: Spatio-temporal resolution e Sex and vision II: color appearance of monochromatic lights
Onde foi divulgada: periódico Biology of Sex Differences
Quem fez: Israel Abramov, James Gordon, Olga Feldman e Alla Chavarga
Instituição: City University of New York
Dados de amostragem: 52 homens e mulheres no estudo I e 58 homens e mulheres no estudo II. Todos tinham mais de 16 anos e visão normal
Resultado: Visão de homens e mulheres é diferente. Mulheres prestam mais atenção em cores. Os homens, em objetos em movimento.
Os estudos apontam que os homens têm uma tendência maior a prestar atenção em objetos em movimento. Já as mulheres conseguem observar melhor variações nas cores — o que pode explicar por que os homens acham que as amostras de cortina que elas querem comprar são todas iguais.
Os pesquisadores compararam a visão de dois grupos de homens e mulheres (um com 52 e outro com 58 participantes) acima de 16 anos – alunos e funcionários de escolas e faculdades. Todos tinham a visão cristalina e nenhum era daltônico – condição muito mais comum em homens. Segundo o estudo da Universidade da Cidade de Nova York, as diferenças não estão nos olhos, mas no funcionamento do cérebro.
Os cientistas mostraram a um grupo de 52 pessoas (36 mulheres e 16 homens) amostras de diferentes tons de uma mesma cor, como azul, azul celeste, azul marinho etc. Os resultados revelaram que os homens dispersavam mais a visão e precisavam de mais estímulos cerebrais para identificar as diferenças de tom.
Os pesquisadores também aplicaram testes de movimento em 58 voluntários (37 mulheres e 21 homens). Eles mostraram uma tela na qual apareciam pequenas barras horizontais e verticais. As aparições eram aceleradas e aproximadas umas das outras, e os cientistas perguntavam aos voluntários quais eram os tipos de barras. Resultado: os homens revelaram maior capacidade para prestar atenção em objetos que se movimentam.
Testosterona — Os cientistas afirmam que as diferenças podem estar ligadas aos níveis de testosterona nos dois sexos. "Já as mudanças evolutivas que marcaram essas diferenças são menos claras", diz o cientista Israel Abramov, um dos autores dos estudos. Pesquisas anteriores já haviam apontado diferenças entre o olfato e audição de homens e mulheres.
A minha felicidade não é a sua
No mais recente livro de Carlos Moraes, o ótimo Agora Deus vai te pegar lá fora, há um trecho em que uma mulher ouve a seguinte pergunta de um major: "Por que você não é feliz como todo mundo?". A que ela responde mais ou menos assim: "Como o snhor ousa dizer que não sou feliz? O que o senhor sabe do que eu digo para o meu marido depois do amor? E do que eu sinto quando ouço Vivaldi?E do que eu rio com meu filho? E por que mundos viajo quando leio Murilo Mendes? A sua felicidade, que eu respeito, não é minha, major".
E assim é. Temos a pretensão de decretar quem é feliz ou infeliz de acordo com nossa ótica particular, como se felicidade fosse algo que pudesse ser visualizado. Somos apresentados a alguém com olheiras profundas e imediatamente passamos a lamentar suas prováveis noites insones causadas por problemas tortuosos. Ou alguém faz uma queixa infantil da esposa e rapidamente decretamos que é um fracassado no amor, que seu casamento deve ser um inferno, pobre sujeito. É nessas horas que junto as pontas dos cinco dedos da mão e sacudo-a no ar, feito uma italiana indignada: mas que sabemos nós da vida dos ouitros, catzo?
Nossos momentos felizes se dão, quase todos, na intimidade, quando ninguém está nos vendo. O barulho da chave da porta, de madrugada, trazendo um adolescente de volta pra casa. O cálice de vinho oferecido por uma amiga com quem acabamos de fazer as pazes. Sentar no cinema, sozinha, para assistir o filme tão esperado. Depois de anos com o coração em marcha lenta, rever um ex-amor e descobrir que ainda é capaz de sentir palpitações. Os acordos secretos que temos com com filhos, netos, amigos. A emoção provocada por uma frase de um livro. A felicidade de uma cura. E a infelicidade aceita como parte do jogo - ninguém é tão feliz quanto aquele que lida bem com suas precariedades.
O que sei eu sobre aquele que parece radiante e aquela outra que parece à beira do suicídio? Eles podem parecer o que for e eu seguirei sem saber de nada, sem saber de onde eles extraem prazer e dor, como administram seus azedumes e seus êxtases, e muito menos por quanto anda a cotação de felicidade em suas vidas. Costumamos julgar roupas, comportamento, caráter - juízes indefectíveis que somos da vida alheia-, mas é um atrevimento nos outorgarmos o direito de reconhecer, apenas pelas aparências, quem sofre e quem está em paz.
A sua felicidade não é a minha, e a minha não é a de ninguém. Não se sabe nunca o que emociona intimamente uma pessoa, a que ela recorre para conquistar serenidade, em quais pensamentos se ampara quando quer descansar do mundo, o quanto de energia coloca no que faz, e no que ela é capaz de desfazer para manter-se sã. Toda felicidade é construída por emoções secretas. Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só se permitirmos.
Martha MedeirosE assim é. Temos a pretensão de decretar quem é feliz ou infeliz de acordo com nossa ótica particular, como se felicidade fosse algo que pudesse ser visualizado. Somos apresentados a alguém com olheiras profundas e imediatamente passamos a lamentar suas prováveis noites insones causadas por problemas tortuosos. Ou alguém faz uma queixa infantil da esposa e rapidamente decretamos que é um fracassado no amor, que seu casamento deve ser um inferno, pobre sujeito. É nessas horas que junto as pontas dos cinco dedos da mão e sacudo-a no ar, feito uma italiana indignada: mas que sabemos nós da vida dos ouitros, catzo?
Nossos momentos felizes se dão, quase todos, na intimidade, quando ninguém está nos vendo. O barulho da chave da porta, de madrugada, trazendo um adolescente de volta pra casa. O cálice de vinho oferecido por uma amiga com quem acabamos de fazer as pazes. Sentar no cinema, sozinha, para assistir o filme tão esperado. Depois de anos com o coração em marcha lenta, rever um ex-amor e descobrir que ainda é capaz de sentir palpitações. Os acordos secretos que temos com com filhos, netos, amigos. A emoção provocada por uma frase de um livro. A felicidade de uma cura. E a infelicidade aceita como parte do jogo - ninguém é tão feliz quanto aquele que lida bem com suas precariedades.
O que sei eu sobre aquele que parece radiante e aquela outra que parece à beira do suicídio? Eles podem parecer o que for e eu seguirei sem saber de nada, sem saber de onde eles extraem prazer e dor, como administram seus azedumes e seus êxtases, e muito menos por quanto anda a cotação de felicidade em suas vidas. Costumamos julgar roupas, comportamento, caráter - juízes indefectíveis que somos da vida alheia-, mas é um atrevimento nos outorgarmos o direito de reconhecer, apenas pelas aparências, quem sofre e quem está em paz.
A sua felicidade não é a minha, e a minha não é a de ninguém. Não se sabe nunca o que emociona intimamente uma pessoa, a que ela recorre para conquistar serenidade, em quais pensamentos se ampara quando quer descansar do mundo, o quanto de energia coloca no que faz, e no que ela é capaz de desfazer para manter-se sã. Toda felicidade é construída por emoções secretas. Podem até comentar sobre nós, mas nos capturar, só se permitirmos.
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O trabalho ininterrupto gera diversas consequências físicas e psicológicas ao empregado. A exigência constante por produtividade faz com ...