O presidente eleito, Emmanuel Macron, faz discurso da vitória na esplanada do Louvre em Paris - 07/05/2017 (Benoit Tessier/Reuters)
O candidato independente Emmanuel Macron foi eleito por 66,06% dos votos. Marine Le Pen recebeu 33,94% de apoio no segundo turno das eleições na França neste domingo. Três dias antes da eleição que consagrou
Macron o novo presidente da
França, o escritor mais popular do país definiu assim o movimento do candidato centrista: “É uma terapia de grupo para converter a França ao otimismo”.
Para
Michel Houellebecq, autor de “Submissão” e grande tradutor do mal-estar francês contemporâneo, Macron surge como uma cura para um país doente de pessimismo, “que se compara de maneira obsessiva com a
Alemanha” para descobrir que não consegue ser como o vizinho.
No universo houellebequiano, o otimismo com a vitória de Macron traz em si o seu contrário, uma melancolia que reconhece que não há mais retorno ao passado da França industrializada. Eleger Macron é “aceitar a mundialização e fazer coisas diferentes de um
smartphone. Somos bons no artesanato, na gastronomia, no turismo”, listou Houellebecq, no palco do programa
Emission Politique, no tom depressivo de sempre. O otimismo francês dura poucas frases.
Nos cartazes fixados por todo o país, abaixo do olhar sério de Macron, o slogan “A França deve ser uma chance para cada pessoa” tinha ares de autoajuda, principalmente quando somada aos discursos emocionais do jovem candidato, poucas vezes vistos na sisuda política francesa. Emoção que chegou ao seu auge na tarde de 18 de fevereiro.
Em um comício na cidade de Toulon,
Macron paralisou a multidão ao usar uma frase ícone de
Charles de Gaulle: “Eu entendi vocês” disparou, em tom dramático, fazendo referência ao discurso feito pelo primeiro presidente da 5ª república em 4 de junho de 1958, na
Argélia. Na ocasião, De Gaulle começou abriu a fala histórica com esta frase na intenção de acalmar a multidão que lhe assistia na Praça do Fórum de Argel em plena guerra pela independência da colônia.
Na versão de Macron, o célebre “Je vous ai compris” ganhou um complemento. “Eu entendi vocês. E eu amo vocês”, disparou, dando o toque emocional quase populista característico de sua retórica. Desde então, a França discute o que é o “Macronismo”, essa força que agora sobe ao poder.
“O macronismo tem sentido por um lado e eletricidade por outro”, na definição de François Lenglet, analista econômico da rede
France2. O sentido, ele não tem dúvida, é liberal: “É o desenvolvimento da economia privada, é reduzir o estado. Um programa liberal clássico”, definiu, em análise após a vitória. O lado que forneceria a eletricidade seria o carisma e a proposta social, a “flexi-seguridade” escandinava, grande inspiração de Macron.
Primeiro desafio: eleição legislativa
Se por um lado falou ao coração dos franceses, Macron não abriu mão de algumas propostas altamente impopulares. O tema reforma trabalhista, que faz os franceses terem arrepios, esteve na linha de frente durante toda a campanha, sem constrangimento. O novo presidente é claro: é preciso tornar o atual modelo de emprego francês menos protetor para incluir os 10% de desempregados no mercado de trabalho. O fato de 65% dos eleitores terem dado seu voto por um candidato que quer mexer nesta instituição francesa que são os direitos trabalhistas é o maior sinal de que o país está mudando – e que Macron soube perceber isso.
A casca de banana que pode aparecer no caminho do novo governo e fazer o otimismo virar fúria tem data marcada para aparecer: 11 de junho, quando os franceses vão às urnas novamente eleger o novo parlamento. Os discursos de Marine Le Pen e do radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon – que obteve quase 20% dos votos no primeiro turno – já mostram que as duas forças extremistas estão mobilizadas para compor uma forte oposição ao novo governo.
Mélenchon e seu movimento
França Insubmissa deve constituir a maior resistência às reformas e já deixou claro que poderá repetir as cenas de protesto e pancadaria nas ruas das grandes cidades franceses verificadas no ano passado, quando
François Hollande fez uma tímida mudança na lei trabalhista.