sábado 28 2013

Simone de Beauvoir e o seu pensamento revolucionário




A mais velha de duas filhas de Georges de Beauvoir, um advogado, e Françoise Brasseur, Simone mais tarde optou por se livrar de suas origens burguesas. Sua primeira moradia em Paris foi no boulevar Raspail. Filha exemplar e aluna brilhante no Curso Désir, teve uma infância tranqüila e marcada pela dedicação aos estudos.

Na escola, estava sempre em primeiro lugar, junto com a amiga Elizabeth Mabille ("Zaza"), com quem teve uma relação de muitos anos que foi abruptamente rompida com a morte precoce de Zaza. Simone narrou esse episódio de sua vida, posteriormente, em seu primeiro livro autobiográfico, Memórias de Uma Moça bem-comportada, em que critica os valores burgueses.

Conheceu Jean-Paul Sartre na Sorbonne, no ano de 1929, e logo uniu-se estreitamente ao filósofo e a seu círculo, criando entre eles uma relação polêmica e fecunda, que lhes permitiu compatibilizar suas liberdades individuais com sua vida em conjunto. Na verdade, é difícil caracterizá-los como casal, porque viveram longas relações amorosas cada um com outras pessoas; Beauvoir, por exemplo, teve uma forte relação com o escritor norte-americano Nelson Algren logo após a guerra, e na década de 1950 manteve outra relação duradoura com Claude Lanzmann. No verão, era comum Beauvoir e Lanzmann viajarem com Sartre e sua amante Michelle Vian, ex-esposa do escritor Boris Vian.

Foi professora de filosofia até 1943 em escolas de diferentes localidades francesas, como Ruão e Marselha.

Morreu de pneumonia em Paris, aos 78 anos.

As suas obras oferecem uma visão sumamente reveladora de sua vida e de seu tempo.


Em seu primeiro romance, A convidada (1943), explorou os dilemas existencialistas da liberdade, da ação e da responsabilidade individual, temas que abordou igualmente em romances posteriores como O sangue dos outros (1944) e Os mandarins (1954), obra pela qual recebeu o Prêmio Goncourt e que é considerada a sua obra-prima.

As teses existencialistas, segundo as quais cada pessoa é responsável por si própria, introduzem-se também em uma série de quatro obras autobiográficas, além de Memórias de uma moça bem-comportada (1958), destacam-se A força das coisas (1963) e Tudo dito e feito (1972).


Simone de Beauvoir , Sartre e Che

Entre seus ensaios críticos cabe destacar O Segundo Sexo (1949), uma profunda análise sobre o papel das mulheres na sociedade; A velhice (1970), sobre o processo de envelhecimento, onde teceu críticas apaixonadas sobre a atitude da sociedade para com os anciãos; e A cerimônia do adeus (1981), onde evocou a figura de seu companheiro de tantos anos, Sartre.
http://entaolengalenga.blogspot.com.br/2009/11/simone-de-beauvoir-e-o-seu-pensamento.html

Belas Imagens






















Simone de Beauvoir - A VELHICE


Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, mais conhecida como Simone de Beauvoir (1908 - 1986): escritora, filósofa existencialista e feminista francesa. Escreveu romances, monografias sobre filosofia, política, sociedade, ensaios, biografias e uma autobiografia.

Esta inteligente “dama francesa” conheci lá pelo meio da década de 70, via livros, quando revolucionava o mundo das ideias/pensamentos juntamente com seu companheiro SARTRE e seu “existencialismo”. Tirante o lado feminista desta senhora e o lado político-ideológico de ambos, “curti” muitas de suas obras literárias. Esta aqui abordada, A VELHICE, de 1970, é muito boa/lúcida – “recomendo a leitura e refletir”! Mesmo com todo o evoluir de legislações protetivas ao idoso, decorridos 30 anos deste seu escrever, ainda bem atual o por ela exposto.
Com este livro, Simone abriu nova brecha nas leis, usos e hábitos das sociedades ocidentais em favor de uma nova defesa da liberdade: "É preciso que todos os homens permaneçam seres humanos durante todo o tempo em que estiverem vivos."
Normalmente, evitamos falar da velhice não somente por causa da sua imagem ou do seu cheiro (há, inconfundivelmente, um cheiro que caracteriza a velhice e um cheiro que caracteriza a juventude), mas também porque a seu lado a morte nos sorri, mostrando que no combate que desde sempre travamos, ela triunfa. 

Como dizia Beauvoir, a América riscou do seu vocabulário a palavra ‘morte’, aí, a gente fala de um ente querido; do mesmo modo, é escusado dizer que ela fechou a página correspondente à velhice. Em França, o procedimento não é diferente, esta palavra é interdita. Aliás, pode-se dizer que por todos os lugares do Ocidente ela é silenciada.

Simone de Beauvoir em seu livro clássico sobre a velhice mostra, entre outras coisas, que o inconsciente não tem idade e que temos forte tendência a nos comportar, na velhice, como se jamais fôssemos velhos: aos 60 anos, raros são os que se consideram nessa condição e mesmo depois dos 80 anos há muitos que acreditam ser de meia-idade e uns tantos que continuam a se achar jovens.

"O indivíduo idoso sente-se velho através do outro, sem ter experimentado sérias mutações; interiormente não adere à etiqueta que se cola à ele: não sabe mais quem é".

Segundo ela, a sociedade de consumo trata os idosos como párias, condenando-os à miséria, à solidão e ao desespero. "Antes de tudo, exige-se deles a serenidade; afirma-se que possuem essa serenidade, o que autoriza o desinteresse por sua infelicidade", escreve Simone na introdução de seu ensaio. Assim como a feminilidade é socialmente construída, Beauvoir afirma que a velhice é acima de tudo um fator cultural.
Neste livro escreve ainda que o idoso é uma espécie de objeto incômodo, inútil, e quase tudo que se deseja é poder tratá-lo como quantia desprezível.

BELA LEI BRASILEIRA DE DIREITOS DOS IDOSOS, “NO PAPEL”:
“A família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida.” (Lei n.º 8.842/1994 – Política Nacional do Idoso).

Simone de Beauvoir e a Palavra


Painel de fotos feito por Mara Push: Simone de Beauvoir


"Quando falamos algo real, que mobiliza e que faz muito sentido, pode fazer o outro que escuta refletir, mas realmente só ouve quem quer transformar."
Cintia Liana
"Para quem está atento, só uma palavra é suficiente para uma grande mudança."
Cintia Liana

"Estive pensando que a maldade não está nos olhos de quem vê, mas nos olhos de quem não consegue entender o que lê."
Mônica Montone

"...Arqueira por excelência, as palavras são minhas flechas. Tanto podem salvar, como matar..."
Mônica Montone

"Descobri Simone de Beauvoir quando há um bom tempo e me apaixonei"

Infelizmente tem gente que está no mundo somente a passeio com discursos pobres, vazios, infantis, repetições tolas e ultrapassadas, frases feitas emprestadas (mal feitas), nem se ouve ou questiona sua repetições e ainda acha que está dizendo algo importante. Um ex-psicoterapeuta meu, médico *Taoista e homeopata excelente, que me tratava com homeopatia desde os 3 anos de idade, chamava isso de gente que ainda está na fase do "thathibithathi".
Mas temos a fortuna de ter gente no mundo para revolucionar com suas palavras, seus ensinamentos e insights, para trazer o novo. Nós mulheres, chegamos a esse patamar graças à mulheres como Simone de Beauvoir.

Desde pequena gostava de gente assim, ousada, crítica, que não é uma vítima da industrialização humana, a primeira que me chamou a atenção foi minha mãe.
Que bom que "filha de peixe peixinho é!"
(Provérbio popular também é cultura e nunca se torna obsoleto)
*Uma escola de pensamento filosófico chinês que se baseia nos textos do Tao Te Ching atribuídos a Lao Tse e nos escritos de Chuang Tse. (Wikipédia)
Cintia Liana
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"Por vezes a palavra representa um modo mais acertado de se calar do que o silêncio."
(Simone de Beauvoir)
"Não se pode escrever nada com indiferença."
(Simone de Beauvoir)
"Não se nasce mulher: torna-se."
(Simone de Beauvoir)
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“Na verdade, não importa saber até que ponto o pensamento de Beauvoir é correto ou não. Mais relevante é aceitar-lha o desafio: através da literatura, aproveitar a oportunidade de “trocar” idéias, de se tornar disponível às exigências dos outros, não para... absorvê-las ou rejeitá-las, mas reconhecendo criticamente as diferenças individuais, salvaguardar o máximo possível a essencial liberdade de cada um.”
Fonte do parágrafo acima:http://www.simonebeauvoir.kit.net/

Mãe Senhora, Zélia Gattai, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Jorge Amado.

Ubiracy de Souza Braga*
     “Peste, fome e guerra, morte e amor, a vida de Tereza Batista é uma história de cordel”. Jorge Amado
                         Foto: Mãe Senhora, Zélia Gattai, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Jorge Amado.
Jorge Leal Amado de Faria (1912-2001) foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.  Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como: Tieta do AgresteGabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braile e em fitas gravadas para “deficientes visuais”. Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho, mas, em seu estilo - o romanceficcional-, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões. Existem dúvidas sobre o exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu nascimento deu-se na Fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus. Mais tarde as terras da fazenda Auricídia ficaram no atual município de Itajuípe, com a emancipação do distrito ilheense de Pirangi. Entretanto, Jorge Amado foi registrado dentro do povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna, Bahia.
            Como jornalista e materialista dialético, do tipo do L`Ordine Nuovo periódico semanal italiano, fundado em 1°. de maio de 1919, por Antônio Gramsci (1891-1937) e mais alguns jovens intelectuais socialistas de Turim, como Palmiro Togliatti, Angelo Tasca e Umberto Terracini, dirigentes da Federazione Giovanile Socialista, envolveu-se com a política ideológica, tornando-se comunista, como muitos de sua geração. São temas constantes em suas obras os problemas políticos e injustiças sociais, o folclore, a política stricto sensu, crenças e tradições, e a sensualidade do povo brasileiro, contribuindo assim para a divulgação deste aspecto do mesmo. Viveu exilado na Argentina e no Uruguai (1941 a 1942), em Paris (1948 a 1950) e em Praga (1951 a 1952). Leitora entusiasta de Jorge Amado, Zélia Gattai o conhecera em 1945, quando trabalharam juntos no movimento pela Anistia dos presos políticos.
                                           
A união do casal deu-se poucos meses depois. A partir de então, Zélia Gattai trabalhou ao lado do marido, “passando a limpo, à máquina, seus originais e o auxiliando no processo de revisão”. Em 1946, com a eleição de Jorge Amado para a Câmara Federal, o casal mudou-se para o Rio de Janeiro, onde nasceu o filho João Jorge, em 1947. Um ano depois, com o Partido Comunista declarado ilegal, Jorge Amado perdeu o mandato, e a família teve que se exilar. Viveu em Paris por três anos, período em que Zélia Gattai fez os cursos de civilização francesa, fonética e língua francesa na vetusta Sorbonne. De 1950 a 1952, a família viveu na Checoslováquia, onde nasceu a filha Paloma. Foi neste tempo de exílio que Zélia Gattai começou a fazer fotografias (cf. Braga, 2012a), tornando-se responsável pelo registro, “em imagens, de cada um dos momentos importantes da vida do escritor baiano”. Em 1963, mudou-se com a família para a casa do Rio Vermelho, em Salvador, na Bahia, onde tinha um laboratório e se dedicava à fotografia, tendo lançado afotobiografia de Jorge Amado intitulada: “Reportagem incompleta”.
Vejamos um trecho do discurso de posse de Zélia Gattai na ABL - Academia Brasileira de Letras:
Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Brasileira de Letras, Embaixador Alberto da Costa e Silva, Senhores Acadêmicos, Autoridades aqui presentes e representantes, caros amigos, meus senhores, minhas senhoras. Chego à vossa ilustre companhia, talvez trazida por uma estrela. Venho para ocupar com orgulho e, sobretudo, com humildade, a Cadeira que foi, durante 40 anos, de Jorge Amado, Cadeira que tem como fundador Machado de Assis e cujo patrono é José de Alencar. Três escritores da minha paixão, escritores da maior grandeza que tiveram, cada qual com seu estilo, o poder de transportar-me em mundos de magia, na emoção da leitura de seus livros a embalar meus sonhos, fazendo-me descobrir a beleza e as maldades da vida. Também na Cadeira 23 sentou-se, antecedendo Jorge Amado, o importante político baiano, prestigioso e erudito governador da Bahia, Otávio Mangabeira, a quem, nessa minha chegada à vossa Casa, agora também minha, presto homenagem. Ao falar sobre os três gigantes da literatura brasileira, eu deveria dizer frases profundas, poéticas, belas, deveria proferir um discurso com análises e citações, mas, confesso, não sou boa em discursos, a própria expressão ´proferir um discurso` me inibe. Não sou conferencista, não nasci com tais dotes, sou mais de contar histórias. Essa qualidade de contadora de histórias que, bem ou mal executo, trago no sangue...”.
Escritor profissional, no sentido da “literatura como missão” (cf. Sevcenko, 1983) viveu exclusivamente dos direitos autorais dos seus livros. A relevância abordada, por Sevcenko, em sua obra está ligada às estratégias do esquecimento no Brasil que têm um de seus marcos simbólicos no começo do regime republicano, com a queima dos arquivos sobre a escravidão a mando do ministro plenipotenciário das Finanças, Rui Barbosa, defensor da modernização do país ao estilo anglo-saxônico. No plano das ideias e da criação literária Jorge Amado era simpatizante do candomblé, religião na qual exercia o posto de honra de Obá de Xangô no Ilê Opó Afonjá, do qual muito se orgulhava. Amigos que Jorge Amado prezava no candomblé eram as mães-de-santo: Mãe Aninha, Mãe Senhora (foto), Mãe Menininha do Gantois (cf. Braga, 2012b), Mãe Stella de Oxóssi, Olga de Alaketu, Mãe Mirinha do Portão, Mãe Cleusa Millet, Mãe Carmem e o pai-de-santo Luís da Muriçoca. Como Érico Veríssimo e Rachel de Queiroz, é representante do modernismo regionalista.
Além do reconhecimento que o fardão de imortal da Academia Brasileira de Letras proporcionou, o escritor recebeu o título de doutor honoris causa em universidades europeias e centenas de homenagens ao longo da vida. Mas orgulhava-se, sobretudo das distinções concedidas no universo do candomblé. Não à toa, o romancista escolheu o orixá Exu, desenhado pelo amigo Carybé, como marca pessoal. Trata-se de uma figura da mitologia ioruba que simboliza o movimento e a passagem.Exu “está associado à transgressão de limites e fronteiras”. A escolha indica tanto a filiação à cultura popular mestiça baiana como a valorização da arte de transitar entre universos sociais e culturais diferentes. Apesar de sua amizade com personalidades de destaque - como Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa, Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro e Gabriel Garcia Márquez - e do amplo reconhecimento de sua obra, Jorge Amado recusava pompa ou grandeza à sua trajetória de vida. Diz ele emNavegação de cabotagem: “Aprendi com o povo e com a vida, sou um escritor e não um literato, em verdade sou um obá”. E mais adiante, anota: “Não nasci para famoso nem para ilustre, não me meço com tais medidas, nunca me senti escritor importante, grande homem: apenas escritor e homem”.
                                             
                                Jorge Amado: Cerimônia de posse na Academia Brasileira de Letras.
            Se me permitem uma digressão: Pai Exu, “é o guardião dos caminhos, e das encruzilhadas”. Vigia as passagens, abre e fecha os caminhos. É ele quem faz a comunicação entre os seres humanos e os demais Orixás. Quando se faz alguma oferenda e pedido aos Orixás, é Exu quem transporta a oferenda (essência) e a mensagem. É essa uma das razões, porque Exu deve ser sempre ofertado primeiro que todos. Inclusive nas casas de culto, Exu e Pomba-gira - “seu complemento feminino” é sempre saudado e oferendados antes de se iniciar qualquer ritual. Mas além de mensageiro, é Exu quem protege os médiuns e as casas de culto, de espíritos perturbadores, “para que a caridade possa ser praticada durante os rituais, e durante o atendimento”.
Exu e suas falanges são e antropologicamente representam, pois os “soldados” dos Orixás. Cada Orixá tem o seu Exu ou Pomba-gira correspondente, que representa o seu polo negativo, o seu representante ou serviçal nas trevas. E como cada Orixá tem várias qualidades dependendo do seu campo de atuação, para cada qualidade diferente há um Exu ou pomba-gira chefe de falange correspondente, que por sua vez comanda a sua enorme falange, que se vai dividindo hierarquicamente. Costuma-se dizer que cada Exu chefe de falange, comanda sete subchefes, que por sua vez cada um comanda mais sete, e assim se vai multiplicando sempre por sete. Sendo os que ocupam cargos mais altos dentro da hierarquia, os mais evoluídos, com mais luz e conhecimento, normalmente chamados de “tronados” e “coroados”, e os que se encontram mais abaixo, são “os espíritos sem luz e trevosos que foram recrutados”, e lhes foi dada a oportunidade de evoluírem servindo a luz nas trevas. Os Exus atuam no baixo astral, “combatendo os espíritos trevosos e demoníacos, e são os responsáveis pela estabilidade e equilíbrio nas trevas, sempre sob a luz da lei e da justiça divina”.
Vale lembrar que Maria Escolástica da Conceição Nazaré (Salvador, 10 de fevereiro de 1894 - 13 de agosto de 1986), conhecida como Mãe Menininha do Gantois, foi uma Iyálorixá brasileira, filha de Oxum (cf. Prandi, 1995a; 1995b; 2001). Nasceu em 1894, no dia de Santa Escolástica, na Rua da Assembleia, entre a Rua do Tira Chapéu e a Rua da Ajuda, no Centro Histórico de Salvador, tendo como pais Joaquim e Maria da Glória. Descendente de escravos africanos, ainda criança foi escolhida para ser Iyálorixá do terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê, fundado em 1849 por sua bisavó, Maria Júlia da Conceição Nazaré, cujos pais eram originários de Agbeokuta, sudoeste da Nigéria. Foi apelidada Menininha, talvez por seu aspecto franzino. “Não sei quem pôs em mim o nome de Menininha… Minha infância não tem muito que contar… Agora, dançava o candomblé com todos desde os seis anos”. Foi iniciada no culto dos orixás de Keto aos 8 anos de idade por sua tia-avó e madrinha de batismo, Pulchéria Maria da Conceição (Mãe Pulchéria), chamada Kekerê - em referência à sua posição hierárquica, Iyá kekerê (Mãe pequena). Menininha seria sua sucessora na função de Iyalorixá do Gantois. Com a morte repentina de Mãe Pulchéria, em 1918, o processo de sucessão foi acelerado.
            Reúnem-se em torno do experimentado jornalista e poeta Pinheiro da Veiga os integrantes da Academia dos Rebeldes, grupo literário do qual, além de Jorge, faziam parte Clóvis Amorim, Guilherme Dias Gomes, João Cordeiro, Alves Ribeiro, Edison Carneiro, Aydano do Couto Ferraz, Emanuel Assemany, Sosígenes Costa e Walter da Silveira. A Academia fazia oposição ao grupoArco & Flexa e pregava, no dizer de Jorge Amado, “uma arte moderna sem ser modernista”. Os trabalhos de seus integrantes são publicados nas revistas: “Meridiano” e “O Momento”, ambas fundadas por eles. Aprovado, entre os primeiros colocados, na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, em 1931, Jorge vê publicado pela Editora Schmidt seu primeiro romance: “O país do carnaval”, com prefácio de Augusto Frederico Schmidt e tiragem de mil exemplares. O livro recebe elogios dos críticos e torna-se um sucesso de público.
            Quando Jorge Amado publicou seu primeiro romance, O país do carnaval, em 1931, era só um rapazote de dezenove anos de idade. O livro conta a história de um jovem, Paulo Rigger, perplexo diante das dificuldades do mundo e ainda indeciso quanto ao caminho a tomar. Reflete, com nitidez, a alma agitada e inquieta do jovem Jorge, que, desejando entregar-se à literatura, se sentia desorientado e escrevia para dar ordem a essa confusão. Romance de formação, O país do Carnaval é um livro juvenil, que guarda alguns dos melhores atributos da juventude: a busca frenética do novo, uma forte efervescência interior e o desejo obstinado de acertar. E, sobretudo uma grande inquietação. Jorge ainda era um autor “universal”. O Brasil que o jovem Rigger reencontra quando retorna de Paris é um país que lhe parece estranho e mesmo incompreensível. Um país que lhe inspira mais dúvidas que certezas. É uma imagem trêmula, indefinida, de um país que ainda está por construir. E caberá a ele, Jorge Amado, fazer isso.
No ano de 1932, muda-se para um apartamento na bela praia de Ipanema (RJ) com o poeta Raul Bopp. Conhece José Américo de Almeida, Amando Fontes, Rachel de Queiroz, através de quem se aproxima dos comunistas e Gilberto Freyre. Sai a segunda edição de “O país do carnaval” (1931; 1937), desta vez com tiragem de dois mil exemplares. Aconselhado por Otávio de Faria e Gastão Cruls, desiste de publicar o romance “Rui Barbosa nº. 2”, pois, para eles, o livro não passava de uma repetição ou cópia de “O país do carnaval”. Viaja para Pirangi, na Bahia; impressionado com a vida dos trabalhadores da região, começa a escrever “Cacau”. A Ariel Editora, do Rio do Janeiro, em 1933, publica “Cacau” (1933; 1934) com tiragem de dois mil exemplares e capa e ilustrações de Santa Rosa. O livro esgota-se em um mês; a segunda edição sai com três mil exemplares. Entre a primeira e a segunda edição de Cacau, Jorge tem acesso, através de José Américo de Almeida, aos originais de “Caetés”, romance de Graciliano Ramos. Empolgado com o talento do escritor alagoano, viaja para Maceió só para conhecê-lo, iniciando uma amizade que duraria até a morte de Graciliano. Conhece também José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda e Jorge de Lima. Torna-se Redator-chefe da revista “Rio Magazine”. Casa-se em dezembro, em Estância, Sergipe, com Matilde Garcia Rosa. Juntos, eles lançam, pela Schmidt, o livro infantil: “Descoberta do mundo”.
Este Brasil mais pobre e mais infeliz continuará a desfilar pelas obras seguintes. Em 1934, quando lança Suor (1934; 1936), desloca o foco da vida no campo para as ruas das cidades - no caso, a cidade de Salvador. O romance conta a vida miserável de moradores de um sobrado do bairro histórico do Pelourinho. De certa forma, muito torta, evoca O cortiço, o famoso romance que o escritor maranhense Aluísio Azevedo (1857-1913) publicou em 1890. Tanto no campo como na cidade, as adversidades - e a luta dos homens simples para superá-las - desenham uma imagem áspera, mas calorosa, da vida brasileira. Mais uma vez Jorge se inspirou em uma experiência pessoal: na adolescência viveu algum tempo em um dos casarões do Pelourinho. De sua vida e de sua memória ele arranca, agora, uma fotografia do Brasil. Mais uma vez, literatura e vida se misturam e se alimentam como o fogo da paixão.
O romance Mar morto (1936) é outro exemplo da relação íntima entre Jorge Amado e nosso país. Cada vez que escreve sobre si, ele escreve sobre o Brasil. Cada vez que retorna às lembranças íntimas em busca das conexões perdidas no passado, são fios da vida brasileira que puxa para perto de si. Depois de tratar da vida no campo e nos bairros populares da cidade, Jorge se debruça, emMar morto, sobre a vida no mar. O livro conta a história e os amores de heroicos pescadores que, em precários saveiros, sobrevivem enfrentando o oceano. A cada madrugada a morte os espera no mar imenso. Nesse livro, a imagem destemida do homem brasileiro se engrandece ainda mais. Ele agora não é só um lutador, mas um homem que - como o herói Guma, que se afoga no mar - se aproxima do mito. Um herói que, reencenando os relatos da Odisseia, de Homero, enfrenta as forças da natureza e as armadilhas do destino nelas guardadas, e sai cada vez mais fortalecido.
Além dessas, mais uma característica da literatura de Jorge Amado (qualidade, também, de sua vida pessoal) amadurece: a consciência social (Hegel) e o engajamento político (Marx). Publicado em 1935, Jubiabá reafirma, ainda com mais força, que o espírito lutador do brasileiro desemboca, necessariamente, nessa combinação de elementos que leva Jorge Amado a escrever, mais à frente, livros de forte espírito didático e baseados em alguns maniqueísmos - isto é, a divisão do mundo entre os adeptos do bem e os do mal. Escrito em 1943, Terras do sem-fim faz uma dura descrição da vida miserável nos grandes latifúndios da Bahia. São Jorge dos Ilhéus, de 1944, também trata das disputas políticas, em um cenário dominado pelo regime de semiescravidão. Escreve ainda livros de grande importância histórica, e só aparentemente de menor valor literário, como O cavaleiro da esperança, biografia do líder comunista Luís Carlos Prestes, em que trabalhou no ano de 1945, durante um breve exílio na Argentina e, depois, no Uruguai. No mesmo ano, unindo de vez literatura e política, Jorge se tornou vice-presidente do I Congresso dos Escritores, que fez duras críticas ao regime fascista do Estado Novo (1937-46). Ainda nesse ano, com o fim do Estado Novo, tornou-se deputado federal pelo PCB e se casou com Zélia Gattai.
                       
Aos 63 anos de idade, começou a escrever suas memórias. O livro de estreia, Anarquistas, graças a Deus, ao completar vinte anos da primeira edição, já contava mais de 200 mil exemplares vendidos no Brasil. Sua obra é composta de nove livros de memórias, três livros infantis, uma fotobiografia e um romance. Alguns de seus livros foram traduzidos para o francês, o italiano, o espanhol, o alemão e o russo. Anarquistas, graças a Deus foi adaptado para minissérie pela Rede Globo e Um chapéu para viagem foi adaptado para o teatro. O livro retrata a vida de Jorge Amado e de sua família. Relata sua longa viagem sentimental como mulher e testemunha fiel do marido célebre, Jorge Amado. Juntos, atravessam os anos do Estado Novo e os perigos da política. Foi em plena militância, em uma reunião do Comitê pela Anistia, que Jorge viu sua futura esposa pela primeira vez. Este e outros episódios do início da relação que duraria mais de cinquenta anos são narrados por Zélia com a prosa envolvente e despretensiosa de sempre. Na literatura de Zélia, escrita em forma de mosaico - o que a deixa sempre aberta e arejada -, há espaço para todos. As histórias ziguezagueiam do Rio a Ilhéus, de Porto Alegre a Paris, de Montevidéu ao interior do Ceará.            
Escólio“El ´anarquismo` en el sentido correntemente vino a darse a esta palabra en la década de 1880, es decir, el anarquismo como ´propaganda por el hecho`, con el asesinato como procedimiento principal, nunca fue credo de un gran número de personas. Pero los anarquistas homicidas no estaban  del todo dispuestos a separarse de los que lo eran. Había una razón para esto: que, coincidiendo con muchos que no eran anarchistas, consideraban los asesinatos de Rusia enteramente justificados como represalias por los sufrimientos impuestos tanto a la masa del Pueblo ruso como a cualquiera que se oponha ao sistema de la policia zarista, y era difícil, para los que defendían el asesinato en un país, el oponerse completamente a él en otros  lugares. Una segunda razón: que muchos anarquistas que nunca habrían recurrido al asesinato, se sentían inclinados a justificarlo teoricamente hacer frente a la fuerza del Estado con el único médio de resistência que estaba al alcance de los oprimidos. Esta fue realmente la actitud de Kropotkin, aunque en  la práctica se oponía enérgicamente a la política de ´propaganda de hecho` en los países occidentales, porque probablemente agravaría la represión en lugar de aliviarla” (cf. Cole, 1958: 296-297). 
Baiana por merecimento, Zélia Gattai recebeu em 1984 o título de Cidadã da Cidade do Salvador. Na França, recebeu o título de Cidadã de Honra da comuna de Mirabeau (1985) e a Comenda des Arts et des Lettres, do governo francês (1998). Recebeu ainda, no grau de comendadora, as ordens do Mérito da Bahia (1994) e do Infante Dom Henrique (Portugal,1986). A prefeitura de Taperoá, no estado da Bahia, homenageou Zélia Gattai dando o nome da escritora à sua Fundação de Cultura e Turismo, em 2001. Neste ano foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, para a cadeira 23, anteriormente ocupada por Jorge Amado, que teve Machado de Assis como primeiro ocupante e José de Alencar como patrono. No mesmo ano, foi eleita para a Academia de Letras da Bahia e para a Academia Ilheense de Letras. Em 2002, tomou posse nas três. É mãe de Luís Carlos, Paloma e João Jorge. É amiga de personalidades e gente simples. No lançamento do livro: Jorge Amado: um baiano romântico e sensual, em 2002, em uma livraria de Salvador, estava pessoas como Antônio Carlos Magalhães, Sossó, Calasans Neto, Auta Rosa, Bruna Lima, Antônio Imbassahy e James Amado, entre outros. Ao lançar seu primeiro livro, Anarquistas graças a Deus, Zélia Gattai recebeu o Prêmio Paulista de Revelação Literária de 1979. No ano seguinte, recebeu o Prêmio da Associação de Imprensa, o Prêmio McKeen e o Troféu Dante Alighieri. A Secretaria de Educação do Estado da Bahia concedeu-lhe a Medalha Castro Alves, em 1987. Em 1988, recebeu o Troféu Avon, como destaque da área cultural e o Prêmio Destaque do Ano de 1988, pelo livro Jardim de inverno. O livro de memórias Chão de meninos recebeu o Prêmio Alejandro José Cabassa, da União Brasileira de Escritores, em 1994.
                       
                                                   Zélia Gattai.
A escritora Zélia Gattai, detentora da cadeira 23 na Academia Brasileira de Letras, filha e neta de imigrantes italianos, foi distinguida com o prêmio Órdine della Stella, concedido pela Itália “aos que no país e fora dele contribuem para o fortalecimento da história italiana”. A entrega do prêmio, um broche em formato de estrela, foi feita pelo  embaixador da Itália no Brasil, Michele Valensise, em nome do presidente da República italiana, Giorgio Napolitano. A solenidade foi realizada na casa da escritora, no bairro de em Brotas, em Salvador. Respirando com a ajuda de um aparelho de oxigênio e cercada por amigos, a escritora disse ter ficado surpresa e feliz com a premiação. Em seu discurso, Zélia Gattai contou a história de seus pais que, embora morassem no Brasil, sempre fizeram questão de falar com os filhos em italiano. Na década de 1930, Zélia tornou-se amiga de diversos artistas e intelectuais da época, como Oswald de Andrade, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Rubem Braga, Zora Seljan, Aparecida e Paulo Mendes de Almeida, Letícia e Carlos Lacerda, Aldo Bonadei, Vinicius de Moraes e outros. Aos 17 anos, emprestado por um italiano, amigo de seu avô, o velho Ristori, recebe um livro de “um tal Jorge Amado, giovanotto inteligente, jornalista, escritor”, que fora a São Paulo vindo do Rio de Janeiro.
 A escritora Zélia Gattai Amado nasceu no dia 2 de julho de 1916, em São Paulo. Filha de imigrantes italianos, sua infância foi vivida em meio às primeiras manifestações políticas operárias nos bairros de imigrantes da capital paulista (cf. Hardman, 1984; Rago, 1985). Seu pai fazia parte do grupo de imigrantes políticos que chegou ao Brasil no fim do século 19 para fundar a “Colônia Cecília” - tentativa de criar uma comunidade anarquista na selva brasileira. A família de sua mãe, católica, veio para o Brasil após a abolição da escravatura para trabalhar nas plantações de café, substituindo a mão-de-obra escrava. Em 1936, aos 20 anos, Zélia casou-se em São Paulo com o intelectual e militante do Partido Comunista Aldo Veiga. Em 1942, nasceu seu primeiro filho, Luís Carlos Veiga. O casamento aproximou-a de intelectuais como Oswald de Andrade, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Rubem Braga e Vinicius de Moraes.
Essa radicalização política de sua literatura se prolonga durante o exílio de Jorge e Zélia em Praga, na Tchecoslováquia, no início dos anos 1950, quando escreveu O mundo da paz, livro de reportagens sobre o socialismo. Até que, em 1954, pouco depois de publicar os três volumes de Os subterrâneos da liberdade - romance ambientado na resistência ao Estado Novo - Jorge viveu um grande golpe pessoal. Naquele ano, durante o XX Congresso do Partido Comunista Soviético, o secretário-geral do partido, Nikita Khruchióv (1894-1971), denunciou publicamente as atrocidades cometidas pelo ditador Josef Stálin, que esteve no poder de 1922 até 1953, ano de sua morte. A revelação foi uma grande decepção para Jorge - que em 1951 recebera, em Moscou, o Prêmio Internacional Stálin. Uma radical metamorfose íntima o afastou então de uma visão internacionalista, pautada pela doutrina do comunismo, e o aproximou ainda mais do Brasil e da realidade brasileira, ampliando seu olhar sobre nosso país.
Essa reviravolta se refletiu, cinco anos depois, no romance Gabriela, cravo e canela (cf. Braga, 2012c), livro que marca sua ruptura com uma visão mais ortodoxa do mundo e que foi um de seus maiores sucessos internacionais. O romance o lança, de vez, em uma nova visão do Brasil e do mundo, agora não mais esquemática, ou programática, mas viva, cheia de contradições e de incongruências - como a realidade, de fato, é. Outro sinal dessa mudança aparece na novela A morte e a morte de Quincas Berro D`água, que ele publica em 1959 e que é, nos aspectos literários, seu livro mais sofisticado. Nela, Jorge enterra de vez a visão mais esquemática do real que caracterizou seus primeiros romances. Quincas Berro Dágua é um personagem que desafia a morte. Arremeda, assim, os escritores que, com sua imaginação e sua liberdade interior, ultrapassam os limites da realidade e desafiam as leis da natureza. Ele não é um resignado, mas um insubmisso. Contudo, sua revolta vai muito além da rebeldia contra as mazelas sociais e se expande para uma revolta contra os limites da condição humana e as determinações do destino.
Em 1961, mais próximo ainda das coisas brasileiras, Jorge Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 1964, com Os pastores da noite, a presença do candomblé (cf. Prandi, 1995a; 1995b; 2001) e do misticismo afro-brasileiro se tornam ainda mais presentes em sua literatura. Se com Gabriela ele reforça as tintas no retrato de um Brasil sensual e otimista, habitado por gente que tem uma alegria absolutamente indiferente às contingências sociais, em Os pastoresele volta a enfatizar a figura de um país no qual o espiritualismo e a religiosidade se agigantam. As forças místicas e irracionais se tornam, em definitivo, mais potentes que as circunstâncias sociais e políticas. Mas é com a publicação de Dona Flor e seus dois maridos, em 1966, que Jorge Amado se consagra de vez “como o grande retratista do Brasil”.
Os romances de Jorge Amado foram sempre um grande sucesso de vendas. A partir de Dona Flor, as traduções se multiplicam, ultrapassando a faixa de quarenta países. Mas no mundo de hoje, dominado pela imagem e pelos audiovisuais, como o cinema, a TV e a internet - rede mundial de computadores, eles romperam e ultrapassaram as páginas dos livros. Em 1946, Jubiabá e, logo em seguida, São Jorge de Ilhéus foram adaptados pela Rádio São Paulo. Três anos antes, Eddi Bernoudy e Paulo Machado levaram Terras do sem - fim para o cinema - rebatizado como Terras violentas. Em 1961, a extinta TV Tupi levou ao ar uma adaptação de Gabriela, dirigida por Maurício Sherman Nizenbaum, um talentoso diretor de televisão brasileiro. Um dos mais conhecidos e respeitados nomes do show business tupiniquim, começou no teatro como ator, sendo inclusive premiado, além de comandar diversos espetáculos do Teatro de Revista. Ainda como ator, fez vários vilões nas comédias da Atlântida. Foi praticamente um dos “inventores” da TV brasileira. Já trabalhou com Chico Anysio e era um dos diretores preferidos de Nelson Rodrigues.
A primeira adaptação de um romance de Jorge Amado no exterior aconteceu no ano de 1941, quando Mar morto se tornou uma radionovela na Radio El Mundo, da Argentina - e que ajudou os argentinos a entender um pouco mais seus vizinhos brasileiros. Dez anos mais tarde, consequência das fortes ligações de Jorge com o movimento comunista internacional, O cavaleiro da esperançase tornou uma radionovela na rádio oficial da Tchecoslováquia. Mas a essa altura a literatura de Jorge Amado estava presente muito além das fronteiras do socialismo. Em 1961, a Metro-Goldwyn-Mayer comprou os direitos de adaptação de Gabriela, projeto que, no entanto fracassou. O romance foi adaptado para o cinema em 1983, com direção de Bruno Barreto e com a atriz Sônia Braga no papel-título (cf. Braga, 2012). O ator italiano Marcello Mastroianni interpretou Nacib. Entre outras adaptações no exterior estão a de Capitães da Areia, realizada, em 1970, pelo diretor de cinema americano Hall Bartlett, com Kent Lane e Tisha Sterling. Em 1975 o cineasta francês Marcel Camus - que já adaptara o Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes, para o cinema, conquistando a Palma de Ouro do Festival de Cannes - levou Os pastores da noite para as telas. A cada lançamento, não é só a literatura de Jorge Amado que se dissemina - é uma imagem do Brasil que ela carrega e difunde. Em 1977 Tenda dos Milagres foi transposto para o cinema sob a direção de Nelson Pereira dos Santos, com Hugo Carvana e Anecy Rocha. Mais recentemente, em 1996, foi a vez de o cineasta Cacá Diegues dirigir Tieta do Agreste, mais uma vez com o talento e a beleza de Sônia Braga no papel-título.
Tenda dos Milagres, adaptada por Aguinaldo Silva, em 1985, Capitães da Areia, por José Louzeiro e Antonio Carlos Fontoura, em 1989, Tereza Batista, por Vicente Sesso, em 1992, Dona Flor, por Dias Gomes, em 1997, e Pastores da noite, por Maurício Farias e Sérgio Machado, em 2002, se transformaram em minisséries. Atores do porte de Sônia Braga, Nelson Xavier e Betty Faria tiveram interpretações consagradoras de personagens de Jorge Amado. Enquanto assistia na TV às encenações das histórias de Jorge, o Brasil via a si mesmo, e aprendia quem estava predestinado a ser. A forte identidade entre Jorge Amado e o Brasil também chegou às escolas de samba. Em 1989 o Império Serrano, do subúrbio de Madureira, no Rio de Janeiro, levou para a avenida o samba-enredo: “Jorge Amado, axé, Brasil” do G. R. E. S - Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano.
Um dos principais orgulhos de seus integrantes é a gestão democrática e aberta da escola, implantada desde a sua fundação. Sua história social se confunde com a própria história da Serrinha, embora sua sede fique na Avenida Ministro Edgar Romero, ao lado da Estação Mercadão de Madureira, mas no mesmo bairro, Madureira. Nasce a 23 de março de 1947 a partir de uma dissidência da antiga escola de samba Prazer da Serrinha. Sua Ala de Compositores é uma das mais respeitadas, tendo em sua história nomes como Silas de Oliveira, Mano Décio, Aniceto do Império, Molequinho, Dona Yvone Lara, primeira mulher a fazer parte de uma ala de compositores de escola de samba, Beto sem Braço, Aluísio Machado, Arlindo Cruz, só para citar alguns dentre tantos. Sua história é coroada por belíssimos sambas, verdadeiros clássicos do samba enredo como:Aquarela Brasileira (1964) e (2004), Exaltação a Tiradentes (1949), Os Cinco Bailes da História do Rio (1965), Heróis da Liberdade (1969), Bumbum paticumbum Prugurundum(1982), entre outros.
A letra diz assim:
Sob os olhos graciosos de Oxalá/Desce a Serrinha/Esquenta o país do Carnaval/É muita pimenta, dendê e cacau/Você sabe que tem festa, meu amor/Lá na Tenda dos Milagres/Vem que eu vou, eu vou (bis)/Jubiabá tá no portão/E as Iaôs jogam pitangas pelo chão/Com os pastores da noite/Vem gente lá da terra do Sem-Fim/(Pode crer que dá pra mim)/Oriundo lá das matas de Oxossi e Ossain/O famoso Valentim/E ao som dos Atabaques/Rola o suor dos Ogans/Olha que papo maneiro/Entre os velhos marinheiros/E os novos capitães/Vem gente que sofreu demais/Lá do sertão e da beira do cais (é doce...)/É doce morrer no mar/Nos braços de Yemanjá (bis)/Teresa Batista cansada de guerra/No samba de roda esquece as mágoas/Tiêta se beber faz graça/Quincas Berro D'água agitando a massa/(Põe tempero Gabriela...)/Põe tempero na panela Gabriela/Mexe, mexe com amor/Cozinha com o teu calor/Bota logo o vatapá na tigela/Quem mandou foi Dona Flor/É gente que chega/E tem gente pra chegar, ô/Ekchêupa ba bá/Ekchêupa ba bá (bis)/Axé Brasil/Pai Amado saravá, sarava”.
            Jorge Amado é um dos autores brasileiros mais publicados em todo o mundo, atrás apenas de Paulo Coelho: sua obra foi editada em 55 países, e vertida para 49 idiomas e dialetos: albanês, alemão, árabe, armênio, azeri, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo (também três em braile), sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcomano, ucraniano e vietnamita. Jorge Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 6 de abril de 1961, ocupando a cadeira 23, cujo patrono é José de Alencar. De sua experiência acadêmica, bem como para retratar os casos dos imortais da ABL, escreveu Farda, fardão, camisola de dormir, numa alusão clara ao formalismo da entidade e à senilidade de seus membros, então.
Jorge Amado recebeu no exterior os seguintes prêmios: Prêmio Lênin da Paz (Moscou, 1951); Prêmio de Latinidade (Paris, 1971); Prêmio do Instituto Ítalo-Latino-Americano (Roma, 1976); PrêmioRisit d`Aur (Udine, Itália, 1984); Prêmio Moinho, Itália (1984); Prêmio Dimitrof de Literatura, Sofia - Bulgária (1986); Prêmio Pablo Neruda, Associação de Escritores Soviéticos, Moscou (1989); Prêmio Mundial Cino Del Duca da Fundação Simone e Cino Del Duca (1990); e Prêmio Camões (1995). No Brasil: Prêmio Nacional de Romance do Instituto Nacional do Livro (1959); Prêmio Graça Aranha (1959); Prêmio Paula Brito (1959); Prêmio Jabuti (1959 e 1995); Prêmio Luísa Cláudio de Sousa, doPen Club do Brasil (1959); Prêmio Carmen Dolores Barbosa (1959); Troféu Intelectual do Ano (1970); Prêmio Fernando Chinaglia, Rio de Janeiro (1982); Prêmio Nestlé de Literatura, São Paulo (1982); Prêmio Brasília de Literatura - Conjunto de obras (1982); Prêmio Moinho Santista de Literatura (1984); Prêmio BNB de Literatura (1985). Bibliografia geral consultada:
AMADO, Jorge, Cacáu. Rio de Janeiro: Ariel, 1933; Idem, Jubiabá. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935; Idem, Mar Morto. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936; Idem, Suor. 2ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936; Idem, O país do carnaval. 3ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1937; Idem,Capitães de Areia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1937; Idem, Terras do sem fim. São Paulo: Martins Fontes, 1942; Idem, Vida de Luiz Carlos Prestes: el cabalero de la esperanza. Pref. del Mayor Carlos da Costa Leite. Buenos Aires: Claridad, 1942; Idem, São Jorge de Ilhéus. São Paulo: Martins Fontes, 1944; Homens e coisas do partido comunista. Rio de Janeiro/Belo Horizonte, 1946 (Cultura Popular); Idem, O mundo da paz: União Soviética e democracias populares. Rio de Janeiro: Vitória, 1952; Idem,Os subterrâneos da liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 1954, 3 volumes; BABEL, Isaac Emmanuilovitch, Cavalaria vermelha. Trad. De Jorge Amado. São Paulo: Brasiliense, 1945 (Col. Ontem e hoje, 16); BATISTELI, Líbero, I fuori-classe: tentativo di una determinazione e di um orientamento politico dei residui sociale. Rio de Janeiiro: Tip. Cupolo, 1931; LIMA, Pedro Mota e MELO, José Barbosa, El nazismo en el Brasil: processo del estado corporativo. Buenos Aires: claridade, 1938; NERUDA, Pablo “et alii”, O partido comunista e a liberdade de criação. Por Pablo Neruda, Pedro Pomar e Jorge Amado: discursos pronunciados durante a estadia do grande poeta e senador comunista chileno em São Paulo, 1945. Rio de Janeiro: Horizonte, 1946; BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Velhice: Notas sobre a dor, a cor e a delícia de ser o que é”.http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com.br/n/comportamento/2012/05/21/; Idem, “Notas sobre a photograpphie de rue, de Robert Doisneau”. Disponível no site:http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com.br/n/arte-cultura/2012/04/21/; Idem, “Por uns velhos vãos motivos, somos cegos e cativos”. Disponível no site:http://literaturapolitica.wordpress.com/category/colaboradores/; Idem, “Simplesmente Sônia Maria Campos Braga, mulher brasileira”. Disponível no site:http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com.br/n/arte-cultura/2012/04/27; DE DECCA, Edgar Salvadori, o Silêncio dos Vencidos. São Paulo: Brasilliense, 1981; Idem, “A Ciência da Produção: fábrica despolitizada”. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, 3 (6), 1983; HARDMAN, Francisico Foot, Nem Pátria, nem Patrão! (vida operária e cultura anarquista no Brasil). 1ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1983; CARONE, Edgard, O Marxismo no Brasil (das origens a 1964). Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1986; DECCA, Maria Auxiliadora Guzzo, A Vida Fora das Fábricas: cotidiano operário em São Paulo (1920-1934). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987; RAGO, Margareth, Do Cabaré ao Lar - A Utopia da Cidade Disciplinar. Brasil, 1890 - 1930. 3ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985. O mérito deste livro está em que a autora trabalha principalmente com os seguintes temas: a analítica do poder disciplinar de Michel Foucault, feminismo, subjetividades culturais, gênero e anarquismo; COLE, G. D. H., Historia del Pensamiento Socialista - II - Marxismo y Anarquismo 1850-1890. México: Fondo de Cultura Económica, 1958; COORNAERT, E., & SAUZEAU, Jean, Les Hommes au Travail: de la pierre taillé au triomphe des machines. Paris: Éditios Bourrelier, s. d.; FRIEDMANN, Georges, Ou va le travail human? Paris: Éditions Gallimard, 1950; PRANDI, Reginaldo, “Dei africani nell’ odierno Brasile: Introduzzione sociologica al candomblé”. In: Luisa Faldini Pizzorno (org.), Solto le acque abissali. Firenze: Aracne, 1995a; Idem, “Raça e Religião”. In:Novos Estudos CEBRAP, n° 42, julho de 1995b; Idem, Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001; SODRÉ, Muniz Araújo Cabral, O Dono do Corpo. Rio de Janeiro: Codecri, 1979; Idem, Corpo de Mandinga. Manati, 2002, entre outros.  
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*Sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em Ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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