segunda-feira 23 2013

Esqueletos humanos mostram que cirurgias no crânio são realizadas há mais de mil anos

Medicina

A técnica era utilizada para tratar de ferimentos na cabeça a doenças cardíacas

Crânio com perfurações encontrado no Peru. O procedimento deveria atravessar todo o osso, sem tocar o cérebro
Crânio com perfurações encontrado no Peru. O procedimento deveria atravessar todo o osso, sem tocar o cérebro(Danielle Kurin)
Um conjunto de crânios encontrados no Peru traz evidências de que cirurgias cranianas, que não deixaram de ser um procedimento complicado mesmo com o avanço da medicina, são realizadas há mais de mil anos. Os resultados desse estudo foram publicados na edição de dezembro do periódico American Journal of Physical Anthropology.
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Trepanation in South-Central Peru during the early late intermediate period (ca. AD 1000–1250)

Onde foi divulgada: Periódico American Journal of Physical Anthropology

Quem fez: Danielle S. Kurin

Instituição: Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados Unidos

Resultado: Um conjunto de crânios encontrados no Peru traz evidências de que cirurgias cranianas são realizadas há mais de mil anos
Uma equipe de pesquisadores liderados por Danielle Kurin, arqueóloga da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, nos Estados Unidos, realizou escavações na cidade de Andahuaylas, no Peru, e encontrou ossadas de 32 indivíduos que viveram entre os anos 1.000 e 1.250. Entre eles, foram identificados 45 procedimentos de trepanação, ou perfuração do crânio. "Essa cirurgia atravessa todo o osso, mas não toca o cérebro. Isso requer muita experiência e habilidade", diz a pesquisadora.
Segundo Danielle, a prática surgiu na região dos Andes entre os anos 200 e 600 e foi considerada um procedimento médico viável até o século XVI. Os crânios encontrados trazem evidências de diferentes técnicas empregadas por médicos no mesmo período. Alguns raspavam, enquanto outros cortavam ou usavam um tipo de furadeira de mão. "Parece que eles estavam experimentando técnicas diferentes, da mesma forma como nós testamos novos medicamentos", afirma. A trepanação era utilizada para diversos fins, de tratar ferimentos na cabeça a doenças cardíacas.
Questão de treino – Algumas vezes o tratamento era bem sucedido e o paciente se recuperava, mas em outras os resultados não eram tão bons. Quando um paciente não sobrevivia, seu crânio poderia ser "doado para a ciência" e utilizado para fins educativos. "Nós podemos afirmar que eles usavam os mortos para estudos devido à localização e profundidade dos buracos abertos nos crânios. Em um dos exemplos, cada um dos buracos vai um pouco mais fundo do que o anterior. Dá para imaginar um médico praticando com sua furadeira de mão para saber o quanto ele precisa avançar para perfurar todo o crânio", diz a autora.
Para Danielle, não há evidências de que essas perfurações fossem uma forma de tortura. "Há sinais de que eles raspavam o cabelo no local da trepanação e aplicavam um remédio de ervas sobre a ferida. Para mim, essas são indicações de que a intenção era salvar a vida de alguém."

QUAL PRESENTE DE NATAL E ANO NOVO VOCÊ DARIA AO BRASIL?

veja.com

Os presidentes poderiam, como preconizado por Sérgio Buarque, se associarem como forças ativas da nação para quebrar o gargalo da educação
Os presidentes poderiam, como preconizado por Sérgio Buarque, se associarem como forças ativas da nação para quebrar o gargalo da educação
1. Este é meu vigésimo artigo em VEJA. Devo ter teclado algo como 70 mil caracteres. Apesar de os assuntos serem dispersos, o que os une e unta é um interesse que poreja em cada palavra pela educação pública de qualidade, ou seja, a criação de mais vida na própria vida: bom tema para o Natal. Belo presente a se dar ao Brasil.
2. E este é o tema que pulula em todos as colunas. Tony Bellotto diz que “só há uma solução para a barbárie brasileira: a educação”; já o colunista político Merval Pereira enuncia: “O Plano Nacional de Educação, projeto de lei enviado ao Congresso em dezembro de 2010, somente em 2014 deverá ser aprovado.” A frase fala por si só da falta de apetite para devorar o assunto.
3. No mesmo artigo, Merval cita a educadora Ilona Becskeházi para quem os países passam por quatro ciclos em educação: a massificação das matrículas; o fluxo de alunos até a conclusão da etapa obrigatória; o estabelecimento de novos padrões e a implementação destes padrões. Diz ela: “Ainda não conseguimos nem manter a massificação até o ensino médio, lutamos com o fluxo porque os alunos são analfabetos ou ignorados por seus professores, morremos de medo de padrões claros e não temos a menor noção de como implementar nada direito.”
4. O problema é que os países estão evoluindo em seus métodos e nós continuamos a fingir que o ensino médio recupera o básico, de que a universidade recupera o ensino médio e de que mestrados, doutorados e MBAs irão recuperar a universidade. Necas de pitibiriba!
5. Tudo precário, estático, lembrando a máxima de Sergio Buarque de que acaba a educação apenas por conceder títulos nobiliárquicos. Dizia ele: “Numa sociedade como a nossa, em que certas virtudes senhoriais ainda merecem largo crédito, as qualidades do espírito substituem, não raro, os títulos honoríficos, e alguns dos seus distintivos materiais, como o anel de grau e a carta de bacharel, podem equivaler a autênticos brasões de nobreza.”
6. Tornar-se fidalgo, ou “filho de algo”, acaba sendo uma fantasia, não o mérito em si, como afirmava o sociólogo, Deus meu!, já em 1936: “É que para bem corresponder ao papel que, mesmo sem o saber, lhe conferimos, inteligência há de ser ornamento e prenda, não instrumento de conhecimento e de ação.”
7. O país não está preparando sua população nem para o conhecimento sobre o passado (livros escolares trazem narrativas partidárias e sem conexões), nem para o presente (em práticas de aproveitamento dos talentos inerentes de cada aluno) e nem no futuro (em 2012, registramos cem vezes menos patentes do que a China: chega?). Escolas passam a ser casas de detenção, depósitos da inércia no uso do tempo.
8. Reitero a atualidade de Sergio Buarque, o pai do Chico: “Os decretos dos governos nasceram em primeiro lugar da necessidade de se conterem e de se refrearem as paixões particulares momentâneas, só raras vezes da pretensão de se associarem permanentemente as forças ativas.”
9. Se forças ativas podem ser representadas  pelos presidentes que estavam no avião que foi à África do Sul, façamos um apelo para que eles, simbolicamente , se associem e se mobilizem em atitudes que procurem quebrar  o gargalo da educação – por favor, que isto não pareça utópico! – pois, sem esta ação, não adianta  pensar em mais nada. Não adianta concessões de IPI para comprar eletrodomésticos, Bolsa Família ou Mais Médicos. Isto deixa de ser ação para se tornar protelação.
10. Estamos paralisados pela falta de competência, pela falta de treinamento, pela incapacidade de pensar e elaborar novas possibilidades de futuro. O sistema médico, o sistema econômico, o sistema político estão em crise porque o que está em crise é a profunda precariedade da formação educacional do homem brasileiro.  

Chubby Checker - Let's Twist Again (lyrics)



Pernil e doce: o Natal dos mensaleiros na Papuda

Justiça

Não haverá visitas nos dias 24 e 25 de dezembro. Polícia e Bombeiros estarão a postos para reforçar a segurança e evitar rebeliões

Laryssa Borges, de Brasília
José Dirceu se entrega na sede da Polícia Federal, em São Paulo
No primeiro Natal em que estarão encarcerados no presídio da Papuda, em Brasília, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o operador do mensalão Marcos Valério receberão uma ceia especial na noite do dia 24 de dezembro, revelou ao site de VEJA o subsecretário do Sistema Penitenciário do Distrito Federal, Cláudio Magalhães. Assim como os demais detentos da Papuda, os condenados no mensalão ganharão uma "marmita especial" com alimentos típicos de Natal, como pernil, chester e doce. Não é permitido nenhum tipo de bebida alcoólica. Para completar a ceia, os presos podem utilizar os 125 reais semanais repassados por seus advogados para comprar itens na cantina do presídio.
Entre os dias 24 e 25 de dezembro, por causa do regime especial de plantão, mensaleiros e demais detentos que cumprem pena na Papuda não receberão visitas. A visitação volta a ser autorizada no dia 26, quinta-feira, a partir das 9 horas. Apesar do relato do subsecretário do Sistema Penitenciário do DF, a Secretaria de Segurança Pública nega que haverá mudanças na rotina ou alimentação especial para o Natal.
Os mensaleiros começaram a chegar à Papuda no dia 16 de novembro. Desde a primeira semana, eles receberam "regalias" - como o direito a uma TV dentro do cárcere -, nas palavras do subsecretário Magalhães, por bom comportamento. Dirceu e os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT), que cumprem pena em regime semiaberto, estão reunidos em uma cela, mas separados dos demais detentos. Nos primeiros dias, a cela era compartilhada apenas por Dirceu, Delúbio e pelo ex-presidente do PT José Genoino. Mas a direção do presídio já havia reservado o local para os demais mensaleiros que estão em regime semiaberto.
Os mensaleiros com penas acima de 8 anos de prisão, condenados a regime fechado, como Marcos Valério e seus ex-sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, também estão isolados dos demais detentos. "Não vejo como privilégio, mas existem, sim, regalias. Faço questão de mantê-los separados para manter a segurança dos internos e dos servidores. Não tem outra forma de garantir a segurança a não ser separá-los", afirma Magalhães. "Não podemos correr o risco de expô-los ao contato com a massa carcerária, pois eles podem virar reféns, ser alvo de extorsão e até vítimas de homicídio."
De acordo com o subsecretário Cláudio Magalhães, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar estão a postos para reforçar a segurança na Papuda e dirimir qualquer possibilidade de motim ou rebelião. O reforço na segurança e nos plantões é rotina às vésperas de datas festivas, como Dia das Mães e Natal.
Assim que chegaram à Papuda, após ordem de prisão expedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Dirceu e os demais mensaleiros receberam um kit com uma caneca de plástico, um rolo de papel higiênico e uma pasta de dentes. Tiveram de trocar suas roupas por uniformes e não foram obrigados a raspar os cabelos.
Os ex-deputados Pedro Henry e Pedro Corrêa, que conseguiram aval do ministro Joaquim Barbosa para cumprir pena em Mato Grosso e Pernambuco, respectivamente, só não foram transferidos ainda porque não havia passagens aéreas disponíveis. Os condenados têm sido levados aos estados em voos comerciais e com escolta policial.

Mikhail Kalashnikov, inventor do AK-47, morre aos 94 anos

Rússia

Fuzil que se tornou a arma leve mais popular do mundo foi criada em 1947

Mikhail Kalashnikov, segura um modelo do AK-47, durante entrevista concedida em Moscou, em abril de 2006
Mikhail Kalashnikov, segura um modelo do AK-47, durante entrevista concedida em Moscou, em abril de 2006 (Sergei Karpukhin/Reuters)
O russo Mikhail Kalashnikov, inventor do fuzil AK-47, morreu nesta segunda-feira, aos 94 anos. Segundo a agência estatal russa Itar-Tass, ele morreu em sua cidade natal, Izhevsk, perto dos Montes Urais, onde a arma que inventou ainda é fabricada. A causa da morte não foi divulgada. A rede britânica BBC informou que Kalashnikov havia sido internado em novembro com hemorragia interna.
O AK-47, sigla para Avtomat Kalashnikova ou “fuzil automático Kalashnikov”, foi inventado logo depois da II Guerra Mundial, em 1947, por um jovem autodidata de 20 e poucos anos. O comunista russo era funcionário do regime soviético, por isso, não teve direito à patente de sua criação. Sendo assim, disse nunca ter ganhado um copeque (centavo do rublo, a moeda russa) sobre a venda da arma, que se tornou a favorita de guerrilheiros e terroristas. 
Conseguiu, contudo, participação nos lucros pela venda de uma vodca que leva o seu nome, lançada em 2004. Na carreira militar, se ainda vivia de salário, conseguiu prestígio com sua criação e continuou sendo promovido mesmo depois de entrar para a reserva, até se tornar um general condecorado.
O AK a arma leve mais popular do mundo. Dezenas de milhares foram fabricadas desde sua criação. Cópia melhorada do Sturmgewehr 44 da infantaria nazista, também foi a arma mais utilizada por rebeldes comunistas nos conflitos financiados pela antiga União Soviética. O general tinha orgulho da confiabilidade do fuzil criado para defender o bloco comunista. E se esquivava das questões morais, dizendo que não havia inventado uma arma para cair nas mãos de terroristas. “Mas o que posso fazer? Os terroristas não são bobos: também escolhem as armas mais confiáveis”.  

Judiciário vai custar quase 100 milhões de reais por dia em 2014

Contas Abertas

Um levantamento da ONG Contas Abertas mostra que durante todo o ano que vem, 34,4 bilhões de reais serão gastos com a Justiça. Boa parte do dinheiro será usada para o pagamento de pessoal

Têmis, deusa da Justiça
Têmis, deusa da Justiça (Thinkstock)
O Poder Judiciário federal vai custar aos brasileiros quase 100 milhões de reais por dia em 2014. É o que indica levantamento da ONG Contas Abertas com base no projeto de Lei Orçamentária Anual para o ano que vem, divulgado nesta segunda-feira. Segundo a previsão orçamentária, o Judiciário custará 34,4 bilhões de reais aos cofres públicos ao longo do ano - uma média de 94,4 milhões de reais por dia. O levantamento levou em consideração o orçamento do Conselho Nacional de Justiça, as justiças do Trabalho, Eleitoral, Federal e Militar da União. Também foram contabilizados os orçamentos do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.
Os valores computados não levaram em consideração possíveis emendas incorporadas ao orçamento aprovado, que podem elevar ainda mais o gasto. A maior parcela dos gastos do Judiciário são destinadas ao pagamento de pessoal e encargos. Ao todo, o custo será de 26,2 bilhões de reais previstos para o ano que vem. 
Outras despesas - A segunda maior previsão de gastos é justificada como “outras despesas correntes”, estimadas em 6,9 bilhões de reais. Os gastos são para manutenção das atividades dos órgãos. Os exemplos mais típicos de compras são material de consumo, material de distribuição gratuita, passagens aéreas e despesas de locomoção, serviços de terceiros, locação de mão de obra, arrendamento mercantil, auxílio-alimentação, entre outras. Os investimentos previstos para o próximo ano devem chegar a 1,3 bilhão de reais. O valor será destinado à aplicação de capital em meios de produção e instalações de máquinas e gastos com transporte e infraestrutura. 
Trabalho - A esfera que lidera o ranking de gastos no Judiciário é a Justiça do Trabalho. Com o Tribunal Superior do Trabalho, 24 Tribunais Regionais e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho serão gastos 15,3 bilhões de reais em 2014. Cerca de 81% dos recursos serão destinados ao pagamento de pessoal e encargos. 
O segundo maior orçamento é da Justiça Federal, que deverá contar com 8,9 bilhões de reais. A Justiça Federal tem competência para o julgamento de ações nas quais a União, suas autarquias, fundações e empresas públicas federais figurem como autoras ou rés. A Justiça Eleitoral é a terceira maior em termos orçamentários, com a previsão de gastos em torno de 5,9 bilhões de reais. 
STF - Já o Supremo Tribunal Federal (STF) irá contar com 564,1 milhões de reais para o ano que vem, dos quais 324,1 milhões de reais serão destinados ao pagamento de pessoal e 200,6 milhões de reais para despesas correntes. Já o Superior Tribunal de Justiça (STJ) contará com orçamento de 1,1 bilhão de reais em 2014.
Lentidão - O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou, em outubro, a pesquisa Justiça em Números 2013. De acordo com os dados, referentes ao ano de 2012, de cada 100 processos que tramitaram pelo Judiciário, apenas trinta foram julgados e realmente tiveram um fim. 
O CNJ aponta que o principal problema da Justiça é a dificuldade de solucionar processos antigos. Durante todo o ano de 2012, 92 milhões de processos tramitaram na Justiça, e a taxa de casos não solucionados ficou em 70%. Segundo o CNJ, a taxa é elevada devido à pendência de processos que estão na primeira instância do Judiciário. A aglomeração sobe para 80% nas ações em fase de execução.
De acordo com a pesquisa, o acúmulo de processos se concentra na Justiça Estadual. “Verifica-se nesse ramo relativa desproporcionalidade dos recursos financeiros e humanos em comparação aos litígios, já que [a Justiça Estadual] conta com 55% das despesas do Poder Judiciário Nacional, 70% dos magistrados, 66% de servidores, no entanto, concentra 78% dos processos em tramitação”, expõe o relatório. 

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MP aponta superfaturamento em contrato de R$ 10 bi da gestão Agnelo

Distrito Federal

Segundo o Ministério Público, a licitação para substituir toda a frota de ônibus do Distrito Federal beneficiou empresas do grupo Nenê Constantino

Hugo Marques, de Brasília
O governador do DF, Agnelo Queiroz em abril de 2012
O governador do DF, Agnelo Queiroz: licitação suspeita (Beto Barata/AE)
O Ministério Público do Distrito Federal defendeu na Justiça de Brasília a suspensão da execução dos contratos das empresas de transporte público, por entender que houve “superfaturamento das tarifas oferecidas pelas empresas vencedoras”. A manifestação do procurador Cláudio João Medeiros Miyagawa Freire, feita com base em parecer do Ministério Público de Contas local, questiona uma licitação de quase 10 bilhões de reais do DF para a substituição de toda a frota do transporte público.

Segundo processo que corre na Justiça de Brasília, as empresas que ofereciam tarifas de ônibus bem menores foram desclassificadas na licitação. O MP também concluiu que houve participação ativa de pessoas estranhas à Comissão de Licitação no julgamento das habilitações, nas respostas a recursos e julgamento das propostas financeiras, uma espécie de consultoria jurídica privada sem qualquer contrato direto com a Administração Pública.

O promotor concluiu ainda que a licitação beneficiou empresas do mesmo grupo econômico. Trata-se do grupo Nenê Constantino, que levou duas das cinco linhas de ônibus em Brasília. Somente cinco grandes empresas foram classificadas, para as cinco linhas disponíveis na licitação bilionária. Duas linhas mais rentáveis e com maior previsão de expansão populacional ficaram com o grupo de Nenê Constantino. Dois membros da Comissão de Licitação consignaram em documento que não estavam lendo os relatórios que assinavam, mas que tinham que assinar, por determinação do governo local. Esses documentos não foram anexados ao processo oficial da comissão de licitação, mas já estão em poder do Ministério Público do DF.

O processo para derrubar a licitação é movido pela deputada Celina Leão (PDT-DF). “A cidade inteira espera ônibus novos, mas a licitação não pode lesar o erário”, diz a deputada.

Procurada pelo site de VEJA, a assessoria do governador Agnelo Queiroz (PT) não se manifestou.

Número de juízes investigados pelo CNJ dobrou em 2013

Judiciário

Corregedor do CNJ, Francisco Falcão afirma que faltam punições para juízes e desembargadores; aposentadoria compulsória é sanção extrema

Marcela Mattos, de Brasília
Francisco Falcão, ministro STJ
Francisco Falcão, corregedor nacional de Justiça ( Elza Fiuza/ABr)
"Os magistrados têm a certeza da impunidade. É uma questão cultural", Francisco Falcão
O número de juízes e desembargadores investigados bateu recorde em 2013: de acordo com levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a pedido do site de VEJA, neste ano foram abertos 24 processos administrativos públicos (PADs) contra magistrados de todo o país – o que equivale, em média, a uma nova ação a cada quinze dias. O número é o maior desde 2005, quando o conselho foi criado.

Em relação ao ano passado, o CNJ mais do que dobrou a quantidade de novos processos: passou de onze para 24. Entre 2006 e 2012, o conselho registrou uma média anual de dez investigações iniciadas, com números que variam de dois casos, em 2006, a dezoito, em 2010. 
Os processos administrativos são instaurados após serem detectadas condutas incompatíveis com a função de juiz. Na lista de crimes praticados por magistrados estão enriquecimento ilícito, venda de sentenças e privilégios a poderosos. 
O CNJ encerrou os trabalhos no último dia 17 com a abertura de processo contra três magistrados de Rondônia sobre o suposto desvio de mais de 400 milhões de reais no pagamento de precatórios – dívidas que União, Estados e municípios adquiriram por terem sido condenados em decisões definitivas. O desembargador Vulmar de Araújo Coêlho Júnior e os juízes do trabalho Domingos Sávio Gomes e Isabel Carla Piacentini teriam desviado as cifras milionárias e entregá-las a advogados e dirigentes sindicais. De acordo com a denúncia, o desembargador também é acusado de ameaçar servidores para evitar que delatassem o esquema. 
Outro caso notório foi o do ex-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná Clayton Camargo. O magistrado acumula denúncias: venda de sentenças, enriquecimento ilícito e tráfico de influência – teria ajudado a eleger seu filho para o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. O desembargador renunciou ao mandato na corte em setembro. 
“Nunca houve tantos processos como agora e isso impressiona mundo afora. Eu estive na França e eles ficaram abismados com os nossos números. Lá faz 20 anos que eles não afastam um magistrado por corrupção”, afirma o corregedor nacional de Justiça, ministro Francisco Falcão. “A verdade é que os magistrados têm a certeza da impunidade. É uma questão cultural. Esses casos não acontecem em outros países porque lá fora as pessoas são presas”, continua.
“Em qualquer profissão nós percebemos desvios, mas quando envolvem um juiz choca mais. Eles são encarregados de julgar, têm uma tarefa central em que dão a última palavra sobre qualquer coisa. O fato de eles mesmos serem os responsáveis pelas infrações é algo mais difícil de ser aceito”, afirma Maria Tereza Sadek, diretora do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais (CEBEPEJ) e professora de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo (USP). A cientista política reforça que “as notícias de juízes que não desempenham a função corretamente são tão velhas quanto a criação do poder Judiciário”, mas que historicamente as denúncias avançavam.

Punição branda – Os 24 processos administrativos abertos neste ano resultaram no afastamento provisório de 13 magistrados. Enquanto as denúncias são apuradas, ficam suspensos todos os benefícios decorrentes da função, como o uso do gabinete, de veículo oficial e da manutenção ou designação de servidores em cargos de confiança. Os salários, no entanto, estão garantidos.
Ao fim do processo, caso as irregularidades sejam confirmadas, a sanção extrema a um magistrado no âmbito disciplinar é a aposentadoria compulsória – o que é classificado como um “prêmio” pelo corregedor nacional. “Aqui no Brasil existe a certeza da impunidade. O juiz corre o risco, dá errado e ganha o prêmio, que é o salário integral ou por tempo de serviço”, critica Falcão.
Como uma forma de endurecer as punições, Falcão defende a aprovação da proposta de emenda à constituição (PEC) que estabelece a demissão de magistrados considerados culpados. O texto já foi aprovado no Senado e aguarda apreciação da Câmara dos Deputados

Minha Mae e uma Peca 2013 Nacional



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