domingo 26 2014
CAMPANHA DO ÓDIO, DA VIOLÊNCIA E DA MENTIRA OBTÉM A MAIORIA NAS URNAS: DILMA SE REELEGE COM QUASE 52% DOS VOTOS. À SUA FRENTE, UMA ECONOMIA ESTAGNADA E O FANTASMA DO IMPEACHMENT. PODE CONTAR COM A GENTE (RE)GOVERNANTA: PARA VIGIÁ-LA
Dilma Rousseff, do PT, que vai fazer 67 anos no dia 14 de dezembro próximo, reelegeu-se presidente da República. Aos 96,24% dos votos apurados, ela tem 51,18% dos votos, contra 48,82% de seu oponente, Aécio Neves, do PSDB. Obtém o segundo mandato de forma legítima, segundo as regras do jogo, mas é importante destacar que apenas cerca de 80% do eleitorado (até este momento não há os números do Acre) , composto de 142.822.046 de brasileiros, lhe conferiram esse passaporte. Nada menos do que cerca de 28 milhões e brasileiros deixaram de comparecer às urnas. Os brancos e nulos ultrapassam 6,37%, e há, como se mencionou, os quase 50 milhões que queriam Aécio presidente. E assim é com o absurdo instituto do voto obrigatório. Um presidente é ungido, note-se, com o voto de uma minoria. Parece-me que um de seus deveres é tentar atrair a adesão daqueles que preferiram outro caminho. E é nesse ponto que as coisas podem se complicar para Dilma.
Vamos ser claros? O PT não se caracteriza exatamente por fazer campanhas limpas. Gosta de dossiês e de montar bunkers para destruir reputações; adere com impressionante presteza às práticas mais odientas da política; transforma adversários em inimigos; não distingue a divergência legítima da sabotagem e o oponente de um alvo a ser destruído; julga-se dotado de um exclusivismo moral que lhe confere o suposto direito de enlamear a vida das pessoas. Não foi diferente desta vez. Ou foi: a violência retórica e as agressões assumiram proporções inéditas. Nunca se viram tanta baixaria, tanta sordidez e tanta mentira numa campanha.
Vejam de novo o placar: Dilma vai vencer Aécio por diferença pequena. Quantos desses votos são a expressão do terror, do medo, do clientelismo mais nefasto? Não! Não se trata, e evidente, de tachar os eleitores de Dilma de “desinformados” — até porque, felizmente, a democracia ainda não inventou um mecanismo que distinga os “bons” dos “maus” votos. Mas é preciso ser um pilantra para ignorar que pessoas economicamente vulneráveis, que estão à mercê do Bolsa Família, acabam decidindo não exatamente com menos informação, mas com menos liberdade.
Multiplicaram-se aos milhares as denúncias de chantagens aplicadas contra as pessoas que recebem benefícios sociais do Estado brasileiro. Cadastrados do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida passaram a receber torpedos e a ser bombardeados com panfletos afirmando que Aécio extinguiria os programas, como se estes pertencessem ao PT, não ao Brasil. De própria voz, Dilma chamou os tucanos de inimigos do salário mínimo — que teve ganho real acima de 85% no governo FHC, superior, proporcionalmente, aos reajustes concedidos pela própria Dilma. E daí? As mentiras sobre o passado foram constrangedoras: FHC teria entregado o país com uma inflação maior do que a que recebeu; tucanos teriam proibido a construção de escolas técnicas; o governo peessedebista teria sido socialmente perverso… E vai por aí. Sobre o futuro do Brasil, não disse uma miserável palavra a não ser um daqueles miraculosos programas — agora é a vez do “Mais Especialidades”…
Quanto dos cerca de 52 milhões de votos que Dilma obteve a mais do que Aécio se consolidaram justamente no terror? Ora, esbarrei em São Paulo com peças verdadeiramente sórdidas de terror e de agressão à honra pessoal de Aécio. Estatais foram usadas de maneira vergonhosa na eleição, como se viu no caso dos Correios. Em unidades de bancos público, como CEF e BB, houve farta distribuição de panfletos contra o candidato tucano.
É claro que o medo, ainda que por margem estreita, venceu a esperança. Dilma assumirá o novo mandato, no dia 1º de janeiro, com boa parte dos brasileiros sentindo um certo fastio de seu governo. Pior: o país parou de crescer, os juros estão nas nuvens, e a inflação, raspando o teto da meta. Dilma também não tem folga fiscal para prebendas, e o cenário internacional não é dos mais hospitaleiros. Não será fácil atrair aqueles que a rejeitaram porque vão lhe faltar os instrumentos de convencimento.
Petrolão
Mais: Dilma já assumirá o novo mandato nas cordas. Além de todas as dificuldades com as quais terá de lidar, há o estupefaciente escândalo do Petrolão. A ser verdade o que disse sobre ela o doleiro Alberto Youssef, não vai terminar o mandato; será impichada — e por boas razões.
O escândalo não vai se desgrudar dela com tanta facilidade. Youssef pode estar mentindo? Até pode. Mas ele deve conhecer as consequências de fazê-lo num processo de delação premiada. Ele pode não servir para professor de Educação Moral e Cívica, mas burro não é. E que se note: em meio a crises distintas e combinadas, a governanta promete engatar uma reforma política, com apelo a plebiscito. Vêm tempos turbulentos por aí, podem esperar.
Dilma venceu por um triz porque o terrorismo funcionou. Sua campanha foi bem além do limite do razoável. Seu governo já nasce velho, com parcela considerável do eleitorado a lhe devotar franca hostilidade. E, por óbvio, seus “camaradas” à esquerda não vão lhe dar folga.
A petista assumirá o novo mandato no dia 1º de janeiro tendo à frente o fantasma do impeachment e a realidade de uma economia estagnada. Não a invejo. E creio que Aécio também não porque, por óbvio, se ele tivesse vencido, isso teria ocorrido segundo as suas circunstâncias, não as dela, que são muito piores.
O Brasil vai acabar? Não! Países não acabam. Eles podem entrar em declínio permanente. Mas Dilma pode ficar tranquila: nós nos encarregaremos de lembrar que ela foi eleita para governar um país segundo regras que estão firmadas pelo Estado de Direito. Ela pode contar com a nossa vigilância. Agora, mais do que nunca.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
Aécio sem medo do PT
Eleições 2014
Fator surpresa nas eleições à Presidência da República, Aécio Neves enfrentou a mais suja campanha do PT depois de aparecer na liderança nas pesquisas
Laryssa Borges e Silvio Navarro
Sexta-feira, dia 10 de outubro, por volta das 10 horas, Aécio Neves serviu-se de um café e sentou-se à mesa em uma sala no comitê de campanha no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro, para uma entrevista a VEJA. Antes do primeiro gole, espiou a capa dos principais jornais do país empilhados ao lado, que estampavam, pela primeira vez, pesquisas indicando que ele liderava a disputa para o Palácio do Planalto contra a presidente Dilma Rousseff. A reportagem perguntou: como o senhor se sente, à frente nas pesquisas, depois de ter chegado a ser considerado carta fora do baralho? Aécio deu um sorriso discreto e, depois de uma breve pausa, respondeu: "As pesquisas não vão me tirar do chão. Sei que vamos ter dificuldades lá na frente". De fato, ele teve. Nos 16 dias que se sucederam até a eleição deste domingo, Aécio conheceu a fúria e os métodos sujos do PT, que já havia massacrado Marina Silva no primeiro turno, e àquela altura experimentava um cenário inédito tendo um adversário tucano na dianteira nas pesquisas. Alvejado diariamente pela artilharia do PT, Aécio perdeu a liderança nas pesquisas na reta final e queixou-se: "Não podemos ter medo do PT. E se o preço for esse, eu enfrento".
Treze anos antes da disputa mais importante de sua carreira política, Aécio sentou-se, acanhado, na cadeira presidencial. Era 26 de junho de 2001 e ele, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu interinamente o posto mais alto da República por três dias na ausência do então presidente, Fernando Henrique Cardoso, e do vice, Marco Maciel. Diz ter se sentido só e sufocado pelo forte aparato de segurança reservado aos chefes de Estado. Mas, desde que encerrou o segundo mandato como governador de Minas Gerais, em 2010, decidiu que voltaria ao local, desta vez de forma definitiva e eleito presidente.
Aos 54 anos, 33 deles na vida pública, Aécio Neves se considera um bom negociador. Apontado como um dos mais hábeis políticos de sua geração, reconstruiu pontes dentro do seu partido, atraiu novos aliados no segundo turno e chegou à disputa presidencial com chances reais de colocar fim aos doze anos de administração petista. Desde o dia 14 de junho, quando seu nome foi confirmado como candidato oficial do PSDB na disputa pelo Palácio do Planalto, foi diplomático para aplacar potenciais opositores dentro do partido e acabar com a conhecida desunião tucana. Nos mais de três meses de campanha, teve também de lidar com um cambaleante desempenho em Minas Gerais, seu reduto político, administrar oscilações de arrecadação e ver pedidos de demissão de parte da equipe.
O primeiro baque veio logo no início da campanha, em dia 19 de julho. Enquanto caminhava por uma feira agropecuária na cidade cearense do Crato, recebeu um telefonema que informava que o jornal Folha de S. Paulo publicaria no dia seguinte a denúncia de que ele construíra com dinheiro público um aeroporto na cidade de Cláudio (MG) dentro da fazenda de um tio. Preocupado, paralisou o ato político, afastou-se dos apoiadores e pediu que vasculhassem documentos para comprovar a lisura da obra. Sangrou por dez dias seguidos antes de admitir ter usado ocasionalmente a pista de pouso. Naquele momento, além do inesperado desgaste político, penava para administrar uma situação familiar delicada – o filho Bernardo, nascido prematuro pouco mais de um mês antes – inspirava cuidados especiais em uma UTI neonatal no Rio de Janeiro.
Menos de dois meses depois – e já parcialmente recuperado da trágica morte do amigo e então adversário nas eleições Eduardo Campos – o candidato do PSDB viveu seus piores dias na campanha. Em 1º de setembro, foi escanteado durante o debate do SBT pelas então favoritas Dilma Rousseff e Marina Silva. Teve desempenho tímido na exposição de propostas e acabou interagindo com os candidatos nanicos. Desde então, abriu mão de usar o teleprompter na TV, vetou bilhetinhos repassados por marqueteiros nos intervalos dos debates e atuou pessoalmente para reverter o desânimo que abateu os tucanos. Ele amargava apenas 14% das intenções de voto.
Sem diminuir o ritmo da agenda de campanha, o tucano e sua equipe intensificaram atos políticos em colégios eleitorais estratégicos. Entre um compromisso e outro, recordava o que apelidou de “a noite do chorinho”. Nas raras vezes em que dormia em casa, o choro dos recém-nascidos Julia e Bernardo o levava a passar noites em claro. Desde o nascimento dos filhos gêmeos, latas de energético foram promovidas a itens de primeira necessidade.
Na estratégia de campanha, a equipe de conselheiros do tucano também teve de reajustar seguidas vezes os rumos do discurso a ser apresentado ao eleitor. Depois de apontar a ex-senadora Marina Silva como uma ex-petista e afirmar que necessariamente se tornaria oposição em um eventual governo dela, Aécio foi aconselhado a construir pontes com a adversária. Amenizou imediatamente o tom das críticas à concorrente e instruiu interlocutores a buscar o apoio daquela que seria a terceira colocada no primeiro turno das eleições.
Confirmado no segundo turno, pôs sobre a mesa novas metas de campanha: abrir 3 milhões de votos de vantagem em Minas Gerais frente à petista Dilma Rousseff. Aliado de primeira hora, o senador eleito Antonio Anastasia (PSDB) telefonou pessoalmente para mais de 300 prefeitos para pedir apoio. Derrotado na corrida pelo Palácio Tiradentes, o ex-ministro Pimenta da Veiga conversou com outras 200 lideranças. Precisavam acabar com o discurso petista que aproveitou a derrota do tucano em Minas no primeiro turno para explorar a tese de que “quem conhece não vota em Aécio”. No front de negociações com Marina, traçou como objetivo captar pelo menos 60% dos 20 milhões de votos conquistados pela ex-senadora.
No último mês, com o acirramento dos ataques do PT, Aécio Neves determinou a elaboração de um pacote de propagandas críticas aos 12 anos de governo petista e partiu para uma campanha de enfrentamento que teve seu ponto alto no debate promovido pelo SBT, no dia 16. Preparou-se para minar críticas do PT ao economista Armínio Fraga e, de posse de pesquisas qualitativas que confirmavam que o eleitorado assimilara que há corrupção na Petrobras, martelou o escândalo do petrolão em cada discurso. Mas novos levantamentos apontaram que o eleitor rejeitava os ataques mais duros. Pelo menos 32 peças publicitárias já gravadas pelo PSDB foram descartadas.
Nos últimos dias antes de enfrentar as urnas, um novo baque. Aécio revelou que estava “magoado” de ter sido atacado tão duramente pelo ex-presidente Lula, político com quem mantinha uma relação amistosa. Antigo parceiro do petista no time de futebol organizado por parlamentares ainda nos anos de 1980, Aécio se recusava a responder ao ex-presidente – até porque levar Lula e sua popularidade para o debate direto era tudo o que o PT queria. Na última semana, irritado, quebrou o silêncio quando o ex-presidente o chamou de "playboy" e disse que ele era agressivo com mulheres. “Lamento que um ex-presidente da República se permita cumprir um papel tão inexpressivo como o que ele vem cumprindo. Ele apequena sua biografia com ataques torpes e absurdos”, disse. Foi à TV e usou mais de um programa eleitoral para rebater o terrorismo eleitoral propalado pelo PT nos rincões e reagiu aos ataques pessoais desferidos por Lula. Despediu-se com a frase que seus apoiadores adotaram: "Vou libertar o Brasil do PT".
Brasil volta às urnas na eleição mais acirrada da história
Eleições 2014
É a sétima vez seguida em que o voto direto vai decidir o novo presidente da República na campanha mais agitada desde a redemocratização
Gabriel Castro, de Brasília
IMPREVISÍVEL – Os candidatos à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB): a mais acirrada disputa da história (Felipe Cotrim/VEJA.com)
O Brasil escreve neste domingo mais um capítulo importante de sua história. Em algumas horas, o país vai eleger quem comandará a Presidência da República pelos próximos quatro anos. Quatorze unidades da federação – treze Estados e o Distrito Federal – vão decidir seus governadores em segundo turno. Mais de 141 milhões de eleitores estão aptos a votar.
Neste domingo, o país encerra a campanha mais acirrada desde 1989, cercada de reviravoltas, pontuada por uma tragédia que chacoalhou a eleição e que termina manchada pela agressividade do partido que fez de tudo para não deixar o poder. Pela primeira vez desde a redemocratização, até o fechamento das urnas, o resultado é imprevisível. Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado aponta que a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) estão tecnicamente empatados – a petista tem 52% das intenções de votos válidos, e o tucano, 48% (na margem de erro, de 2% para mais ou para menos, ambos podem atingir 50%).
Neste domingo, o país encerra a campanha mais acirrada desde 1989, cercada de reviravoltas, pontuada por uma tragédia que chacoalhou a eleição e que termina manchada pela agressividade do partido que fez de tudo para não deixar o poder. Pela primeira vez desde a redemocratização, até o fechamento das urnas, o resultado é imprevisível. Pesquisa Datafolha divulgada neste sábado aponta que a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) estão tecnicamente empatados – a petista tem 52% das intenções de votos válidos, e o tucano, 48% (na margem de erro, de 2% para mais ou para menos, ambos podem atingir 50%).
Certo é que foi a mais tumultuada e complexa eleição dos últimos 25 anos. A trágica morte de Eduardo Campos, a meteórica ascensão e queda de Marina Silva e a profusão de denúncias de corrupção envolvendo o governo marcaram a disputa. O excesso de ataques e de mentiras também sujou o jogo eleitoral: a campanha agressiva patrocinada sobretudo pelo PT representou um retrocesso na construção de padrões democráticos mais elevados.
Por outro lado, torna-se essencial reconhecer que, a cada novo pleito, a ainda jovem democracia brasileira cria raízes mais profundas. Esta será a sétima vez seguida em que o Brasil elegerá um novo presidente pelas urnas. Uma sequência tão longa só ocorreu uma vez, no início do século 20. E, na época, o voto era restrito aos homens ricos e as eleições eram tradicionalmente fraudadas.
Por causa do horário de verão no Acre, que deixa o Estado três horas atrasado em relação a Brasília, os números da eleição para a Presidência só serão divulgados depois das 20h. Quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornar pública a primeira parcial da apuração, é provável que a contagem de votos esteja numa fase avançada.
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O trabalho ininterrupto gera diversas consequências físicas e psicológicas ao empregado. A exigência constante por produtividade faz com ...