domingo 17 2014

Multidão acompanha cortejo e enterro de Campos

Funeral

Com exceção de Marina, presidenciáveis deixaram o local ainda durante a missa e evitaram falar sobre temas políticos; familiares seguem com o caixão de Campos, no carro de bombeiros, até o Cemitério de Santo Amaro

Laryssa Borges e Talita Fernandes, de Recife
Multidão acompanha o cortejo do corpo de Eduardo Campos até o cemitério de Santo Amaro no Recife
Multidão acompanha o cortejo do corpo de Eduardo Campos até o cemitério de Santo Amaro no Recife - Fernando Bizerra Jr./EFE
Atualizada às 18h42
O sepultamento do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, no jazigo de seu avô Miguel Arraes, começou às 18h30 deste domingo, no Cemitério de Santo Amaro, em Recife. Num espaço isolado por grades, a mulher de Campos, Renata, e seus quatro filhos mais velhos — Pedro, João, Maria Eduarda e José — se uniram a Ana Arraes, mãe do político, e a Marina Silva, que deve sucedê-lo oficialmente nesta semana como candidata do PSB à Presidência da República. Assim como as ruas do Recife durante o cortejo fúnebre, o cemitério estava tomado por pessoas que prestavam homenagem a Campos. Houve gritos como "Eduardo, guerreiro do povo brasileiro", mas também palavras de apoio político a Marina Silva, que foi ovacionada ao chegar. 
O cortejo fúnebre do ex-governador deixou o Palácio do Campo das Princesas, onde ele era velado desde as 2h da manhã de domingo, pouco antes do previsto, às 16h45. Uma multidão estimada em 150 mil pessoas tomou as ruas do Recife para acompanhá-lo. A família do político — sua mulher, Renata, sua mãe, Ana Arraes, e os quatro filhos mais velhos, Pedro, João, Maria Eduarda e José — seguiu no carro de bombeiros que levava o caixão, saudando a população. Marina Silva começou o percurso no mesmo carro, mas depois se encaminhou separadamente ao cemitério. 
Velório — Os nomes mais proeminentes da República se dirigiram ao Recife, na manhã deste domingo, para prestar homenagem  a Eduardo Campos, morto na última quarta-feira após um acidente aéreo em Santos, no litoral paulista. Contudo, a maioria dos senadores e governadores, assim como a presidente Dilma, deixou a missa campal celebrada no Palácio antes do fim, num intento de evitar o assédio.
Por volta de 11h, Dilma saiu primeiro e, apressada, não quis dar declarações à imprensa. Estava acompanhada do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, do ex-presidente Lula, do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e do candidato petista ao governo do Estado, Alexandre Padilha. Abordada por algumas pessoas que estavam no evento, Dilma abraçou crianças e negou um pedido de foto: "eu te prometo que em outra ocasião eu tiro as fotos que você quiser", disse. Ao chegar, por volta de 10h10 da manhã, a presidente foi recebida com vaias pela população. 
Durante o velório, Dilma, o candidato tucano Aécio Neves e Marina Silva se encontraram ao redor do caixão do ex-governador pernambucano. Contudo, a interação entre os adversários não foi além de cumprimentos cordiais. Na saída, Aécio foi o único a dar declarações — e também o único tucano a comentar as vaias sofridas por Dilma. "Eu acho que, numa hora dessas, qualquer hostilidade é injustificada. Acredito que a presidente esteve aqui hoje trazendo sua homenagem a um amigo com que ela conviveu boa parte do governo Lula".
O candidato do PSDB também evitou falar sobre a campanha. "Hoje não estou aqui como candidato, e sim como amigo. Hoje vocês vão me permitir não entrar na análise política, pois seria uma intromissão indevida", afirmou. Aécio foi categórico ao elogiar a força de Renata Campos. "É uma mulher extraordinária. Não só agora, mas ela sempre foi assim", disse o tucano, reiterando que, no momento de encontro com seus adversários, não houve espaço para qualquer comentário sobre política, em respeito, sobretudo, a Campos e sua família. "Quem deve brigar são as ideias, não as pessoas", afirmou. O tucano disse ainda que contava com Campos para sua caminhada em busca de um "Brasil novo", ainda que estivessem em partidos opostos. "Nunca imaginei construir um projeto de um Brasil novo, independentemente de posições partidárias, em que não estivéssemos juntos. Todas as nossas conversas apontavam nessa direção".
Assim como Dilma, Marina Silva também saiu calada. Seus assessores afirmaram que a ex-senadora se dirigiria ao hotel para descansar, pois havia dormido pouco. Marina acompanhou a família de Campos até a base aérea de Recife para receber o corpo do ex-governador, seguiu com o cortejo até o Palácio e ali permaneceu durante toda a madrugada, sempre ao lado da viúva, Renata. Por volta de 6h, Marina voltou ao hotel para descansar, retornando ao velório apenas para a missa campal. 

Se te falta EDUCAÇÃO culpa o governo


Autoridades chegam ao velório e Dilma é vaiada

Eduardo Campos

Além da presidente, governadores e senadores chegaram ao Palácio para assistir à missa campal celebrada pelo arcebispo de Recife e Olinda, Dom Fernando Saburido

Laryssa Borges, de Recife
Filhos de Eduardo Campos carregam caixão em Recife
Filhos de Eduardo Campos carregam caixão em Recife - EFE
Autoridades de todo o país começaram a chegar ao velório do ex-governador Eduardo Campos, morto na última quarta-feira em acidente aéreo em Santos, no litoral de São Paulo. Campos está sendo velado ao lado de seu assessor de imprensa, Carlos Augusto Leal Filho (Percol), e do fotógrafo da campanha, Alexandre Severo, também vítimas do acidente. A presidente Dilma chegou na base aérea do Recife pouco antes das 10h, acompanhada do ex-presidente Lula, do ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante, do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e do candidato petista ao governo do Estado de São Paulo, Alexandre Padilha. Ao se dirigir ao Palácio do Campo das Princesas, onde ocorre o velório, os petistas foram recebidos com vaias leves pelos simpatizantes que prestam as últimas homenagens a Campos. 
Também estão no Palácio o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, acompanhado dos tucanos José Serra e Aloysio Nunes. Ao chegar próximo do caixão, Lula, junto com Padilha, se dirigiu à viúva Renata Campos e se deteve longos minutos consolando-a. Já a presidente Dilma se posicionou no lado oposto do caixão, longe de Lula e Renata. Os filhos de Campos permaneceram abraçados ao lado do pai, e também próximos de Marina Silva e ao governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB-ES).
Estão ainda junto à família os tucanos Serra, Nunes e Teotônio Villela Filho, governador de Alagoas, além do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT-DF). Entre os mais emocionados, além da família de Campos, são o prefeito de Recife, Geraldo Julio, e o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS).
A missa campal começou a ser celebrada pelo arcebispo de Recife e Olinda, Dom Fernando Saburido, por volta de 10h20, quando a família se sentou próxima ao caixão de Campos, com a viúva Renata aferrada ao seu bebê caçula de sete meses, Miguel. Durante a missa, o ex-presidente Lula sentou-se ao lado da presidente Dilma. O candidato tucano ao Palácio do Planalto, Aécio Neves, chegou ao velório por volta de 10h30.

Bolsa Família, o maior colégio eleitoral do Brasil

Eleições 2014

Um eleitorado de 40 milhões de pessoas é influenciado pelo programa, que, especialmente no Nordeste, se tornou uma arma eleitoral incomparável

Gabriel Castro e Laryssa Borges
Usuários do Bolsa Família em Salvador buscam informações sobre bloqueio inexplicado do benefício em 2008
Usuários do Bolsa Família em Salvador buscam informações sobre bloqueio inexplicado do benefício em 2008 (Welton Araújo/Agência A Tarde/AE/VEJA)
“Quem de vocês aqui gosta do Bolsa Família levanta a mão?”, brada ao microfone, do alto de um palanque improvisado, o senador Lobão Filho, candidato do PMDB ao governo do Maranhão, na pequena cidade de Barra do Corda (85.000 habitantes). A plateia reagiu imediatamente com os braços estendidos. O candidato continuou: “Isso me preocupa, porque os nossos adversários estão unidos a Aécio Neves, que já disse em todos os jornais e todas as emissoras de TV que é contra o Bolsa Família".
Filho do ministro Edison Lobão (Minas e Energia), que orbita o petismo como representante de José Sarney há anos, o candidato peemedebista convive com Aécio Neves no Senado. Os dois são colegas. O peemedebista sabe que o tucano nunca se opôs ao programa – pelo contrário, é de Aécio a proposta para transformar o programa em política permanente de Estado. Mas, nos grotões do Brasil, Lobão Filho utiliza um discurso convenientemente falso. Mesmo um candidato ligado à oligarquia recorre ao discurso de que os seus concorrentes são inimigos do povo por causa de uma oposição fictícia ao programa.
Nas últimas semanas, os candidatos a presidente (especialmente Dilma Rousseff) intensificaram as viagens a São Paulo para tentar conquistar a simpatia do eleitor paulista. A razão é óbvia: o Estado tem 32 milhões de votos, o maior número de eleitores entre as unidades da federação. Mas, na disputa deste ano, também está em jogo um "colégio eleitoral" muito mais poderoso – e leal: o dos beneficiados pelo Bolsa Família. São aproximadamente 40 milhões de eleitores, espalhados pelas 14,2 milhões de famílias que recebem o benefício. Esse grupo tende a votar na candidata petista com uma fidelidade incomparável. E, claro, essa arma é utilizada à exaustão Brasil afora, especialmente longe dos holofotes.
Neste ano, a Bahia foi a que mais recebeu repasses do governo federal no programa Bolsa Família: 1,36 bilhão de reais, segundo o Portal da Transparência do governo federal. As maiores cidades do estado são as principais beneficiárias: Salvador, com 113,8 milhões de reais neste ano, Feira de Santana, com 29,2 milhões de reais, e Vitória da Conquista, com 21,9 milhões de reais. 
Há mais beneficiários do programa na Bahia do que em São Paulo, cuja população é três vezes vezes maior. Mais em Pernambuco do que em Minas Gerias. Mais no Maranhão do que no Rio de Janeiro. Isso ajuda a explicar por que o Nordeste se transformou em uma quase intransponível fortaleza eleitoral do petismo. Em 2014, até agora, o governo destinou 10,5 bilhões de reais ao programa. 
Jailza Barbosa, 33, desempregada, moradora do bairro Cajazeiras, em Salvador, tem dois filhos, de 10 e 15 anos, e recebe 134 reais por mês. “O candidato em que eu vou votar é o do partido que me ajuda por causa do Bolsa Família. Não sei o nome dele, mas já estava com isso na cabeça. O programa é muito bom porque me ajuda e é a única renda que eu tenho hoje”, diz.
O número de beneficiários só tem aumentado: em 2004, eram 6,6 milhões de famílias atendidas. A elevação desde então foi de 215%, muito acima do crescimento vegetativo na população – e se deu num período em que, segundo o governo, dezenas de milhões de pesoas deixaram a pobreza. Os números ajudam a entender o que é fácil de constatar in loco.
Na cidade Central do Maranhão, onde Dilma teve 96% dos votos em 2010, é difícil encontrar alguém que saiba quais são os adversários da presidente Dilma Rousseff. E a razão principal para o apoio incondicional à petista, seja qual for o oponente, é apresentada pelos próprios eleitores. Como o lavrador Carlos Azevedo: “Para mim, a candidata é a Dilma. A gente tem medo de tirarem o Bolsa Família”, diz ele, ao lado da mulher, a dona-de-casa Marinete Viana. Ela diz ter visto na televisão a informação de que os adversários da presidente colocariam fim ao programa.
"Não me interessa saber quem são os outros candidatos", declara Claudilene Melo, que trabalha como doméstica mas também recebe o Bolsa Família.
O cenário eleitoral deve acentuar a importância do Bolsa Família para a candidatura de Dilma Rousseff. A trágica morte do candidato Eduardo Campos e a possível entrada de Marina Silva na disputa devem acentuar, por um lado, a vantagem de Dilma no Nordeste (onde Campos era mais popular) e, por outro lado, tirar votos da petista nas grandes cidades (onde Marina tem um eleitorado mais forte). Como consequência, a tendência é que o PT se encastele ainda mais no Nordeste, onde estão 52% dos beneficiados pelo Bolsa Família (a região tem apenas 27,7% da população brasileira).
"O governo vai se fiar nesses programas de transferência de renda, porque a gerência macroeconômica é débil, a inflação é crescente, o crescimento econômicio tem sido pífio", diz o professor Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas.
O efeito do Bolsa Família nas eleições de 2006 e 2010 foi objeto da análise de pesquisadores do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB). Conclusão: havia uma forte correlação entre o voto no PT e a participação no programa do governo.
Independentemente da postura dos adversários de Dilma Rousseff, a maior parte dos eleitores que recebem o Bolsa Família não arrisca apoiar aquilo que veem como uma aposta duvidosa. Para o jogo democrático, o efeito é desastroso. Se o único critério na escolha do candidato é o Bolsa Família, o eleitor vota sem levar em conta outros temas essenciais, como as políticas para saúde, segurança e o combate à corrupção. “É como se nós tivéssemos voltando para o século XIX, com os currais eleitorais fechados”, diz o professor José Matias-Pereira, da UnB.
Como o número de beneficiários do Bolsa Família cresce continuamente, é cada vez maior o contingente de eleitores que escolhe seu candidato presidencial apenas com base no receio de perder o pagamento mensal. “O coronel local está sendo substituído pelo coronel federal. Mas o padrão é o mesmo: o modelo patrimonialista onde indivíduo usa os bens do estado para se beneficiar politica ou em benefício próprio”, afirma o professor da UnB.