sábado 20 2014

Leandro Karnal - O mal primordial: o orgulho nosso de cada dia





A falsa citação de Voltaire



Investigação afirma que a mais famosa das frases atribuídas ao filósofo francês jamais foi escrita ou proferida pelo autor de Cândido, ou o Otimismo


por Ivan Bilheiro*

O pensamento filosófico - rico que é - já cunhou uma série de expressões que, bem empregadas ou não, tornaram-se largamente conhecidas. É o caso, para ficar em um só exemplo, da famosa máxima de Maquiavel: "os fins justificam os meios" (a qual figura no capítulo XVIII de suamagnum opus O príncipe). Nesta linha, no entanto, aparecem frases que, ainda tomadas como emblemáticas, não podem ser verdadeiramente creditadas aos supostos autores. É possível que existam diversas situações não esclarecidas em que isso ocorre - o que, diga-se de passagem, macula o estudo de Filosofia mais do que os próprios supostos autores. Mas há um caso ícone, o de François- Marie Arouet, mais conhecido pelo cognome Voltaire (1694-1778).
Apesar de ser frequentemente citada, inclusive em livros didáticos, como síntese de uma fi- losofia, a frase "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo" (que pode aparecer escrita com algumas pequenas variações) não é fruto da sagaz pena de Voltaire. Todo um retrato do pensamento voltairiano foi construído em torno a essa citação, tomando o filósofo, a partir daí, como um iluminista plena e irresolutamente comprometido com a liberdade de expressão, cuja bandeira de luta seria a tal frase, assimilada como um lema. Uma busca pelos escritos de Voltaire, entretanto, planta a dúvida: onde está a afamada afirmação? A investigação por esse caminho é, contudo, vã, pois não há, em nenhum texto do filósofo, a preciosa frase. Algo tomado quase pacificamente como o resumo do pensamento voltairiano revelando-se apócrifo é mesmo o germe de uma pesquisa, e a investigação revela-se frutífera.
Nota-se, portanto, que a expressão "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo" é uma daquelas frases que muitos leram, alguns citaram e quase ninguém pesquisou de onde verdadeiramente veio (e de quem é!). Há um grande risco na falta de precisão em casos assim, porque uma falsa atribuição nem sempre enobrece um autor.
Condorcet
Marie Jean Antoine Nicolas de Caritat, o marquês de Condorcet (1743-1794), foi um filósofo e matemático ligado à Revolução Francesa. É autor da obra Ensaio sobre o cálculo integral e fez parte da Academia de Ciências de Paris a partir de 1769.
Na verdade, como pode-se verificar, a tão citada frase foi elaborada por uma biógrafa de Voltaire, em uma obra do início do século 20 - portanto, bem distante do período de vida e produção do filósofo francês. Em um livro de 1906 chamado Th e friends of Voltaire ("Os amigos de Voltaire" - tradução livre), publicado em Londres pela Smith, Elder & Co., a escritora Evelyn Beatrice Hall (1868-c. 1939) - que durante um tempo usou o pseudônimo S. G. Tallentyre - trata de dez figuras notáveis com quem seu biografado, de alguma forma, se relacionou. São eles: D'Alembert, Diderot, Galiani, Vauvenargues, D'Holbach, Grimm, Turgot, Beaumarchais, Condorcet e Helvétius. É na parte dedicada a este último que a biógrafa apresenta a frase "I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it" ("Eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo", em tradução livre).
Talvez por uma questão de estilo, Evelyn Hall colocou a frase entre aspas e a construiu em primeira pessoa, o que acabou gerando a confusão e a falsa atribuição. Mas, de fato, a intenção da escritora era resumir o posicionamento que Voltaire teria adotado com relação ao banimento de um livro de Claude-Adrien Helvétius (1715-1771), outro filósofo francês com quem ele teve certo desacordo. Em 1758, Helvétius publicou o livro De l'espirit, o qual foi condenado pela Sorbonne, pelo Parlamento de Paris e até pelo Papa, chegando a ser queimado. Apesar do desacordo explícito com relação ao pensamento de Helvétius, Voltaire não acreditava que o banimento daquele livro fosse um ato correto. Foi a atitude de Voltaire frente a esta situação que Evelyn Hall tentou resumir com sua frase, inadvertidamente escrita entre aspas e em primeira pessoa.
Em outro livro da mesma autora, chamado Voltaire in his letters ("Cartas de Voltaire" - tradução livre aproximada), publicado em 1919, aparece a mesma ideia, ora apresentado como um "princípio voltairiano" (embora ainda grafado entre aspas e em primeira pessoa), com uma mínima alteração de redação que não resulta em conteúdo diferente. Ainda ali, Hall encerra o "princípio" em um posicionamento de Voltaire para com Helvétius.
UMA CONSTRUÇÃO TARDIA
Nota-se, portanto, é que a famosa afirmação nem é de Voltaire nem configura um resumo de sua filosofia como um todo. Ela é, precisamente, uma construção tardia de uma biógrafa, e não faz mais do que retratar uma determinada posição adotada por Voltaire em uma situação muito específica com outro filósofo - e faz com que seu poder de frase-lema da liberdade de expressão seja consideravelmente reduzido.
Essa confusão involuntária chegou a ser reconhecida pela biógrafa de Voltaire. Na revista Modern Language Notes, publicada pela The Johns Hopkins University Press, em sua edição de novembro de 1943, há um texto de Burdette Kinne sobre o assunto, intitulado Voltaire never said it! ("Voltaire nunca disse isso!", tradução livre), em que consta a reprodução de uma carta de Evelyn Hall, datada de 9 de maio de 1939, em que ela afirma ser de sua própria autoria a tal frase erroneamente atribuída ao filósofo francês do século 18, chegando a apresentar desculpas por seu texto permitir a interpretação de que a fala era de Voltaire, mesmo não sendo esta sua intenção.
Ainda houve quem considerasse que Evelyn Hall teria, seja por acaso ou não, feito uma paráfrase de uma fala - esta sim - de Voltaire, menos conhecida, que se encontraria em uma carta endereçada a um certo Monsieur Le Riche, datada de 6 de fevereiro de 1770. Esse foi o caso de Norbert Guterman, editor do livro A book of french quotations ("Um livro de citações francesas", tradução livre), publicado na década de 1960. Segundo ele e os demais defensores desta linha, haveria na referida carta a frase "Monsieur l'abbé, je déteste ce que vous écrivez, mais je donnerai ma vie pour que vous puissiez continuer à écrire" ("Senhor abade, eu detesto o que escreves, mas eu daria minha vida para que pudesses continuar a escrever", tradução livre), uma espécie de variação daquela mais famosa.
Noam Chomsky
Linguista, filósofo e ativista político, nascido em 1928, na Filadélfia (EUA), Noam Chomsky é um polêmico intelectual, autor, entre outros, de 11 de setembro (Bertrand Brasil, 2003) e O governo no futuro (Record, 2007). Chomsky é professor emérito do Departamento de Linguística do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
Outra vez, porém, criou-se uma equivocada atribuição a Voltaire. Em suas obras completas, publicadas em Paris já entre os anos de 1817 e 1819, sob o selo Chez Th. Desoer, há a coleção de correspondências do filósofo, em que figura a tal carta endereçada a Monsieur Le Riche, mas não é possível encontrar nada sequer parecido com a famigerada frase. Até grandes pensadores como Noam Chomsky se deixaram levar por essa "nova" falsa atribuição, como é possível observar em seu artigo do jornal The Nation, intitulado His right to say it, em 28 de fevereiro de 1981.
Nota-se, portanto, que a expressão "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo" é uma daquelas frases que muitos leram, alguns citaram e quase ninguém pesquisou de onde verdadeiramente veio (e de quem é!). Há um grande risco na falta de precisão em casos assim, porque uma falsa atribuição nem sempre enobrece um autor. Nesse caso, Voltaire passou a ser tomado como ícone da luta pela liberdade de expressão. Mas e quando a frase acaba por denegrir um pensador? É preciso rigor na investigação. Daqui por diante, fica como sugestão o princípio: "Eu posso não concordar com o que citas, e por isso requisitarei sempre suas fontes para poder checá-las".
REFERÊNCIAS
Autores franceses: Helvétius. Disponível em: <http://www.iscsp.utl.pt/~cepp/autores/franceses/1715._ helvetius.htm>. Acesso em 24 maio 2013.
CHOMSKY, Noam. His right to say it. Disponível em: <http://www.chomsky.info/articles/19810228.htm>. Acesso em: 20 mar. 2013.
GUTERMAN, Norbert. A book of french quotations: whith English translations. Garden City, N. Y.: Doubleday, 1963.
KINNE, Burdette. Voltaire never said it!. Modern language notes, v. 58, n. 7, nov. 1943.
TALLENTYRE, S. G. [HALL, Evelyn Beatrice]. The friends of Voltaire. London: Smith, Elder & Co., 1906.
______. Voltaire in his letters: being a selection of his correspondence. New York/London: G.P. Putnam's Sons/The Knickerbocker Press, 1919.
VOLTAIRE. Oeuvres complètes de Voltaire: correspondance générale. v. 11. Paris: Chez Th. Desoer, 1817.
* Ivan Bilheiro é graduado em História pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/ JF), graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instituição na qual também cursa a especialização em Ciência da Religião e pós-graduando em Filosofia, pela Universidade Gama Filho (UGF).

A falsa citação de Voltaire

Leandro Karnal, Eddie Vedder e Outros









Saiba como cuidar dos cabelos vermelhos


Peça ao seu cabeleireiro um diagnóstico completo do fio. Cabelos danificados ou porosos desbotam facilmente e não consegue segurar a pigmentação por muito tempo. Neste caso, o ideal é tratar com hidratações semanais para evitar um desgaste maior dos fios e garantir uma cor mais vibrante e duradoura.
As agressões climáticas (vento, raios UV e etc), calor do secador e da chapinha também são inimigos dos cabelos vermelhos. Proteja-os sempre aplicando sobre as madeixas um leave-in termo protetor.
Outra dica é fazer uma tonalização nos fios a cada 15 dias, para manter o vermelho sempre vibrante. Para manter a cor por muito mais tempo nosso especialista aconselha: “Lave os fios em dias alternados, com shampoos e condicionadores à base de vitaminas e faça hidratações semanais com máscaras enriquecidas com licopeno de tomate e romã. Estes ingredientes são poderosos antioxidantes, responsáveis por proteger os fios contra os radicais livres, aumentam a durabilidade da cor, evitando o desbotamento precoce”, orienta o técnico em produtos Wagner Oliveira.
Confira algumas dicas de vermelho:
PELES CLARAS: devem optar por tons como: cereja, ruivo acobreado, vermelho intenso. Este tom de pele permite tonalidades mais sutis ou ainda mais vibrantes como o vermelho intenso.
PELES MÉDIAS: Apesar de ser um tom de pele mais versátil e aceita bem quase todos os tipos de tons vermelhos, existem alguns que valorizam mais o seu tom de pele como: acobreados, acajus e vermelhos dourados.
PELE MORENA A NEGRA: A cor borgonha, o vinho escuro e o marrom avermelhado, dão um leve contraste e torna um look sofisticado e com personalidade.
Lembre-se: antes de escolher sua coloração, converse com o seu cabeleireiro sobre a cor que melhor combina com o seu tom de pele.
Share on facebookShare on twitterShare on pinterest_shareShare on google_plusone_share

STF arquiva pedido do PT contra a revista Veja

O ministro Teori Zavascki, do STF, arquivou pedido do PT contra Veja. O partido queria a abertura de inquérito contra a revista para apurar o vazamento de informações atribuídas a Alberto Youssef, ouvido pela Polícia Federal em procedimento sigiloso de delação premiada. De acordo com a revista, o doleiro da Lava Jato disse no interrogatório que Dilma Rousseff sabia da corrupção na Petrobras.
Ouvido, o procurador-geral da República Rodrigo Janot opinara a favor do arquivamento da petição. Argumentara que não se sabe se o responsável pelo vazamento tem ou não prerrogativa de foro, pré-condição para ser processado no STF —“o que, por si só, impede a instauração de inquérito perante esta Corte.” O PT também solicitara a oitiva do repórter de Veja e o acesso ao depoimento de Youssef. Tudo arquivado

Rodrigo Janot quer acelerar as investigações da Lava-Jato


A ideia de Rodrigo Janot para acelerar as investigações da Lava-Jato
Janot: dedicado à Lava-jato
Janot: requisitando procuradores
Rodrigo Janot convocou cinco procuradores federais de vários estados ao seu gabinete para uma mini força-tarefa para acelerar as investigações da Lava-Jato.
Por Lauro Jardim

Medina conquista primeiro mundial de surfe para o Brasil

Surfe

No Havaí, ele ficou à frente de estrelas como Kelly Slater e Mick Fanning

O surfista Gabriel Medina, 20, conquista o título mundial de surfe, durante o Billabong Pipe Masters, última etapa do Circuito Mundial na praia de Pipeline, em Honolulu, no Havaí - 19/12/2014
O surfista Gabriel Medina, 20, conquista o título mundial de surfe, durante o Billabong Pipe Masters, última etapa do Circuito Mundial na praia de Pipeline, em Honolulu, no Havaí - 19/12/2014 - Thiago Bernardes/Frame/Folhapress

Pela primeira vez na história um brasileiro se consagrou campeão mundial de surfe. Gabriel Medina, aos 20 anos, conseguiu o feito inédito para o país nesta sexta-feira, na praia de Pipeline, no Havaí, e se tornou o melhor da modalidade no ano de 2014.
Após cinco dias de espera, Medina foi ao mar, avançou até as quartas de final e esperou pelo desempenho de seu principal rival, o australiano Mick Fanning, nas areias de Pipeline, sede da última etapa do WCT. Fanning não superou a quinta fase (repescagem) e deixou o paulista de Maresias com o título.
"Não tenho o que falar. Eu não estou acreditando. Eu amo essa torcida que está aqui. Quero celebrar com as pessoas. Eu estava sonhando com isso e virou realidade. Eu não sei o que dizer", disse após a conquista o brasileiro, que começou a chorar ainda dentro d'água e desistiu por alguns momentos da bateria, indo festejar com os fãs presentes na areia.
O australiano Mick Fanning foi derrotado por outro brasileiro na repescagem, Alejo Muniz, que venceu por 6,53 a 2,84. A eliminação deixou o título com o Medina antes do fim da definição da etapa de Pipeline. O surfista encarou grandes rivais no Havaí: o americano Kelly Slater e Fanning conquistaram oito campeonatos nos últimos nove mundiais organizados pela ASP (Associação de Surfistas Profissionais).