quarta-feira 01 2018

Sobre o Bolsonaro e a classe política brasileira


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Hoje eu vou deixar de lado as pautas sobre coligação, o que está por trás da estratégia de algum candidato, marketing político etc, e vou pedir licença pra vocês pra falar sobre um assunto muito sério, que está me assustando demais, chamado Bolsonaro.
Eu não pretendia dedicar um 5minutos pro Roda Viva dele, até mesmo porque não fiz um exclusivo pra nenhum outro pré-candidato que foi entrevistado pelo programa. Mas quando desliguei a televisão ontem e fui dormir, eu confesso que fiquei rolando na cama por algum tempo tentando entender o que o país fez pra merecer um sujeito desse. Acordei hoje pensando nisso e resolvi vir aqui desabafar de novo com vocês.
Ontem quem assistiu o Roda Viva presenciou um sujeito intelectualmente fraco e despreparado. Ao contrário do que debatemos na última edição do NBW em que eu falei que possivelmente ele não teria media training, ontem nós vimos um candidato que estava treinado. Quem conhece um pouco da área, conseguiu ver pequenos momentos da entrevista em que ele estava interpretando um personagem ou repetindo o que os assessores fizeram ele decorar, ou até mesmo a caneta estilo Bic na camisa dele simbolizando que ele era gente como a gente. Só que de duas uma: ou ele foi mal treinado ou não conseguiu assimilar o treino que teve. A grande maioria das respostas dele tinha direcionamento para um ataque à esquerda. Ele começou o Roda Viva como uma metralhadora ambulante atacando desde o José Serra até a Dilma Rousseff, etc. Mas hoje eu não estou aqui pra falar de marketing político. Hoje eu vou falar sobre o Brasil. Hoje eu vou falar sobre o que fizemos pra merecer esse sujeito.
Esse cara, que nega o golpe de 64, que é homofóbico, misógino, racista e que não tem uma proposta sequer pro país, exceto as absurdas propostas pro tema de segurança, como que esse cara tem 20% nas pesquisas? Como que um médico, um economista e advogado, todos amigos meus, dizem que vão votar nesse sujeito? O que aconteceu com esse país pra eu entrar numa banca de jornal num posto de gasolina no meio da estrada pra comprar um gibi da turma da Mônica pra minha afilhada e o dono da banca, de graça, virar pra mim e dizer que a única solução pra esse país é o Bolsonaro? Como chegamos ao ponto de não conseguirmos enxergar que esse cara tem 27 anos como deputado e nada fez como deputado, que está há dois anos percorrendo o país em pré-campanha, e até hoje, dois anos depois de percorrer o país, não tem uma mínima proposta construída pro país, que não sabe responder como vai gerar empregos nos campos, não sabe responder o que vai fazer pra educação, pra saúde, pra infra-estrutura do país? Como que esse cara conseguiu atingir o poder de chegar num Roda Viva ou em qualquer outro lugar em que ele for dar entrevista, e ter poder de responder com um lalalalala ou dois mais dois são 7 e ainda assim os seguidores dele, 20% do país, dizerem…amém?
E a resposta de tudo isso, amigos, se passa pela classe política. O Bolsonaro, esse sujeito ridículo e abominável, é fruto do Sarney, Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma e Temer. Ele é fruto de todos esses presidentes que mais apareceram em páginas policiais do que fizeram pro país. Presidentes que pouco fizeram pro país, e aqui estou falando de Sarney, Collor, Dilma e Temer, e mais apareceram nas páginas policiais. É culpa de presidentes que muito fizeram pro país, e aqui estou falando de Fernando Henrique Cardoso e Lula, e que também apareceram em páginas policiais. Um está preso. O outro também deveria estar, se o judiciário fosse sério nesse país.
O Bolsonaro é fruto de Renan Calheiros, Sergio Cabral, Romero Juca, Eduardo Cunha, Paulo Maluf, Garotinho, Waldemar Costa Neto, Aécio Neves, Roberto Jefferson, Demostenes Torres, Antonio Pallocci, Moreira Franco, Antonio Carlos Magalhães, Zezé Perrela, José Dirceu, Ciro Nogueira. Eu precisaria de mais de uma hora pra escrever todos os nomes que precisaria estar aqui de políticos que mancham e mancharam o nome do Brasil. E eles, todos eles, são responsáveis pelo Bolsonaro.
O Bolsonaro é fruto das máfias do mensalão, petrolão, cartel do trem de São Paulo. O Bolsonaro é fruto da máfia da merenda de São Paulo. Alô Fernando Capês, o seu nome quase ficou fora da lista de cima, mas lembrei a tempo.
O Bolsonaro é fruto do escândalo do sanguessuga. Alô Serra, alô Humberto Costa. Acharam que eu ia esquecer de vocês, né?
O Bolsonaro é fruto do cansaço político que temos por causa de todos os escândalos. Ele é fruto do medo que temos em sair nas ruas, do dia cansativo e sem esperança que o brasileiro tem batendo perna procurando emprego e ao chegar em casa, cansado, ligar a TV e ver notícias de corrupção. A matemática que temos que fazer na ponta do lápis pra pagar nossas contas, e ouvir no rádio que a Polícia Federal encontrou 51 milhões de reais no apartamento do Geddel Vieira Lima. O brasileiro que não tem dinheiro pra pagar um convênio médico e lê no jornal que o Sérgio Cabral desviou centenas de milhões da área da saúde. O Bolsonaro é fruto disso. Nada mais do que isso.
A culpa de existir o Bolsonaro na política brasileira, dele ter 20% nas pesquisas, é única e exclusivamente da nossa classe política. E eu entendo esses 20%, de verdade. Entendo mesmo. Eu também fico puto com esses bandidos que assaltam diariamente o país segurando uma caneta. Eu também fico puto em pagar imposto até a tampa e não ter acesso à educação pública decente, saúde decente, segurança pública decente. Eu fico puto em pagar imposto que é destinado pra intervenção militar no RJ, em vez de ser destinado pra educação. Eu também fico puto em ter votado num cara, que me fez acreditar que era um sujeito honesto, e hoje estar estampado na cara dele um “sou bandido, só não vê quem não quer”. Eu queria muito, mesmo, que o Brasil fosse uma potência na área da ciência, da pesquisa. Temos a Amazonia, porra. Eu queria que o imposto que eu pago pra transporte público fosse revertido pro… transporte público. Eu fico puto em ver que a Copa e a Olimpíada não deixaram legado nenhum pro país. Eu fico puto em ver as mães não tendo creches pra deixar seus filhos e ir trabalhar tranquilamente. Os estupros que acontecem diariamente pelo país. O negros que sofrem batidas policiais pelo simples fato de serem negros. Os gays que apanham nas ruas do país pelo simples fato de estarem de mãos dadas com alguém do mesmo sexo. E eu sou um homem hetero cis, branco, classe média e vivo numa bolha de um condomínio. Tem pessoas negras, LGBT, pobres, com tanto mais pra reclamar. Muito mais.
E ainda assim, vendo tudo isso, eu não consigo admitir que o Brasil eleja um sujeito como o Bolsonaro. Um sujeito, incapaz de ter uma única proposta que não fira os diretos humanos, um sujeito racista, homofóbico e misógino. Que vai perseguir os homossexuais no país. Que vai perseguir as mulheres no país. A população negra desse país. O pesadelo que é imaginar que esse sujeito possa ser presidente desse país me faz revirar na cama. E eu, apesar de todos os nomes que citei há pouco, ainda prefiro dar meu voto em outro alguém da classe política e cobrar e torcer e cobrar de novo, e cobrar muito, pra que esse alguém mude esse país. Porque precisa mudar. Porque não dá pra ficar do jeito que estamos. Não dá pra ter de novo um Sarney, um Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer. Não dá. Não dá pra termos de novo uma bancada no Congresso como a que temos. Não podemos permitir que o Aécio volte pro Congresso. Nós precisamos mudar. Nós precisamos cuidar do nosso legislativo e precisamos cuidar do nosso executivo. Precisamos cuidar mais do legislativo do que o executivo, mas não podemos perder o executivo de vista. E eu espero que a gente não perca. Que a gente não deixe esse cara ser eleito. Porque se ele for eleito, será uma derrota sem precedentes pro país.
Outro dia alguém, não me lembro quem, fez uma análise sobre os votos do Bolsonaro, e nessa análise a pessoa dizia que o Bolsonaro tinha o voto das pessoas mais informadas, porque a maior parte dele estava no público com renda acima de 10 mil reais. E também nessa análise, ele dizia que se só os homens votassem no Brasil, o Bolsonaro seria eleito no primeiro turno.
Eu respondi pra ele que ter um salário de 10 mil reais e um diploma não significa que a pessoa é informada. E que menos de 10% da população brasileira recebe mais de 10 mil reais. E que acima de tudo, felizmente, acima de tudo as mulheres votam nesse país. E se são elas, as mulheres, que vão salvar o nosso país desse sujeito. Eu deixo aqui o meu profundo agradecimento. E deixo também um pedido pra todos vocês, leitores, cobrem a classe política. Cobrem muito. Eles, políticos, são culpados por tudo isso. Eles são culpados por 20% da população acreditar nesse ser abominável. Eles são culpados por você não ter emprego, não ter segurança, saúde, educação. Os culpados são eles. Vamos cobrar eles, mas não jogar tudo pro alto num foda-se gigante e deixar esse sujeito ser eleito. Não podemos deixar ele ser eleito. O Ciro Gomes, o Alckmin, a Marina Silva, o Álvaro Dias, Manuela D'Ávila, Boulos, João Amoedo, todos eles têm um projeto pro país. Escolha um deles. E, de novo, cobrem os políticos. Eles são os culpados. Eles são os culpados! Não paguem pelo erro deles. Não deixem barato. Cobrem eles! Mas, acima de tudo, não deixem esse cara ser eleito.