terça-feira 16 2013

Lay Down Your Arms



Ella Fitzgerald & Louis Armstrong: Dream A Little Dream Of Me



'Papa é um perigo para políticos demagogos', diz ex-embaixador brasileiro no Vaticano

ITALO NOGUEIRA
DO RIO

Papa no BrasilO diplomata Almir Barbuda, ex-embaixador do Brasil no Vaticano, afirmou nesta terça-feira (16) que o papa Francisco compartilha de muitos dos desejos dos jovens que realizam manifestações pelo país. Para ele, o pontífice é "um perigo para políticos demagogos".

No dia 22 de julho, o papa Francisco desembarca por volta das 16h no aeroporto do Galeão, no Rio, para participar da Jornada Mundial da Juventude


"As coisas que o papa fala, e vem falando desde Buenos Aires, [sobre temas] anticorrupção, combate à pobreza, a desigualdades, é muito parecido com o que os jovens vêm falando nas ruas. Acho que ele vai ter todo o apoio dos jovens que estão pedindo mais justiça social. É um pouco também o que o governo quer. Talvez seja um perigo para alguns políticos mais demagogos. Ele fala isso com grande naturalidade. Acho que será um grande sucesso", disse Barbuda, que saiu há um mês do posto no Vaticano e participou de todas as negociações diplomáticas de preparação para da Jornada Mundial da Juventude.
Uma série de protestos estão sendo marcados pela internet durante a passagem do papa pelo Rio de Janeiro. Há desde Marcha das Vadias e beijaço gay a protesto pela excomunhão do governador Sérgio Cabral (PMDB). O arcebispo do Rio e presidente do comitê organizador local da Jornada Mundial da Juventude, dom Orani Tempesta, afirmou ver com naturalidade a realização das manifestações.

"Estamos numa cidade plural. As pessoas, dentro do que for razoável, podem manifestar suas opiniões e ideias. Ao mesmo tempo, a Santa Sé está acostumada. Sempre que tem a presença do papa, há maior visibilidade, e grupos gostam de tentar mostrar sua opinião diante disso tudo", disse Tempesta.
Barbuda e Tempesta participaram da cerimônia de assinatura de convênio entre a jornada e a OAB do Rio para cessão da sede da entidade para consulados estrangeiros.

Supremo lobby e vida monástica



Candidatura de filhas de dois ministros do Supremo a vagas de desembargador no Rio renova o debate sobre as vantagens e as distorções do Quinto Constitucional.


O Quinto Constitucional é visto com bons olhos pelos que entendem que a nomeação de advogados e membros do Ministério Público oxigena os tribunais e traz uma visão externa que enriquece o debate nos julgamentos.
Ao mesmo tempo, essa renovação de “ares” pode sufocar magistrados de carreira, que se sentem desestimulados por terem disputado concursos difíceis e adquirido experiência durante anos em comarcas do interior, trajetória normal até chegar aos tribunais.
Indicações políticas ou por influência de parentesco costumam desmotivar ainda mais os juízes de primeira instância.
Reportagem de Leandro Colon e Diógenes Campanha, publicada na Folha neste domingo (14/7), trata de assunto que vinha sendo mencionado –e cobrado– em comentários de leitores deste Blog: o lobby visando a indicação das advogadas Letícia Mello, filha do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, e Marianna Fux, filha do ministro Luiz Fux, também do STF, para vagas de desembargadoras pelo Quinto Constitucional.
Segundo a reportagem, Marianna disputa uma vaga no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Letícia, no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, com sede no Rio.
O Judiciário volta a conviver com a dúvida comum nesses casos: pesarão a experiência e o currículo das candidatas ou os famosos sobrenomes?
Os advogados José Roberto Batocchio e Ophir Cavalcante exaltam as qualidades de Letícia. Ainda quando estava na advocacia, o mais novo ministro do Supremo, Luís Roberto Barroso, enviou cartas elogiando a filha de Marco Aurélio.
Marianna trabalha no escritório do advogado Sérgio Bermudes, amigo de Fux.
Fux não respondeu aos pedidos de entrevista da Folha. As duas candidatas não se manifestaram.
A reportagem revela que Marco Aurélio procurou desembargadores para tratar da indicação da filha. “Jamais pedi voto, só telefonei depois que ela os visitou para agradecer a atenção a ela”, disse o ministro.
“É pecado [a indicação]? É justo que nossos filhos tenham que optar por uma vida de monge?” –questiona.
http://blogdofred.blogfolha.uol.com.br/2013/07/15/supremo-lobby-e-vida-monastica/

Louis Armstrong and Ella Fitzgerald Love Is Here To Stay



Ella Fitzgerald & Louis Armstrong - April In Paris



Lobby da magistratura pressiona Senado para que juiz corrupto mantenha a aposentadoria ao ser afastado do cargo


Nelson Calandra, presidente da Associação Brasileira dos Magistrados: defendendo colegas que cometeram "falhas" (Foto: oglobo.globo.com)
Editorial publicado no jornal O Estado de S. Paulo
ESPÍRITO DE CORPO
Insensíveis à voz das ruas, que reivindicam mudanças nos usos e costumes da vida política e da administração pública, algumas corporações do funcionalismo público continuam empenhadas em obter privilégios eticamente insustentáveis.
É o caso da magistratura.
No mesmo dia em que o País experimentava mais uma manifestação de protestos, associações de juízes se mobilizavam para tentar impedir a aprovação, pelo Senado, do projeto de lei que revoga o direito à aposentadoria de juízes afastados compulsoriamente e estabelece regras mais severas para punir magistrados corruptos.
“Não queremos manter juiz que comete crime na carreira, mas há colegas que cometem falhas, têm 40 anos de trabalho e não podem perder uma aposentadoria para a qual contribuíram a vida inteira”, diz o desembargador Nelson Calandra, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros.
Pela legislação em vigor, o juiz que se envolver com corrupção é afastado compulsoriamente da carreira, mas tem o direito a receber aposentadoria com vencimentos proporcionais.
Projeto moralizador é classificado por associações de juízes como “tentativa de enfraquecer a categoria”
Pelo projeto que tramita no Senado, o juiz é afastado sem qualquer remuneração.
As associações de juízes alegam que o fim da aposentadoria compulsória vitalícia é uma tentativa do Legislativo de enfraquecer a categoria.
Por falta de quórum, o projeto acabou não sendo votado pelo Senado e será colocado na pauta das próximas semanas.
Por coincidência, no mesmo dia em que a magistratura se mobilizou para tentar derrubar o projeto, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1.ª Região puniu quatro ex-presidentes da Associação de Juízes da Corte (Ajufe). Um recebeu pena de advertência. Dois receberam pena de censura. E um foi punido com a aposentadoria compulsória.
Eles foram acusados pelo Ministério Público Federal de usar fraudulentamente o nome de 157 juízes para desviar mais de R$ 20 milhões da Fundação Habitacional do Exército (FHE) no período em que presidiram a Ajufe.
A FHE é uma associação de poupança criada por militares e oferece empréstimos e financiamentos a servidores do Executivo e do Judiciário.
Entre 2000 e 2009, a Ajufe assinou 700 contratos de empréstimo com a FHE em nome de magistrados que não tinham conhecimento das operações.
Entre os beneficiários há até associados fantasmas. Para dificultar o rastreamento do dinheiro recebido, os cheques emitidos pela Ajufe eram descontados na boca do caixa ou depositados em contas de construtoras, concessionárias e laranjas.
Ministra Eliana Calmon: “Em 32 anos de magistratura, nunca vi coisa tão séria”
Em 2010, a FHE descobriu a fraude e recorreu à Justiça para cobrar a dívida. Para pagá-la, em 2011 os dirigentes da entidade cometeram outro ato ilícito, vendendo um imóvel sem autorização da assembleia de juízes.
“Em 32 anos de magistratura nunca vi uma coisa tão séria”, disse, na época, a então corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon.
O procurador responsável pela denúncia, Juliano Villa-Verde, afirmou que a fraude da Ajufe atingiu “o sistema financeiro nacional ao promover captação de recursos da poupança popular sem o devido controle oficial”. Temendo que o TRF da 1.ª Região tomasse medidas contemporizadoras, 20 magistrados enviaram um ofício à Corregedoria da Corte exigindo investigação “séria e célere”.
Um dos ex-presidentes da Ajufe punidos com pena de censura, a juíza Solange Salgado, disse ao jornal Folha de S.Paulo que assinou contratos em confiança, reconheceu que houve liberação de dinheiro com contratos em branco, mas afirmou que foi enganada. “Na presidência da entidade, não tinha como saber os valores que foram liberados sem contrato”, alegou.
“Nunca disse que não tinha responsabilidade. Assumo e estou pagando. Mas o único culpado sou eu?”, questiona o juiz Moacir Ferreira Ramos – o ex-presidente da Ajufe punido com aposentadoria compulsória.
Casos como esses mostram que, se realmente quiser votar uma agenda positiva como resposta à voz das ruas, o Senado tem de ignorar o lobby da magistratura e aprovar o projeto que permite que juízes corruptos percam o emprego e a pensão.

O que há por trás do contrato de Lula com “The New York Times”?


Lula: "The New York Times" contratou o mais influente -- e caro -- lobista brasileiro. E quer lançar uma edição no Brasil, o que, legalmente, é complicado. Talvez, porém, se dê um jeitinho (Foto: Marcos Brindicci / Reuters)
Por Celso Arnaldo Araújo, do blog de Augusto Nunes
A notícia que está levando os petralhas ao orgasmo ininterrupto, em gozo com a cara do Brasil que pensa, pode ser analisada, sim, sob a óptica do que um cronista carioca amigo chamava de “o perigoso terreno da galhofa”.
Pois o que lemos é que Lula vai escrever ─ note-se: escrever, não apenas assinar ─ um artigo periódico no (ainda) mais importante jornal diário do mundo.
E essa informação equivale a se noticiar que Stevie Wonder ─ perdoem os adoradores do politicamente correto ─ vai presidir o júri do concurso Miss Universo 2013, sem tocar nas candidatas.
Ou que eu, abstêmio de nascença que não sabe distinguir um Martini de uma azeitona, serei um dos provadores de uma histórica degustação vertical do Château Margaux, a partir da safra de 1855, mês que vem, em Paris.
Que Lula vá escrever uma coluna para o New York Times, ou mesmo um recado a Rosemary num pedaço amassado de papel de embrulho, é um absurdo até para si próprio ─ afinal, ele sempre apregoou sua falta de educação formal e fez o elogio de sua incultura.
A definição de “analfabetismo funcional” num dicionário ilustrado poderia trazer a foto de Lula ─ que sabe ler e escrever, mas nunca lê ou escreve.
"Qual seria o verdadeiro interesse de um superjornal, que até em seu célebre obituário tem redatores com potencial para ganhar o Prêmio Pulitzer, por pensatas “escritas” por um ex-presidente sul-americano que o mundo tem na conta de um homem sem qualquer instrução?"
E aqui convém interromper por um momento o fluxo de sarcasmo para dizer que o NY Times espera receber de Lula, como esperaria de qualquer outro eventual articulista brasileiro do jornal, um texto em português ─ para posterior versão em inglês dentro da casa.
Nem FHC domina o inglês a ponto de escrever sem retoques uma coluna com o padrão de exigência linguística do Times. Imaginar Lula escrevendo em inglês, quando não conhece os rudimentos de sua própria língua, é puro nonsense.
Dito isto, deixemos de lado as piadas fáceis sobre a dramática impossibilidade de Lula escrever uma coluna para o The New York Times ou para a Gazeta de Santo Amaro. O buraco, nessa notícia aparentemente absurda, deve ser procurado mais em cima.
Qual seria o real interesse do The New York Times num artigo assinado por ex-presidente brasileiro que não é, nem nunca quis ser, conhecido por seus dotes intelectuais? E que será escrito por terceiros ou segundos, provavelmente Luiz Dulci, diretor do Instituto Lula e companheiro letrado de todas as horas?
Qual seria o verdadeiro interesse de um superjornal, que até em seu célebre obituário tem redatores com potencial para ganhar o Prêmio Pulitzer, por pensatas “escritas” por um ex-presidente sul-americano que o mundo tem na conta de um homem sem qualquer instrução?
Como nem os Estados Unidos nem o NY Times dão ponto sem nó, praticando com desenvoltura a política do “take there, give me here”, desconfio, apenas desconfio, que a moeda de troca dessa estranha coluna lulista seja o site em português, para brasileiros e falantes lusófonos, que o NY Times pretende instalar em 2013, provavelmente no Rio de Janeiro, sede da final da Copa e dos Jogos Olímpicos, como parte de sua estratégia de recuperação de mercado, agora globalizado.
A equipe de jornalistas brasileiros está sendo recrutada neste momento. Os países emergentes, notadamente China e Brasil, nos quais há perspectiva de grandes negócios para empresas americanas, potenciais anunciantes do jornalão, são os alvos da vez.
O jornal norte-americano já tem um site em chinês, em Beijing.
NY Times em português, no Brasil, para brasileiros?
Pode?
Bem, a legislação brasileira relativa à mídia em tese veta empresas estrangeiras produzindo material em português para nosso mercado interno.
Mas sempre se pode dar um jeitinho. Nada é impossível para Superlula, hoje o mais influente e mais caro lobista brasileiro, dentro de um governo que é sua cara escarrada.
E o que ele tem a ganhar com uma coluna no NY Times?
O que qualquer um de nós ganharia: mais prestígio internacional. Para um palestrante de 200 mil dólares a hora, isso equivale a upgrade de cachê, a aumento do poder de influência. O NY Times é uma supergrife do mundo capitalista.
E Lula levou a sério a oferta do jornal – na assinatura do contrato, em Manhattan, tinha como assessores jurídicos profissionais de uma superbanca do Brasil.
Falta saber se Lula será pautado pelos editores do jornal ou “escreverá” sobre temas de sua escolha. Nesse caso, é claro que Lula e o Brasil Maravilha que ele descobriu em 2002 serão sempre o assunto central de seus textos. Por certo, ele também dará conselhos de estadista e cientista político instintivo a governantes de países em crise.
Com tudo isso, o convite a Lula para ser colunista do mais influente jornal do mundo ainda é muito menos chocante que seria Dilma como professora convidada em Harvard.

Sérgio Cortella - O que é espiritualidade? - Somos1só



Confiança na indústria é a mais baixa em mais de 4 anos, diz CNI

Cenário

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu para 49,9 pontos este mês, ante 54,8 pontos, em junho

Funcionários da Lupatech, produtora de equipamentos industriais para o setor de óleo e gás
Confiança na indústria recua a menor nível em 4 anos (Germano Luders)
Os empresários do setor industrial iniciaram o mês mais pessimistas, revela pesquisa divulgada nesta terça-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu para 49,9 pontos este mês, ante 54,8 pontos, em junho. Com esse recuo de 4,9 pontos, a confiança dos industriais é a mais baixa desde abril de 2009, alerta a CNI. A entidade lembra que, naquela época, o Brasil enfrentava os efeitos da crise financeira internacional.
O Icei varia de zero a cem. Abaixo de 50 indica falta de confiança. Ou seja, o indicador deste mês entrou, oficialmente, no terreno negativo. "Há dois motivos para a queda da confiança em julho. O primeiro é a retomada da política de elevação dos juros e, o segundo, os protestos da população", avalia o gerente executivo da Unidade de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca. A pesquisa foi realizada entre 1º e 12 de julho com 2.475 empresas, das quais 874 são pequenas; 973 são médias e 628, grandes.
O Icei é composto por avaliação das condições atuais sobre a economia brasileira e à empresa, considerando o horizonte dos últimos seis meses; além de expectativas para os próximos seis meses também em relação à economia brasileira e à empresa.
A avaliação dos empresários em relação à situação atual da economia caiu para 34,1 pontos (41,6 pontos em junho). A percepção sobre as condições da empresa recuaram para 44,7 pontos (49,4 pontos em junho). As expectativas com relação à economia marcaram 46,8 pontos este mês (52,5 pontos em junho) e as expectativas quanto à situação da empresa ficaram em 58,2 pontos (62,1 pontos, no mês anterior).
Fonseca lembra que a queda na confiança dos empresários indica que a economia terá dificuldades de recuperação. "O empresário que não está muito confiante é mais conservador na hora de expandir a produção. Baixa confiança significa baixo investimento, baixa contratação de trabalhadores e baixa atividade industrial", afirma o gerente da CNI.
(Com Estadão Conteúdo)

A apuração nossa de cada dia

veja.com

Às vezes os parentescos etimológicos se disfarçam por estarem à vista de todos. Embora pouca gente se dê conta, o verbo apurar e o substantivo apuração – invocados de forma honesta ou embromadora, com boa ou má-fé, sempre que estoura um escândalo político-administrativo, ou seja, dia sim e outro também – carregam dentro deles a palavra latina purus (“puro, sem mancha ou mistura; limpo, apurado; inocente, casto, virtuoso; simples”).
A formação do verbo, do qual o substantivo é derivado, deu-se já em português, no século XIV, da forma mais singela possível: a + puro + ar. Isso quer dizer que, em sua acepção original, apurar é tornar mais puro, catar o joio para ficar com o trigo, tirar a limpo.
Uma série de sentidos estendidos brotou daí, como se sabe. Alguns, pela proximidade com o ponto de partida semântico, têm lógica evidente: apurar virou sinônimo de aperfeiçoar (“apurou seu estilo ensaiando todos os dias”), aguçar (“quando apuramos os ouvidos, rumores distantes ficam nítidos”), contabilizar ou calcular (“apurar o saldo”, “apurar votos”), juntar dinheiro (“apurou uma boa soma com a rifa da bicicleta”) e, claro, averiguar (“precisamos apurar bem os fatos antes de chegar a uma conclusão”).
Em todos esses casos se percebe, com maior ou menor nitidez, a ideia de um processo pelo qual separamos o que é positivo e essencial do que é negativo e contingente ou reunimos coisas esparsas, a fim de chegar a um resultado “puro” e verdadeiro.
Menos próximos do sentido original, mas ainda compreensíveis quando se usa um pouco de imaginação, são empregos como o do verbo apurar no sentido de apressar (“apurar o passo”, talvez por paralelismo com a acepção de aguçar) e o do substantivo apuro, mais usado no plural, como sinônimo de dificuldade (“quis administrar a empresa sozinho e meteu-se em apuros”) – este um provável derivado do sentido contábil do verbo apurar.

Meio médico, meio escravo’, um texto de Fernando Reinach


Publicado no Estadão deste sábado
FERNANDO REINACH
Incapaz de convencer jovens médicos a trabalhar no SUS, o governo federal resolveu criar um novo profissional, o meio médico meio escravo. Esse profissional, inspirado nos mitológicos centauros e na famosa meia muçarela meia calabresa, virá em duas versões, nacional e importado. É a pizza que vai ser servida no SUS.
Durante anos dei aula para os calouros da Faculdade de Medicina da USP. Eram jovens que haviam escolhido uma profissão em que a derrota é certa. Ninguém consegue escapar da morte. Ingenuamente arrogantes e prepotentes, algo compreensível em quem sempre foi o melhor aluno, sobreviveu dois anos de cursinho, e se classificou entre os 300 melhores no vestibular mais competitivo, acreditavam que se tornando médicos curariam doenças letais, mitigariam o sofrimento, descobririam novos remédios e, lutando contra o único inimigo realmente invencível, ajudariam a humanidade. Durante os dois primeiros anos de curso, a maior dificuldade era mantê-los longe do hospital. Bastava surgir a oportunidade de participar em alguma atividade que envolvesse pacientes e a frequência nas minhas aulas de bioquímica minguava. Isso não era um problema, aqueles alunos aprendiam sozinhos.
Mas nos anos seguintes a realidade desabava sobre a cabeça dos alunos. O primeiro cadáver dissecado, cenas de sofrimento, a primeira morte observada de perto, a primeira parada cardíaca que não consegui reverter, um erro que só não foi fatal porque um supervisor estava atento. A primeira noite no pronto-socorro, uma lâmpada quebrada dentro da vagina de uma paciente. Na década de 80 ano, um aluno se suicidava todo ano. Hoje existe na Medicina da USP um serviço dedicado exclusivamente a ajudar os alunos a enfrentar a impotência e o convívio com o sofrimento e a morte.
Mas a realização do sonho também aparece, sofrimentos são amenizados, situações desesperadoras são revertidas. Aos poucos, os alunos percebem que a medicina moderna é poderosa, mas complexa. Com conhecimento teórico, muita prática e um trabalho coordenado de toda a equipe, o sonho pode se tornar realidade.
A arrogância do calouro que acreditava que se bastava, que o sucesso dependia somente de sua dedicação e esforço, desaparece. Ele aprende que o bom médico, sem recursos diagnósticos e equipamentos, sem leitos hospitalares, sem remédios, sem enfermeiros, sem fisioterapeutas, sem nutricionistas e sem um processo de gestão sofisticado e ágil, vai praticar uma medicina medíocre.
Doenças que poderiam ser curadas pioram, doenças controláveis progridem rapidamente e mortes que poderiam ser evitadas ocorrem frequentemente. Aprendem que o médico é somente uma peça importante do sistema de saúde. Esse aprendizado não é teórico, os alunos trabalham no caos semiorganizado do Hospital das Clínicas, fazem estágios em outros hospitais públicos e em centros de saúde. Ao terminar o curso, eles sabem que praticar a medicina sem suporte é tão difícil quanto jogar tênis sem raquete.
Para os recém-formados, a frustração mais difícil de tolerar é não praticar a medicina que aprenderam por falta de infraestrutura. Muitos, incapazes de suportar a impotência diante de pacientes que voltam piores por falta de remédio, frustrados diante de pacientes que não podem ser tratados por falta de resultados de diagnósticos, ou desesperados com a visão de filas infinitas, abandonam a prática médica. Outros, apesar de despreparados para tarefas administrativas, se tornam gestores na esperança de melhorar a infraestrutura pública. Vários preferem trabalhar em hospitais de elite, onde a infraestrutura é quase perfeita. Alguns desenvolvem uma casca mais grossa e aceitam fazer o que é possível, tolerando a frustração. E é claro que há os que se aproveitam da bagunça para fingir que trabalham e receber o salário no final do mês.
Não é de se espantar que nos últimos anos os serviços públicos não tenham conseguido atrair médicos para trabalhar nos postos de saúde e hospitais onde as condições de trabalho são piores. Os salários foram aumentados, mas a maioria dos médicos recusa um emprego fixo de R$ 10 mil em um local sem infraestrutura. O experimento não foi levado adiante, mas seria interessante saber o salário necessário para convencer os melhores alunos de nossas melhores universidades a venderem seus sonhos.
Melhorar as condições de trabalho é a solução óbvia. Mas isso exige que o governo assuma a culpa e deixe de empurrar o problema com a barriga. Mais fácil é culpar os jovens médicos, pouco patrióticos, que só pensam em dinheiro e se recusam a trabalhar em um sistema público de saúde bem organizado, eficiente, sem filas e tão bem avaliado pela população.
Diálogo no Planalto: “A solução é forçar os médicos a trabalhar onde queremos. Mas como é possível forçar alguém que possui um CRM e portanto o direito de praticar sua profissão em qualquer lugar do País? Fácil, basta criar um CRM provisório, que só permite ao recém-formado clinicar no local designado. Cumprida a missão, liberamos o CRM definitivo. Mas isso não é uma forma de coerção? Não se preocupe, o trabalho cívico fará parte formal do treinamento, basta aumentar o curso em dois anos. Boa ideia, quem escreve a medida provisória?”
No dia seguinte: “Um aluno com um CRM provisório é um médico de verdade? Pode tratar pacientes sem supervisão? Claro que sim, senão como ele vai trabalhar no local designado? Mas então ele não é um aluno, é um médico escravizado. Não, escravidão é inconstitucional, ele tem de ser também aluno, vai lá, escreve a MP, depois resolvemos esse detalhe. Sim, chefe, mas que tal incluirmos os médicos importados na MP? Basta dar a eles uma licença provisória para praticar a medicina no País, uma espécie de CRM provisório atrelado ao local de trabalho. Brilhante, vai, escreve a MP que o Diário Oficial fecha daqui a duas horas.”
No terceiro dia eles descansaram. Haviam criado o meio médico, meio escravo. A pizza que esperam servir aos manifestantes. Se tudo der certo, agora vamos protestar na frente das Faculdades de Medicina e do CRM, os verdadeiros culpados pela crise na saúde pública.

A fila dos pecadores

veja.com

“Não é meu papel censurar ou impedir manifestações, mas acho que o papa não tem relação direta nenhuma com os pecados dos governantes brasileiros ─ a não ser perdoá-los quando há confissão”.

Eduardo Paes, prefeito do Rio, ao implorar por uma trégua nas manifestações cariocas, sem esclarecer se já ocupou seu lugar na fila do confessionário reservada aos políticos dispostos a contar ao Papa Francisco tudo o que fizeram.

‘Boa viagem, Juquinha!’, por Ricardo Noblat


Publicado no Globo desta segunda-feira
O PT faltou ao Dia Nacional de Luta promovido pelas centrais sindicais. Pensando bem, era só o que faltava: o partido que governa o país sair às ruas para cobrar do governo o que ele prometeu e não fez. Ou o que não prometeu, mas poderia fazer se quisesse. As centrais apoiam o governo. Estão de prontidão para socorrê-lo em qualquer aperto. Mas elas devem o mínimo de satisfação aos seus associados.
O Dia Nacional de Luta foi um fracasso. Tanto maior porque pode ser comparado com o recente movimento liderado por jovens que cobram passe livre nos ônibus. Um brotou espontaneamente. Aderiu quem quis. E os que aderiram poderão dizer: “Eu participei das maiores manifestações populares da história do Brasil em pouco mais de 500 anos”. O outro movimento nada teve de espontâneo.
Parecia a projeção em preto e branco de um filme antigo, como observou o jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de Lula. Com uma diferença: no passado, o vermelho que coloria as ruas era monopólio do PT. Hoje, o vermelho que se vê aqui e acolá foi providenciado por outros partidos. A militância do PT tem mais o que fazer. Está empregada. Parte dela muito bem empregada.
Há pelo menos duas frases exemplares cometidas nos últimos 10 dias por figurinhas carimbadas da República. Reunidas e explicadas, ilustram o estado de coisas que uma quantidade crescente de brasileiros gostaria de empurrar para sempre esgoto a dentro. “Eu sou de carne e osso e preciso, vez por outra, de um descanso”, afirmou Cid Gomes, governador do Ceará, a propósito de uma viagem à Ásia.
Em junho último, quando multidões irrompiam por toda parte, Cid embarcou para uma viagem de 14 dias com destino a Coreia do Sul. Tinha compromissos oficiais por lá. Uma vez na Europa, esqueceu a Coreia, divertiu-se o quanto pode na companhia de amigos e até encarou um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Na ausência de Cid, o vice dele voou à Israel e Arábia Saudita. A trabalho. E também para repousar.
A segunda frase: “Não sou o primeiro a fazer isso no Brasil. Outros fazem também”, defendeu-se Sérgio Cabral, governador do Rio e alvo de uma reportagem publicada pela VEJA. A revista descobriu que Cabral usava helicóptero do governo, comprado por quase R$ 20 milhões, para fazer diariamente um trajeto de não mais do que 10 minutos entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o palácio onde despacha.
Às sextas-feiras, o helicóptero chegava a voar cinco ou seis vezes entre o Rio e o município de Mangaratiba, onde Cabral tem uma casa de praia. Cabral seguia no último voo. Nos anteriores, sua mulher, filhos e amigos deles, babás e o cão Juquinha. O mesmo número de voos se repetia no domingo, de volta de Mangaratiba. Aumentava quando se esquecia algo. Como um vestido da primeira-dama resgatado por uma babá em voo extra.
“O governador Sérgio Cabral encara como uma perseguição ao seu mandato informações que soem como ‘denúncias’ quanto ao uso de helicópteros do Estado”, advertiu nota distribuída pela assessoria dele. Ninguém ligou. O tempo não anda bom para os lados de Cabral. Então outra nota anunciou que doravante Cabral irá trabalhar de carro. Os voos para Mangaratiba foram mantidos. Às nossas custas, naturalmente.
Cabral só se preocupa com valores do tipo moral, ética e decência quando flagrado atropelando algum deles. Ou todos ao mesmo tempo. Aí finge que mudará seu comportamento. E até inventa código de ética que não sai do papel. Mas não muda de comportamento, como se vê. Porque ele sempre foi assim desde que escolheu a política como meio de sobrevivência. E nada sugere que deixará de ser assim.

Reynaldo BH: O lulopetismo quer transferir para os médicos a responsabilidade sobre a própria incompetência

Feira Livre


REYNALDO ROCHA
Na economia, era a “herança maldita” de FHC que durou 10 anos. Ao fim dos quais, a inflação voltou, a Petrobras quebrou, o BNDES tenta explicar o que fez com o dinheiro público, os dividendos são pagos ao governo antecipadamente em uma tentativa desesperada (o poço secou!) de apresentar saldos nas contas oficiais, os ministérios são 39, existem 508.000 cargos comissionados (sem concursos) nos municípios, mais de 1.000.000 nos governos federal e estaduais, um descontrole sobre o câmbio, uma desconfiança internacional consolidada, enfim, a herança não era lá tão “maldita”. Um cenário velho e bolorento.
Na Justiça, a culpa é dos advogados! Eles são mal formados, estudam em Universidades péssimas (que foram, segundo os mesmos que acusam, liberadas para funcionar POR ELES MESMOS!) e são TODOS desonestos. Esta é a versão oficial. Confundem o advogado medalhão – podem ser encontrados atuando na Ação Penal 470 – com os que exercem dia-a-dia o difícil ofício de ser mal pago, pouco reconhecido e até humilhado por uma estrutura ESTATAL que os trata como penduricalhos. Não são. São a essência do Direito. Todos são acusados pelo partido oficial. Exceto os que são do partido oficial. Estes viram ministros do STF.
Na Educação, a culpa é dos professores. Uns preguiçosos que só querem saber de ganhar fortunas (uns 900,00 reais por mês) ao invés de serem estoicos sacerdotes que deveriam até agradecer por ensinar. Mesmo morrendo de fome.
Ainda havia os empresários (só os pequenos e médios, visto que Eike Batista é um dos novos patrões de Lula e apoiado por Dilma). Estes seres inferiores que só querem saber do lucro. Empregam mais de 96% da força de trabalho do Brasil? Detalhe… Dão prejuízo? Não podem, visto que não dispõem de dinheiro público para continuar operando, como – infelizmente – se vê no BNDES e Petrobrás de hoje. Se derem prejuízo, quebram. Desaparecem.
Agora são os médicos. Quer dizer então que recusam um salário de R$ 10.000,00? Para fazer O QUÊ exatamente? Quantos médicos aceitariam R$ 50.000,00 para fazer de conta que exercem a profissão? Não seria uma prova de honradez não compactuar com o caos e não participar de uma farsa?
É disto que são acusados?
Qual a sensação que sente um profissional ao se deparar com um posto de saúde sem remédios, sem exames e sem a mínima estrutura? A mesma que sentiria um engenheiro ao tentar construir uma ponte – por dia – sem calculadora e nenhum equipamento? Ou a de um advogado que teria, em um julgamento, um prazo estipulado de 1 minuto para apresentar sua tese de defesa?
Sei que existem professores que ensinam (ensinam?) em escolas sem lousas, sem carteiras escolares e sem cadernos. Livros são um luxo inatingível. Sabemos o resultado. Somos um dos campeões da ignorância mundial. Da desigualdade de ensino e da ofensa ao direito de aprender.
É este o resultado que se espera dos médicos do Brasil? Na medicina o resultado não se mede pelo não-aprendizado (que é um crime!); mede-se pelo número de mortos. Este é o parâmetro. Estamos longe disto ou já ingressamos neste cenário de horror?
Durante a ditadura militar proibiu-se a divulgação de um surto de meningite em São Paulo, o que só fez a epidemia crescer.
Hoje, o lulopetismo pretende apresentar uma solução desonesta, transferindo a responsabilidade da própria criminosa incompetência para uma categoria profissional. A epidemia de meningite era – frente ao que assistimos hoje – um mal até menor.
O PT – principalmente Lula, o lobista amante de Rosemary – se notabilizou em dividir o Brasil de acordo com os próprios interesses.
Assistimos a divisão de “direitistas raivosos x esquerdistas angelicais”. Entre “nordestinos x sulistas”. De um lado, os ricos; de outro os pobres! Os que eram “companheiros” x os que eram “atrasados”.
Toda a divisão é – por definição – odiosa. Mas hoje, é real.
Não esperava esta última tentativa de separação. A divisão entre “médicos x pacientes”!
Se ela acontecer, o PT ganhou. Terá conseguido o desejado. Deixar tudo como está. E a partir daí passaremos a odiar aquelas pessoas que usam uniforme branco e trabalham em hospitais.
A Saúde estará salva? Os pacientes melhor atendidos? O sistema de saúde adquirindo alguma dignidade?
Óbvio que não!
Mas para o PT estes dados são irrelevantes?

Henrique Alves, Garibaldi Alves, Renan Calheiros, Sérgio Cabral e Celso Amorim formam a safra aérea de candidatos ao Homem sem Visão de Julho


“Eles vieram num jatinho da FABTur porque o deputado tinha um jantar de trabalho com o Fernando Haddad na sexta-feira à noite”, informou um dos 171 assessores de Henrique Alves durante o lançamento da candidatura do presidente da Casa dos Horrores ao título de Homem sem Visão de Julho. “Como o primo dele, o ministro Garibaldi Alves, também achava que merecia entrar na disputa do HSV e garantiu que tinha um almoço oficial no sábado, os dois decidiram vir no mesmo voo para economizar dinheiro público”.
Ao saber dos planos da dupla, Renan Calheiros fez questão de requisitar outro jatinho da frota federal para formalizar a inscrição. “O chefe tinha o casamento da sobrinha de um vereador em Murici e aproveitou para fazer uma escala em São Paulo”, explicou um dos 193 assessores do presidente da Casa do Espanto.
Em seguida, o amigo de um primo de Sérgio Cabral chegou a bordo de um helicóptero do governo fluminense trazendo a papelada necessária para a entrada na briga de foice do mais famoso integrante da Turma do Guardanapo. A aeronave decolou novamente e retornou meia hora depois trazendo a babá do filho de Cabral e um envelope vazio para guardar os documentos. Na terceira viagem, desembarcaram o cachorro Juquinha e uma segunda babá, que carregava o grampeador para prender os papéis.
A primeira leva de candidatos ao troféu de julho ficou completa com a presença de Celso Amorim, que ainda não conseguiu enxergar a revista – com a presença de cães farejadores – que o governo boliviano fez na aeronave que traria o ministro da Defesa de Santa Cruz de La Sierra de volta ao Brasil. Os sherloques suspeitavam que o chanceler de bolso de Dilma Rousseff levava a bordo o senador de oposição Roger Pinto, refugiado há mais de um ano na Embaixada do Brasil em La Paz.
Os candidatos da safra aérea são de tirar o fôlego, leitores-eleitores. Foi dada a largada para a disputa de julho! Quem será o vencedor? Ou vencedora? As inscrições estão abertas! Que vença o pior!

O que está em jogo na reforma política

Financiamento de campanha

Como é hoje: Para financiar as campanhas eleitorais, os partidos políticos podem receber recursos privados, além de doações empresariais.
Proposta: O financiamento passaria a ser público, proveniente de um fundo partidário. Assim, haveria menor influência do poder econômico nas campanhas. Outra ideia é o financiamento misto, com recursos públicos e privados. Algumas propostas defendem ainda o fim das doações empresariais — ficaria permitido apenas as doações feitas por pessoa física.
Como mudar: Projeto de lei, que deve ser aprovados por maioria simples da Câmara e do Senado, em caso de lei ordinária, ou por maioria absoluta, quando a lei é complementar.

Coligações


Como é hoje: Para ampliar o tempo de propaganda no horário eleitoral na televisão, alguns partidos formam alianças, criando os chamados “partidos de aluguel”. Esses partidos alugados não têm representatividade, apenas vendem seu apoio em troca de cargos no Executivo.
Proposta: Proibir a formação das coligações partidárias. Com essa proibição, um candidato de outro partido, que não teve votos suficientes, fica impedido de se eleger em função do coeficiente eleitoral.
Como mudar: Projeto de lei, que deve ser aprovados por maioria simples da Câmara e do Senado, em caso de lei ordinária, ou por maioria absoluta, quando a lei é complementar.

Calendário eleitoral


Como é hoje: O calendário eleitoral prevê eleições a cada dois anos. As municipais  acontecem dois anos após as eleições federais e estaduais.
Proposta: Fazer a integração das eleições municipais, estaduais e nacionais. Assim, o Brasil teria eleições a cada quatro anos, e não mais a cada dois anos, diminuindo os gastos.
Como mudar: Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Para ser aprovada, essa emenda precisa de 3/5 dos votos da Câmara e do Senado em duas votações no plenário.
O "recall" político

Como é hoje: Não há nada que vincule um político às suas promessas de campanha.
Proposta: Sugerida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, a adoção desse instrumento - presente na legislação de países como Suíça e Estados Unidos -,  permitiria que os eleitores revogassem o mandato de políticos que se afastam de sua plataforma eleitoral.
Como mudar: Proposta de Emenda Constitucional (PEC), uma emenda que altera trechos da Constituição Federal. Para ser aprovada, essa emenda precisa de 3/5 dos votos da Câmara e do Senado em duas votações no plenário.

Sistema proporcional

Como é hoje: O sistema é proporcional, o que significa que as cadeiras do parlamento são divididas entre os partidos de acordo com a proporção de votos obtida por cada um. Esse sistema permite o fenômeno dos "puxadores de voto" - candidatos que atraem grande número de eleitores e assim ajudam o partido a eleger nomes menos expressivos
Proposta: Há três propostas em circulação: a do voto distrital e a do "distritão" e a do voto proporcional misto
No voto distrital, o país é dividido em distritos, em número igual ao das vagas no Legislativo. Cada distrito elege um representante por maioria absoluta, em um turno ou dois. É um sistema em que há um vínculo forte entre o eleito e o distrito que ele representa
No "distritão", são eleitos os candidatos que tiveram mais votos, sem que haja distribuição de cadeiras entre os partidos. É um sistema muito calcado nos indivíduos, que privilegia as personalidades conhecidas ou aqueles que têm mais recursos para fazer campanha. Os partidos são enfraquecidos
No sistema de voto proporcional misto, o eleitor vota diretamente em um candidato para preencher metade das vagas legislativas, e vota em uma lista previamente ordenada de candidatos, definida pelos partidos, para preencher a outra metade
Como mudar: Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Para ser aprovada, essa emenda precisa de 3/5 dos votos da Câmara e do Senado em duas votações no plenário.


Listas

Como é hoje: O sistema é em listra aberta: o eleitor pode votar tanto na legenda quanto num candidato específico. É um sistema que procura equilibrar a escolha entre personalidades e programas partidários
Proposta: No sistema de lista fechada, o eleitor vota nos partidos, que apresentam previamente uma lista com seus candidatos, em ordem de "preferência". Os nomes no topo da lista têm mais chance de conquistar um mandato. É um sistema que dá grande poder às cúpulas partidárias 
Na sistema de lista flexível, o partido monta sua lista, mas o eleitor pode votar também no seu candidato preferido. Com isso, um candidato pode eventualmente "furar a fila"
Como mudar: Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Para ser aprovada, essa emenda precisa de 3/5 dos votos da Câmara e do Senado em duas votações no plenário.

Suplentes no Senado

Como é hoje: Os suplentes são candidatos que não obtiveram o número de votos mínimo para conquistar um mandato próprio, mas pertencem a partidos ou coligações com representantes no legislativo. Eles podem substituir, temporária ou definitivamente, o titular da cadeira. O sistema no Senado é um pouco diferente, pois o suplente, embora não receba votos diretamente, é eleito juntamente com o titular (como uma espécie de "vice")
Proposta: Acabar com a figura suplente no Senado, uma casa com vários “legisladores sem voto". Caso um senador deixasse seu mandato, assumiria, em vez de um suplente, o segundo candidato mais votado daquele estado.
Como mudar: Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Para ser aprovada, essa emenda precisa de 3/5 dos votos da Câmara e do Senado em duas votações no plenário.

PT distorce perguntas e quer infidelidade partidária na reforma política

Congresso

Deputado petista Cândido Vaccarezza (SP) foi anunciado como coordenador do grupo que discutirá propostas de reforma política

Laryssa Borges e Marcela Mattos, de Brasília
O deputado Cândido Vaccarezza, que acaba de deixar o posto de líder do governo na Câmara, em Brasília
Deputado Cândido Vaccarezza: o PT insiste em tentar mudar as regras eleitorais para beneficiar o próprio partido (Andre Dusek/AE)
Depois do fracasso na tentativa de emplacar uma Assembleia Constituinte exclusiva para discutir projetos de reforma política, o PT insiste em tentar convencer aliados de que é possível apresentar uma proposta de decreto legislativo, com o apoio de 171 parlamentares, para salvar a ideia de um plebiscito sobre o tema. No intento de levar adiante a consulta popular, porém, o partido agora tenta distorcer as perguntas que poderiam ser submetidas ao crivo do eleitorado. Além de tentar camuflar questionamentos sobre o financiamento público de campanha, eterno sonho da legenda, o PT quer burlar regras de fidelidade partidária e salvar os mandatos de políticos infiéis. 
O PT formulou cinco perguntas que poderiam ser submetidas a um plebiscito. Entre elas, a tentativa de conseguir aval para que “o parlamentar possa sair do partido pelo qual foi eleito sem perder o mandato”, institucionalizando o troca-troca indiscriminado de siglas. Atualmente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) só admite que um político deixe a legenda se ficar caracterizada perseguição doutrinária ou em caso de fusão de partidos.
Consciente de que dificilmente a população aceitaria o financiamento público de campanha se a proposta fosse apresentada à população exatamente com essas palavras, o líder do PT na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), apresentou nesta terça-feira a líderes da base aliada uma versão para que o potencial questionamento seja apenas “Você concorda que empresas façam doações para campanhas eleitorais?”.

As cinco perguntas do PT

1. Você concorda que empresas façam doações para campanhas eleitorais?
2. Qual o sistema eleitoral que você prefere para eleger os deputados: sistema proporcional; sistema distrital; sistema misto; sistema majoritário?
3. Você concorda que o parlamentar possa sair do partido pelo qual foi eleito sem perder o mandato?

4. Você concorda que mulheres ocupem, no mínimo, um terço das cadeiras da Câmara dos Deputados, das Assembleias Legislativas, da Câmara Legislativa do Distrito Federal e das Câmaras de Vereadores?

5. Você concorda que a população participe opinando e propondo pela internet quanto à apresentação de proposta de emenda constitucional, projeto de lei complementar e projeto de lei ordinária?
Sem esclarecer nenhum dos possíveis sistemas de votação, o esboço feito pelo PT também opta por uma pergunta genérica sobre o desejo da cúpula partidária de aprovar o sistema de lista fechada. Na proposta de consulta ao eleitor desenhada pelos petistas para o plebiscito, consta apenas a pergunta “Qual o sistema eleitoral você prefere para eleger os deputados: sistema proporcional, sistema distrital, sistema misto ou sistema majoritário?”.
Atualmente, nas eleições para deputado federal, o sistema de votação é proporcional com lista aberta: o eleitor pode votar tanto na legenda quanto num candidato específico, e o mecanismo procura equilibrar a escolha entre personalidades e programas partidário. O sistema preferido pelo PT, porém, é o de lista fechada, que corresponde praticamente a uma versão moderna do voto de cabresto. Por essa regra, o eleitor vota nos partidos, que apresentam previamente uma lista com seus candidatos definida conforme a vontade e os interesses dos dirigentes da legenda.
O esboço do projeto de decreto legislativo do PT contempla ainda questões que poderiam ser facilmente resolvidas em votações no próprio Congresso Nacional, sem a necessidade de plebiscito. É o caso da exigência de uma cota mínima de um terço das cadeiras dos Legislativos para mulheres ou a possibilidade de a população poder opinar, via internet, sobre a apresentação de futuras leis.
Aliados - São necessárias 171 assinaturas para tornar possível a apresentação da proposta de decreto legislativo para convocação do plebiscito. Com o apoio do PDT e do PCdoB, partidos que também defendem a consulta popular da reforma política, o PT poderia angariar no máximo 128 assinaturas – se todas as três bancadas subscrevessem em massa a proposta. As dificuldades esbarram na própria reticência de parte dos aliados.
O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), anunciado coordenador do grupo que discutirá propostas de reforma política, por exemplo, busca uma versão mais branda e sem os prováveis embates causados por perguntas como a do voto em lista fechada.
“O PT está apresentando um esboço que não atende o PDT. Insiste em pontos que achamos que não são os mais importantes para o momento”, afirmou o líder do PDT, André Figueiredo (CE). Mesmo tendo sido anunciado como aliado dos petistas na discussão sobre o plebiscito, o PDT não concorda mais com as imposições do partido governista sobre o tema. “Queremos que seja incluída a questão do sim ou não à reeleição com mandato de cinco anos, e isso não está externado. É importantíssimo que uma das perguntas seja se a população quer uma assembleia revisora”, declarou o parlamentar.
O PMDB, principal aliado do Palácio do Planalto, mas que desde o início foi contra o plebiscito, afirmou que abordaria as mudanças no sistema eleitoral de maneira diferente do apresentado no esboço petista. Seria incluído um referendo para que o eleitorado atestasse as mudanças aprovadas previamente pelo Congresso, além das já conhecidas propostas de fim da reeleição a partir de 2018 e a proibição do financiamento de campanha diretamente aos candidatos. “O financiamento de campanha deve ser feito de forma institucional, ao partido, de forma clara. Diretamente ao candidato, como ocorre hoje, muitas vezes causa distorções, especulações”, defendeu o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

Cardozo Pede o Óbviu: farra Com Aviões da FAB deve Ser Punida

Política

Sem citar nenhum caso específico, ministro da Justiça diz que episódios de mau uso de aeronave devem ser tratados "rigorosamente"

Gabriel Castro, de Brasília
José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça
José Eduardo Cardozo. Ministro da Justiça elogiou divulgação de dados sobre voos (Ueslei Marcelino/Reuters)
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse nesta terça-feira que autoridades que fizerem mau uso de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) devem ser “rigorosamente" punidas. Cardozo lembrou que já existe um decreto regulamentando a utilização dessas aeronaves – a norma veta o uso para fins pessoais – e, sem citar casos concretos, disse que as ilegalidades não podem ser toleradas.
"Quem está atuando de acordo com o decreto está atuando no exercício da sua função. Se existem casos em que as pessoas estão transgredindo, rigorosamente devem responder por isso, porque não se pode permitir ilegalidades ou mau uso de equipamentos ou verbas públicas", disse Cardozo.
A declaração foi feita no Senado, onde o ministro esteve para participar de um debate sobre o Arquivo Nacional na Comissão de Educação e Cultura.
Cardozo também elogiou a decisão da FAB de exibir, na internet, informações sobre os voos solicitados por autoridades. A novidade passou a valer nesta segunda-feira. No entanto, as informações disponíveis não detalham os custos dos voos. 
Nas últimas semanas, o tema ganhou visibilidade após a revelação de que o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), utilizou um avião da FAB para levar a noiva, parentes e amigos para assistir à final da Copa das Confederações, no Rio de Janeiro. O voo havia decolado de Natal (RN).
Logo após a revelação, foram revelados episódios semelhantes envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves.