sexta-feira 10 2013

'Bolsa anticrack' pode custar até R$ 4 milhões por mês



Ao lançar oficialmente o Programa Recomeço, nesta quinta-feira, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que o consumo da droga virou uma epidemia no Estado


SÃO PAULO - O governo do Estado pretende investir pelo menos R$ 4 milhões por mês para custear o Cartão Recomeço, uma mensalidade que pagará a internação de usuários de drogas em centros terapêuticos. Na primeira fase do programa, serão distribuídos 3 mil cartões para dependentes químicos de 11 cidades: Diadema, Sorocaba, Campinas, Bauru, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, São José dos Campos, Osasco, Santos e Mogi das Cruzes. 
As cidades foram escolhidas a partir da análise do tamanho das suas redes de assistência social e saúde, de acordo com o governo. O cartão será destinado aos pacientes maiores de 18 anos que forem considerados aptos para o acolhimento social por especialistas. O benefício pode durar até seis meses, de acordo com o governo do Estado. Por mês, o benefício concederá até R$ 1350 para a internação de cada usuário de drogas.
"Estamos dando mais um passo na direção correta para enfrentar esse grande desafio do mundo moderno que é o consumo de crack, que virou uma epidemia e o Estado não pode se omitir frente a uma situação como essa", afirmou o governador Geraldo Alckmin (PSDB), durante o lançamento do programa na manhã desta quinta-feira, 9. Um edital será lançado para fazer o cadastramento das unidades terapêuticas interessadas em aderir ao programa.
O programa será comandado por um grupo gestor, formado por integrantes das secrearias de Desenvolvimento Social, da Justiça e Defesa da Cidadania e da Saúde. O grupo será comandado pelo psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo.

‘Bolsa crack’ de R$ 1.350 vai pagar internação de viciados do Estado de SP


Governador Geraldo Alckmin vai apresentar nesta quinta-feira, 9, plano de ajuda financeira para famílias de dependentes. Dinheiro poderá ser sacado apenas para tratamento em clínica particular

Bruno Ribeiro e Tiago Dantas - O Estado de S. Paulo - Atualizado às 22h50
Famílias com parente dependente de crack vão receber uma bolsa do governo do Estado de São Paulo para custear a internação do usuário em clínicas particulares especializadas. Chamado “Cartão Recomeço”, o programa deve ser lançado na quinta-feira, com previsão de repasses de R$ 1.350 por mês para cada família de usuário da droga.
 - Tiago Queiroz/AE
Tiago Queiroz/AE
Segundo o secretário de Estado de Desenvolvimento Social, Rodrigo Garcia, a proposta é manter em tratamento pessoas que já passaram por internação em instituições públicas. “São casos de internações em clinicas terapêuticas, pelo período médio de seis meses”, afirma.
Os dez municípios que receberão o programa piloto devem ser definidos nesta quarta-feira. Ainda não há data para o benefício valer em todo o Estado. As clínicas aptas a receber os pacientes ainda vão ser credenciadas, mas ficará a cargo das prefeituras identificar as famílias que receberão a bolsa. “Saúde pública é sempre para baixa renda. Os Caps (Centros de Atendimento Psicossocial das prefeituras) já têm conhecimento das famílias e fará a seleção”, diz Garcia, sem detalhar quais serão esses critérios.
Como antecipou o site da revista Época, o pagamento da bolsa será feito com cartão bancário. A ideia do Cartão Recomeço é ampliar a rede de tratamento para dependentes e, principalmente, a oferta de vagas para internar usuários. O trabalho desenvolvido pelo governo sofre críticas por causa da falta de vagas, especialmente após a instalação de um plantão judiciário no Centro de Referência de Tabaco, Álcool e Outras Drogas (Cratod), no Bom Retiro, centro da capital, ao lado da cracolândia - entre janeiro e abril, segundo o governo, cerca de 650 pessoas foram internadas após o atendimento no Cratod.
Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Faculdade de Medicina da Unifesp, que participou da criação do Cartão Recomeço, a vantagem do modelo é descentralizar o financiamento do tratamento. “Muitas famílias, mesmo de classe média, estouram o orçamento tentando pagar tratamento para o familiar dependente.”
Com o cartão, diz Laranjeira, as famílias terão uma “proteção” para o caso de o parente ficar viciado. “A família poderá ter dinheiro para oferecer ajuda caso o dependente aceite uma internação.”
Inspiração
O programa que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) vai lançar é semelhante ao desenvolvido em Minas. Apelidado de “bolsa crack”, o cartão de lá é chamado Aliança Pela Vida e dá ajuda de R$ 900.
A assessoria do Palácio dos Bandeirantes rejeitou o termo “bolsa crack” - segundo o secretário Garcia, o apelido é “maldoso”. O governo também ressalta que o recurso é carimbado e só pode ser sacado para pagamento em clínicas credenciadas. O plano envolve técnicos das Secretarias de Desenvolvimento Social, da Saúde e da Justiça. O pagamento sairá do orçamento da Secretaria de Desenvolvimento.

Quatro baianos falam dos 100 anos de Jorge Amado


Como cozinheiro, Amado era ótimo escritor e pelas mãos de Gabriela e Flor, imortalizou os sabores mágicos da Bahia

Daniel Telles Marques - O Estado de S. Paulo

Sem saber fazer "mesmo que seja um ovo cozido", como conta sua filha Paloma, Jorge Amado ajudou a definir a culinária baiana com seus personagens saídos das ruas de Salvador e das fazendas de cacau. Ao redor dos fogões de Dona Flor e Gabriela, das moquecas e peixadas preparadas no saveiro de mestre Manuel e das comidas oferecidas a Xangô, há mais que gastronomia. À mesa, convivem senhores de cacau, caboclos, madames, vadios, prostitutas, religiosos, negros e brancos, em uma ideia de Brasil socioculturalmente mestiço, ora imaginária, ora real.
E numa Bahia acostumada aos modos europeus, Jorge Amado pôs a culinária de negros, sertanejos e pobres nas casas da elite branca, fosse com Gabriela cozinhando para coronéis do cacau, fosse com Dona Flor repassando receitas a senhoras nobres. E com elas, fez "a comida como vocabulário, como uma linguagem que mostra para as elites metidas a francesas quais seriam nossas raízes", como explica a antropóloga Lilia Schwarcz.
Misturando influências, criou cozinheiras como Flor, "com a ciência do ponto exato, com o dom dos temperos", essencialmente baianas, nascidas da mistura de origens e diplomadas em artimanhas do uso ingredientes locais com receitas adaptadas do povaréu europeu e africano.
"A obra de Jorge Amado e a cozinha nela contida são elementos fundamentais na construção da baianidade", diz o antropólogo Jeferson Bacelar. Nos seus livros, Jorge explica o gosto do baiano - que isso ele foi e compreendeu como poucos -, valoriza preparos, ingredientes e modos à mesa. Páginas perfumadas por dendê, em grande parte, mas com cheiro de rua também; da rampa do Mercado, onde seus marinheiros, boêmios e vadios comiam feijoada, maniçoba e sarapatel; e de frutas das fazendas de cacau, das feiras, dos saveiros carregados de abacaxis, cajus e mangas.
Tristeza "é não ter gosto na boca", diz Gabriela. E o autor não economiza apresentação dos sabores do acarajé, do vatapá, da moqueca de siri-mole, do bolo de puba ou da cocada. Acostumado à pujança do dendê, às seduções dos quitutes baianos e das cozinheiras; comer, nos livros do baiano, vira teoria, cena e pretexto para histórias.
Seus personagens não se alimentam apenas. Jorge - que tanto gostava de comer- dá prazer a eles a cada receita ou mordida. Por isso, constata o coronel Maneca Dantas depois de muito penar: "Se a gente não comer bem, o que é que vai fazer?".