sábado 03 2013

Fartura a preços de estudante

Por estadao.com.br
Em abril deste ano, as jornalistas Tatiana de Mello Dias e Rebeca de Moraes resolveram reagir contra os sites que...



Em abril deste ano, as jornalistas Tatiana de Mello Dias e Rebeca de Moraes resolveram reagir contra os sites que propunham boicote aos restaurantes de São Paulo. Fizeram um site colaborativo, com a ideia de reunir indicações de lugares bons e baratos. Assim surgiu o SP Honesta. A pedidos, Tatiana apresenta abaixo uma seleção de suas dez dicas preferidas do site.
Como assim?!. Funciona em uma galeria na Benedito Calixto, você escolhe a carne e os acompanhamentos - arroz, feijão, legumes e salada - e o prato não custa mais que R$ 10.
Praça Benedito Calixto, 158, Pinheiros
El Guatón. Neste chileno, há especialidades como empanadas, ostras e cozidos de frutos do mar. Os pratos custam a partir de R$ 30, para duas pessoas.
R. Artur de Azevedo, 906, Pinheiros, 3085-9466
Salgaderia. É uma fábrica de salgados que, de tanto atender os pedidos de baladeiros famintos de madrugada, abriu uma lanchonete. A coxinha é vendida a R$ 1,50; quiche, croissant ou bolinho de bacalhau saem por R$ 2.
R. João Cachoeira, 856, Itaim Bibi, 3078-4889
Sabores de Mi Tierra. Comida típica colombiana a um preço bem baixo. As arepas e os patacóns custam de R$ 7 a R$ 10.
Rua Lisboa, 971, Pinheiros, 3083- 3114
Malandrino. Rotisserie da Vila Mariana vende massas a partir de R$ 7,50. Massas, bife à parmegiana e doces. Para levar ou comer ali. Mas prepare-se para enfrentar filas, está sempre cheio.
R. Capitão Macedo, 176, Vila Clementino, 5539-5420
Tchicano Ai Ai Ai. É uma barraca de comida mexicana na feira de artesanato do Parque Trianon, aos domingos. Serve tacos e burritos por R$ 6.
Av. Paulista em frente ao Masp. Dom., das 10h às 17h
Sabor do Nordeste. Restaurante nordestino no bairro de Perdizes. O bobó com moqueca de camarão custa R$ 46 (para dois); carne de sol com baião de dois, R$ 34 (para dois). O pudim de leite nunca decepciona.
R. João Ramalho, 966, Perdizes, 3865-1044
Hambúrguer do Seu Oswaldo. É um clássico do Ipiranga. Serve sanduíches simples, feitos com ingredientes artesanais, a partir de R$ 8,70.
R. Bom Pastor, 1.659, Ipiranga
Rong He. Tradicional chinês na Liberdade, serve comida farta. O macarrão com frutos do mar, para três, custa R$ 29. Vá até a vitrine ver o chef preparar a massa (foto).
R. da Glória, 622A, Liberdade, 3275-1986, e R. Tutoia, 312, Paraíso, 3559-9996
Embaixada Paraense. Barraca na feira da Praça Benedito Calixto serve comida paraense, como o tacacá (R$ 10) e arroz com vatapá (R$ 18).
Praça Benedito Calixto, Pinheiros

ANÁLISE: o perigo não está nos extremos, mas no meio

 Por estadao.com.br
Pesquiso em meu blog e localizo vários textos sobre os preços de restaurantes, especialmente em São Paulo. O auge...



Pesquiso em meu blog e localizo vários textos sobre os preços de restaurantes, especialmente em São Paulo. O auge das postagens remete a 2009 e 2010. O cenário nacional era de otimismo, com economia aquecida, apesar da crise no exterior. Porém, e talvez por esse motivo, eu defendia que os preços aqui andavam irreais. Estávamos mais caros do que Nova York, Paris, Barcelona, sem a mesma qualidade. Ofertas e demandas à parte, havia alguma coisa errada. Mas com os salões cheios, seria antinatural baixar as cifras. Se o público topava pagar...
Agora, temos uma crise se estabelecendo. A inflação é perceptível, famílias reveem seus orçamentos. Os comensais se queixam dos preços, os restauradores, do baixo movimento e dos custos. É aquele momento da festa em que todos se perguntam: quem está se divertindo?
Creio que o impacto parece ainda maior porque temos complicado demais o ato de ir a um restaurante. Na crise europeia, ainda que a alta gastronomia tenha sofrido mais, a população não parou de fazer refeições fora. Continuou indo a lugares simples, ao bar à vin da rua, à tasca vizinha, onde o foco era só a comida. Aqui, o programa gastronômico - que também funciona como lazer - ficou tão cheio de aparatos que deixou de ser natural.
Quando menciono complicações, me concentro na média restauração. Pois os estabelecimentos populares cumprem sua função, servindo pratos sem pretensões. Com as casas de luxo, o jogo é às claras: são caríssimas e para poucos. Mas é a faixa média que concentra a maior parte do movimento "visível" dos restaurantes. E é também onde se encontram as maiores armadilhas para o cliente. Se eu vou ao Fasano e ao D.O.M., sei que preciso preparar o bolso. Se vou a um bistrô ou trattoria, já não sei mais o que me espera.
Estou falando de lugares que, em sua maioria, trabalham com cardápios de domínio público, apostam pouco em ingrediente e em pesquisa, investem mais na ambientação do que na cozinha. Nada contra móveis assinados e boas louças. Só que eles deveriam ter hora e lugar adequado (não para comer hambúrguer ou lasanha). Isso nasce de um posicionamento equivocado dos empreendedores. Mas com parcela de culpa da clientela (e da crítica especializada).
O mesmo comensal que, em Paris, se diverte num bistrô de mesa apertada, copos de vidro, poucos garçons, aqui exige valet, taça Riedel, sommelier. Tudo isso se transforma em custo. E se materializa em absurdas contas de R$ 200 por cabeça, por pratos inexpressivos.
Nos últimos anos, temos visto grandes grupos financeiros investindo pesado em restaurantes. Empreendimentos milionários, que só podiam dar retorno ou com muita escala de vendas ou margens muito altas. Uma estratégia que acabou passando uma mensagem distorcida ao mercado. A rigor, restaurante é negócio. Mas quero crer que gastronomia exige um quê de paixão. Não é banco nem corretora de valores.
Não resisto em apelar a um clichê: seria a crise a oportunidade de reestabelecer o equilíbrio no mercado? Suponhamos uma pirâmide que representasse os hábitos da classe média. Na base, teríamos os restaurantes para o dia a dia. Iríamos aos étnicos e a lugares modernos para provar coisas diferentes. Às casas bem montadas, em ocasiões especiais. E deixaríamos o luxo (no topo) para as celebrações. Num cenário ainda mais avançado, a comida de rua seria outra alternativa. O desenho atual é desbalanceado.
Os empreendedores têm muito trabalho pela frente. A começar por trazer de volta o habitué em contenção de despesas (e com medo dos arrastões) e cativar novos clientes. Treinar melhor os funcionários. Encarar os aluguéis dos Jardins e dos shoppings - ou bancar um novo começo em bairros menos badalados. Mas isso tem mais a ver com gestão do que com gastronomia. No fundo, eu só queria jantar. Comer bem pelo preço justo. Desde 2011, concluo as resenhas respondendo a pergunta: "Vale?". Gostaria de escrever, com muito mais frequência e convicção: "sim".

Coma bem sem gastar tudo que tem

 Por estadao.com.br
São Paulo tem, sim, lugares bons e baratos. Há donos de restaurante trabalhando para reduzir custos, otimizando ingredientes e descomplicando o serviço. Mas não esqueça de fazer sua parte, com truques para segurar a conta



Comer bem sem gastar muito não está fácil, é verdade. Mas a boa notícia é que ainda é possível fazer isso em São Paulo, sim. Desde que você se disponha a abrir mão de alguma coisa: pode ser o ambiente sofisticado, a taça de cristal, o manobrista, os salamaleques do serviço ou a localização nobre do restaurante... Só não pense em abrir mão da qualidade da comida.
Algumas casas paulistanas optaram por reduzir gastos com alguns desses itens - ou com todos ao mesmo tempo. São lugares simples, em geral, que concentram os esforços na comida e têm conseguido manter os preços razoáveis e o movimento no salão.
O Pita Kebab é apertadinho, despojado, não tem chef de cozinha nem maître. Os mesmos ingredientes são usados em diversos pratos do cardápio, o que reduz o desperdício e o estoque. O resultado é que ali é possível desfrutar de bons pratos da cozinha árabe mantendo o gasto médio de R$ 30. "Ganhamos em escala, tendo a casa sempre cheia", diz o dono, Piero Mazzamatti.
O serviço descomplicado é uma saída comum para segurar o preço final, dizem os empresários. No lugar de dezenas de garçons no salão - um para puxar a cadeira, outro para servir água, outro para tirar pedido..., - apenas um, bem treinado.
Priorizar ingredientes locais e menos valorizados, em vez de insumos caros e importados, é outro recurso que tem sido adotado. Alberto Landgraf, chef do Epice, se recusa a usar produtos caros como camarão ou carnes nobres. E aposta na simplicidade do pé de porco recheado, um prato primoroso. "Nos forçamos a ter criatividade. Fazemos uma cozinha de processo: trabalhamos com cuidado cada ingrediente", diz. No Epice, que se propõe a servir alta gastronomia, o gasto médio é de R$ 130.
Ainda assim, Landgraf diz ter receio de seguir o modelo da bistronomie francesa, com cardápio mais enxuto e menos serviço. "Gostaria, mas tenho medo de o público não aceitar". A alternativa para gastar menos no Epice é o almoço-executivo, durante a semana, que custa R$ 45 - e, segundo o chef, é "subsidiado" pelo jantar.
A proliferação dos menus executivos em São Paulo é um fenômeno associado à alta dos preços: diversas casas passaram a propor entrada, principal e sobremesa por preço fixo de até R$ 50, como Attimo, O Pote, Brasil a Gosto ou Tasca do Zé e da Maria.
Outra solução que começa a ser adotada é a união para compra, que permite barganhar junto a fornecedores. Ana Massochi, dona do Martín Fierro, do Jacarandá e do La Frontera, costuma trocar informações sobre produtores e matéria-prima com Paola Carosella, do Arturito, e Gabriela Barretto, do Chou. "Somos pequenos. Temos que nos juntar para negociar melhor", diz Ana, que diz ter conseguido margem de lucro perto de 11% no Marín Fierro só depois de 34 anos de casa.

Insatisfação: 100%

Por estadao.com.br
Não está bom para ninguém. Quem gosta de comer fora se queixa dos preços altos, sai menos e controla os gastos. Chefs e donos de restaurantes reclamam dos custos e dizem que a conta não fecha. A situação chegou ao limite. Vai ter de mudar



Insatisfação: 100%
"AE"
O momento é de insatisfação geral. O programa preferido do paulistano virou motivo de irritação: comer fora anda cada vez mais caro, as pessoas acabam saindo menos, procurando lugares mais baratos e controlando os gastos à mesa. Do outro lado do balcão, donos de restaurante reclamam das dificuldades em equilibrar as contas a manter a rentabilidade. A gritaria só aumenta.
E, para contrariar aquele ditado que diz que em casa em que todo mundo grita ninguém tem razão, desta vez, todo mundo tem razão. Cada um tem as suas. Elas ficam evidentes quando se decompõe o que está embutido no preço de um prato que custa R$ 11,50 de ingrediente e chega ao cardápio por R$ 46, como o porco com missô, do Miya. Ou os motivos que fazem um risoto de ervilhas (o arroz é importado, o dólar está alto, tudo bem...) custar R$ 76, como o do Piselli.
A situação chegou ao limite - e vai ter de mudar. "Os restaurantes não podem ficar parados. Temos que nos mexer. E quem não se adaptar vai fechar." O diagnóstico de Cristiano Melles, presidente da Associação Nacional de Restaurantes (ANR) e sócio do Pobre Juan, expõe o momento delicado por que passa o setor gastronômico no Brasil e, em especial, em São Paulo.
"As pessoas ainda estão comendo fora, mas com a mão no bolso", diz Ingrid Devisate, analista da consultoria Gouvêa de Souza, que detectou em pesquisa recente que o gasto médio com restaurantes nos fins de semana diminuiu sensivelmente: de R$ 53,80 em 2010 para R$ 39.
"Essa crise não é passageira. O que significa que vamos ter que mudar o modelo de serviço com que o brasileiro se acostumou, automatizar a cozinha - enfim, buscar mais eficiência para não repassar preços no cardápio", diz Cristiano. O empresário aposta num estilo de serviço mais parecido com o americano e o europeu. "A tendência é ter um número bem menor de pessoas no salão. Sem cumim, maître, etc."
O chef do Piselli, o italiano Moreno Colosimo, atesta de experiência própria: "Trabalhei em casas com estrela Michelin na Europa que tinham um quarto das pessoas que têm aqui, tanto no salão quanto na cozinha".
Entre os donos de restaurante, há pessimismo no ar. Segundo estudo da ANR, que tem 306 associados, donos de quase 5 mil estabelecimentos, as margens de lucro, que eram de 15% a 20 % há quatro anos, hoje estão mais próximas dos 10%.
O empresário Paulo Kress, do grupo Egeu, diz ter conseguido manter o faturamento de seus restaurantes. "As casas do Egeu são caras, mas não perdemos movimento, especialmente nas mais baratas como o General Prime Burguer", garante. Mas conta que está buscando alternativas para atrair clientes, como ofertas de vinho e programa de fidelização de clientes em troca de descontos.
"O restaurante vai bem quando a economia está bem. Quando as pessoas têm menos dinheiro para gastar, deixam de ir", afirma Joaquim Saraiva de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) de São Paulo, e dono da rede de pizzarias Livorno. "Está difícil segurar os preços. Muita gente está sacrificando a margem de lucro para se manter."
Juscelino Pereira, também membro da diretoria da ANR e sócio do Piselli, Tre Bicchieri e Zena Caffé, reclama que os donos de restaurantes aparecem sempre como vilões da história. "Lá fora, casas como as nossas são mais caras. Se fôssemos repassar a inflação real, nosso cardápio seria mais caro".
Além dos ingredientes, os principais custos embutidos no preço de um prato são mão de obra, aluguel e impostos. Mas entram no cálculo ainda taxas de reposição de material, segurança, contas de luz, água e gás. E quando o restaurante é de alta gastronomia, há ainda um custo intangível, do processo de preparo.
"Em vez de otimizar a gestão, os empreendedores querem garantir o lucro apenas fixando preços mais altos no cardápio", diz Roberto Braga, autor livro Gestão na Gastronomia (Ed. Senac). Ele cita o desperdício como um dos principais problemas na gestão dos restaurantes.

O homem que amava experimentar as formas

Por Luiz Carlos Merten, estadao.com.br
Ciclo no MIS resgata o alemão Werner Schroeter, autor de grandes filmes que dialogam com a ópera



O homem que amava experimentar as formas
"Seus títulos muitas vezes provocavam incômodo, caso de 'Noite de Cão' "
Há controvérsia se a paixão de Werner Schroeter era a ópera ou a diva Maria Callas. Uma e outra o levaram ao cinema, e seus primeiros filmes eram curtas em 16 mm cujo objetivo parecia ser querer eternizar a persona – as performances – da sublime Maria. Quando começou a fazer longas, Schroeter assimilou códigos narrativos de óperas famosas. Os críticos, inicialmente, não sabiam como reagir perante seus assumidos excessos estilísticos, mas ele terminou por se impor e obter reconhecimento. Ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim por Palermo oder Wolfsburg e o Teddy Bear, o Urso gay, em 2010, no ano de sua morte.
Embora sua iniciação tenha sido um pouco mais tardia – Eika Katappa é de 1969 –, Werner Schroeter não deixa de pertencer à geração que mudou o cinema alemão nos anos 1960. É tempo de lembrá-lo num ciclo que começa hoje no Museu da Imagem e do Som. No começo daquela década, em Oberhausen, os jovens firmaram um documento anunciando o tipo de cinema que queriam fazer. Influenciados pela Nouvelle Vague francesa, sua agenda privilegiava a autoria e a ênfase nas questões sociais e políticas.
Volker Schlöndorff, Alexander Kluge e Werner Herzog foram os arautos daquela geração e no seu bojo vieram Wim Wenders e Rainer Werner Fassbinder. Werner Schroeter e Rosa von Praunheim, outro vencedor do Teddy Bear, seguiram trajetórias mais alternativas. Schroeter triunfou primeiro na Dokumenta de Kassel, com A Morte de Maria Malibran, em 1972. Cinema, ópera, o expressionismo reinventado, num excesso de fazer autores como Ken Russell e Baz Luhrmann parecerem acadêmicos. Cinco anos mais tarde, há uma ruptura com Os Irmãos Napolitanos, documentário que acompanha a vida pobre (miserável?) dos irmãos do título. Quase como um desdobramento dessa experiência, Palermo oder Wolfsburg, mais três anos depois, investiga a dura vida de emigrantes italianos na Alemanha.
Muitos críticos se interrogam sobre o 'velho' Schroeter – e o barroco invade, enfim, as imagens de Concílio do Amor. Jean Tulard faz um definição sucinta do filme em seu Dicionário de Cinema: Deus, para punir a corte dissoluta dos Bórgia, envia a sífilis. Voltam os excessos, a beleza e o horror. A arte de Schroeter muitas vezes foi chamada de 'decadente', mas ele nunca transigiu consigo mesmo – foi sempre crítico. Ao jornal Berliner Zeitung, ele declarou certa vez: "Você faz ou não faz". Pode parecer uma definição empobrecedora de arte e até de atitude perante o mundo, mas não. Schroeter era do tipo que fazia, e por isso você deve entender – ousava.
Ele ganhou seu Teddy Bear pelo experimentalismo radical. Em 2008, ao apresentar o que terminou sendo seu último longa, Nuit de Chien, Noite de Cão, em Veneza, o festival aproveitou e lhe outorgou um prêmio especial por sua contribuição à arte e – sempre – à experimentação no cinema. O cinema de Schroeter nunca é narrativo no mesmo sentido que a palavra serve à obra de outros diretores, como Fassbinder, Herzog e Wenders. Na sua mistura de gêneros e formatos, mas também pela estilização formal e pelas rupturas da narração linear, Schroeter foi único.
Noite de Cão fornece um exemplo interessante do incômodo que seu cinema muitas vezes provocava. O filme baseia-se num livro do uruguaio Juan Carlos Onetti. Pascal Greggory faz o protagonista, que chega a uma cidade fictícia em meio a uma guerra. Tudo o que parece abstrato na escrita de Onetti vira concreto na visualização de Schroeter. Greggory precisa agir, e agir rapidamente. Toma decisões e elas vão num crescendo até o momento em que ele sente que não há fuga possível. O homem em choque com o destino. É como se Schroeter, no ocaso de sua vida – e carreira –, quisesse ser Fritz Lang. Ele morreu em 1970, aos 65 anos.
MOSTRA WERNER SCHROETER
MIS.Avenida Europa, 158, Jardim Europa, De 30/7 a 7/8. Grátis. www.mis-sp.org.br

Todo Dumont, um grande autor que não faz psicologia

Por Luiz Carlos Merten, estadao.com.br
Cineasta do corpo, ele ganha retrospectiva de seus sete filmes, incluindo o recente



Todo Dumont, um grande autor que não faz psicologia
"Juliette Binoche como Camille"
Trata-se de um dos mais exigentes diretores franceses contemporâneos, e muitos críticos comparam Bruno Dumont a Robert Bresson, com quem compartilha a busca da transcendência, a ascese de seus personagens. O próprio Dumont considera a semelhança superficial. Pode parecer arrogante – ele não se interessa por outros autores, exceto Stanley Kubrick e Abbas Kiarostami, nem pela técnica. Faz filmes como quem escreve romances e, aliás, seus roteiros são romances detalhados.
É tempo de prestigiar Bruno Dumont, que ganha retrospectiva completa no CineSesc. O evento será inaugurado nesta quinta, 1/8, com Camille Claudel, o último longa do diretor, lançado em Berlim, em fevereiro, e depois exibido no Festival Varilux, em maio. Todo Bruno Dumont – e de A Vida de Jesus, de 1997, à irmã de Paul Claudel agora, os sete filmes que ele realizou o situam num território próprio, entre o drama realista (e é o que o diferencia de Bresson) e a vanguarda.
O que é a vanguarda em 2013? Por princípio, o artista de vanguarda tem de estar na linha de frente, ser combativo e avançado. Dumont tem discutido questões religiosas (A Vida de Jesus e Hadjewich), questionado a organização social e a guerra (A Humanidade e Flandres). Radicalizando, chegou à 'loucura' de Camille Claudel.
É um cineasta do corpo, e nisso se aproxima de autores como Claire Denis e Gaspar Noë. Trabalha suas cenas em bloco, sem psicologismo. E prefere os atores não profissionais. Pode parecer estranho, considerando-se que sua Camille é uma estrela do porte de Juliette Binoche.
Ela não apenas aceitou as condições do diretor – queria trabalhar com ele –, como Dumont achou que não seria despropositado transformá-la em Camille, uma celebridade em sua época, confrontada com os internos no manicômio. O filme é seco, duro. No limite, Camille atravessa o inferno para encontrar a paz interior. Vale a pena viajar, não apenas em sua história, mas em todo o cinema de Dumont.
MOSTRA BRUNO DUMONT
Cinesesc.Rua Augusta 2.015, 3087-0500.
R$ 2/ R$ 8. De 1º a 8/8.

O filme de monstros do mestre do suspense

Por Luiz Carlos Merten, estadao.com.br
'Os Pássaros', de Alfred Hitchcock, faz 50 anos e ganha edição de luxo



O filme de monstros do mestre do suspense
"Atacada por pássaros de verdade"
Quem viu o recente Hitchcock, de Sacha Gervasi, com Anthony Hopkins, sabe dos problemas que Alfred Hitchcock enfrentava por volta de 1960. Face a uma nova geração de diretores que surgia, ele chegou a ser considerado ultrapassado, mas reagiu, enfrentando tudo e todos, para fazer Psicose, que reinventou seu cinema. Mas não foi fácil, e, se não fosse o apoio de sua mulher, Alma Reville – que o filme aponta quase como coautora –, a história teria sido outra. Seja como for, no desfecho de Hitchcock, o filme, o mestre do suspense, de novo no ápice, não sabe direito que filme vai fazer, ou pelo menos o diz. Num golpe de marketing, o pássaro sinistro vem pousar no seu ombro.
Com Os Pássaros, o problema foi outro e também virou filme – The Girl, A Garota, com Sienna Miller. Obcecado por sua estrela, Tippi Hedren – e ela resistiu a seus avanços –, Hitchcock liberou sua porção mais sádica e dominadora. A pobre Tippi sofreu nas mãos dele, mas, além do papel de Melanie em Os Pássaros, Hitchcock também fez dela a sua Marnie, na obra-prima doente, segundo a definição de François Truffaut, que leva o nome da personagem.
Os três filmes, realizados entre 1960 e 64, compõem uma trilogia. Abordam os complexos de Édipo e Electra. Desde os anos 1940, Hitchcock já vinha fazendo filmes psicanalíticos. Os críticos gostam de dizer, meio de brincadeira, que Freud e ele nasceram um para o outro. É sério, e a trilogia edipiana é o bloco de filmes pelo qual Hitchcock merece seu lugar no panteão dos grandes, por mais que momentos isolados – A Sombra de Uma Dúvida, Janela Indiscreta, Um Corpo Que Cai/Vertigo, escolhido no ano passado, na Inglaterra, como o melhor filme de todos os tempos, e Intriga Internacional – desfrutem de excelente reputação.
Em maio, no Festival de Cannes, ao apresentar a versão restaurada de Um Corpo Que Cai, a própria Kim Novak lembrou que o culto começou depois e, na época, muita gente se decepcionou com Vertigo. Os críticos são assim mesmo. Se dependesse da maioria deles, o cinema não avançaria. Muitos só conseguem pensar dentro de limites estreitos. Hitchcock sabia disso. No livro com a entrevista que concedeu a Truffaut, diz ao discípulo que se preocupe com o 'Japão', um país e uma cultura exóticos e distantes. Era a sua maneira de dizer – aposte na diversidade e no risco.
Os Pássaros está saindo em Blu-Ray numa edição de colecionador que comemora os 50 anos do filme. A Universal caprichou e, além do próprio filme, com imagem e som perfeitos em alta definição, os extras incluem o trailer, o teste de Tippi Hedren, o final original, que foi excluído, uma comparação entre o storyboard e as cenas filmadas, um pôster em tecido e, preciosidade maior, um trecho em áudio do diálogo entre Hitchcock e Truffaut, incluído no livro reeditado pela Cosac Naify.
O cinéfilo agradece, mas o agradecimento vai mesmo é para Hitchcock, por ter feito o filme. Há 50 anos, mais até do que havia ocorrido com Um Corpo Que Cai, o desapontamento foi grande quando surgiu o filme de monstros do mestre. Em Cannes, onde Os Pássaros teve sua première de gala – no ano em que O Leopardo, de Luchino Visconti, venceu a Palma de Ouro -, a recepção foi glacial. O culto veio depois, e hoje o filme é considerado clássico. Em Psicose, baseado no pulp de Robert Bloch, Hitchcock contara a história de um edipiano que mata a mãe e assume seu lugar, numa fissura do inconsciente que transforma Norman Bates num caso emblemático de mente doentia. Norman não tem cura. Mata para proteger seu segredo. Mitch, o personagem de Os Pássaros – que Hitchcock adaptou de um conto de Dafne Du Maurier, autora que já lhe fornecera a história de Rebecca, a Mulher Inesquecível, em 1940 –, pode ter uma mãe dominadora que interfere na sua relação com as mulheres, mas, tal como é interpretado por Rod Taylor no filme, ele não é um assassino. Marnie rouba para compensar sua disfunção sexual, mas, como versão feminina de Norman Bates, ela não apenas tem cura como clama por ela, numa cena-chave.
Melanie (Tippi) conhece Mitch numa loja de animais em São Francisco. Há uma química imediata entre eles e ela se passa por funcionária. Logo em seguida, o segue até Bodega Bay, onde Mitch vive com a mãe. Leva um casal de pássaros numa gaiola. Do nada, é atacada por uma gaivota no barco em que faz a travessia da baía. É o primeiro signo da violência que virá, mas o ataque dos pássaros, com todas as explicações que os personagens buscam para ele, é uma metáfora das relações familiares, do amor possessivo da mãe e do sexo reprimido. Os pássaros voltam-se contra os homens, mas também pode ser que o filme seja uma parábola cristã – para que os homens reassumam sua humanidade e fraternidade.
A nora indesejada é atacada, em muitas cenas se inverte a situação clássica e os humanos ficam presos (em gaiolas?), à mercê dos bicos ameaçadores dos pássaros. O final em aberto segue-se a um ataque particularmente destruidor, em que todos, mãe, filho e nora, precisam se auxiliar mutuamente. O interessante é que os ataques não são o que o filme tem de melhor e, sim, o que os precede – a forma como Hitchcock arma o suspense, na expectativa do apocalipse. Algumas cenas tornaram-se cultuadas e George Romero admite que Os Pássaros foi seu farol para fazer A Noite dos Mortos Vivos, em 1968.
Hitchcock buscou sempre a perfeição técnica e os ataques, avançados em 1963 – com sons eletrônicos, em vez de música – ficaram defasados, face ao que hoje é possível fazer. Mas talvez seja equivocado pensar que o próprio mestre gostaria de refazer as cenas dos pássaros, sem tocar no restante. Elas contribuem para a aura do filme, como o porto em Marnie, que é um telão expressionista. São formas de romper com o realismo que Hitchcock exercitou em poucos filmes – A Sombra de Uma Dúvida, Psicose.
Um aspecto não negligenciável é que Melanie/Tippi, mesmo quando atacada, não grita. Danny Peary, em seu livro sobre cult movies, assinala que poucas mulheres gritam no cinema de Hitchcock – e os casos mais notáveis são a Doris Day de O Homem Que Sabia Demais, a segunda versão, e a Janet Leigh de Psicose.
Tippi, como Marnie, grita para que o marido (Sean Connery) a ajude, mas é um grito de angústia, muito mais que de medo. O caso de Melanie/Tippi possui desdobramentos. Na vida, para punir a atriz que o rejeitava, Hitchcock substituiu por pássaros de verdade o que deveriam ser pássaros de mentira. O silêncio imposto a Melanie também era uma agressão a Tippi. A aura do filme não cessa de crescer.
OS PÁSSAROS – EDIÇÃO DE 50º ANIVERSÁRIO
Direção: Alfred Hitchcock (EUA/1999, 119 min.)
Elenco: Tippi Hedren, Rod Taylor
Distribuidora: Universal, R$ 69,90 - Blu-Ray

Redenção e iluminação espiritual em Tolstoi

Por Luiz Zanin Oricchio, estadao.com.br
Em forma de minissérie, os irmãos Taviani adaptam 'Ressurreição', o último dos grandes romances do escritor russo



Redenção e iluminação espiritual em Tolstoi
"Stefania Rocca vive a infeliz Kátia Máslova"
Freud dizia que era a culpa, e não a fé, que removia montanhas. Sabia do que falava. Assim também sabia Liev Tolstoi, como prova seu último grande romance, Ressurreição, adaptado como minissérie para TV pelos irmãos Paolo e Vittorio Taviani (de Pai Patrão, A Noite de São Lourenço e César Deve Morrer). Na verdade, trata-se de uma microssérie de dois capítulos, totalizando 185 minutos. A atenção do espectador será recompensada em cada um deles.
Como sabem os leitores de Tolstoi, a trama de Ressurreição baseia-se num caso real, relatado ao escritor pelo juiz Koni. O caso é o seguinte: um jovem aristocrata servia como jurado num caso de assassinato quando reconhece na ré a mulher com quem ele próprio havia se relacionado anos atrás. Sentindo-se responsável pela situação, ele se impõe o dever de casar-se com a moça. O desfecho na vida real é triste. Condenada, a mulher morre no cárcere, vítima de tifo.
Nesse pano de fundo, Tolstoi encontra inspiração para escrever um libelo contra a hipocrisia social e a injustiça dos tribunais russos com os acusados pobres. Ele conclui a primeira versão em 1895. O romance saiu em capítulos na revista Niva e conta-se que Tolstoi empregava o dinheiro obtido na ajuda a seguidores da sua doutrina perseguidos pelo czar. Cortada pela censura e mutilada pelos próprios editores, a versão original foi restabelecida apenas em 1933.
Na adaptação, feita em 2001, os Taviani empregam algumas das suas melhores qualidades, conhecidas dos admiradores de seus filmes – um registro fotográfico preciso e caloroso, um rigor de direção que nunca prejudica o afeto em relação aos personagens. Paolo e Vittorio fazem um cinema humanista, o que não significa ser "bonzinho" em relação a todos, mas apenas estar atento à dimensão humana daqueles que são retratados em suas obras. Desse modo, podemos nos reconhecer no príncipe Dimitri Ivanovitch, tanto em seus impulsos de generosidade quanto em suas hesitações. E podemos compreender perfeitamente, embora com espanto, os motivos da acusada Kátia Máslova, que, do fundo da sua desgraça, vê em Dimitri tanto possibilidade de resgate quanto de perdição total.
Esses desvãos de alma, esses saltos abruptos de sentimentos, tão característicos da literatura russa, não são evitados pelos Taviani. Pelo contrário; ao fazer uma adaptação fiel, mas não literal, eles acentuam a trepidação psicológica dos personagens. De tal forma que, se a ideia de sacrifício e expiação da culpa encontram-se presentes em Dimitri, também não estão ausentes em Kátia. A capacidade de renúncia dos personagens produz uma certa dissonância no espectador dos nossos dias, em especial se ele estiver muito contaminado pelo pragmatismo atual. Como entender personagens que não se movem apenas por seu interesse material imediato, e mesmo colocam-se contra eles por seus atos? Pois bem, essa é a contribuição da literatura russa à compreensão da nossa alma paradoxal. Godard dizia que, quando a capacidade de ficção do Ocidente se encontra esgotada, é hora de abastecer-se na Rússia. Em geral, ele sabe do que fala, pois é um raro caso de cineasta que lê.
Na história de Ressurreição, adaptada pelos Taviani, Kátia Máslova é a criada da família de Dimitri que ele, então um estudante, seduz e abandona. A vida de Kátia decai e a leva à prostituição e, em seguida, à acusação de haver envenenado um cliente. É nesse ponto que, passados dez anos, Dimitri a reencontra e resolve purgar seus pecados.
Com ótimas atuações de Stefania Rocca (Kátia) e Timothy Peach (Dimitri), mais a música envolvente de Nicola Piovani, Ressurreição é um drama das consciências culpadas, mas também da redenção e iluminação espiritual.
RESSURREIÇÃO
Direção: Paolo e Vittorio Taviani
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Senador petista cobra de Campos reconhecimento de avanços no País

 Por ANGELA LACERDA / RECIFE, estadao.com.br
Em discurso na sede do governo pernambucano, Humberto Costa fala de 'momento de dificuldade' e pede compromisso



O senador Humberto Costa (PT-PE) cobrou ontem o reconhecimento do governador Eduardo Campos às ações do governo da presidente Dilma Rousseff em relação à seca e seu enfrentamento. Ele fez a cobrança em discurso, durante anúncio de R$ 700 milhões para financiamento de agricultores do semiárido pernambucano, pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas.
Provável candidato à presidência da República, o governador de Pernambuco, que é presidente nacional do PSB, tem feito críticas ao governo, embora se mantenha na base aliada.
"O governo vive um momento de dificuldade, não podemos deixar de reconhecer", disse o senador, ao lado de Campos, na solenidade na sede provisória do governo estadual. "Mas é no momento de dificuldade que é importante reconhecer o que foi feito para o Brasil se desenvolver." Costa destacou o "tratamento especial" do governo federal com Pernambuco e as "importantes obras estruturadoras" para o semiárido em andamento no Estado, a exemplo das adutoras do Pajeú e do Agreste. "Tenho certeza de que foi por isso que Pernambuco votou maciçamente na presidente Dilma, porque sabia que ela iria dar continuidade à atenção que o presidente Lula sempre teve com o Estado", disse o parlamentar petista. Com dezenas de prefeitos pernambucanos na plateia, o senador disse ter certeza, também, de que "o governo estadual, na pessoa de Eduardo Campos, reconhece esse esforço assim como os movimentos sociais, prefeitos e prefeitas haverão de reconhecer".
Em entrevista após o evento, Campos disse não ter "percebido" a cobrança de Costa. No discurso feito minutos antes da entrevista e momentos depois do discurso do ex-ministro, porém, o governador pontuou o fato de o governo federal ter se inspirado em políticas públicas criadas por Miguel Arraes, seu avô, cujo governo beneficiou os pequenos agricultores.
Campos frisou ainda a necessidade de o Nordeste ser prioridade de um plano estratégico do governo federal visando à redução das disparidades sociais e econômicas. "O Nordeste tem um terço dos agricultores familiares do Brasil, mas detém apenas 10% do crédito, numa reprodução do que acontece na economia brasileira: a região tem 28% da população brasileira e somente 13,5% do PIB."
Campos não deixou, no entanto, de reconhecer as iniciativas do governo federal, que incluem a suspensão da execução das dívidas dos agricultores. Frisou que pela primeira vez existe um Plano Safra voltado para o semiárido, região onde a situação do pequeno agricultor ainda é mais dura e difícil. O plano específico para a região abrange também os pequenos e médios produtores, visando à recuperação das cadeias produtivas na área que foi afetada pela maior seca dos últimos 50 anos. "Se não é o ideal, está se fazendo diferente, na direção de se ter uma política que compreenda as circunstâncias de uma região desértica, que tenha sinais de visão estruturante."
Ajuda. Pepe Vargas também discursou. Ele anunciou R$ 7 bilhões para financiamentos no País, sendo R$ 4 bilhões para agricultores familiares. Distribuiu 29 retroescavadeiras, 25 motoniveladoras, 30 pás carregadeiras e 28 caminhões caçambas para 112 municípios de Pernambuco.
Aproveitou, então, para pedir ajuda aos prefeitos presentes. "Prefeitos e prefeitas, façam adesão ao Mais Médicos", pediu ele, referindo-se ao programa federal que vem encontrando resistência da classe médica. O ministro disse que países como Canadá e Austrália têm grande quantidade de médicos estrangeiros, enquanto o Brasil só tem 1%. Ele assegurou que a prioridade do programa é para brasileiros e observou que há 700 municípios sem médicos no Brasil.

Alckmin rebate críticas de Dilma e cobra investimentos federais em metrô

 Por Ricardo Chapola, estadao.com.br
Governador de São Paulo afirmou que a União tenha participação direta no financiamento de metrôs no País e disse que a capital paulista tem boa rede metroviária



Alckmin rebate críticas de Dilma e cobra investimentos federais em metrô
"Governador de São Paulo, Alckmin diz que não colabora com ineficiência do transporte coletivo"
SÃO PAULO - O governador Geraldo Alckmin (PSDB) cobrou nesta quinta-feira, 1º, que a União tenha participação direta nos investimentos de metrôs no País. Ele disse que o governo poderia ter mais financiamento nas obras metroferroviárias após ser questionado se considerava positiva a medida da União de retirar investimentos em mobilidade urbana do cálculo de endividamento dos Estados e municípios.
"É importante a participação do governo federal. Nós poderíamos ter mais financiamento para fazer mais obras. Todos os grandes metrôs do mundo têm grande participação do governo federal", afirmou o tucano, um dia depois de a presidente Dilma Rousseff ter anunciado a liberação de R$ 3,1 bilhões para a construção de corredores de ônibus na capital ao lado do prefeito Fernando Haddad. Na ocasião, Dilma criticou o governo do Estado pelo baixo investimento em metrô.
O governador disse ser positivo o governo federal investir em corredores de ônibus, mas voltou a alfinetar a presidente ao enfatizar que o governo do Estado apresentou à União seis projetos de investimento no metrô e no trem, com verba federal, que totalizariam R$ 10,8 bilhões.
O tucano rebateu ainda as criticas feitas por Dilma à extensão da malha metroviária, durante a sua visita à cidade de São Paulo na quarta-feira, 31. "São Paulo tem uma boa rede." O metrô de São Paulo possui 74 quilômetros de extensão. "Como é possível uma cidade do tamanho de São Paulo sem transporte metroviário?", questionou Dilma na quarta-feira.
Segundo afirmou o governador, a capital conta com 334 km de trilhos - entre metrô e CPTM.

Alckmin cobra de Dilma mais investimentos em metrô

 Por RICARDO CHAPOLA, estadao.com.br
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cobrou nesta quinta-feira que o governo federal tenha participação...



O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cobrou nesta quinta-feira que o governo federal tenha participação direta nos investimentos de metrôs no País. "É importante a participação do governo federal. Nós poderíamos ter mais financiamento para fazer mais obras. Todos os grandes metrôs do mundo têm grande participação do governo federal", afirmou, um dia após a presidente Dilma Rousseff ter anunciado a liberação de R$ 3,1 bilhões para a construção de corredores de ônibus na capital paulista, ao lado do prefeito Fernando Haddad (PT). Na ocasião, Dilma criticou o governo de São Paulo pelo baixo investimento em metrô.
Alckmin disse que não colabora para a ineficiência do transporte público da capital. Questionado se considerava positiva a medida da administração federal de retirar os investimentos em mobilidade urbana do cálculo de endividamento dos governos dos Estados e prefeituras, ele insistiu na crítica à gestão federal para revidar a presidente. "Eu não colaboro para isso (ineficiência do transporte coletivo). Nós poderíamos ter mais financiamento para poder fazer mais obras", afirmou.
Alckmin disse ser positivo o Poder Executivo federal investir em corredores de ônibus, mas voltou a alfinetar Dilma, ao afirmar que o governo estadual apresentou à União seis projetos de investimento no metrô, com verba nacional, que totalizariam R$ 10,8 bilhões. O governador de São Paulo rebateu ainda as criticas feitas por ela à extensão da malha metroviária. "São Paulo tem uma boa rede." O metrô da cidade possui 74 quilômetros de extensão. "Como é possível uma cidade do tamanho de São Paulo sem transporte metroviário?", questionou Dilma, nesta quarta-feira, 31.

Dilma estuda alteração fiscal via Senado

Por estadao.com.br
Alternativa para governo federal incentivar investimentos em obras de transporte público sem mexer na LRF seria modificar resoluções



BRASÍLIA - Com o objetivo de emplacar seu projeto de aumentar os investimentos públicos em transportes, o governo federal estuda mudar resoluções do Senado que regulamentaram a aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Com isso, não seria necessário mexer diretamente na legislação criada para barrar a farra de gastos sem lastro dos governantes.
Nesta semana, o Estado revelou que a presidente Dilma Rousseff está disposta a retirar do cálculo do teto endividamento dos Estados e municípios os financiamentos para obras de mobilidade. Não há consenso no governo sobre o projeto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, se opõe a ele, justamente por abrir brechas para mudança da lei fiscal, algo mal visto no mercado. Ao alterar apenas as resoluções do Senado, esse temor seria afastado, acreditam técnicos do governo.
Uma das alternativas avaliadas é a inclusão de um artigo na Resolução n.º 43, editada originalmente em 2001. A medida permitiria incluir esses investimentos em mobilidade como exceção aos limites de crédito de prefeituras e governos estaduais.
Outra solução, também em estudo pela equipe técnica e jurídica, é alterar a Resolução nº 40, republicada em 2002, modificando o limite da chamada dívida consolidada líquida. Hoje, Estados podem endividar-se até duas vezes a receita corrente líquida. Municípios tem limite menor, de 1,2 vezes sua receita.
Em reunião com dez ministros nesta semana, Dilma decidiu adotar o projeto pró-mobilidade a fim de lidar com uma das principais reivindicações das manifestações de junho: a melhoria do transporte urbano, com a construção de linhas de metrô, trens urbanos, corredores exclusivos para ônibus, veículos leves sobre trilhos, terminais, centros de controle, ciclovias e pavimentação de ruas em grandes e médias cidades.
Várias prefeituras importantes para deslanchar investimentos em mobilidade, como São Paulo, por exemplo, já estouraram o limite de endividamento ou estão muito próximos do teto. A capital paulista chegou, em 2012, a 199,81% do limite de endividamento, medido pelo indicador da dívida consolidada comparada com a receita corrente líquida, segundo Relatório de Gestão Fiscal entregue ao governo. O teto de endividamento, previsto em lei, é de 120%.
O Estado do Rio Grande do Sul, com 218,13%, estourou o limite máximo de 200% permitido pela resolução do Senado. O Rio de Janeiro, com 165,13% em 2012, está próximo desse teto.
Minas fechou o ano passado com 174,54% do limite ocupado por dívidas. O Estado de São Paulo atingiu 153,87%. Goiás fechou 2012 com 101,96%.
A decisão Dilma é defendida no governo à luz de dificuldades de repasse de recursos a prefeitos e governadores. Sob pressão de suas bases eleitorais, deputados e senadores querem respostas concretas para abastecer seus correligionários às vésperas das eleições de 2014.
O pagamento de emendas parlamentares tem sido dificultado, segundo levantamento do Palácio do Planalto, por questões de inadimplência de prefeituras e governos estaduais.
Mudanças anteriores. A Resolução nº 43 já abriu espaço para elevar o endividamento ao permitir exceções aos limites de crédito contratados para o financiamento de infraestrutura para a realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. A media foi autorizada pelo Conselho Monetário Nacional em 2010. Também foram incluídas, em 2003, nesse caso as operações no Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente. Em 2009, foi permitido aos Estados e ao Distrito Federal incluir créditos contratados diretamente com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social no programa de empréstimo aos Estados e ao Distrito Federal. Os financiamentos de projetos de investimento para a melhoria da administração das receitas e da gestão fiscal, financeira e patrimonial também estão contemplados.

Nove partidos deixam 'núcleo duro' do governo e expõem fragilidade da base

Por estadao.com.br
Grupo formado por deputados federais que votam de acordo com orientações do Planalto 90% das vezes ou mais amarga quedas desde a posse de Dilma Rousseff em 2011



Em seu terceiro ano como presidente, Dilma Rousseff assistiu ao esfacelamento do "núcleo duro" de apoio a seu governo na Câmara dos Deputados, que já foi formado por 17 partidos e hoje abriga apenas petistas e remanescentes de outras sete legendas.
O núcleo duro - formado pelos parlamentares que votam com o governo 90% das vezes ou mais - era integrado em 2011 por 306 dos 513 deputados. Ou seja, Dilma podia contabilizar como aliados fiéis seis em cada dez dos membros da Câmara. Desde então, esse núcleo vem encolhendo, e atualmente se resume a 101 deputados, segundo revela o Basômetro, ferramenta online do Estadão Dados que mede a taxa de governismo do Congresso.
Dos nove partidos que abandonaram totalmente a linha de frente de apoio ao governo, três são de tamanho médio - PR, PSD e PSB. Os demais se enquadram na categoria dos "nanicos", com bancadas de menos de dez integrantes (PMN, PTC, PRTB, PSL, PT do B e PRB).
O PMDB, principal aliado do PT em termos numéricos, tem hoje apenas quatro representantes no núcleo duro - desde o final de 2011, 63 peemedebistas abandonaram o grupo e agora se concentram na faixa dos que votam com o governo entre 60% e 89% das vezes. No PP, a debandada foi de 32 deputados para apenas 2. No PDT, de 16 para 2. No PTB só sobrou um dos 19 fiéis.
Com uma base cada vez mais inconsistente, Dilma tem enfrentado dificuldades crescentes para aprovar projetos. Na tentativa de agradar à base, acenou com a abertura dos cofres: na semana passada. Determinou a liberação de R$ 6 bilhões em emendas parlamentares até o final do ano, em três parcelas.
Mesmo assim, há temor de que a estratégia não funcione. Para evitar eventuais derrotas, o governo quer adiar a votação de temas polêmicos.
Palanques. O desmanche do grupo fiel a Dilma se acelera no momento em que os partidos se realinham para medir forças em 2014. O PSB, que já promove a candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tinha taxa de governismo de 95% em 2011, segundo o Basômetro. Em 2013, o índice está em 77% - com tendência de queda. A taxa dos partidos é calculada com base na média dos votos contra e a favor de seus integrantes.
No primeiro ano de mandato de Dilma, o núcleo duro de apoio ao governo tinha 27 deputados do PSB. Em 2012, esse número se reduziu a menos da metade, e em 2013 todos abandonaram o barco.
No PDT, o afastamento pode ser simbolizado pelo comportamento de um de seus principais líderes, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP). Em 2011, ele apoiou o governo em 89% das votações. Neste ano, em apenas 33%.
Dilma só não pode se queixar de seus correligionários: o número de petistas com taxa de fidelidade superior a 90% subiu de 83 em 2011 para 86 em 2013. A presidente nunca dependeu tanto de seu partido: atualmente, o PT tem 85% dos integrantes do núcleo duro - no primeiro ano de mandato, eles eram 27%. / DANIEL BRAMATTI, JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO, AMANDA ROSSI e DIEGO RABATONE

'Nem de esquerda nem de direita', PSD abriga campeões vira-casaca

Por estadao.com.br
João Lyra, Fábio Farias e Ademir Camilo foram fiéis em 2011, ano de fundação da sigla; agora votam contra o governo




Os três principais "desertores" do núcleo duro de apoio ao governo são do PSD, o partido que seu criador, Gilberto Kassab, definiu como "nem de esquerda, nem de direita, nem de centro".
João Lyra (AL), Fábio Farias (RN) e Ademir Camilo (MG)se comportaram como aliados fidelíssimos em 2011, ano em que o PSD foi fundado, com taxas de apoio de 95%, 96% e 96%, respectivamente. Em 2013, os índices caíram para níveis próximos a 45% - menos da metade.
Lyra, usineiro em Alagoas com patrimônio declarado de R$ 240 milhões, participou de poucas votações neste ano, por motivos de saúde. Mas, quando teve oportunidade, contrariou o governo em nove ocasiões, e se alinhou ao Planalto em apenas sete.
Lyra não é volúvel apenas em relação ao governo Dilma Rousseff: desde 1985, já trocou de partido seis vezes e integrou as bases de apoio do tucano Fernando Henrique Cardoso e do petista Luiz Inácio Lula da Silva.
A atuação política nunca o afastou dos negócios. Produtor de etanol, ele tem interesse direto no setor de biocombustíveis, dominado pela Petrobrás. Já foi acusado de explorar trabalho escravo e até denunciado como mandante de assassinato. Nunca foi condenado.
O Estado procurou o deputado na quinta-feira para entrevistá-lo, mas sua assessoria informou que ele estava viajando. Fábio Farias não respondeu aos pedidos da reportagem, e Camilo não foi localizado - ninguém atendeu aos telefonemas a seus escritórios em Brasília e Belo Horizonte na sexta-feira.
Os três deputados já integravam a base governista antes de aderir ao PSD, no primeiro ano de mandato de Dilma. Outros parlamentares, porém, eram do oposicionista DEM. Ao trocar de legenda, deram uma guinada comportamental e passaram a votar a favor do governo.
Nos últimos meses, porém, o PSD vem se afastando de Dilma. Neste ano, foram 20 as ocasiões em que o partido votou em peso contra a orientação do Executivo. Sua taxa de governismo, segundo o Basômetro, é de 64% - uma queda de 10 pontos porcentuais em relação a 2012.