quarta-feira 15 2015

Lava Jato: Vaccari pagou gráfica ligada ao PT com dinheiro de propina


Empresa foi multada com a CUT por fazer campanha irregular para a presidente Dilma Rousseff em 2010

Por: Felipe Frazão, Laryssa Borges, e Alexandre Hisayasu, de Curitiba
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, compareceu ao IML para realizar exame de corpo delito em Curitiba
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, sendo conduzido algemado para o IML para fazer exame de corpo delito em Curitiba(Paulo Lisboa/Folhapress)
Os investigadores da Operação Lava Jato descobriram indícios de que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, preso nesta quarta-feira pela Polícia Federal em São Paulo, usou recursos desviados da Petrobras e da Sete Brasil para quitar dívidas com uma gráfica ligada ao partido - e que foi multada por fazer campanha irregular para a presidente Dilma Rousseff em 2010. A informação surgiu em depoimento do executivo Augusto Ribeiro, da Setal Oléo e Gás (SOG), ao Ministério Público Federal e foi uma das razões listadas pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba (PR), para decretar a prisão preventiva do petista.
A mando de Vaccari, duas empresas controladas por Augusto Ribeiro - Tipuana e Projetec - realizaram pagamentos que somam 1,5 milhão de reais à Editora Gráfica Atitude, entre 2010 e 2013, por meio de repasses mensais. Os depósitos foram comprovados pelo Ministério Público. Ribeiro disse, porém, que Vaccari teria pedido o pagamento de 2,5 milhões de reais em troca de supostos anúncios impressos em revistas da gráfica e editora.
Em 2012, a Gráfica Atitude foi multada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por distribuir revistas e jornais impressos para a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e que foram considerados propaganda ilícita a favor da campanha da presidente Dilma Rousseff. De acordo com a então ministra do TSE Nancy Andrighi, o Jornal da CUT, de setembro de 2010, e a Revista do Brasil, da Editora Atitude, de outubro de 2010, publicados também no site da central sindical, enalteceram Dilma e fizeram propaganda negativa sobre o então candidato do PSDB à Presidência, José Serra. A gráfica e a CUT foram obrigadas a pagar 15.000 reais cada como multa.
O juiz Sérgio Moro descreveu a operação financeira como uma "espécie de doação não-contabilizada" - caixa dois. "Observo que, para esses pagamentos à Editora Gráfica Atitude, não há como se cogitar, em princípio, de falta de dolo dos envolvidos, pois não se tratam de doações eleitorais registradas, mas pagamentos efetuados, com simulação, total ou parcial, de serviços prestados por terceiro, a pedido de João Vaccari Neto", anotou o magistrado.
A Justiça Federal suspeita que a gráfica tenha simulado serviços e que tenham sido usados contratos de gaveta de compra de anúncios para justificar os pagamentos. "Segundo essa nova revelação, os recursos criminosos teriam sido utilizados não só para a realização de doações registradas ao Partido dos Trabalhadores, mas também para a realização de pagamentos por serviços, total ou em parte, simulados pela referida Editora Gráfica Atitude, isso por indicação de João Vaccari Neto", escreveu Moro.
O Ministério Público Federal pediu ao juiz a quebra dos sigilos bancário e fiscal da Gráfica Atitude para saber se a empresa recebeu recursos de empreiteiras envolvidas no "clube do bilhão". "Essa gráfica tem histórico de ligações político-partidárias e está, sim, sendo investigada no esquema de corrupção com o Vaccari", disse o delegado da PF Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, no Paraná.
Leia o trecho do depoimento de Augusto Ribeiro Mendonça:
"João Vaccari pediu ao colaborador que, ao invés da realização de doações ao Partido dos Trabalhadores - PT, contribuísse com pagamentos a Editora Gráfica Atitude, sediada em São Paulo/SP; que indagado qual foi a exata forma e a causa pela qual João Vaccari pediu que tais pagamentos fossem feitos, o colaborador mencionou que João Vaccari pediu nestas oportunidades que o colaborador fizesse tais pagamentos para que fossem publicados propagandas em revista pertencentes à Editora Gráfica Atitude; que o colaborador nem sequer sabe dizer se tais anúncios/propagandas foram de fato publicados, visto que a SOG/SETAL não possuía qualquer interesse comercial em publicar anúncios na revista, tendo efetuado os pagamentos apenas ante ao pedido de João Vaccari e ao fato de que eles seriam baixados dos valores de vantagens indevidas prometidas a Diretoria de Serviços (...) que o colaborador menciona que em pelo menos três oportunidades João Vaccari solicitou ao declarante que efetuasse tais contribuições ao Partido dos Trabalhadores mediante pagamentos a Editora Gráfica Atitude, cada uma delas nos anos de 2010, 2011 e 2013; que em decorrência destes pedidos o colaborador acredita ter efetuado pagamentos a Editora Gráfica Atitude, por suas empresas SOG/SETAL, na ordem de R$ 2,5 milhões, sendo que os pagamentos foram efetuados de forma parcelada, mês a mês, neste período; (...) que para justificar tais pagamentos, assim como ocorreu em relação às empresas controladas por Alberto Youssef, MO, Rigidez, RCI, foram celebrados contratos de prestação de serviços entre suas empresas, provavelmente a SETEC Tecnologia S/A e a SOG Óleo e Gás, com a Editora Gráfica Atitude; (...) que não se recorda se de fato, foram feitos alguns anúncios pela Editora Gráfica Atitude em favor da SOG/SETAL, mas pode afirmar com certeza, que se de fato foram feitos anúncios eles custariam muito menos do que os mais de R$ 2 milhões de reais que foram repassados por suas empresas a Editora Gráfica Atitude."

Lava Jato apura enriquecimento ilícito da mulher e filha de Vaccari


Investigações apontam que as duas movimentaram por suas contas bancárias dinheiro sem justificativa factível

Por: Laryssa Borges, de Brasília, Alexandre Hisayasu e Felipe Frazão
O tesoureiro do PT e ex-presidente da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), João Vaccari Neto, durante depoimento à CPI das ONGs, sobre desvio de recursos da cooperativa e a existência de recursos públicos na Bancoop, no Senado em 2010
O tesoureiro do PT João Vaccari Neto(Sérgio Dutti/Estadão Conteúdo)
As mais recentes investigações da Operação Lava Jato, que levaram o tesoureiro do PT João Vaccari Neto à prisão na manhã desta quarta-feira, apontam que a mulher do petista, Giselda Rousie de Lima, e a filha do casal Nayara de Lima Vaccari movimentaram por suas contas bancárias dinheiro sem justificativa factível - o que indica que as duas podem ter enriquecido ilicitamente a partir de desdobramentos do escândalo do petrolão. Os indícios de participação da família de Vaccari em atos criminosos foram apresentados pelo Ministério Público ao juiz Sergio Moro, que coordena as investigações sobre a Lava Jato em primeira instância.
Com autorização da Justiça, foram quebrados os sigilos bancário e fiscal de Vaccari, da mulher dele, da filha e da cunhada, Marice Correa de Lima, já citada em outras etapas da investigação como beneficiária do esquema de propina instalado na Petrobras. A partir do acesso aos dados das contas bancárias e das declarações de Imposto de Renda da família do tesoureiro petista, os investigadores concluíram que Nayara de Lima Vaccari teve "significativo acréscimo patrimonial" entre 2009 a 2014, passando de 240.000 reais para mais de 1,6 milhão de reais no período. Na mesma época, Nayara era apenas uma residente em medicina e não havia declarado ao Fisco nenhum rendimento tributável em seu trabalho.
Todos os valores movimentados nas contas bancárias da filha de Vaccari vieram do pai, da mãe e da tia por meio de doações e empréstimos. Na avaliação do Ministério Público, porém, os sinais de enriquecimento ilícito ganham força porque os depósitos foram fracionados para dificultar rastreamento e - mais importante - 32,7% do dinheiro não tem origem identificada.
Segundo o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima a mulher e a filha de Vaccari são consideradas investigadas por lavagem de dinheiro. Ele classificou as operações como "muito suspeitas, típicas de lavagem de dinheiro."
A mulher de Vaccari entrou no radar das investigações da Lava Jato depois que uma empresa de Carlos Alberto Pereira da Costa, laranja do notório doleiro Alberto Youssef, fez um depósito de 400.000 reais em sua conta em novembro de 2008. Parte dos valores foi utilizada por Giselda para a compra de um apartamento em São Paulo. Na triangulação do esquema, a mulher de Vaccari recebeu em 2008 o dinheiro da CRA Comércio de Produtos Agropecuários, utilizou parte para a aquisição do imóvel e, em dezembro de 2009, transferiu de volta os 400.000 reais para a conta da CRA.
A operação financeira foi considerada suspeita pelos investigadores porque a CRA é uma empresa com capital social de apenas 10.000 reais e controlada por Carlos Alberto Pereira da Costa, braço de Youssef na empresa de fachada GFD Investimentos, uma espécie de central de lavagem de dinheiro utilizada cotidianamente no escândalo do petrolão.
As provas de que o tesoureiro João Vaccari Neto abasteceu os cofres petistas com dinheiro do propinoduto da Petrobras ganharam contornos mais claros após a delação premiada do ex-gerente da estatal Pedro Barusco, que afirmou que o petista embolsou até 200 milhões de dólares em dinheiro desviado do esquema criminoso. As citações sobre as articulações criminosas do secretário de Finanças do PT também foram feitas por outros delatores, como o doleiro Alberto Youssef, que apontou o partido como beneficiário direto do dinheiro sujo do petrolão: disse, por exemplo, que a sigla recebeu propina em uma obra da empresa Toshiba, a licitação da casa de força do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Segundo ele, foram entregues 400.000 reais à cunhada do tesoureiro petista, Marice. "O valor do PT foi negociado com João Vaccari", disse Youssef em depoimento. Outra parcela de 400.000 reais chegou a Vaccari pelas mãos de Rafael Ângulo Lopez, que trabalhava para o doleiro.
A exemplo de Vaccari, Marice Correa de Lima teve a prisão temporária decretada nesta quarta-feira por ordem do juiz federal Sergio Moro. Ela, no entanto, não foi encontrada em seu apartamento em São Paulo e é considerada foragida. As investigações da Polícia Federal e do Ministério Público mostraram "inconsistências fiscais" nas declarações de Imposto de Renda de Marice e indicativos de que parte de seu patrimônio pode ter sido construído a partir do pagamento de propina envolvendo a construtora OAS. A empreiteira é uma das empresas do Clube do Bilhão, cartel de companhias que fraudaram contratos da Petrobras e distribuía propina a agentes públicos e parlamentares.
"Marice é suspeita de ser uma operadora do esquema de corrupção com o Vaccari", disse o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima.
A partir da quebra de sigilo bancário e fiscal de Marice, os investigadores descobriram que a cunhada da Vaccari recebeu pagamentos da OAS no valor de 432.000 reais pela venda de um apartamento no Guarujá (SP) cerca de dois anos após ela mesma ter adquirido o imóvel por 200.000 reais. Para os investigadores, "a possível fraude é reforçada pela verificação de que a OAS vendeu em 16/12/2013 o mesmo apartamento por R$ 337.000, valor significativamente abaixo dos R$ 432.000". No final da transação, os valores recebidos da OAS serviram de lastro para justificar o suposto empréstimo à filha de Vaccari, Nayara.
Em um indício de possível fraude, Marice também declarou ter recebido em 2011, 240.000 reais, justificando os valores como indenizações por rescisão de contrato de trabalho em um programa de demissão voluntária. Entre 2009 e 2012, porém, a cunhada do tesoureiro do PT se manteve no mesmo emprego e não sacou valores do FGTS, o que, para o Ministério Público, é prova de que os 240.000 reais não foram justificados corretamente.

Aretha Franklin - I say a little prayer ( Official song )





Vaccari, o homem da mochila - O PT desviou meio bilhão de reais dos cofres da Petrobras ao longo de dez anos


Daniel Pereira e Robson Bonin - Veja

O DINHEIRO FOI USADO, ENTRE OUTRAS COISAS, PARA FINANCIAR AS CAMPANHAS ELEITORAIS DO PARTIDO DE 2010 E 2014


CODINOME MOCH - João Vaccari: homem de confiança do ex-presidente Lula, o tesoureiro era o elo financeiro entre os corruptos e os corruptores que atuavam na Petrobras
CODINOME MOCH - João Vaccari: homem de confiança do ex-presidente Lula, o tesoureiro era o elo financeiro entre os corruptos e os corruptores que atuavam na Petrobras      (VEJA)
Em outubro passado, os investigadores da Operação Lava-Jato, reunidos no quartel-general dos trabalhos em Curitiba, olhavam fixamente para uma fotografia pregada na parede. A investigação do maior esquema de corrupção da história do país se aproximava de um momento decisivo. Delator do petrolão, o ex-diretor Paulo Roberto Costa já havia admitido que contratos da Petrobras eram superfaturados para enriquecer servidores corruptos e abastecer o cofre dos principais partidos da base governista. 
Na foto afixada na parede, Paulo Roberto aparecia de pé, na cabeceira de uma mesa de reunião, com um alvo desenhado a caneta sobre sua cabeça. Acima dela, uma anotação: “dead” (morto, em inglês). Àquela altura, a atenção dos investigadores estava voltada para os outros personagens da imagem. 
Era necessário pegá-los para fechar o enredo criminoso. Em novembro, exatamente um ano depois de a antiga cúpula do PT condenada no mensalão ter sido levada à cadeia, o juiz Sergio Moro decretou a prisão de executivos das maiores empreiteiras brasileiras, muitos dos quais aparecem abraçados a Paulinho, sorridentes, na fotografia estampada no Q.G. da Lava-Jato. A primeira etapa da missão estava quase cumprida.
Entre os alvos listados na foto, apenas um ainda escapava aos investigadores. Justamente o elo da roubalheira com o partido do governo, o personagem que, sabe-se agora, comprova com cifras astronômicas como o PT — depois de posar como vestal nos tempos de oposição — assimilou, aprimorou e elevou a níveis inimagináveis o que há de mais repugnante na política ao conquistar o poder. 
Na quinta-feira passada, agentes da Polícia Federal chegaram à casa do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, com uma ordem judicial para levá-lo à delegacia a fim de prestar esclarecimentos sobre seu envolvimento no petrolão. Vaccari recusou-se a abrir o portão. Os agentes pularam o muro para conduzi-lo à sede da PF em São Paulo. 
Eles também apreenderam documentos, aparelhos de telefone celular e arquivos eletrônicos. Esse material não tinha nada de relevante. Vaccari, concluíram os agentes, já limpara o terreno. Num depoimento de cerca de três horas, o tesoureiro negou as acusações e jurou inocência. Nada que abalasse o ânimo dos investigadores. No Q.G. da Lava-Jato, um “dead” já podia ser escrito sobre a cara carrancuda do grão-petista.
A nova fase da operação foi um desdobramento de depoimentos prestados pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, em novembro, como parte de um acordo de delação premiada. Barusco conquistou um lugar de destaque no panteão da corrupção ao prometer a devolução de 97 milhões de dólares embolsados como propina, uma quantia espantosa para um servidor de terceiro escalão. 
Ao falar às autoridades, ele disse que o PT arrecadou, entre 2003 e 2013, de 150 milhões a 200 milhões de dólares em dinheiro roubado de noventa contratos da Petrobras. Segundo Barusco, o principal operador do PT no esquema nos últimos anos era Vaccari, chamado por ele de “Mochila”, por andar sempre com uma mochila a tiracolo. 
Barusco contou que o tesoureiro — identificado como “Moch” nas planilhas que registravam o rateio do butim surrupiado — participou pessoalmente das negociações, por exemplo, para a cobrança de propina de estaleiros contratados pela Petrobras. Descendo a detalhes, Barusco narrou ainda uma história que, apesar de envolver um valor bem mais modesto, tem um potencial político igualmente explosivo.
O ex-gerente declarou que, em 2010, o então diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, solicitou ao representante da empresa holandesa SBM no Brasil, Júlio Faerman, 300 000 dólares para a campanha petista daquele ano, “provavelmente atendendo a pedido de João Vaccari Neto, o que foi contabilizado pelo declarante à época como pagamento destinado ao Partido dos Trabalhadores”. 
Em 2010, Dilma Rousseff disputou e conquistou o primeiro de seus dois mandatos presidenciais. A situação do tesoureiro do PT deve se agravar nos próximos dias com o avanço das negociações para o acordo de delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC. Pessoa coordenava “o clube do bilhão”, o grupo das empreiteiras que desfalcava a Petrobras. Vaccari recorria a ele com frequência para resolver os problemas de caixa do PT. Os dois conversaram várias vezes no ano eleitoral de 2014. 
Num desses encontros, segundo integrantes da investigação que já ouviram uma prévia das histórias pouco edificantes prometidas por Pessoa, Vaccari negociou com a UTC o recebimento de 30 milhões de reais em doações eleitorais. Cerca de 10 milhões de reais seriam destinados à campanha à reeleição de Dilma Rousseff. Os 20 milhões restantes, distribuídos por Vaccari ao PT e aos partidos da base aliada.     
Leia a continuação dessa reportagem em Veja

MC Hammer - U Can't Touch This



Com Vaccari preso, oposição fala em 'PT na cadeia'. E o partido ataca Justiça


Petistas fazem reunião de emergência para discutir o caso, e chegam a falar em 'prisão política'. Opositores dizem que partido virou uma lavanderia

Por: Laryssa Borges e Gabriel Castro, de Brasília

O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, compareceu ao IML para realizar exame de corpo delito em Curitiba
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, sendo levado algemado para o IML para fazer exame de corpo delito em Curitiba(Paulo Lisboa/Folhapress)
Depois de ter desqualificado o Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão, tratando como heróis próceres do partido condenados por corrupção, o PT voltou a adotar nesta quarta-feira o conveniente discurso de que seria "vítima" de forças políticas que alega estarem interessadas em destruir a imagem do partido. Apesar dos fartos indícios de que o tesoureiro petista João Vaccari Neto recebeu milhões em propina no escândalo do petrolão, a sigla insiste em dizer que todas as doações do partido são legais. E mais: o líder do partido na Câmara dos Deputados, Sibá Machado (PT-AC), o mesmo que chegou a atribuir à CIA uma suposta campanha de enfraquecimento de governos sul-americanos, disse hoje que a prisão do correligionário é "política".
"Eu acho que a prisão é política. Temos uma posição muito clara sobre Vaccari. Ele não fez nenhum tipo de arrecadação fora do que determina a lei brasileira. Estamos extremamente desconfiados de que há uma orientação deliberada nessas delações premiadas para prejudicar o PT", disse Machado. As investigações da Lava Jato indicam, contudo, que as doações de empreiteiras integrantes do chamado clube do bilhão declaradas pelo PT à Justiça Eleitoral era uma forma de lavagem de dinheiro do petrolão.
No Congresso, a maior parte dos petistas evitou comentar publicamente os motivos que levaram à prisão de Vaccari, apontado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco como o destinatário de até 200 milhões de dólares em propina. "Não tenho informação suficiente para fazer um julgamento de se a prisão cabia ou não cabia. Até o momento contra várias coisas que foram alegadas não foram apresentadas provas, mas não sabemos o que a justiça, a Polícia Federal e o Ministério Público têm", limitou-se a comentar o líder do PT no Senado Humberto Costa (PT-PE).
O relator da CPI da Petrobras, Luiz Sérgio (PT-RJ), disse ao site de VEJA que a prisão de Vaccari não deve ter influência sobre as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito. "A CPI vai continuar na sua dinâmica e no seu planejamento", diz ele. Mas, na prática, deve aumentar a pressão por uma acareação entre Vaccari e os delatores do esquema.
Luiz Sérgio também reconheceu que a prisão constrange o partido, embora critique a condução das investigações da Lava Jato. "Qualquer prisão cria evidentemente um constrangimento. Mas a informação que eu tenho é de que foi uma prisão temporária, por cinco dias, para aprofundar as investigações. A lógica que nós tínhamos visto até então é que se apurava e, com base na apuração, prendia. Agora nós estamos vendo uma inversão. Prende para depois apurar".
Indagado sobre a necessidade de afastamento de Vaccari do partido, Luiz Sérgio reconheceu que isso deve acontecer. "O acontecimento de hoje evidentemente cria uma dificuldade muito grande para ele", afirmou o petista.
Entre os partidos oposicionistas, a avaliação é de que a prisão do tesoureiro petista reforça a tese que o PT, depois de ter amargado desgaste com as falcatruas do ex-tesoureiro Delúbio Soares, condenado no julgamento do mensalão, utilizou doações eleitorais por meio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para lavar dinheiro da propina do petrolão. Em sua sugestão de pacote anticorrupção, o Ministério Público defende a possibilidade de extinção de siglas políticas que corriqueiramente tenham se abastecido de dinheiro resultado de crime.
Para o líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (RJ), a prisão de Vaccari comprova "que o mensalão foi o protótipo do petrolão, dois esquemas de corrupção criados para drenar dinheiro público para os cofres do PT com o objetivo de financiar o projeto partidário em detrimento dos interesses do país".
"O PT transformou a Justiça Eleitoral em lavanderia. É o segundo tesoureiro preso por envolvimento em corrupção", disse o líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). "O PT não tem credencias de partido político, e sim de lavanderia. O partido é reincidente ao ter o tesoureiro Vaccari, sucessor de Delúbio Soares, flagrado e preso por arrecadar dinheiro desviado de empresas públicas para alimentar suas campanhas e encher os bolsos de seus dirigentes", completou o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Para Caiado, a reincidência de irregularidades no alto escalão do PT já seria suficiente para que a sigla pudesse perder o registro eleitoral. "Diante desse cenário, tudo caminha para que o PT perca o registro de partido político. E, comprovado que a presidente Dilma foi beneficiada por esse esquema em suas campanhas, será mais que suficiente para ela perder o mandato por corrupção", afirmou.
"A prisão do tesoureiro do PT, mantido na função, não pode deixar de ser vista como a prisão preventiva do próprio PT", disse o presidente do Democratas José Agripino. "A máxima do dia é que mentira tem perna curta. Vaccari foi preso menos de uma semana depois de mentir descaradamente na CPI da Petrobras", declarou o líder do DEM na Câmara Mendonça Filho (DEM-PE). "A prisão do tesoureiro representa o PT na cadeia. Prisão preventiva é assunto sério e sinaliza que solto ele poderia atrapalhar as investigações e apagar os rastros da roubalheira comandada pelo PT não só na Petrobras, mas em outros setores do governo", afirmou o líder do PPS na Câmara Rubens Bueno.

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Acareação entre Vaccari e delatores é inevitável, diz presidente da CPI


Tesoureiro do partido depôs nesta quinta-feira, mas pouco disse aos parlamentares. Advogado diz que Vaccari comparecerá à acareação

Por: Gabriel Castro, de Brasília
Os deputados Hugo Motta (PMDB), Luiz Sérgio (PT) e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto
Os deputados Hugo Motta (PMDB), Luiz Sérgio (PT) e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto(Luis Macedo/Câmara dos Deputados)
O presidente da CPI da Petrobras, Hugo Mota (PMDB-PB), disse nesta quinta-feira que é inevitável uma acareação entre o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e os delatores que o acusam de captar propina para o partido. "Essas acareações são inevitáveis, até para que a CPI possa atingir o resultado esperado", disse o presidente após o depoimento de Vaccari à Comissão Parlamentar de Inquérito.
Hugo Motta disse ainda que a postura evasiva do tesoureiro, que obteve até mesmo um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal para livrá-lo do compromisso de dizer a verdade, deixou a desejar. "Eu não posso dizer que fico satisfeito com um depoimento em que várias perguntas não foram esclarecidas. Acredito que a sociedade brasileira e os parlamentares esperavam um pouco mais", disse ele.
Já o advogado de Vaccari, Luiz Flávio D'Urso, considera que o depoimento atingiu o seu objetivo. "A expectativa da CPI era de que ele trouxesse informações... Muitas informações ele trouxe dentro do que tem conhecimento", afirmou.
O defensor disse ainda que o habeas corpus era um direito natural de Vaccari. "O direito de evitar a autoincriminação é um direito de todos, independentemente de responder ou não a um processo".
D'Urso disse também que Vaccari está disposto a comparecer a uma eventual acareação. "Ele está disposição como sempre esteve, das autoridades. Se essa for a orientação da Casa, vai comparecer sem problema nenhum".

Lava Jato: Vaccari é preso pela PF em São Paulo


Tesoureiro nacional do PT é um dos alvos da 12ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta quarta-feira em São Paulo

Por: Carolina Farina e Felipe Frazão
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, depõe na CPI da Petrobras
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, depõe na CPI da Petrobras(Luis Macedo / Câmara dos Deputados/Divulgação)
A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, em São Paulo, na 12ª fase da Operação Lava Jato. Ele será levado para Curitiba (PR) por ordem do juiz federal Sérgio Moro.
Os agentes da PF também cumprem na capital paulista um mandado de busca e apreensão, um mandado de prisão temporária e um mandado de condução coercitiva. Todos os alvos serão levados para a Superintendência da PF em Curitiba (PR).
Vaccari foi apontado por delatores do petrolão, como o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, como um operador de propinas para o PT. Em seu acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, Barusco disse que o tesoureiro petista recebeu, em nome do partido, de 150 milhões a 200 milhões de dólares em propinas de 2003 a 2013, por meio de desvios e fraudes em contratos com a Petrobras. Barusco se comprometeu a devolver 97 milhões de dólares recebidos como suborno.
Dois empreiteiros que foram presos, Eduardo Leite (Camargo e Corrêa) e Gerson Almada (Engevix), também relataram em depoimentos à Justiça Federal que Vaccari pedia que os pagamentos de propina ao partido fossem dissimulados na forma de doações eleitorais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo Leite, Vaccari sugeriu que ele depositasse em contas de campanha cerca de 10 milhões de reais cujo repasse estava "atrasado", em 2010.
Na semana passada, Vaccari depôs na CPI da Petrobras e negou todas as acusações feitas pelos delatores. Apesar disso, admitiu encontros com Barusco e com o diretor de Serviços da estatal Renato Duque, outro indicado do PT e do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Duque era uma espécie de representante dos interesses do partido e de construtoras do "clube do bilhão" na Petrobras, segundo as investigações, e teve cerca de 20 milhões de euros bloqueados na Suíca. O tesoureiro petista também admitiu aos deputados na CPI que frequentou o escritório do doleiro Alberto Youssef, principal delator do petrolão. Youssef disse que mandou entregar ao tesoureiro 800.000 reais em dinheiro, em depoimento ao juiz Sérgio Moro.