segunda-feira 20 2012

Marisa Monte - Depois ( Oficial )

Mozart Concerto #2 in D Maj. 1st mvt; Nadia Labrie Similia

Kate Middleton mostra que para sair linda em fotos basta ser natural



Beckanne Sisk

Diana y Acteon (HD) - Anastasia Stashkevich - Vyacheslav Lopatin (2011).avi

Mozart - Concerto for Flute and Orchestra G-dur K 313 (285C) Emmanuel ...

Grandes Felinos de Africa

Perguntei a um sábio , a diferença que havia entre amor e amizade, ele me disse essa verdade...

Bom dia para todos Nós!
Hoje teremos um super dia, acreditem e assim será.

"Perguntei a um sábio ,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas ,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração."
William Shakespeare

Brasileirinho - Grandes Encontros do Choro (2005)

Chico Buarque - Futuros Amantes

Entenda a lei da atração pela yoga


"Com a prática de ir cortando na raiz os pensamentos negativos pelos seus opostos, a turbulência da mente vai diminuindo e você vai se sentir mais confiante, tranquilo e seguro"



Todos nós buscamos a felicidade e tudo que fazemos é para alcançar a felicidade. Porém, precisamos entender: o treinamento da mente positiva é o caminho para a verdadeira felicidade.Cultivar estados mentais positivos conduz a uma melhor saúde física, mental e emocional.
Apesar de estarmos vivendo uma época de muito consumismo, de materialismo, de muita tecnologia, está surgindo, ao mesmo tempo, um movimento direcionado para valores espirituais em todo o mundo.
Muitas pessoas estão interessadas em palestras espirituais, em yoga, em meditação, em livros de autoajuda. Estão buscando ficar livres da ansiedade, dos medos, da depressão, de condicionamentos limitantes, de todas as dores da alma que tiram a alegria e paz interior.
"Alcance o autodomínio através da vigilância constante da mente. Não desista, não desanime se não conseguir logo suas metas e desejos"A Filosofia e Ciência do Yoga ensina há mais de cinco mil anos sobre o poder do pensamento positivo; como lidar com a mente e conquistar uma mente tranquila, silenciosa, com autodomínio.
Através da prática regular da meditação, da Hatha yoga, vamos sentindo apaziguamento, mais serenidade, discernimento e aprendendo a arte de ser feliz.
Livros como “O Segredo”, de Rhonda Byrne, e livros como “A Lei da Atração, O Segredo colocado em prática”, de Michael Losier, podem nos ajudar a entender e colocar em prática o poder da mente positiva.
"Tenha cuidado com seus pensamentos. Cada pensamento é como um bumerangue. Tudo que sua mente enviar, volta para você"Entenda sobre a Lei da Atração: Ela responde a qualquer vibração que você emite, seja positiva ou negativa. E, ela responde às suas vibrações, dando-lhe o que você pensa e sente.
Contemple esses ensinamentos do livro “A Lei da Atração, o Segredo colocado em prática”:
“A Lei da Atração pode ser definida da seguinte maneira: Atraio para a minha vida qualquer coisa à qual dedico atenção, energia e concentração, seja ela positiva ou negativa”.
“Quer sua vibração seja positiva, quer seja negativa, a Lei da Atração vai lhe dar mais dessa coisa”.
“Para saber se está emitindo vibrações positivas ou negativas a respeito de algo, dê uma olhada nos resultados que tem obtido nessa área da sua vida. Eles são o reflexo perfeito daquilo que você está vibrando.”
Reflita sobre a importância do pensamento positivo. Compreenda como ele cria, constrói, transforma, renova. É uma verdadeira alquimia. Tem o poder de mudar sua vida para melhor.
Tenha cuidado com seus pensamentos. Cada pensamento é como um bumerangue. Tudo que sua mente enviar, volta para você. Pense o que deseja para você e não pense o que não deseja.
Compreenda também o poder das palavras que você diz: “Quando você se ouve dizendo uma frase que contém a palavra não, está efetivamente investindo atenção e energia naquilo que não quer. Simplesmente pergunte a sim mesmo: - Então, o que eu realmente quero? “
“ Quando passa daquilo que não quer para aquilo que quer, as palavras se modificam. Quando as palavras se modificam, a vibração se modifica, e você só pode emitir uma vibração de cada vez.”.
Entenda que o pensamento e as palavras positivas geram vibrações positivas; que o pensamento e as palavras negativas geram vibrações negativas e que você atrai para sua vida o que pensa, sente e fala.
Em vez de ficar de mau humor, reclamando, se lastimando, agradeça pelo que já possui. E assim, você vai atrair mais proteção, prosperidade, bons relacionamentos, boas oportunidades, mais realizações.
Amanheça agradecendo o dia. Comece ajustando a frequência do seu dia a uma energia positiva, alimentando o entusiasmo, a força interior. E ao dormir, agradeça novamente pelo seu dia, pelo seu corpo, pela dádiva da vida; e conte quantas bênçãos, quantas coisas boas você tem.
A conquista da mente não pode ser conseguida de um dia para noite. Você vai perceber que com a prática de ir cortando na raiz os pensamentos negativos pelos seus opostos, a turbulência da mente vai diminuindo e você vai se sentir mais confiante, tranquilo e seguro.
Alcance o autodomínio através da vigilância constante da mente. Não desista, não desanime se não conseguir logo suas metas e desejos. É muito importante persistir, renovar suas resoluções a cada a amanhecer e a cada anoitecer.
Crie um forte sentimento e uma emoção positiva usando a expressão: “Decidi...”

Mude suas palavras, suas frases para que emitam vibrações positivas tirando a ideia de falta e criando força interna para realização de seus desejos.
Fale e pense:

- Eu decidi ser feliz.
- Eu decidi atrair o melhor para minha vida.
- Decidi atrair tudo que preciso para ter saúde física e mental.
-Decidi que vou atrair meu emprego ideal.
-Decidi que vou viver um relacionamento feliz.
-Decidi que vou ter mais prosperidade.
Você merece ser feliz. Escolha vibrar positivamente e atrair a felicidade. Fique em paz! Deus em mim saúde e agradece Deus em você!

Kobayashi Kaori -Nothing gonna change my love for you

Bom dia!

Pro dia nascer feliz Rock in Rio 1985

Saiba como lidar com suas expectativas para não se frustrar


A vida não é feita de expectativas, é feita de escolhas!


Expectativas são esperas ansiosas e produzem um efeito danoso em nossas vidas quando excedem os padrões da realidade.
É da natureza humana gerar expectativas com relação às coisas, o problema é que nossa imaginação é muito fértil e nossos desejos excedem nossa compreensão da realidade. Nestas condições criamos expectativas com pouca ou nenhuma chance de acontecerem e caminhamos rumo à decepção e a frustração.
Achamos que os outros nos decepcionam quando, na verdade, na maioria das vezes fomos nós quem criamos expectativas irreais sobre eles e suas atitudes.
A solução para essas questões que sempre causam sofrimento e desilusões passa pelas seguintes reflexões:
1ª) Precisamos compreender que nossas expectativas são formadas a partir de nossos desejos e fantasias e, não possuem, muitas vezes, nenhuma relação com a realidade.

2ª) Nossas expectativas estão ligadas à nossa imaginação e por isso podem assumir proporções muito difíceis de serem atendidas.


3ª) As expectativas são nossas, mas podem depender de ação de outras pessoas e acontecimentos para se concretizarem, portanto estamos esperando por algo sobre o qual não temos controle efetivo.


4ª) Expectativas estão associadas à imaginação, sentimentos, emoções e experiências anteriores.


5ª) Expectativas sofrem a ação da nossa ansiedade e dos outros aspectos psicológicos que compõe a nossa personalidade.
Assim, como em tudo na vida, também precisamos aprender a lidar com nossas expectativas e introduzir a razão como mediadora entre elas e a realidade.
Às vezes, você espera que alguém ligue para você e a pessoa não liga... Quanto maiores forem as expectativas de receber a ligação, maior será o sofrimento e a decepção de não a ter recebido. Não percebemos nitidamente, mas nos sentimos feridos, afinal a pessoa “devia” ter ligado e não ligou. Pronto. Esse “ferimento emocional”, que se originou em função de nossas expectativas não atendidas, será suficiente para que nossa imaginação agigante as consequências ao criar as “razões“ pelas quais a pessoa não ligou, tais como: ela não me dá a atenção que eu mereço; ela só me procura quando convém; ela deve estar se divertindo com outras pessoas; ela está me enganando; ela não tem por mim a mesma consideração e sentimento que eu tenho por ela, etc.

Ora, todas estas “razões” são meras suposições da nossa imaginação ampliadas pela ansiedade e por frustrações e comparações com situações anteriores.

A pessoa pode não ter ligado por razões concretas e justificáveis as quais poderíamos facilmente compreender em uma conversa franca com ela. Julgamos baseados em suposições, e suposições são apenas probabilidades manipuladas pela nossa imaginação.

Quanto maiores forem as suas expectativas diante de qualquer situação na vida, maiores serão suas chances de se decepcionar. Quando não estamos esperando nada, achamos tudo o que acontece maravilhoso. Quando esperamos pouco, o que acontece facilmente atende ou supera as nossas expectativas, mas quando esperamos muito...


Esperar muito é depositar nas mãos de outras pessoas e acontecimentos a responsabilidade de fazer seus desejos acontecerem. É uma perigosa ilusão.

Procure dividir os aspectos de sua vida em dois grandes grupos: as coisas que você espera que aconteçam e depende determinantemente de você e as coisas que você espera que aconteça, mas dependem muito mais de outras pessoas e acontecimentos que da sua ação.

Observe que você só pode agir sobre as coisas que dependem determinantemente de você. Somente sobre elas você possui controle. As coisas que dependem de outras pessoas e acontecimentos estão fora do seu controle, você pode até influenciá-las de alguma maneira, mas não pode controlá-las.


Utilize a sabedoria para não gerar expectativas muito elevadas para as coisas que não dependem diretamente de você e de suas atitudes. Elas dependem de outras pessoas que não pensam como você pensa, não agirão como você agiria e não sentem as coisas exatamente como você sente.


Concentre-se em alterar as coisas que você pode e em buscar compreender as que estão nas mãos dos outros.


Deixar a vida ser dirigida por nossas expectativas é como dirigir em alta velocidade de olhos vendados. Abra os olhos da razão, use o coração para amar a vida e as pessoas e a razão para conhecê-las, compreendê-las e aceitá-las.


Uma vida baseada em expectativas é irreal e muito perigosa. Faça as pazes com a realidade e aprenda a ajustar suas expectativas dentro de um padrão lúcido e flexível.


Nem a vida nem as pessoas são como nós gostaríamos que fossem, são como são. Nem mesmo nós somos como gostaríamos de ser...


Um alerta importante: Antes de tentar se tornar quem você gostaria de ser, observe se suas expectativas com relação a si mesmo não estão equivocadas, talvez você esteja melhor assim...


A vida é feita de escolhas, mas é impactada por nossas expectativas.
por Carlos Hilsdorf

"A crença no sobrenatural é perigosa", diz psicólogo(VEJA)


Entrevista

O americano Michael Shermer dedica a vida a combater superstições e acaba de publicar no Brasil o livro 'Cérebro e Crença', no qual estuda as bases neurológicas das convicções

Filipe Vilicic
A VOZ DO CETICISMO - Michael Shermer: “Se nos apegássemos apenas ao sobrenatural, nunca teríamos saído da floresta e chegado à civilização”
  A VOZ DO CETICISMO - Michael Shermer: “Se nos apegássemos apenas ao sobrenatural, nunca teríamos saído da floresta e chegado à civilização” (Gilberto Tadday)
Há trinta anos o psicólogo americano Michael Shermer se dedica a combater superstições. Ele criou uma ONG, uma revista (Skeptic Magazine), sites e programas de TV focados em promover o pensamento científico e desmascarar charlatões. Shermer, que chega ao Brasil no fim deste mês para uma série de palestras, é autor de quinze livros. O último, Cérebro e Crença, foi lançado em português na semana passada. Nesta entrevista, publicada na edição de VEJA desta semana, ele diz que a tendência a se iludir com fantasias é própria do processo mental humano e defende o combate à crendice em favor do progresso.
Por que as pessoas acreditam no inacreditável?
A evolução fez do cérebro uma espécie de máquina de reconhecimento de padrões na natureza. Às vezes, esses padrões são reais, mas na maioria dos casos são fruto da imaginação. Milhões de anos no passado, ao ouvir um barulho vindo da mata, um hominídeo poderia supor que se tratava de algo inofensivo, como o vento. Se estivesse errado, e fosse um predador, correria o risco de ser devorado. Nosso ancestral poderia, por outro lado, imaginar a presença de uma divindade perigosa no mato e se afastar o mais rápido possível.
A segunda opção é a que a maioria adota. Imaginar o perigo e fugir garante a sobrevivência, mas também a ignorância. Ir até o mato verificar do que realmente se trata o barulho exige curiosidade e uma batalha contra os instintos. É nessa categoria, a dos homens que não se rendem a narrativas fictícias, que se encaixa o cientista. Os crentes seguem a trilha inversa, a dos que se contentam com suposições sobrenaturais. É um fenômeno que tem a ver com a química do cérebro: a convicção de que o pensamento mágico é o que basta para a compreensão do universo produz uma sensação de prazer. Ficamos felizes em imaginar que seres místicos, sejam eles deuses ou extraterrestres, se preocupam e cuidam de nós. Não nos sentimos sós.
Como se sabe que o cérebro é propenso a acreditar no fantástico?
A neurociência identifica padrões de ondas cerebrais distintos que nos levam a criar crendices e a ter prazer na constatação de que temos respostas às nossas dúvidas. Em situações extremas, como as enfrentadas por quem está no limite da resistência física ou próximo à morte, o cérebro reage com a redução da atividade na área responsável pela consciência e o aumento em regiões ligadas à imaginação. Essa reação natural está na origem das alucinações. Não há mistério nesse processo. Os cientistas são capazes de produzir visões ou a sensação de transcendência espiritual com o estímulo artificial de certas áreas do cérebro.
O senhor foi um cristão evangélico ativo no esforço de atrair fiéis para sua igreja. Como se tornou um cético?
Somos mais abertos à religião na juventude e na velhice. Naturalmente, no fim da vida é comum procurar por conceitos reconfortantes, ainda que irreais. No meu caso, o apelo da crendice me atingiu na juventude, como uma explicação fácil para tudo o que existe. A religião tem um apelo social enorme. O ambiente alentador de uma comunidade ajuda a afastar as dúvidas até daqueles que não acreditam plenamente no sobrenatural e nos dogmas religiosos. Desvencilhei-me da crença ao entrar para a comunidade científica. O método científico, cujo princípio básico é o de que qualquer afirmação deve ser comprovada em experimentos repetidos, alimenta o ceticismo e favorece o progresso.
O que faz com que a ciência seja a melhor ferramenta para explicar o mundo?
A ciência é democrática. Qualquer um pode estudar e chegar a conclusões racionais. Cientistas estão abertos à possibilidade de estarem errados e, por isso, promovem a invenção e a reinvenção de conceitos. É o que garante o avanço do conhecimento. A crendice é intolerante. Fixa uma verdade e não abre espaço para perguntas. Se nos apegássemos apenas ao sobrenatural, nunca teríamos saído da floresta e criado a civilização.
No mundo moderno, ainda precisamos da crença?
É impossível deixar de crer. A ciência também depende da nossa capacidade de elaborar crenças. Qualquer experimento nasce com uma premissa baseada no que se acredita ser verdade. Ideologias também precisam da habilidade de crer. Eu acredito no liberalismo, na democracia e nos direitos humanos. Podemos, porém, abandonar o que não pode ser explicado, como deuses e bruxos. Não nos faria falta.
Há vantagens na crença?
A evolução nos concedeu a habilidade de acreditar por boas razões. A crença em divindades nos levou a temer o mundo e, com isso, nos ajudou a sobreviver nele. Também contribuiu para a formulação de leis que regiam comunidades primitivas. A moral e a ética nasceram na religião.
Se a ética tem origem religiosa, por que ela prevalece na sociedade laica?
As igrejas se tornaram um fator de corrupção, motivo de guerras e perseguições. Por sorte, presenciamos o declínio da crença no sobrenatural. Países do norte europeu, onde apenas um quarto da população segue alguma religião, têm índices de criminalidade, suicídio e doenças sexualmente transmissíveis inferiores aos de estados em que a maioria dos habitantes é de crentes, como os Estados Unidos e o Brasil. Se a religião se declara um bastião da bondade, por que, historicamente, estados teocráticos são mais suscetíveis à criminalidade do que os seculares?
Apesar de vivermos na era da ciência, cresce a crença no sobrenatural. Por quê?
É verdade que vivemos num mundo em que a ciência faz parte do dia a dia. Todos gostam de iPhones e admiram as naves que pousam em Marte. Mas poucos abdicam de crenças sobrenaturais e aceitam a ciência como ferramenta para explicar o universo. A maioria só quer aproveitar os produtos da ciência. Quando se trata de responder a dúvidas primordiais, como a origem do universo ou o sentido da existência, preferem explicações irreais, mas convincentes em suas narrativas fictícias.
Por que o senhor se dá ao trabalho de combater a superstição?
Sempre me perguntam por que não deixo os crentes em paz. Ocorre que a crença no sobrenatural não é inócua. Ao contrário, é bastante perigosa. Acreditar na dita medicina alternativa é um exemplo. Muita gente morre por substituir o tratamento médico sério por procedimentos supersticiosos, como o consumo de ervas com propriedades supostamente milagrosas.
Não é possível provar a existência de divindades e criaturas fantásticas. O senhor concorda que também é difícil provar que não existam?
O fato de não explicarmos um mistério não significa que ele exija explicações sobrenaturais. Só mostra que ainda não há resposta. O ônus da prova cabe aos crentes. O cético só crê no que é provado. Nesse aspecto, a ciência tem feito bom trabalho ao desmascarar mitos. No passado, já se acreditou que a Terra viajava pelo cosmo no lombo de um elefante. Existem 10.000 religiões. Espanta-me a arrogância de quem supõe que só uma crença seja correta em meio a tantas.
O senhor leva em consideração que pode estar errado?
Assim como todos, só descobrirei a resposta quando morrer. Como cientista, estou aberto à possibilidade de ter me enganado. Se houver um ou vários deuses, ficarei surpreso. Mas não tenho medo. Se há um Deus, ele me deu um cérebro para pensar. Meu pecado seria usá-lo para raciocinar e buscar explicações? Um ser benevolente não me puniria por utilizar bem as armas que me concedeu.

Sete críticas ao impressionismo(VEJA)


Instagram de outrora

A tela 'Impressão: Nascer do Sol', de Monet
Amigo íntimo de Paul Cézanne, Édouard Manet e Claude Monet, e entusiasta de primeira hora do impressionismo, que via como uma reunião de pintores ambiciosos e também um alívio perto das bobagens que eram produzidas em nome da tradição, o escritor e crítico de arte Émile Zola liderou as críticas feitas ao grupo a partir de 1880, oito anos depois de Monet ter inaugurado oficialmente o movimento com a tela Impressão: Nascer do Sol. Zola se decepcionou ao notar que os artistas haviam perdido o potencial vanguardista dos primeiros anos e deixado passar a chance de se tornar porta-vozes de seu tempo. De luz de sol e atmosfera, entendiam muito. De revoluções e vida social, ficavam a dever. A crítica de Zola encontrou eco na obra de Renoir, que também passou a questionar os preceitos impressionistas, como o da pintura ao ar livre, e decidiu retomar um estilo mais clássico. 

Primeiros hippies

Segunda metade do século XIX: intensas transformações urbanas na França, países inteiros surgindo na Europa, caso da Itália e da Alemanha, o antissemitismo ganhando espaço no continente e os impressionistas... bem, os impressionistas estavam no campo, pintando árvores e rios. A total desconexão entre as telas do grupo ligado a Manet e a realidade social fremente foi duramente criticada pelo escritor Émile Zola a partir de 1880. O autor de J’Accuse (Eu Acuso, uma defesa do militar judeu injustamente acusado de traição) chegou a classificar os impressionistas como artistas passivos, meros retratistas interessados em captar a luz do sol. Zola não aceitava a recusa dos pintores de levar em consideração, nas suas obras, as aflições inerentes ao momento histórico em que viviam. Um tema recorrente na pintura impressionista são as festas populares ao ar livre. A proposta de retratar apenas o lado idílico da vida alheava a sua arte da realidade.  

Que vida interior?

O romancista Joris-Karl Huysmans também não poupou munição contra os impressionistas na década de 1880, embora só fosse admitir sua oposição ao movimento anos mais tarde. De acordo com o livroImpressionismo, do crítico lituano-americano Meyer Schapiro, o escritor acusou sutilmente os pintores da escola de Manet de indiferença à vida interior no romance À Rebours (Às Avessas). O livro é protagonizado por um personagem excêntrico, Des Esseintes, era um esteta que mantinha as janelas de casa fechadas durante o dia para não ter contato com a luz do sol, porque preferia a iluminação artificial. Para o escritor, era fantasioso o retrato da sociedade feito por Monet e sua turma, que ignorava a mediocridade reinante no mundo. 

Falta rigor

Do ponto de vista técnico, o pintor francês Georges-Pierre Seurat foi o crítico mais contundente do impressionismo. Além de apontar os defeitos do movimento, como a inconsistência na análise da luz e da cor, a precária estruturação da composição na tela e a falta de rigor na forma, Seurat desenvolveu uma técnica concorrente da de Manet. É dele o pontilhismo, recurso que inaugurou o neo-impressionismo. Em vez de usar o pincel de maneira solta e ligeira, guiado por uma impressão subjetiva da paisagem, o pintor lançava mão um método sistemático de pinceladas, que não precisava ser utilizado obrigatoriamente durante o dia e ao ar livre, como era a rotina impressionista, mas podia ser empregado em estúdio, horas depois da observação que serve de base para a pintura. E podia ser usado para a produção de telas com temáticas caras aos impressionistas, com banhistas, praias, campo, com um diferencial nas cores que a técnica pontilhista permitia criar.

Frivolidade

tela 'Yvette Guilbert Taking a Curtain Call', de Henri de Toulouse-Lautrec
Seguidor de Degas, o pintor Henri de Toulouse-Lautrec também se dedicou a registrar cenas da vida mundana e do mundo do espetáculo. Mas o fez com pathos - com um sentimento do que há de trágico na existência humana. Suas figuras, diferentemente dos borrões e focos de luz que via na tela dos colegas, tinham rosto e expressão, eram muitas vezes feios e angustiados, eram tristes e desencantados, eram tocantes. O mundo não era cor de rosa nos quadros de Lautrec, como repetidamente o era nas telas de Manet ou Renoir, fossem quais fossem as tintas por eles usadas. Em vez de compactuar com o clima de hedonismo alienante dos quadros impressionistas, Toulouse-Lautrec preferiu chamar atenção para o vazio existente na vida dos seus contemporâneos e para a maneira como a boemia era uma fuga - uma forma de aplacar a sensação de que falta sentido à vida, palpável em um mundo que passava a duvidar da religião.

Banalização da tradição

Ao romper com a tradição acadêmica, os impressionistas, como se diz no ditado popular, jogaram fora o bebê junto com a água do banho. Todo o rico repertório de temas e alusões culturais, clássicas e religiosas, construído pela civilização ocidental ao longo de séculos passou a ser encarado simplesmente como entulho, como coisa sem importância, a despeito da larga história contida em cada signo clássico. Os impressionistas, crítica que aliás fez a eles o filósofo e historiador francês Hippolyte Taine, estavam voltados exclusivamente para o presente. Queriam sentir a paisagem e vertê-la em pinceladas que, se por um lado representavam um saudável questionamento da ordem acadêmica, abrindo inclusive caminho para as vanguardas do século XX, por outro tornavam injustamente irrelevante o rico acervo da arte que se fez antes.

Irregularidade

Obra
O impressionismo produziu gênios como Monet, mas teve também artistas sem tanta expressão – sem trocadilho. Apesar da graciosidade de suas Meninas Cahen d'Anvers (Rosa e Azul), Renoir está longe de ser consistente como Manet ou Degas. E esta não é uma constatação que precisou da distância dos anos para ser feita. Ainda em vida, o pintor se sentiu desconfortável com os requisitos da técnica impressionista, recuou na ousadia e terminou por se perder em um estilo híbrido, que tentava combinar a pincelada livre de Monet com uma atenção ao volume e ao peso das formas que era parte linguagem clássica do desenho e da pintura. Renoir nunca se libertou completamente do desejo de obter aprovação nos salões oficiais de arte. Foi um artista menor.







Como ver o impressionismo além do clichê de Monet


Artes visuais


Obra 'La Serveuse de bocks' do pintor impressionista Edouard Manet
Obra 'La Serveuse de bocks' do pintor impressionista Edouard Manet - Divulgação



Obra 'La tour Eiffel' do pintor impressionista Louis Welden Hawkins
Obra 'La tour Eiffel' do pintor impressionista Louis Welden Hawkins - Divulgação



Obra 'Portrait de l’artiste au fond rose' do pintor impressionista Paul Cézanne
Obra 'Portrait de l’artiste au fond rose' do pintor impressionista Paul Cézanne - Divulgação


Obra 'Le Placard à linge' do pintor impressionista Edouard Vuillard
Obra 'Le Placard à linge' do pintor impressionista Edouard Vuillard - Divulgação



Obra 'Rochers près des grottes audessus de Château-Noir' do pintor impressionista Paul Cézanne
Obra 'Rochers près des grottes audessus de Château-Noir' do pintor impressionista Paul Cézanne - Divulgação



Obra 'Nature morte à la soupière' do pintor impressionista Paul Cézanne
Obra 'Nature morte à la soupière' do pintor impressionista Paul Cézanne - Divulgação



Obra 'La salle de danse à Arles' do pintor impressionista Vincent Van Gogh
Obra 'La salle de danse à Arles' do pintor impressionista Vincent Van Gogh - Divulgação



Obra 'Le Bain' do pintor impressionista Alfred Stevens
Obra 'Le Bain' do pintor impressionista Alfred Stevens - Divulgação



Obra 'Les Alyscamps' do pintor impressionista Paul Gauguin
Obra 'Les Alyscamps' do pintor impressionista Paul Gauguin - Divulgação



Obra 'Madame Darras' do pintor impressionista Auguste Renoir
Obra 'Madame Darras' do pintor impressionista Auguste Renoir - Divulgação



Obra 'Portrait de Fernand Halphen' do pintor impressionista Auguste Renoir
Obra 'Portrait de Fernand Halphen' do pintor impressionista Auguste Renoir - Divulgação


Obra 'La gare Saint-Lazare' do pintor impressionista Claude Monet
Obra 'La gare Saint-Lazare' do pintor impressionista Claude Monet - Divulgação




Obra 'Le fifre'do pintor impressionista Edouart Manet - Divulgação



Obra 'Danseuses montant un escalier' do pintor impressionista Edgar Degas

Obra 'Danseuses montant un escalier' do pintor impressionista Edgar Degas - Divulgação



Obra 'Le berceau' do pintor impressionista Berthe Morisot
Obra 'Le berceau' do pintor impressionista Berthe Morisot - Divulgação


Obra 'Jeunes filles au piano' do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir
Obra 'Jeunes filles au piano' do pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir - Divulgação

Obra 'La troisième galerie au théâtre du Châtelet' do pintor impressionista Félix Vallotton
Obra 'La troisième galerie au théâtre du Châtelet' do pintor impressionista Félix Vallotton - Divulgação

Obra 'Régates à Argenteuil' do pintor impressionista Claude Monet
Obra 'Régates à Argenteuil' do pintor impressionista Claude Monet - Divulgação

Obra 'Le bassin aux nymphéas, harmonie verte' do pintor impressionista Claude Monet
Obra 'Le bassin aux nymphéas, harmonie verte' do pintor impressionista Claude Monet - Divulgação
Onde quer que ocorram, as mostras de pintores impressionistas batem recordes de público. Com 45.000 visitantes em duas semanas, a exposição Impressionismo: Paris e a Modernidadenão é excessão. Em cartaz em São Paulo, de onde segue para o Rio em outubro, ela reúne 85 obras do Museu D’Orsay, de Paris, o principal endereço do impressionismo na atualidade, e provoca filas de espera de até quatro horas.

Esse enorme afluxo acontece porque o impressionismo é um ponto de entrada seguro para o mundo das artes. Ele não demanda um conhecimento de mitos e ícones religiosos, como a arte clássica, nem provoca o espectador como as obras modernas e contemporâneas. Com sua sólida beleza plástica, as telas de Claude Monet, Edgard Degas e companhia se tornaram de consumo rápido. 
Isso não deixa de ser uma injustiça com artistas que, em sua época, declararam guerra aos clichês. Em homenagem ao espírito desses grandes pintores, que preferiam fugir ao consenso, o site de VEJA apresenta um antiguia da exposição, com as razões que críticos e artistas apresentaram, ao longo do tempo, para não gostar dos impressionistas.
Visite a mostra e pondere. Sim, é permitido discordar...
Obra 'Paysannes bretonnes' do pintor impressionista Paul Gauguin
http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/impressionismo-muito-alem-do-cliche-de-monet
Obra 'Paysannes bretonnes' do pintor impressionista Paul Gauguin - Divulgação

Novo livro de Diogo Mainardi: uma queda para o alto(VEJA)


Livros

VEJA desta semana destaca a publicação de Mainardi, uma comovente narrativa sobre seu filho que nasceu com paralisia cerebral e uma portentosa representação intelectual das emoções

Mario Sabino
TITO, DIOGO, NICO E CAMPO SANTI GIOVANNI E PAOLO, DE CANALETTO - O ex-colunista de VEJA escreveu uma obra em que a grande arte emoldura a sua história individual
  TITO, DIOGO, NICO E CAMPO SANTI GIOVANNI E PAOLO, DE CANALETTO - O ex-colunista de VEJA escreveu uma obra em que a grande arte emoldura a sua história individual (Ruyn Teixeira / Divulgação)
Um dos desenhos mais célebres do mundo faz parte do acervo da Accademia de Veneza. Trata-se do Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, em que a única figura humana é retratada em duas posições, como se houvesse fotogramas sobrepostos -- dentro de um círculo (com os braços esticados na altura da cabeça e as pernas afastadas) e dentro de um quadrado (com os braços abertos na altura dos ombros e as pernas juntas), círculo e quadrado porque tidos como as formas geométricas perfeitas. O “Homem Vitruviano” parece fazer um polichinelo, aquele exercício físico banido da ginástica escolar depois de arrebentar os joelhos das gerações com mais de 40 anos. Da Vinci concebeu o desenho em torno de 1490, a partir das considerações do arquiteto romano Vitrúvio. Um milênio e meio antes, em seu tratado De Architectura, Vitrúvio estabelecera quais seriam as proporções exatas do corpo humano, por meio de uma série de correspondências matemáticas entre as suas diversas partes. O desenho de Da Vinci é acompanhado, na parte superior e inferior, de explicações sobre tais correspondências, a demonstrar com mais ênfase a intenção do artista de apresentar o modelo de harmonia que deveria servir de base a pintores, escultores e arquitetos. O Homem Vitruviano é raramente exposto. A última vez foi em 2009. Já sua antítese está em exposição permanente pelas vias e pontes de Veneza: Tito Mainardi, hoje com quase 12 anos, primogênito de Diogo Mainardi. Portador de paralisia cerebral, é como uma espécie de “Menino Antivitruviano” que ele protagoniza A Queda  - As Memórias de um Pai em 424 Passos (Record; 152 páginas; 29,90 reais), de autoria do ex-colunista de VEJA. O livro, que chega às livrarias com uma tiragem inicial de 20.000 exemplares, é comovente pelo tema, extraordinário na forma e esplêndido como reflexão sobre a arrogância humana.
Tito é personagem conhecido dos leitores que acompanhavam semanalmente a coluna de Diogo, a mais lida da revista de 1999 a 2010, quando o escritor e jornalista resolveu encerrar espontaneamente a sua colaboração. Ele começou a pensar em escrever o livro sobre a paralisia cerebral de seu primogênito em 2008, ainda no Rio de Janeiro, para onde se mudara quatro anos antes, a conselho de médicos americanos. O veneziano Tito deveria viver num ambiente quente, onde pudesse exercitar mais as pernas. As areias de Ipanema foram seu primeiro -- e ideal para quedas -- campo de provas, complementadas pelas garagens térreas dos prédios da orla, nas quais o menino se esbaldava com seu andador, observado do carrinho por Nico, seu irmão carioca, hoje com 7 anos. Depois que Tito, em férias na cidade natal, alcançou 359 passos sozinho, Diogo decidiu concretizar seu projeto. Diz ele: “Só consegui, contudo, dedicar-me seriamente ao livro a partir de setembro de 2010, na volta definitiva a Veneza. Tive de renunciar à coluna em VEJA, por causa da minha cabeça limitada: sou incapaz de pensar num José Dirceu e, ao mesmo tempo, num Tintoretto. O José Dirceu emporcalha o Tintoretto”. Uma das glórias de Veneza, o pintor é um dos artistas abordados por Diogo em A Queda.
A paralisia cerebral de Tito foi causada por uma obstetra que apressou o parto de maneira desastrada. O dia em que ele veio à luz -- 30 de setembro de 2000 -- caiu num sábado, e a médica encarregada do procedimento queria terminar seu turno de trabalho mais rápido. Para tanto, decidiu estourar a bolsa com líquido amniótico que protege o bebê. Só que, ao fazê-lo contrariando todos os manuais de obstetrícia, Tito teve o cordão umbilical esmagado e ficou sem oxigênio. A saída, nesse caso, era realizar uma cesárea de urgência. A obstetra outra vez errou ao demorar demais para abrir o ventre de Anna, mulher de Diogo, e Tito permaneceu asfixiado por 45 minutos. O resultado foi uma lesão no cérebro que o impede de falar, andar e pegar objetos com as mãos como se faz normalmente. A lesão é tão pequena que é invisível aos exames de imagem mais modernos. Assim, não comprometeu a capacidade intelectual de Tito, um menino vivaz, bem-humorado e, agora, um pré-adolescente típico -- com disposição infinita para irritar os pais e uma precoce admiração por mulheres altas e esguias.
Outros autores já trataram das deficiências de seus filhos, em livros corajosos como requer a honesta literatura do tipo confessional. Mas Diogo o faz sem resvalar na autocomplacência e também evita circunvoluções biográficas que se afastam longamente do tema central. A Quedaé também original na forma. Apresenta o exato número de capítulos de seu subtítulo: 424. Todos eles curtíssimos, alguns com menos de quatro linhas. O número de capítulos espelha o máximo de passos que Tito conseguiu dar sem cair, e sem andador, no momento em que Diogo finalmente deixou de contá-los -- façanha realizada no dia em que o menino foi visitar pela primeira vez o hospital de Veneza onde nascera, instalado no palácio bizantino-renascentista da Scuola Grande di San Marco. Outro aspecto inédito: muitos dos capítulos são entremeados com ilustrações de pinturas venezianas, imagens de família, cenas de filmes e até a de um videogame. Elas remetem ao relato imediatamente anterior e ajudam a montar o quebra-cabeça construído por Diogo para dar um sentido a tudo o que ocorreu após o nascimento de Tito. Em algumas pinturas, ele próprio assume o papel de personagem, assim como o faz com relação a Anna e Tito, por meio de setas que apontam detalhes que os retratariam.
Em torno da paralisia cerebral de seu filho, orbitam duas narrativas que se imbricam uma na outra: a do drama familiar e a da história das ideias e de seu corolário, a arte que se quer expressão da Verdade -- com “v” maiúsculo --, seja filosófica, religiosa ou ideológica. Está-se falando da arte de Bizâncio, do Renascimento e do Barroco, de que Veneza é uma das joias mais ofuscantes, por obra de mestres da arquitetura, da pintura e da escultura que a moldaram alinhados com sua geografia peculiar. No século XVIII, escreveu o comediógrafo Carlo Goldoni, um dos venezianos mais ilustres: “Veneza é uma cidade tão extraordinária que não é possível ter dela uma ideia exata sem a ver; os mapas, as plantas, as maquetes, as descrições não bastam; é preciso vê-la. Todas as cidades do mundo mais ou menos se assemelham; essa não tem semelhança com nenhuma. Toda vez que eu a revi depois de longas ausências, surgiu em mim um novo espanto. À medida que eu crescia, que aumentavam meus conhecimentos, e tinha comparações a fazer, descobria nela novas singularidades, novas belezas”.
Diogo só poderia escrever esse livro em Veneza, ainda que José Dirceu não emporcalhasse Tintoretto. Foi nessa cidade sem paralelo, que coroa a vaidade do pensamento e da arte, que Diogo se refugiou para escrever seus quatro romances. Foi nessa cidade diferente de todas as outras que ele conheceu a sua queda particular -- e, nela, reconheceu as nossas aspirações evanescentes que insistem em sobreviver em quaisquer latitudes. No livro, Veneza continua a ser extraordinária, como na época de Goldoni, mas não como um tributo ao engenho humano, e sim à sua prepotência, da qual Diogo se despiu existencialmente. Diz ele a VEJA: “O nascimento de Tito me fez deixar os romances de lado, porque mudou o narrador. Em meus romances, eu era o narrador onisciente, que comandava o destino de um bando de personagens idiotas. Depois de Tito, eu me tornei o personagem idiota, e meu destino passou a ser narrado por um menininho de pernas tortas que nem sabia falar. Morreu a minha soberba autoral e, sem ela, era impensável continuar a escrever romances. Dito de outra maneira: eu sempre imaginei que saberia manter um razoável controle sobre os fatos de minha vida. Tito me mostrou, porém, que eu nunca controlei porcaria nenhuma, e que a única possibilidade de livre-arbítrio ao meu alcance estava na leitura dos fatos, e não nos fatos em si”.
Nesse exercício de livre-arbítrio, Diogo inicia o livro estabelecendo uma conexão entre a paralisia cerebral de seu primogênito e o que chama de “estetismo abestalhado”. Mesmerizado pela fachada magnífica do hospital de Veneza, arquitetada por Pietro Lombardo em 1489 para a então Scuola Grande di San Marco, ele deixou de lado os desastres médicos que fizeram a fama daquela instituição e disse a Anna, receosa do parto, diante do hospital: “Com esta fachada, aceito até um filho deforme”. A frase não deve ser interpretada literalmente, mas como achincalhe intelectual, de acordo com Diogo. O arquiteto Pietro Lombardo, louvado pelos seus pares e pelos maiores críticos de arte, encarna de tal forma o ideal de beleza artística que o poeta Ezra Pound o colocou em sua obra magna, Os Cantos, como tradução do Bem em contraposição ao Mal, simbolizado pela usura. “Pietro Lombardo não se fez com a usura”, escreveu Pound. Dessa forma, escreve Diogo, “eu só conseguia associar a arte perfeita de Pietro Lombardo a um parto igualmente perfeito. Porque o Bem, representado pela arquitetura de Pietro Lombardo, jamais poderia gerar o Mal, representado por um erro de parto”.
Mais adiante, Diogo conta que nasceu em 22 de setembro de 1962, data em que o arquiteto modernista franco-suíço Le Corbusier foi convidado a projetar uma nova sede para o hospital de Veneza. Teria sido erguido um prédio medonho, com blocos de cimento armado, não houvesse Le Corbusier morrido seis meses depois de apresentar o projeto, afogado no Mediterrâneo. Ou seja, o Mal, personificado pela arquitetura do franco-suíço, teria gerado o Bem, visto que Diogo não escolheria o novo hospital de Veneza para ter seu filho e, certamente, Tito nasceria em perfeitas condições na vizinha Pádua, dotada de um dos melhores hospitais da Europa. O Mal do qual nasce o Bem é o exato oposto do que proclamam Ezra Pound e todos os teóricos, filósofos e artistas que construíram Veneza, o Orgulho da Ciência, o Orgulho do Estado, o Orgulho do Sistema. Enfim, o Orgulho da Razão.
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O MAL E O BEM - Le Corbusier (à esq., em frente à Scuola Grande di San Marco) e Ezra Pound, na Fondamenta delle Zattere: personagens da operação literária de Mainardi
O MAL E O BEM - Le Corbusier (à esq., em frente à Scuola Grande di San Marco) e Ezra Pound, na Fondamenta delle Zattere: personagens da operação literária de Mainardi     
Por meio desse tipo de operação literária, em que coincidências pessoais e históricas se encaixam umas nas outras de maneira tão admirável quanto arbitrária, por sempre se tratar de uma interpretação dos fatos, lembre-se, Diogo monta seu quebra-cabeça cujas peças unem a Veneza de Pietro Lombardo à de Canaletto, os filmes de Abbott e Costello aos programas de extermínio de Hitler, a Divina Comédia, de Dante Alighieri, a Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust. Completado o quebra-cabeça, ele nos mostra a figura de um círculo que abriga não um ser humano de proporções perfeitas, mas o pequeno Tito, o inverso do Homem Vitruviano. Com sua paralisia cerebral que o obriga a pensar em cada gesto a ser feito, a antecipar cada palavra que consegue pronunciar, ele, sim, é o orgulho da razão. Mas da razão possível dentro de uma realidade cósmica que simplesmente nos ignora. Da nossa razão imperfeita que não raro tem diante de si um menino verde. Dê-se a palavra a Diogo:
“Tito nasceu verde.
“Vi-o pela primeira vez em um dos claustros do hospital de Veneza. Eu acabara de conversar com o pediatra que acompanhara seu nascimento. Ele dissera que Tito permanecera sem ar por tempo demais. Ele dissera também que Tito morreria.
“Voltando à maternidade, depois de conversar com o pediatra, cruzei com um menino recém-nascido em uma incubadora. O menino recém-nascido na incubadora estava no corredor de um claustro, estacionado em um canto. Ninguém o atendia. Onde está o médico? Onde está o enfermeiro? Onde está o pai?
“Olhei-o de relance. Olhei-o novamente. Ele estava imóvel, com o corpo mole e um tubo no nariz. Seu rosto era verde. Li seu nome escrito em um esparadrapo colado na tampa da incubadora: ‘Mingardi’.
“Mingardi era igual a mim. Eu era igual a Mingardi. O menino recém-nascido na incubadora era meu filho. Mingardi era Mainardi. Até nisso o hospital de Veneza errou: em seu nome.
“Olhei Tito pela última vez. Seu rosto era igual ao meu -- só que o dele era verde.”
No dia 30 de setembro de 2000, Diogo Mainardi caiu com Tito. E começou a aprender que saber cair tem muito mais valor do que saber caminhar, como ele próprio diz a certa altura.
A Queda é um livro magnífico em sua humanidade.

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