Noruega
Segundo o júri, o bloco colaborou para o avanço da paz, a reconciliação na Europa e o estabelecimento da democracia e direitos humanos no continente
União Europeia recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2012 por promover "a reconciliação, a democracia e os direitos humanos" no continente (Cristina Arias / Getty Images)
A União Europeia (UE) foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz de 2012, anunciou na manhã desta sexta-feira o presidente do comitê norueguês, Thorbjoern Jagland. O júri destacou a colaboração do bloco para "o avanço da paz" e "a reconciliação na Europa", assim como para "o estabelecimento da democracia e dos direitos humanos no continente". A premiação ocorre em um momento em que o bloco é abalado por uma grave crise econômica, que põe à prova a unidade europeia e colocou a Alemanha, principal potência continental, em conflito com países em situação difícil, como Espanha e Grécia – no centro do embate estão os rumos do bloco e reformas em sua unidade política e fiscal.
A UE foi indicada inúmeras vezes anteriormente para o Nobel da Paz, mas nunca havia ganhado o prêmio devido ao seu perfil político controverso - a própria Noruega já recusou duas vezes se tornar um membro do bloco. Neste ano, porém, o comitê considerou que a UE ajudou a Europa a evoluir de um "continente de guerra" para um "continente de paz". Jagland saudou o bloco de 27 países por ter reconstruído a região após a II Guerra Mundial e por ter espalhado estabilidade nos países do antigo bloco comunista, após a queda do Muro de Berlim, em 1989.
O presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, comemorou o anúncio: “É o reconhecimento de um projeto único que trabalha em benefício de seus cidadãos e também em benefício do mundo todo”.
“A premiação pelo comitê mostra que, nesses tempos difíceis, a União Europeia segue sendo uma inspiração para países e pessoas no mundo todo e mostra que a comunidade internacional precisa de uma União Europeia forte”, acrescentou.
Barroso disse ainda que o comitê norueguês manda uma mensagem muito importante por meio da escolha feita. “A Europa e a União Europeia são muito preciosas e devemos cuidar delas pelo bem dos europeus e pelo bem do mundo todo”.
No ano passado, as ganhadoras do prêmio foram três mulheres: a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf; a militante pela paz Leymah Gbowee, também liberiana; e a ativista Tawakkul Karman, uma iemenita que se destacou na onda de manifestações da Primavera Árabe no Iêmen. O trio foi premiado "pela luta pacífica pela segurança das mulheres e pelo direito de participar nos processos de paz". Essa foi considerada uma grande conquista para as mulheres, historicamente marginalizadas na premiação - entre as pessoas condecoradas desde 1901, apenas 15 são mulheres (contando com as três de 2011).
AFP
O presidente do comitê norueguês, Thorbjoern Jagland, anunciou o Nobel da Paz 2012
Desde seu início, o prêmio já foi entregue 92 vezes. Em 19 ocasiões, a comissão decidiu que não havia ninguém digno de receber a honra - entre elas, todos os anos entre as duas guerras mundiais. De todas as condecorações, 62 foram concedidas a uma única pessoa, 28 foram compartilhados por dois e duas para três pessoas - além do trio ganhador de 2011, Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin foram condecorados em 1994, por seus esforços pela paz no Oriente Médio. Segundo o estatuto da Fundação Nobel, é proibido conceder um prêmio a quatro pessoas ou mais.
Histórico - O Prêmio Nobel foi instituído no testamento do sueco Alfred Nobel, químico inventor da dinamite. O cientista morreu em 1896, deixando a maior parte de sua fortuna à premiação de grandes feitos em diversas áreas do conhecimento. A escolha dos merecedores de um naco dessa herança foi atribuída a entidades como o Instituto Karolinska, a Academia Sueca, a Real Academia Sueca de Ciências e o Comitê Norueguês do Nobel. A premiação homenageia grandes realizações nas áreas de Física, Química, Medicina/Fisiologia e Literatura. Também reconhece iniciativas que promovem a paz. Existe ainda o chamado Nobel de Economia. Idealizado pelo Banco Nacional Sueco, ele foi instituído apenas em 1969. Na época, o banco fez uma grande doação à Fundação Nobel, que, em troca, passou a eleger, por meio da Academia Real Sueca de Ciências, os homens dignos do prêmio.
Parte da aura do Nobel se deve ao mistério que cerca seu processo de escolha. Da lista de indicados à decisão final, os procedimentos são um verdadeiro segredo. Sabe-se apenas que quem os realiza são acadêmicos escandinavos: os membros da Academia Real Sueca de Ciências condecoram as realizações nas áreas de Física, Química e Economia; os do Instituto Karolinska, pesquisas no ramo da Medicina e da Fisiologia; e os da Academia Sueca, grandes obras da Literatura. Já o Nobel da Paz fica a cargo dos cinco membros do Comitê Norueguês do Nobel, todos escolhidos pelo parlamento da Noruega. Alguns critérios também se fizeram evidentes depois de sucessivas edições do prêmio: ele pode ser ganho por até três pessoas ao mesmo tempo e, se não for concedido num determinado ano, permite a concessão de dois prêmios numa mesma categoria no ano seguinte.
O vencedor de um Nobel é agraciado com 1,5 milhão de dólares (mais de 2,5 milhões de reais), uma medalha de ouro e um diploma. O prêmio é entregue anualmente. O valor em dinheiro, porém, não foi assim substancioso desde o início da premiação. Na edição inaugural, em 1901, a quantia corresponderia a cerca da metade do que é hoje. Para o idealizador do prêmio, dar aos vencedores, além de reconhecimento, dinheiro, seria uma forma de ajudá-los a dar continuidade a suas atividades com independência. Os vencedores do Nobel costumam ser anunciados no mês de outubro. Cada categoria num dia diferente. Já a entrega ocorre no dia 10 de dezembro, data de aniversário de seu criador. O da Paz é concedido em Oslo, pelo rei da Noruega, e os demais em Estocolmo, pelo rei da Suécia.
Confira lista dos ganhadores do Nobel da Paz nos últimos dez anos:
2011
Tawakkul Karman (ativista), Ellen Johnson Sirleaf (presidente da Libéria) eLeymah Gbowee (militante pela paz)
"Pela luta pacífica pela segurança das mulheres e pelo direito de participar nos processos de paz"
2010
Liu Xiaobo (dissidente da China)
"Por sua longa e não-violenta luta por direitos humanos fundamentais na China"
2009
Barack Obama (presidente dos Estados Unidos)
"Por seus extraordinários esforços para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre as pessoas"
2008
Martti Ahtisaari (diplomata e político da Finlândia)
"Por seus importantes esforços, em vários continentes e por mais de três décadas, para resolver conflitos internacionais"
2007
Al Gore (político dos Estados Unidos) e Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês)
"Por seus esforços para construir e disseminar um maior conhecimento sobre as mudanças climáticas causadas pelo homem, e por lançar as bases necessárias para neutralizar tais alterações"
2006
Muhammad Yunus (economista de Bangladesh e fundador do Grameen Bank) e Grameen Bank (primeiro banco do mundo especializado em microcrédito)
"Por seus esforços para criar desenvolvimento econômico e social a partir das camadas mais pobres da sociedade"
2005
Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Mohamed ElBaradei (diplomata do Egito e diretor da AIEA)
"Por seus esforços para impedir que a energia nuclear seja usada para fins militares e para garantir que a energia nuclear com fins pacíficos seja usada da maneira mais segura possível"
2004
Wangari Maathai (ativista ambiental do Quênia)
"Por sua contribuição para o desenvolvimento sustentável, a democracia e a paz"
2003
Shirin Ebadi (ativista de direitos humanos do Irã)
"Por seus esforços pela democracia e pelos direitos humanos. Ela tem focado especialmente na luta pelos direitos das mulheres e crianças"
2002
Jimmy Carter (político dos Estados Unidos)
"Por décadas de esforço incansável para encontrar soluções pacíficas aos conflitos internacionais, promover a democraria e os direitos humanos e estimular o desenvolvimento econômico e social"
Fonte: Fundação Nobel