quarta-feira 20 2014

Acusados de ligação com o crime, policiais viram cabos eleitorais de Garotinho no Rio

Rio de Janeiro

Álvaro Lins, ex-chefe de Polícia do Rio que chegou a ser preso, faz campanha em áudio por vitória de candidato no PR no primeiro turno. Inspetor acusado de ligação com máfia dos caça-níqueis envia mensagens pedindo votos para Garotinho e avisando que vai acabar a “palhaçada de UPP”

Thiago Prado, do Rio de Janeiro
Anthony Garotinho, na época em que era governador do Rio de Janeiro, apresentando o novo chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, em 24/11/2000
VELHOS CONHECIDOS – Anthony Garotinho, na época em que era governador do Rio de Janeiro, apresentando o novo chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, em 24/11/2000 (Ricardo Leoni/Agência O Globo/VEJA)
Diga-me com quem andas e te direi quem és. O provérbio clichê é valioso em uma campanha para projetar como seria o governo de um candidato em caso de vitória. Nas últimas semanas no Rio de Janeiro, tornaram-se cabos eleitorais do ex-governador Anthony Garotinho (PR) dois condenados por envolvimento com a máfia dos caça-níqueis que tiveram papel crucial nas políticas de segurança do seu governo e da mulher, Rosinha. Preso em 2008 pela Polícia Federal, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Álvaro Lins, chegou a ser condenado a 28 anos de prisão por formação de quadrilha armada, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Recentemente, ele gravou um áudio e enviou para várias pessoas no Estado conclamando “vingança” e pedindo a vitória do seu candidato no primeiro turno. O inspetor Fábio Menezes Leão, o Fabinho, condenado no mesmo processo de Lins, foi ainda mais escrachado: em uma mensagem de celular enviada para dezenas de colegas, afirmou que Garotinho terá o apoio dos “amigos das vans” e que “acabará com essa palhaçada de UPP (Unidade de Polícia Pacificadora)”.
O áudio de Álvaro Lins que está circulando na rede revela o rancor do ex-delegado com o governo de Sérgio Cabral (PMDB), que o expulsou da Polícia Civil em 2009. Álvaro não cita Garotinho, mas ressalta que quer a vitória no primeiro turno. Hoje, segundo a última pesquisa Datafolha, o ex-governador é o primeiro colocado com 25% das intenções de voto, sete pontos a frente de Marcelo Crivella (PRB). “Bem aventurados aqueles que têm sede de justiça, pois serão saciados. Essa é a única expressão que vem à minha cabeça quando vejo uma notícia como essa. Eu espero que cada um de vocês nos ajude nessa luta. Eu sou apenas mais um dos muitos que sofreram na mão dessa corja que tem que ser varrida do Rio de Janeiro. Essa é a oportunidade que nós temos, não vai haver outra oportunidade. Daqui um ano, dois anos, quatro anos, dez anos. Acabou. Ou é agora ou nunca. Vamos varrer essa gente do Rio de Janeiro. A gente tem que conseguir isso. Eles é que são bandidos, eles é que roubaram o povo do Rio de Janeiro. Eles não têm nada contra nós. A gente vai dar o troco. Então, vai para rua hoje, telefona para a sua família, para o seu amigo, para pessoa que você não vê há muito tempo. Convence aquele cara que ainda está na dúvida.  E vamos ganhar isso, se possível até no primeiro turno. Essa é a minha voz, eu espero que seja a sua também”, diz Álvaro. Procurado pelo site de VEJA, o ex-chefe de Polícia não se manifestou.
Reprodução/VEJA
Em mensagem no whatsapp, Fábio Leão, condenado por formação de quadrilha, pede votos a Garotinho
Já as mensagens enviadas pelo celular de Fábio Leão assumem compromissos maiores que os de Álvaro. Ele é integrante do grupo dos inhos – como ficou conhecido um núcleo formado por ele e outros dois inspetores chamados Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, e Hélio Machado da Conceição, o Helinho. Os três foram condenados em 2012 pela juíza Karla Nanci Grando, da 4ª Vara Federal do Rio após a operação Gladiador da PF. “Irmãos, estive com nosso chefe, Dr Álvaro (Lins) esta manhã e o que ele me pediu para passar é o seguinte: com apoio dos amigos das vans, das comunidades que foram impedidas de terem suas próprias seguranças e foram tomadas por traficantes entre outros casos, provavelmente o nosso governador Garotinho ganhará no primeiro turno”, enviou para um grupo de amigos no Whatsapp. Quando fala em “seguranças próprias”, Fábio está se referindo às milícias que dominam favelas do Rio de Janeiro há anos, contrapondo-se ao tráfico de drogas. Segundo o relatório de 2008 CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio, o poder de tais grupos paramilitares – que fazem justiça com as próprias mãos e faturam com a venda de gás, pirataria na TV por assinatura e transporte alternativo – cresceu exponencialmente no estado durante os governos Rosinha e Garotinho.  
Mas a mensagem de Fábio que mais chama atenção é a que põe em xeque o discurso de Garotinho de que não vai acabar com as UPPs: “Dr Alvaro esteve com o governador Garotinho essa manhã e o mesmo garantiu que reintegra todo o nosso grupo a PCERJ (Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro) nos primeiros dias de 2015!!! Garantiu que acabará com essa palhaçada de UPP!!! Irmão, vamos ajudar! Garotinho na cabeça! Não se envergonhe! Gardênia, Rio das Pedras e todas de Jacarepaguá já declararam apoio e voto a Garotinho. Vamos para cima deles! Essa é a hora! Conto com a ajuda e o apoio de vocês. Ass: Fábio Leão”, afirmou na mensagem. Procurado, Fábio nega que tenha enviado as mensagens. Chegou a alegar clonagem do seu celular e montagem das imagens. No entanto, admite que encaminhou para alguns amigos o áudio de Álvaro Lins pedindo votos para o governo. VEJA tem o print screen de várias mensagens enviadas por Fábio nos últimos dias. ​

MP investiga grupo que ajudava Roger Abdelmassih

Justiça

Promotores descobriram que o médico vivia no Paraguai após a apreensão de documentos em uma fazenda de laranja em Avaré, no interior de São Paulo

Mariana Zylberkan
O ex-médico Roger Abdelmassih, 70, foi preso nesta terça-feira (19) em Assunção, capital do Paraguai. Segundo a Polícia Federal (PF), ele foi encontrado por agentes ligados à Secretaria Nacional Antidrogas do governo paraguaio, com apoio da PF
O ex-médico Roger Abdelmassih, 70, foi preso nesta terça-feira (19) em Assunção, capital do Paraguai. Segundo a Polícia Federal (PF), ele foi encontrado por agentes ligados à Secretaria Nacional Antidrogas do governo paraguaio, com apoio da PF - Secretaria Nacional De Antidrogas do Paraguai/EFE
O Ministério Público de São Paulo investiga uma rede de pessoas que ajudou o médico Roger Abdelmassih, preso nesta terça-feira no Paraguai, a fugir do país e permanecer na clandestinidade desde 2011. Segundo o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Marcio Elias Rosa, os acusados irão responder pelos crimes de falsidade ideológica e material e lavagem de dinheiro. Como o processo corre em segredo de Justiça, os nomes dos investigados permanecem em sigilo.

Capturado na cidade de Assunção, o médico está na carceragem da Polícia Federal na cidade paranaense de Foz do Iguaçu e será transferido para São Paulo nesta quarta-feira. Em seguida, ele será transferido para uma unidade prisional que vai ser definida pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP). Segundo o promotor Luiz Henrique Cardoso Dal Paz, é possível que Abdelmassih seja encaminhado para a Penitenciária de Tremembé, no interior paulista, onde já cumpriu pena.
Segundo Elias Rosa, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) de Bauru (SP) descobriram que o médico estava vivendo em Assunção após uma apreensão de documentos em uma fazenda de laranja em Avaré (SP), que já havia sido de propriedade de Abdelmassih. A propriedade foi negociada pelo médico anos antes, mas a sede permaneceu em seu nome.
No fim de maio, os promotores descobriram que o Abdelmassih estava prestes a se mudar para a sede da fazenda e entraram na propriedade com um mandado de busca e apreensão. Não foi encontrado nenhum indício de que o local era realmente habitado – por isso, os promotores desconfiaram que Abdelmassih usava o local como ponto de apoio para a movimentação de empresas de fachada e lavagem de dinheiro. A partir de documentos e informações coletadas na fazenda, o MP compartilhou as provas com a Polícia Federal, que chegou ao paradeiro do homem mais procurado do Estado de São Paulo nesta terça-feira. 

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