sexta-feira 05 2012
Na última propaganda, PT manda a lei às favas. Como de hábito!
Não vi a propaganda porque estou no Rio, mas leio o seguinte no Estadão Online. Volto em seguida:
A campanha de Fernando Haddad (PT) usou parte do horário eleitoral na TV reservado aos candidatos do partido a vereador nesta quinta-feira, 4, para pedir votos ao petista no domingo, 30. A prática é proibida pela Justiça Eleitoral, mas, diante do cenário apontado pelas últimas pesquisas de intenção de voto, o estafe petista decidiu levar a peça ao ar. Haddad está em empate técnico com José Serra (PSDB) – no Datafolha, porém, o tucano também está tecnicamente empatado em primeiro lugar com Celso Russomanno (PRB), que é líder isolado no Ibope.
A campanha de Fernando Haddad (PT) usou parte do horário eleitoral na TV reservado aos candidatos do partido a vereador nesta quinta-feira, 4, para pedir votos ao petista no domingo, 30. A prática é proibida pela Justiça Eleitoral, mas, diante do cenário apontado pelas últimas pesquisas de intenção de voto, o estafe petista decidiu levar a peça ao ar. Haddad está em empate técnico com José Serra (PSDB) – no Datafolha, porém, o tucano também está tecnicamente empatado em primeiro lugar com Celso Russomanno (PRB), que é líder isolado no Ibope.
No início da peça, o mesmo ator que apresentou as propagandas do candidato aparece no vídeo dizendo para o eleitor votar em Haddad, pois ele seria o candidato “que vai olhar para os que vivem na periferia”. A propaganda também fez críticas a José Serra (PSDB) e a Celso Russomanno (PRB), adversários diretos do petista na disputa. O advogado da campanha tucana, Ricardo Penteado, classificou como “escandalosa” a propaganda do PT. Ele afirmou que a equipe jurídica do partido vai se reunir nesta sexta-feira, 5, para decidir que medidas tomar. Segundo ele, o uso indevido do espaço na televisão poderia levar até mesmo à cassação da candidatura de Haddad. Isso poderia acontecer, de acordo com Penteado, porque esta quinta-feira foi o último dia de propaganda eleitoral no rádio e na TV e não há mais como o candidato ou o partido serem punidos com perda de tempo no horário eleitoral ou com um eventual direito de resposta concedido a outros candidatos. Procurada, a assessoria de imprensa do candidato disse que estava analisando o caso e que não iria se pronunciar.
Voltei
Parece uma coisa meio besta, né? Mas me digam: isso é ou não é a cara do PT? Então vamos ver: se Fernando Haddad estivesse na frente, é claro que o partido não recorreria a esse expediente. Como está atrás… Corolário: o PT só reconhece uma lei – a da sua necessidade
Parece uma coisa meio besta, né? Mas me digam: isso é ou não é a cara do PT? Então vamos ver: se Fernando Haddad estivesse na frente, é claro que o partido não recorreria a esse expediente. Como está atrás… Corolário: o PT só reconhece uma lei – a da sua necessidade
Não é por acaso que o Supremo julga um processo como o mensalão.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
Impunidade não é garantia democrática, Lewandowski! Aliás, é apanágio de ditaduras!
O voto desta quinta-feira do ministro Ricardo Lewandowski é a evidência escancarada de um Supremo Tribunal Federal infiltrado pelos interesses partidários mais mesquinhos – e pouco me importa se ele tem ou não a carteirinha do partido. Lewandowski é a prova de que, por meio do regime democrático, é perfeitamente possível promover a depredação das instituições, o seu rebaixamento, a sua desqualificação. Afinal, o presidente da República tem o poder de indicar o candidato ao Supremo. Ao Senado cabe sabatiná-lo e aprová-lo ou rejeitá-lo. Se o chefe do Executivo decide escolher um mero esbirro de um projeto político e se os senadores se comportam como despachantes do Palácio, toma assento na corte suprema do país o serviçal de um partido ou de um grupo. Como impedir que isso aconteça? Entregar a indicação a corporações de ofício também não é uma boa saída. Não há outro caminho: também nesse caso, só a vigilância democrática é eficaz – dos cidadãos, da imprensa, dos advogados, das pessoas de bem. “Ah, lá está o Reinaldo desqualificado o Lewandowski só porque não votou como ele queria…”
Quem acredita nisso não deixará de acreditar se eu disser que é mentira, certo? Logo, não quero papo com essa gente. Se há coisa que eu não faço é tentar convencer do contrário quem me detesta. Eu acho que o mundo fica bem com a diversidade… Adiante! O problema não está no voto “sim” ou “não” de Lewandowski, mas na qualidade de seus argumentos, na sem-cerimônia com que despreza os fatos, na arrogância – vênia máxima – meio ignorantona com que tem se conduzido no tribunal.
É bem verdade que ele já tentou enveredar pela Antiguidade Clássica e levou uma sandaliada do sapateiro quando atribuiu a Fídias uma frase dita por Apeles. É bem verdade que ele já havia maltratado Ortega y Gasset de maneira miserável, transformando o filósofo espanhol numa espécie de naturalista de meia-tigela. É bem verdade que ele não se saiu melhor quando apelou a Kafka… Não tendo evoluído nem com brilho nem com graça no mundo da alta cultura, Lewandowski houve por bem ser tosco, como se seus pares e nós mesmos, que acompanhamos o julgamento, não estivéssemos à altura do que ele guarda de melhor. Ocorre que ele não guarda nada de melhor. Como sabe Apeles. Como sabe Ortega y Gasset. Como sabe Kafka. Desqualificar uma convicção alheia como “coisa de Papai Noel” ou sugerir que seus colegas de tribunal são cegos a tatear partes de um elefante são posturas grosseiras, sim, mas próprias de quem não tem mais nada a oferecer.
Então Delúbio era o chefe do PT?Entende-se agora por que Lewandowski, secundando Márcio Thomaz Bastos, opôs-se com tanta energia ao fatiamento do julgamento. Do modo como Joaquim Barbosa conduziu o seu voto, as escolhas têm de ser feitas à luz do dia, segundo a exposição escancarada dos fatos. O que o ministro fez nesta quinta-feira, ao inocentar com tanta energia e dedicação José Genoino e José Dirceu, foi transformar o ex-tesoureiro Delúbio Soares em chefe máximo do partido. Quem? Este senhor é incapaz de administrar a própria reputação – já que sempre se oferece para ser o cobre de plantão de colegas mais graúdos… Imaginem se poderia ser ele o Dom Corleone do petismo… Trata-se de uma piada grotesca.
Como esquecer aquela histórica participação de Delúbio Soares na CPI do Correios, em que parecia estar pra lá de Bagdá, incapaz de dizer coisa com coisa? Ou não achei, ou os vídeos desapareceram do YouTube. Era ele o chefe??? Não! Lewandowski sabe que o tesoureiro cumpria as ordens que lhe dava a cúpula do partido: Lula, Dirceu e José Genoino. Mas aí o coração supostamente garantista de Lewandowski é tomado por um enxurrada de emoções, e ele pergunta, afetando candidez: “Onde estão as provas contra José Dirceu e José Genoino?”.
Bem, no caso de Genoino, há até recibo assinado – um contrato. Não serve para Lewandowski porque, diz ele, assinar os tais empréstimos era próprio da função do então presidente do PT. Certo! Mas também estava entre as suas atribuições endossar empréstimos fajutos, que jamais existiram? Ou o ministro acredita que foram legais? Se acredita, por que, então, condenou o núcleo banqueiro? “Ah, mas Genoino não sabia…” Digamos que não… Então alguém sabia! Dirceu, ora vejam, também ignorava tudo. Quando o ministro acha por bem, ele pergunta: “Cadê o papel com assinatura?”; quando lhe dá na veneta (uma veneta com método!), no entanto, ele proclama: “Esse papel era parte das atribuições do meu cliente…” – ooops! “Do réu”, eu quis dizer. A depender de quem seja, Lewandowski ou absolve por haver papel ou absolve por não haver papel.
Não que fosse um despropósito um partido como o PT ter como seu chefe máximo um tesoureiro. Faria um sentido danado. Mas os fatos demonstram ser essa uma mentira escandalosa. O próprio Delúbio já andou dizendo por aí que a sua eventual prisão é uma espécie de missão partidária. Ora, devagar com o andor, senhor Lewandowski! A teoria do “domínio do fato” não se confunde com a responsabilidade objetiva – até porque, no que concerne a Dirceu, nem mesmo chefe do partido ele era! Trata-se de juntar as peças do quebra-cabeça, a partir do conjunto de indícios, para concluir, afinal, quem tinha o comando da máquina partidária – além de seu presidente, que era José Genoino.
Mas não seremos tão cruéis a ponto de forçar Lewandowski a chegar ao óbvio com base na pura lógica. Não! Contra Dirceu há depoimentos – os líderes partidários dizem que qualquer acordo tinha de ser referendado por ele – e há os fatos: as reuniões com a cúpula do Banco Rural, em companhia, calculem, de Marcos Valério (por quê???) e Delúbio Soares.
É patético que o ministro se esconda atrás de um suposto apego ao garantismo para ignorar a realidade. O garantismo que permite a impunidade é falácia. Os que se dizem adeptos dessa corrente estão é em busca de Justiça, não o contrário. Então Lewandowski condena por corrupção passiva um Roberto Jefferson, que admite ter recebido uma mala de dinheiro para distribuir aos petebistas, mas absolve Dirceu, que foi quem costurou aquele acordo, fundado sobre aquelas bases, a saber: dinheiro? Ou o ministro tentará nos convencer de que a “autoridade” petista com quem Jefferson negociava era… Delúbio? Por quem nos toma Lewandowski?
“O depoimento de Jefferson não vale; ele também é réu!” Sim, é, mas é um réu que se autoincriminou e que tinha ciência do que estava fazendo – é advogado. Mas não! Não é preciso recorrer ao que Jefferson diz de Dirceu para chegar à culpa do comissário. Kátia Rabello, narrando seus encontros com o então chefe da Casa Civil, consegue ser muito mais eloquente.
ConcluindoUm ministro está prestes a assumir a vaga aberta com a saída de Cezar Peluso. No mês que vem, outro assento se torna vago, com a aposentadoria de Ayres Britto. Por enquanto, pela maioria folgada de seus integrantes, temos e vemos um Supremo Tribunal Federal que honra a sua independência. Lewandowski, no entanto, é a evidência que aquela não é uma Casa imune a interesses que podem orbitar fora da Constituição e dos códigos legais.
Ou a gente diz isso a tempo, com todas as letras, ou, como diria Camões, um dia o dano pode ser maior do que o perigo.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
A inteligência dos polvos
A inteligência dos polvos
O vídeo mostra diversas situações em que o polvo consegue resolver problemas. Desde a captura de presas em diferentes tipos de recipientes até escapar de locais extremamente difíceis. As situações mostram que o animal é capaz de formular soluções para problemas específicos, o que denota, na opinião dos neurocientistas, um estado de consciência inteligente.
O corvo que faz ferramentas
Uma das condições para diferenciar seres humanos de outros animais é a capacidade de produzir ferramentas. Vários animais já demonstraram essa capacidade, como ursos e corvos. No vídeo, o animal entorta um pedaço de arame para formar um gancho. A ferramenta é utilizada para retirar o alimento de dentro do frasco.
Consciência dos elefantes
Ao avistar o filhote preso na enorme poça d'água, a mamãe elefante tenta resgatá-lo. Em seguida, outro elefante vem ajudar mãe e filho. A situação demonstra que os elefantes têm capacidade de perceber a necessidade de outros, uma das qualidade levadas em consideração na hora de definir se um ser possui consciência ou não.
Os ratos também dão risadas
Pesquisadores descobriram que os ratos também sentem cócegas, assim como os seres humanos. Ao passar os dedos ao longo do corpo dos animais, os cientistas descobriram que eles emitem um som inaudível aos seres humanos (a frequência é alta demais). A análise do áudio, contudo, revelou que os ratinhos morrem de rir. Isso só ocorreria, defendem os pesquisadores, se o animal tivesse algum tipo de consciência. "Não é possível rir inconsciente", argumentam.
http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/quase-humanos
Quase humanos
Comportamento animal
Neurocientistas publicam manifesto afirmando que mamíferos, aves e até polvos têm consciência e esquentam debate sobre direitos dos animais
Marco Túlio Pires
Chimpanzé alimenta um filhote de tigre dourado, em mini zoológico na cidade de Samutprakan, Tailândia: percepção de sua própria existência e do mundo ao seu redor (Rungroj Yongrit/EFE)
Os seres humanos não são os únicos animais que têm consciência. A afirmação não é de ativistas radicais defensores dos direitos dos animais. Pelo contrário. Um grupo de neurocientistas — doutores de instituições de renome como Caltech, MIT e Instituto Max Planck — publicou um manifesto asseverando que o estudo da neurociência evoluiu de modo tal que não é mais possível excluir mamíferos, aves e até polvos do grupo de seres vivos que possuem consciência. O documento divulgado no último sábado (7), em Cambridge, esquenta uma discussão que divide cientistas, filósofos e legisladores há séculos sobre a natureza da consciência e sua implicação na vida dos humanos e de outros animais.
Apresentado à Nasa nesta quinta-feira, o manifesto não traz novas descobertas da neurociência — é uma compilação das pesquisas da área. Representa, no entanto, um posicionamento inédito sobre a capacidade de outros seres perceberem sua própria existência e o mundo ao seu redor. Em entrevista ao site de VEJA, Philip Low, criador do iBrain, o aparelho que recentemente permitiu a leitura das ondas cerebrais do físico Stephen Hawking, e um dos articuladores do movimento, explica que nos últimos 16 anos a neurociência descobriu que as áreas do cérebro que distinguem seres humanos de outros animais não são as que produzem a consciência. "As estruturas cerebrais responsáveis pelos processos que geram a consciência nos humanos e outros animais são equivalentes", diz. "Concluímos então que esses animais também possuem consciência."
O que é consciência?
PARA A FILOSOFIA
Filosoficamente, é o entendimento que uma criatura tem sobre si e seu lugar na natureza. Alguns atributos definem a consciência, como ser senciente, ou seja, sentir o mundo à sua volta e reagir a ele; estar alerta ou acordado ou ter consciência sobre si mesmo (o que, para a filosofia já basta para incluir alguns animais “não-linguísticos” entre os seres com consciência).Fonte: Enciclopédia de Filosofia de Stanford
Filosoficamente, é o entendimento que uma criatura tem sobre si e seu lugar na natureza. Alguns atributos definem a consciência, como ser senciente, ou seja, sentir o mundo à sua volta e reagir a ele; estar alerta ou acordado ou ter consciência sobre si mesmo (o que, para a filosofia já basta para incluir alguns animais “não-linguísticos” entre os seres com consciência).Fonte: Enciclopédia de Filosofia de Stanford
PARA A CIÊNCIA
A ciência considera como consciência as percepções sobre o mundo e as sensações corporais, junto com os pensamentos, memórias, ações e emoções. Ou seja, tudo o que escapa aos processos cerebrais automáticos e chega à nossa atenção. O conteúdo da consciência geralmente é estudado usando exames de imagens cerebrais para comparar quais estímulos chegam à nossa atenção e quais não. Como resumiu o neurocientista Bernard Baars, em 1987, o cérebro é como um teatro no qual a maioria dos eventos neurais são inconscientes, portanto acontecem “nos bastidores”, enquanto alguns poucos entram no processo consciente, ou seja, chegam ao “palco”.
A ciência considera como consciência as percepções sobre o mundo e as sensações corporais, junto com os pensamentos, memórias, ações e emoções. Ou seja, tudo o que escapa aos processos cerebrais automáticos e chega à nossa atenção. O conteúdo da consciência geralmente é estudado usando exames de imagens cerebrais para comparar quais estímulos chegam à nossa atenção e quais não. Como resumiu o neurocientista Bernard Baars, em 1987, o cérebro é como um teatro no qual a maioria dos eventos neurais são inconscientes, portanto acontecem “nos bastidores”, enquanto alguns poucos entram no processo consciente, ou seja, chegam ao “palco”.
Estudos recentes, como os da pesquisadora Diana Reiss (uma das cientistas que assinaram o manifesto), da Hunter College, nos Estados Unidos, mostram que golfinhos e elefantes também são capazes de se reconhecer no espelho. Essa capacidade é importante para definir se um ser está consciente. O mesmo vale para chimpanzés e pássaros. Outros tipos de comportamento foram analisados pelos neurocientistas. "Quando seu cachorro está sentindo dor ou feliz em vê-lo, há evidências de que no cérebro deles há estruturas semelhantes às que são ativadas quando exibimos medo e dor e prazer", diz Low.
Personalidade animal - Dizer que os animais têm consciência pode trazer várias implicações para a sociedade e o modo como os animais são tratados. Steven Wise, advogado e especialista americano em direito dos animais, diz que o manifesto chega em boa hora. "O papel dos advogados e legisladores é transformar conclusões científicas como essa em legislação que ajudará a organizar a sociedade", diz em entrevista ao site de VEJA. Wise é líder do Projeto dos Direitos de Animais não Humanos. O advogado coordena um grupo de 70 profissionais que organizam informações, casos e jurisprudência para entrar com o primeiro processo em favor de que alguns animais — como grandes primatas, papagaios africanos e golfinhos — tenham seu status equiparado ao dos humanos.
O manifesto de Cambridge dá mais munição ao grupo de Wise para vencer o caso. "Queremos que esses animais recebam direitos fundamentais, que a justiça as enxergue como pessoas, no sentido legal." Isso, de acordo com o advogado, quer dizer que esses animais teriam direito à integridade física e à liberdade, por exemplo. "Temos que parar de pensar que esses animais existem para servir aos seres humanos", defende Wise. "Eles têm um valor intrínseco, independente de como os avaliamos."
Questão moral - O manifesto não decreta o fim dos zoológicos ou das churrascarias, muito menos das pesquisas médicas com animais. Contudo, já foi suficiente para provocar reflexão e mudança de comportamento em cientistas, como o próprio Low. "Estou considerando me tornar vegetariano", diz. "Temos agora que apelar para nossa engenhosidade, para desenvolver tecnologias que nos permitam criar uma sociedade cada vez menos dependente dos animais." Low se refere principalmente à pesquisa médica. Para estudar a vida, a ciência ainda precisa tirar muitas. De acordo com o neurocientista, o mundo gasta 20 bilhões por ano para matar 100 milhões de vertebrados. Das moléculas medicinais produzidas por esse amontoado de dinheiro e mortes, apenas 6% chega a ser testada em seres humanos. "É uma péssima contabilidade", diz Low.
Contudo, a pesquisa com animais ainda é necessária. O endocrinologista americano Michael Conn, autor do livro The Animal Research War, sem edição no Brasil, argumenta que se trata de uma escolha priorizar a espécie humana. "Conceitos como os de consentimento e autonomia só fazem sentido dentro de um código moral que diz respeito aos homens, e não aos animais", disse em entrevista ao site de VEJA. "Nossa obrigação com os animais é fazer com que eles sejam devidamente cuidados, não sofram nem sintam dor — e não tratá-los como se fossem humanos, o que seria uma ficção", argumenta. "Se pudéssemos utilizar apenas um computador para fazer pesquisas médicas seria ótimo. Mas a verdade é que não é possível ainda."
Personalidade animal - Dizer que os animais têm consciência pode trazer várias implicações para a sociedade e o modo como os animais são tratados. Steven Wise, advogado e especialista americano em direito dos animais, diz que o manifesto chega em boa hora. "O papel dos advogados e legisladores é transformar conclusões científicas como essa em legislação que ajudará a organizar a sociedade", diz em entrevista ao site de VEJA. Wise é líder do Projeto dos Direitos de Animais não Humanos. O advogado coordena um grupo de 70 profissionais que organizam informações, casos e jurisprudência para entrar com o primeiro processo em favor de que alguns animais — como grandes primatas, papagaios africanos e golfinhos — tenham seu status equiparado ao dos humanos.
O manifesto de Cambridge dá mais munição ao grupo de Wise para vencer o caso. "Queremos que esses animais recebam direitos fundamentais, que a justiça as enxergue como pessoas, no sentido legal." Isso, de acordo com o advogado, quer dizer que esses animais teriam direito à integridade física e à liberdade, por exemplo. "Temos que parar de pensar que esses animais existem para servir aos seres humanos", defende Wise. "Eles têm um valor intrínseco, independente de como os avaliamos."
Questão moral - O manifesto não decreta o fim dos zoológicos ou das churrascarias, muito menos das pesquisas médicas com animais. Contudo, já foi suficiente para provocar reflexão e mudança de comportamento em cientistas, como o próprio Low. "Estou considerando me tornar vegetariano", diz. "Temos agora que apelar para nossa engenhosidade, para desenvolver tecnologias que nos permitam criar uma sociedade cada vez menos dependente dos animais." Low se refere principalmente à pesquisa médica. Para estudar a vida, a ciência ainda precisa tirar muitas. De acordo com o neurocientista, o mundo gasta 20 bilhões por ano para matar 100 milhões de vertebrados. Das moléculas medicinais produzidas por esse amontoado de dinheiro e mortes, apenas 6% chega a ser testada em seres humanos. "É uma péssima contabilidade", diz Low.
Contudo, a pesquisa com animais ainda é necessária. O endocrinologista americano Michael Conn, autor do livro The Animal Research War, sem edição no Brasil, argumenta que se trata de uma escolha priorizar a espécie humana. "Conceitos como os de consentimento e autonomia só fazem sentido dentro de um código moral que diz respeito aos homens, e não aos animais", disse em entrevista ao site de VEJA. "Nossa obrigação com os animais é fazer com que eles sejam devidamente cuidados, não sofram nem sintam dor — e não tratá-los como se fossem humanos, o que seria uma ficção", argumenta. "Se pudéssemos utilizar apenas um computador para fazer pesquisas médicas seria ótimo. Mas a verdade é que não é possível ainda."
Cérebro das aves tem estrutura semelhante a dos humanos
Neurobiologia
Pesquisa comprova que cérebro dos pássaros tem uma região semelhante ao neocórtex, que nos humanos é responsável por funções complexas, como a consciência e a linguagem
O cérebro do pássaro mandarim ('Taeniopygia guttata') foi analisado pela equipe de pesquisadores, que encontrou células semelhantes às do neocórtex (Thinkstock)
O neocórtex é uma região essencial do cérebro dos mamíferos. Localizada na parte externa do órgão, está relacionada com funções importantes como percepção sensorial, comandos motores, consciência e linguagem. Ela é muito desenvolvida em humanos e outros primatas. Nos demais mamíferos, ela é um pouco menor. E, até agora, era considerada ausente do cérebro dos outros animais. No entanto, uma pesquisa publicada nesta segunda-feira na revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) mostrou que células similares às do neocórtex mamífero podem ser encontradas no cérebro de aves, em uma estrutura anatômica diferente.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Cell-type homologies and the origins of the neocórtex
Onde foi divulgada: revista PNAS
Quem fez: Jennifer Dugas-Ford, Joanna J. Rowell e Clifton W. Ragsdale
Instituição: Departamento de Neurobiologia da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos
Resultado: Os pesquisadores usaram marcadores que caracterizam as camadas 4 e 5 do neocórtex (estrutura presente no cérebro humano) para procurar por estruturas semelhantes no cérebro de pássaros. Ali, descobriram neurônios semelhantes que, em vez de se organizar por camadas, se organizam na forma de núcleos. Em tartarugas, encontraram neurônios semelhantes, mas organizados na forma de uma única camada.
O estudo confirma uma teoria levantada há mais de meio século para explicar a função de uma região chamada crista ventricular dorsal (DVR, na sigla em inglês), presente no cérebro das aves. Tanto o neocórtex dos mamíferos quanto a DVR se originam nos embriões em uma região chamada telencéfalo. Mas, durante seu desenvolvimento, acabam assumindo formatos distintos. Enquanto o neocórtex é formado por seis camadas diferentes, a DVR é constituída de aglomerados de neurônios, que formam pequenos núcleos.
Por causa da anatomia diferente, muitos cientistas defendiam que as áreas não realizavam a mesma função. "Todos os mamíferos têm um neocórtex, e ele é virtualmente idêntico entre todos eles. Mas, quando analisamos os animais mais próximos, que são pássaros e répteis, eles não têm nada que seja remotamente similar ao neocórtex", diz Jennifer Dugas-Ford, pesquisadora da Universidade de Chicago, e um dos autores do estudo.
Hipótese antiga — Nos anos 60, o neurocientista Harvey Karten descobriu que a DVR possuía conexões neurais semelhantes às do neocórtex e chegou a formular uma teoria dizendo que as regiões desempenhavam a mesma função, apesar da anatomia diferente. Depois de décadas de debate, os pesquisadores da Universidade de Chicago resolveram testar a hipótese. Para isso, eles usaram marcadores moleculares recém-descobertos capazes de identificar camadas específicas do neocórtex — mais especificamente, as camadas 4 e 5 da região. Os autores então procuraram descobrir se os genes responsáveis por esses marcadores eram expressos na região DVR dos pássaros.
Ao realizar a pesquisa com frangos e mandarins (Taeniopygia guttata), eles descobriram que os marcadores das camadas 4 e 5 estavam expressos em diferentes núcleos da DVR, mostrando que a hipótese estava correta. "A pesquisa original de Karten havia encontrado conexões neurais semelhantes entre as áreas, e alguns pesquisadores negaram essa semelhança. Agora, nós encontramos marcadores que sinalizavam áreas específicas do neocórtex e descobrimos que, em duas aves muito diferentes, os genes responsáveis por esses marcadores correspondiam às conexões neurais", disse Clifton Ragsdale, professor de neurobiologia da Universidade de Chicago.
Tartaruga – Depois de descobrir a região similar ao neocórtex no cérebro dos pássaros, os pesquisadores fizeram uma pesquisa semelhante no cérebro de tartarugas. O resultado foi parecido, revelando mais uma possibilidade anatômica para a organização das células do neocórtex. Em vez de ser formado por seis camadas ou núcleos, o cérebro da tartaruga tinha as mesmas células espalhadas ao longo de uma única camada de seu córtex. “É muito interessante que tenhamos todas essas morfologias diferentes construídas a partir do mesmo tipo de célula”, diz Joanna Rowell, uma das autoras do estudo.
No futuro, os pesquisadores pretendem descobrir os diferentes caminhos percorridos pelos mesmos neurônios para formar regiões cerebrais de formato tão distintos. Além disso, eles pretendem testar os prós e os contras de cada formação. A linguagem complexa e o uso de ferramentas por parte de alguns pássaros sugerem que a organização nuclear dessas células também é capaz de suportar funções avançadas – e pode, em alguns casos, até oferecer vantagens em relação à estrutura humana.
Pesquisadores descobrem como transformar células do cérebro em neurônios
Neurologia
Terapia pode ajudar a tratar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson
Com a ação de dois fatores de transcrição, cientistas conseguiram transformar pericitos presentes no cérebro em neurônios. (Thinkstock)
Pesquisadores alemães descobriram um método de gerar novos neurônios humanos a partir de outros tipos de células encontradas no cérebro. A pesquisa, publicada nesta quinta-feira na revista Cell Stem Cell, pode ajudar a criar novas terapias para tratar danos neurológicos e doenças neurodegenerativas, como a Doença de Parkinson e o Alzheimer. "Nosso trabalho pretende converter células que estão presentes por todo o cérebro, mas que não são células nervosas, em neurônios. O objetivo final é que um dia possamos induzir essa conversão no próprio paciente, e reparar o cérebro doente ou danificado", diz Benedikt Berninger, pesquisadora da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, na Alemanha.
Saiba mais
DOENÇA DE PARKINSON
A doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso tem uma evolução lenta e costuma aparecer entre os 50 e 79 anos. Ela é caracterizada por tremores nos músculos quando eles estão em repouso, lentidão nos movimentos voluntários e rigidez. Estima-se que a doença afete cerca de 1 em cada 100 pessoas com mais de 65 anos. As causas do Parkinson ainda são desconhecidas e seu tratamento é feito com o uso de medicamentos. A progressão da doença, no entanto, ainda é inevitável.
A doença degenerativa e progressiva do sistema nervoso tem uma evolução lenta e costuma aparecer entre os 50 e 79 anos. Ela é caracterizada por tremores nos músculos quando eles estão em repouso, lentidão nos movimentos voluntários e rigidez. Estima-se que a doença afete cerca de 1 em cada 100 pessoas com mais de 65 anos. As causas do Parkinson ainda são desconhecidas e seu tratamento é feito com o uso de medicamentos. A progressão da doença, no entanto, ainda é inevitável.
ALZHEIMER
A demência é causada por uma variedade de doenças no cérebro que afetam a memória, o pensamento, o comportamento e a habilidade de realizar atividades cotidianas. O Alzheimer é a causa mais comum de demência e corresponde a cerca de 70% dos casos. Os sintomas mais comuns são: perda de memória, confusão, irritabilidade e agressividade, alterações de humor e falhas de linguagem.
A demência é causada por uma variedade de doenças no cérebro que afetam a memória, o pensamento, o comportamento e a habilidade de realizar atividades cotidianas. O Alzheimer é a causa mais comum de demência e corresponde a cerca de 70% dos casos. Os sintomas mais comuns são: perda de memória, confusão, irritabilidade e agressividade, alterações de humor e falhas de linguagem.
BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA
Estrutura em forma de membrana que protege o cérebro contra substâncias químicas presentes no sangue. Ela é semipermeável, impedindo a passagem de algumas substâncias e aceitando a de outras, permitindo assim que o órgão funcione normalmente. Apesar de seu efeito protetor, a barreira atrapalha a ação de drogas que pretendam agir diretamente no cérebro, como remédios contra a depressão.
Estrutura em forma de membrana que protege o cérebro contra substâncias químicas presentes no sangue. Ela é semipermeável, impedindo a passagem de algumas substâncias e aceitando a de outras, permitindo assim que o órgão funcione normalmente. Apesar de seu efeito protetor, a barreira atrapalha a ação de drogas que pretendam agir diretamente no cérebro, como remédios contra a depressão.
A partir de pesquisas anteriores, os cientistas já sabiam ser possível reprogramar diferentes tipos de células a partir da ação de proteínas conhecidas como fatores de transcrição. Elas se ligam a regiões específicas do DNA e podem controlar a expressão desses genes — ajudando a definir a função exercida pela célula. O grande desafio dos pesquisadores era encontrar no cérebro humano células capazes de serem convertidas em neurônios.
Depois de analisar amostras de células retiradas do cérebro de 30 voluntários, os pesquisadores descobriram que poderiam reprogramar os pericitos, células encontradas em associação com o sistema nervoso central e vasos sanguíneos pelo corpo. No cérebro, eles têm como função manter a barreira hematoencefálica intacta, e participam na regeneração de partes danificadas no resto do corpo.
Os pesquisadores descobriram que os pericitos poderiam ser transformados em neurônios a partir da expressão de dois fatores de transcrição (proteínas que podem controlar diversas funções genéticas nas células), chamados de Sox2 e Mash1. "Nós pensamos que, se conseguirmos mirar especificamente essas células e as transformar em neurônios, podemos tirar vantagem dessa capacidade de regeneração", diz Berninger.
Testes mostraram que esses neurônios recém-convertidos podiam produzir sinais elétricos e se comunicar com outros neurônios, dando evidências de que as células podiam se integrar ao sistema nervoso do corpo. "Ainda precisamos realizar muitos estudos para adotar essa estratégia de reprogramação neuronal para reparar tecidos vivos. Mas nossos dados dão suporte à ideia de que a reprogramação de pericitos no cérebro danificado pode se tornar um método viável para substituir neurônios degenerados", afirma a pesquisadora.
Eleição em AL pode levar à Câmara réu de dois homicídios
Eleições 2012
Ex-deputado e delegado Francisco Tenório assumirá cadeira de Célia Rocha caso ela seja mesmo eleita prefeita de Arapiraca
Jean-Philip Struck
O suplente Francisco Tenório passou um ano preso. Solto, tentou voltar ao cargo de delegado. Agora, pode assumir um mandato de deputado federal (Janine Moraes/Camera dos Deputados)
Dois processos por homicídio. Denúncias por participação em um esquema de desvios na Assembleia Legislativa de Alagoas. Um ano na cadeia entre fevereiro de 2011 e fevereiro de 2012. Mesmo com esse ‘currículo’, o suplente de deputado federal Francisco Tenório, o Chico Tenório (PMN), tem uma grande chance de voltar ao Congresso Nacional em janeiro do ano que vem.
Tudo porque a deputada federal Célia Rocha (PTB) deve ser a eleita prefeita do município de Arapiraca (AL) no próximo domingo e, assim, liberar sua vaga na Câmara para o seu primeiro suplente, Chico Tenório. Delegado da Polícia Civil alagoana, ele está afastado do cargo há dezesseis anos, desde que entrou para a política. Nesse período, cumpriu mandatos como deputado estadual e federal. E passou um ano na cadeia.
Tenório é réu em dois processos por homicídio. Em um deles, é acusado de ter, com outros deputados, encomendado a morte de um cabo da Polícia Militar em 1996. Em 2005, passou a responder pelo homicídio de um motorista.
Enquanto era deputado federal, Tenório cumpriu tranquilamente seus mandatos porque contava com foro privilegiado no Superior Tribunal Federal. A situação só mudou em 2010, quando ele não conseguiu se reeleger, conquistando apenas a suplência. Em fevereiro de 2011, um dia após o fim do seu mandato, Tenório foi preso preventivamente. E só foi solto em fevereiro do ano seguinte.
Ainda que atrás das grades, o deputado comemorou o Natal de 2011 em família. Causou alvoroço na cidade o vazamento de fotos de uma ceia de Natal, com peru assado e bebidas, organizada pelos parentes do ex-deputado na carceragem da Casa de Custódia de Maceió.
Assim que deixou a prisão, Tenório tentou reassumir seu posto de delegado. Uma nomeação para a delegacia de trânsito chegou a ser publicada pelo governo alagoano, mas foi anulada após a imprensa questionar o ato. No momento, ele está afastado da Polícia Civil, mas continua recebendo salário.
Caso volte à Câmara, Tenório terá novamente foro privilegiado e vai responder às ações no STF. Seu advogado, Fernando Maciel, diz que o mandato não vai ‘blindar’ o delegado. “Isso até vai dar mais agilidade ao processo, que já vai direto para uma instância superior. Ele é inocente. Não há nada que impeça que ele assuma o mandato de deputado. Até o momento ele não foi condenado”, disse Maciel ao site de VEJA.
Nos meses seguintes à sua saída da cadeia, Tenório teve que circular por Maceió com uma tornozeleira eletrônica, para que a Justiça monitorasse seus passos. Ele só conseguiu o direito de não usar o equipamento no mês passado. Por pouco não teve que usá-lo na Câmara.
Impunidade não é garantia democrática, Lewandowski! Aliás, é apanágio de ditaduras!
Mensalão
O voto desta quinta-feira do ministro Ricardo Lewandowski é a evidência escancarada de um Supremo Tribunal Federal infiltrado pelos interesses partidários mais mesquinhos – e pouco me importa se ele tem ou não a carteirinha do partido. Lewandowski é a prova de que, por meio do regime democrático, é perfeitamente possível promover a depredação das instituições, o seu rebaixamento, a sua desqualificação. Afinal, o presidente da República tem o poder de indicar o candidato ao Supremo. Ao Senado cabe sabatiná-lo e aprová-lo ou rejeitá-lo. Se o chefe do Executivo decide escolher um mero esbirro de um projeto político e se os senadores se comportam como despachantes do Palácio, toma assento na corte suprema do país o serviçal de um partido ou de um grupo. Como impedir que isso aconteça? Entregar a indicação a corporações de ofício também não é uma boa saída. Não há outro caminho: também nesse caso, só a vigilância democrática é eficaz – dos cidadãos, da imprensa, dos advogados, das pessoas de bem. “Ah, lá está o Reinaldo desqualificado o Lewandowski só porque não votou como ele queria…”
Quem acredita nisso não deixará de acreditar se eu disser que é mentira, certo? Logo, não quero papo com essa gente. Se há coisa que eu não faço é tentar convencer do contrário quem me detesta. Eu acho que o mundo fica bem com a diversidade… Adiante! O problema não está no voto “sim” ou “não” de Lewandowski, mas na qualidade de seus argumentos, na sem-cerimônia com que despreza os fatos, na arrogância – vênia máxima – meio ignorantona com que tem se conduzido no tribunal.
É bem verdade que ele já tentou enveredar pela Antiguidade Clássica e levou uma sandaliada do sapateiro quando atribuiu a Fídias uma frase dita por Apeles. É bem verdade que ele já havia maltratado Ortega y Gasset de maneira miserável, transformando o filósofo espanhol numa espécie de naturalista de meia-tigela. É bem verdade que ele não se saiu melhor quando apelou a Kafka… Não tendo evoluído nem com brilho nem com graça no mundo da alta cultura, Lewandowski houve por bem ser tosco, como se seus pares e nós mesmos, que acompanhamos o julgamento, não estivéssemos à altura do que ele guarda de melhor. Ocorre que ele não guarda nada de melhor. Como sabe Apeles. Como sabe Ortega y Gasset. Como sabe Kafka. Desqualificar uma convicção alheia como “coisa de Papai Noel” ou sugerir que seus colegas de tribunal são cegos a tatear partes de um elefante são posturas grosseiras, sim, mas próprias de quem não tem mais nada a oferecer.
Então Delúbio era o chefe do PT?Entende-se agora por que Lewandowski, secundando Márcio Thomaz Bastos, opôs-se com tanta energia ao fatiamento do julgamento. Do modo como Joaquim Barbosa conduziu o seu voto, as escolhas têm de ser feitas à luz do dia, segundo a exposição escancarada dos fatos. O que o ministro fez nesta quinta-feira, ao inocentar com tanta energia e dedicação José Genoino e José Dirceu, foi transformar o ex-tesoureiro Delúbio Soares em chefe máximo do partido. Quem? Este senhor é incapaz de administrar a própria reputação – já que sempre se oferece para ser o cobre de plantão de colegas mais graúdos… Imaginem se poderia ser ele o Dom Corleone do petismo… Trata-se de uma piada grotesca.
Como esquecer aquela histórica participação de Delúbio Soares na CPI do Correios, em que parecia estar pra lá de Bagdá, incapaz de dizer coisa com coisa? Ou não achei, ou os vídeos desapareceram do YouTube. Era ele o chefe??? Não! Lewandowski sabe que o tesoureiro cumpria as ordens que lhe dava a cúpula do partido: Lula, Dirceu e José Genoino. Mas aí o coração supostamente garantista de Lewandowski é tomado por um enxurrada de emoções, e ele pergunta, afetando candidez: “Onde estão as provas contra José Dirceu e José Genoino?”.
Bem, no caso de Genoino, há até recibo assinado – um contrato. Não serve para Lewandowski porque, diz ele, assinar os tais empréstimos era próprio da função do então presidente do PT. Certo! Mas também estava entre as suas atribuições endossar empréstimos fajutos, que jamais existiram? Ou o ministro acredita que foram legais? Se acredita, por que, então, condenou o núcleo banqueiro? “Ah, mas Genoino não sabia…” Digamos que não… Então alguém sabia! Dirceu, ora vejam, também ignorava tudo. Quando o ministro acha por bem, ele pergunta: “Cadê o papel com assinatura?”; quando lhe dá na veneta (uma veneta com método!), no entanto, ele proclama: “Esse papel era parte das atribuições do meu cliente…” – ooops! “Do réu”, eu quis dizer. A depender de quem seja, Lewandowski ou absolve por haver papel ou absolve por não haver papel.
Não que fosse um despropósito um partido como o PT ter como seu chefe máximo um tesoureiro. Faria um sentido danado. Mas os fatos demonstram ser essa uma mentira escandalosa. O próprio Delúbio já andou dizendo por aí que a sua eventual prisão é uma espécie de missão partidária. Ora, devagar com o andor, senhor Lewandowski! A teoria do “domínio do fato” não se confunde com a responsabilidade objetiva – até porque, no que concerne a Dirceu, nem mesmo chefe do partido ele era! Trata-se de juntar as peças do quebra-cabeça, a partir do conjunto de indícios, para concluir, afinal, quem tinha o comando da máquina partidária – além de seu presidente, que era José Genoino.
Mas não seremos tão cruéis a ponto de forçar Lewandowski a chegar ao óbvio com base na pura lógica. Não! Contra Dirceu há depoimentos – os líderes partidários dizem que qualquer acordo tinha de ser referendado por ele – e há os fatos: as reuniões com a cúpula do Banco Rural, em companhia, calculem, de Marcos Valério (por quê???) e Delúbio Soares.
É patético que o ministro se esconda atrás de um suposto apego ao garantismo para ignorar a realidade. O garantismo que permite a impunidade é falácia. Os que se dizem adeptos dessa corrente estão é em busca de Justiça, não o contrário. Então Lewandowski condena por corrupção passiva um Roberto Jefferson, que admite ter recebido uma mala de dinheiro para distribuir aos petebistas, mas absolve Dirceu, que foi quem costurou aquele acordo, fundado sobre aquelas bases, a saber: dinheiro? Ou o ministro tentará nos convencer de que a “autoridade” petista com quem Jefferson negociava era… Delúbio? Por quem nos toma Lewandowski?
“O depoimento de Jefferson não vale; ele também é réu!” Sim, é, mas é um réu que se autoincriminou e que tinha ciência do que estava fazendo – é advogado. Mas não! Não é preciso recorrer ao que Jefferson diz de Dirceu para chegar à culpa do comissário. Kátia Rabello, narrando seus encontros com o então chefe da Casa Civil, consegue ser muito mais eloquente.
ConcluindoUm ministro está prestes a assumir a vaga aberta com a saída de Cezar Peluso. No mês que vem, outro assento se torna vago, com a aposentadoria de Ayres Britto. Por enquanto, pela maioria folgada de seus integrantes, temos e vemos um Supremo Tribunal Federal que honra a sua independência. Lewandowski, no entanto, é a evidência que aquela não é uma Casa imune a interesses que podem orbitar fora da Constituição e dos códigos legais.
Ou a gente diz isso a tempo, com todas as letras, ou, como diria Camões, um dia o dano pode ser maior do que o perigo.
Julgamento do mensalão: como falam os ministros do STF
Justiça
Lewandowski rivaliza com Barbosa na duração dos votos e até nos apartes. Dos demais ministros, Toffoli é o mais prolixo, e Cármen Lúcia, a mais sucinta
Daniel Jelin
Barbosa e Lewandowski: réplica, tréplica e bate-boca (Andre Dusek/AE)
Na semana passada, o ministro relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, queixou-se do revisor, Ricardo Lewandowski: "É absolutamente heterodoxo um ministro revisor ficar medindo o tamanho do voto do relator para replicar o seu do mesmo tamanho. É cansativo". O rompante não ajudou a acelerar o julgamento do mensalão – ao contrário –, mas Barbosa tem razão: o "contraponto" que Lewandowski prometeu fazer parece rigorosamente cronometrado. Nada o impede de fazê-lo – talvez o bom senso –, mas de fato é cansativo.
Aos números: na primeira 'fatia' do julgamento, Barbosa falou por 06h24, e Lewandowski, por 06h36; no segundo capítulo, o relator votou por 03h10, e o revisor, 03h00; no terceiro item analisado, foram 03h53 para Barbosa e 04h06 para Lewandowski. A quarta fatia, a mais longa, foi dividida em duas partes, uma para as denúncias contra deputados da base aliada e seus colaboradores, outra para a cúpula do PT e o núcleo publicitário. Na primeira rodada, o voto de Barbosa foi pela primeira vez significativamente mais longo que o de Lewandowski, 09h35 contra 'apenas' 07h45. Na segunda rodada, Lewandowski iniciou seu voto de modosurpreendentemente acelerado, mas no fim tomou até mais tempo que Barbosa: 3h22 contra 3h13 (veja abaixo os números e assista aos vídeos).
O antagonismo lembra o dos debates eleitorais na TV, em que candidatos melindrados requerem direito de resposta ao apresentador. Lewandowski chegou ao ponto de pedir direito a tréplica sem saber o que Barbosa pretendia por réplica, o que obrigou o presidente da casa, Ayres Britto, a lembrar: 'O relator é quem tem um papel de centralidade na condução do processo. O revisor, como a palavra já diz, tem o um papel complementar'. Lewandowski não gostou: 'Data vênia, não'. Ameaçou deixar o plenário nas sessões seguintes, mas contentou-se com um aparte de 4 minutos, feito após uma intervenção de Barbosa que durou os mesmos 4 minutos.
Platitudes – A rivalidade não se limita ao tempo do voto, é claro. Barbosa é o ministro que mais condena, o que faz após uma detalhada recapitulação do processo, prova por prova. Cita depoimentos, laudos, perícias, teses da defesa e da acusação, sempre lembrando a numeração de folhas, volumes, anexos e apensos. É um voto exaustivo, e é comum que o encerre se dizendo mesmo esgotado. Com suas dores crônicas, o relator é obrigado a trocar de posição constantemente: de pé, sentado, reclinado, empertigado etc.
Lewandowski também desce às minúcias do caso, mas frequentemente emerge com uma conclusão oposta à de Barbosa – é o juiz que mais absolve. É um voto exaustivo também, até nos trechos que concordam com as teses de Barbosa. É que Lewandowski não se limita ao processo. Com ar professoral, o revisor é dado a platitudes sobre as responsabilidades do magistrado, as garantias constitucionais e as obrigações da acusação, o que Barbosa toma sempre como calculada provocação. Por exemplo: ao analisar o caso do Banco Rural, o revisor esclareceu que: "A gente precisa fazer sempre a contraposição entre a acusação e a defesa para sopesar os argumentos. Essa é a dialética do processo penal etc". Barbosa interveio: "Vossa Excelência está insinuando que não fiz isso? Isso aqui não é Academia". Seguiram-se oito minutos de bate-boca.
'Amor à brevidade' – Dos demais ministros, os chamados 'vogais', Dias Toffoli é de longe o que fala mais. Suas leituras, quase sem tirar os olhos do papel, já tomaram 5h33 do julgamento, um quarto do tempo gasto por Lewandowski. Toffoli é prolixo até para se despedir. Ao deixar o tribunal para tomar parte de uma sessão no Tribunal Superior Eleitoral, disse: "Senhor presidente, apesar de ter Antônio no nome, não tenho o dom da ubiquidade de Santo Antônio. Vossa Excelência já foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral e sabe que em matéria de registro de candidatura etc."
Toffoli fala mais até que Celso de Mello. Apesar do declarado 'amor à brevidade', o decano do STF cultiva a fama de proferir votos longos (já falou por 3h55 neste julgamento), bem embasados, enciclopédicos. Aliás, um de seus apelidos na juventude foi 'Barsa' – o outro era 'Tatuí', sua cidade natal, no interior de São Paulo, como denuncia o forte sotaque. Mello é capaz de sustentar longos períodos sem recorrer à leitura do voto, sempre procurando contato visual com outros ministros. Cita de memória vastíssima jurisprudência, tratados internacionais, decisões do tempo do Império, atropelos do Estado Novo, recomendações das Nações Unidas, passagens de Cícero, Suetônio, Montesquieu, Santo Agostinho, Tomás de Aquino etc. Especialmente longo foi o duríssimo voto proferido esta segunda, em que condenou os 'marginais do poder', os 'assaltantes dos cofres públicos', a 'quadrilha de bandoleiros de estrada'.
Voto sucinto – No extremo oposto, Cármen Lúcia é quem tem o voto mais sucinto, longe das repetições e do pedantismo. Gastou apenas 1h23 da paciência do plenário ao longo de todo o julgamento. Foi o bastante para gravar algumas passagens marcantes, como no dia em que fez questão de frisar que a condenação de deputados corruptos não significa a condenação da política ou do Congresso: "Meu voto nada tem a ver com desesperança na política ou em relação ao papel dela para a construção do estado democrático de direito. Eu não queria que a condenação tão triste desses que receberam a confiança dos eleitores fosse uma forma de manifestar descrença na política. A ética é a única forma de se conviver na sociedade".
Quanto tempo cada ministro gastar para votar
Confira abaixo a duração dos votos dos ministros do Supremo em cada capítulo do julgamento e clique nas imagens para assistir aos vídeos
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