domingo 22 2015

Fóssil de neandertal indica miscigenação entre humanos primitivos


O sequenciamento mais completo do genoma de hominídeo de 50.000 anos permitiu a comparação

Exposição em museu croata mostra reprodução de uma família de Neandertais
Exposição em museu croata mostra reprodução de uma família de neandertais(Nikola Solic/Reuters/VEJA)
O minúsculo osso de um dedo do pé de uma mulher neandertal que viveu há cerca de 50.000 anos revela que houve miscigenação entre algumas linhagens humanas primitivas. A partir deste fóssil, pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, obtiveram o mais completo genoma de um neandertal já sequenciado. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira, na revista Nature.
CONHEÇA A PESQUISA
Onde foi divulgada: periódico Nature
Quem fez: Kay Prüfer, Fernando Racimo, Nick Patterson, Flora Jay, Sriram Sankararaman, Ed S. Lein, David Reich, Janet Kelso, Svante Pääbo e outros
Instituição: Universidade da Califórnia, EUA
Resultado: Os pesquisadores compararam o genoma dos neandertais com outros grupos humanos e descobriram que existia miscigenação entre eles
Os autores compararam o genoma encontrado com o de dois outros grupos, os humanos modernos e os denisovanos - um subgrupo misterioso, que teve vestígios descobertos na Sibéria. Embora tenham desaparecido, neandertais e denisovanos deixaram sua herança genética porque ocasionalmente se miscigenaram com humanos modernos. Os pesquisadores descobriram que entre 1,5 e 2,1% do genoma do homem moderno não africano está ligado aos neandertais.
Já vestígios denisovanos foram encontrados em 0,2% de genomas da etnia Han, majoritária na China, e de americanos nativos. Segundo as comparações, os denisovanos se miscigenaram com humanos primitivos, que os pesquisadores suspeitam se tratar do Homo erectus.
Diferenças - Os cientistas identificaram 87 genes presentes nos humanos modernos que são muito diferentes daqueles encontrados nos neandertais ou denisovanos. Eles podem ser os responsáveis pelas diferenças comportamentais que diferenciaram o homem das demais espécies extintas.
"Não há um gene que possamos apontar e dizer: 'este responde pela linguagem ou alguma outra característica única dos humanos modernos'. Mas, a partir desta lista, aprenderemos algo sobre as mudanças que aconteceram na linhagem humana, embora elas provavelmente sejam sutis", afirma Montgomery Slatkin, professor de biologia integrativa da Universidade da Califórnia.
Homens das cavernas - Os ossos foram encontrados em uma caverna nas montanhas Altai, no sul da Sibéria. Em 2008, pesquisadores localizaram no mesmo lugar o osso de um dedo mindinho de uma mulher denisovana em solo de 40.000 anos. A caverna também contém artefatos feitos pelos humanos modernos, o que significa que pelo menos três grupos de humanos primitivos ocuparam o local em diferentes épocas.
(Com Agência France-Presse)

Dentro de cada humano mora um neandertal


Pesquisa revela que mais de 20% do DNA do hominídeo extinto sobrevive nos homens

neandertais
São remanescentes do DNA neandertal genes que causam diabetes tipo 2, doença de Crohn e lúpus, além de características na pele e no cabelo do homem(Frederico Gambarini/epa/Corbis/VEJA)
Os neandertais desapareceram da Terra há pelo menos 30.000 anos. Mas seus genes ainda vivem dentro de nós, revelaram dois estudos publicados nesta quarta-feira.
Pesquisas anteriores já provaram que houve acasalamento entre ancestrais diretos do homem e neandertais, há cerca de 65.000 anos, e que 1 a 3% do genoma humano vem desse hominídeo extinto. Os novos trabalhos foram os primeiros a demonstrar o efeito biológico dessa transferência genética no desenvolvimento humano. Eles revelaram que são remanescentes do DNA neandertal genes que causam diabetes tipo 2, doença de Crohn e lúpus, além de características na pele e no cabelo.
Em um estudo publicado na revista Science, os cientistas Benjamin Vernot e Joshua Akey, da Universidade de Washington, compararam mutações no genoma de mais de 600 europeus e asiáticos com o genoma sequenciado a partir do osso de um hominídeo encontrado na Espanha. Eles concluíram que mais de 20% do DNA neandertal sobrevive nos humanos.
Outra pesquisa, liderada por cientistas da Universidade Harvard e publicada na revista Nature,comparou o mais completo genoma neandertal já sequenciado com o de 1.004 humanos vivos. A principal revelação foi uma quase ausência de DNA neandertal no cromossomo X - em humanos, mulheres têm dois cromossomos X e homens um X e um Y. A ausência provavelmente significa que os descendentes machos do cruzamento eram estéreis.
​As análises revelaram também que alguns genes neandertais são comuns na atualidade, como os envolvidos na produção de queratina, componente que dá resistência à pele, ao cabelo e à unha. Essa herança pode ter ajudado os primeiros Homo sapiens a se adaptar a uma Europa fria, depois que eles deixaram a África, dando-lhes uma pele mais espessa.
Os cientistas também descobriram que alterações genéticas herdadas de neandertais elevam o risco para problemas de saúde como o diabetes tipo 2, o lúpus e a doença de Crohn. "Queremos usar as informações do estudo como uma ferramenta para entender doenças comuns em humanos", diz David Reich, principal autor da pesquisa.

“A mente precisa de exercícios para evoluir”


O neurocientista Ken Kiehl defende que, assim como deficientes físicos necessitam de fisioterapia, doentes mentais, a exemplo de psicopatas, têm de trabalhar o cérebro para combater a doença

Por: Jennifer Ann Thomas


Kent Kiehl
Para o neurocientista americano, a psicopatia é uma herança genética(VEJA.com/Divulgação)
Kent Kiehl, neurocientista americano da instituição Mind Research Network e da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, é autor do livro The Psycopath Whisperer (sem tradução em português; 19 dólares na Amazon), resultado de vinte anos de estudo com psicopatas presos. Na entrevista a seguir, Kiehl explica como a psicopatia se desenvolve como uma característica genética e quais são os caminhos para combatê-la e, assim, diminuir seus efeitos.
Há quem nasce psicopata? Estudos recentes, como os que conduzi, sugerem que a maior parte das variantes para traços de psicopatia é genética. Um exemplo é a metodologia que faz uso de gêmeos. Normalmente, ambos os irmãos marcam a mesma pontuação, seja ela alta, ou baixa, no teste usado para identificarmos um psicopata. Com essa técnica, sabemos que ao menos 50% dos traços de psicopatia são relacionados ao DNA. Mas isso não é uma sentença definitiva para a vida, pois é maleável. Há várias oportunidades para remodelar as pessoas.
É possível diagnosticar um bebê como psicopata? Uma criança, sim. Existem psiquiatras que tentam identificar a doença em pacientes com 5 anos. Todos têm a esperança de que, mesmo no caso de um jovem que aparenta ser de alto risco para a sociedade, os pais possam buscar caminhos para resolver, ou ao menos aliviar, o problema se agirem cedo.
Como alguém consegue exercitar o cérebro para ir contra a genética? Assim como uma deficiência física precisa de fisioterapia, a mente necessita de exercícios. Partimos do princípio que a psicopatia tem a ver com redução de empatia e excesso de impulsividade. Então, desenvolvemos jogos de computador que estimulam a empatia e reduzem a impulsividade. O paciente ganha no game se conseguir esperar, planejar e pensar sobre as atitudes cuidadosamente. Esse tipo de trabalho reduz, em muito, os traços típicos desse desvio mental.
O psicopata consegue perceber sozinho que é um psicopata? Usualmente, não. Por sofrer de falta de empatia pelo outro, o psicopata não percebe como o seu modo de vida influencia as pessoas. Aliás, nem como ele afeta a própria vida. Durante o tratamento, porém, quando o psiquiatra explana sobre os atos do psicopata, ele consegue se reorientar para não repetir os erros. Temos de educar e treinar a mente do paciente.
Como fazer isso? A melhor opção é o reforço positivo. Ou seja, reduzir a punição e aumentar os agrados quando o paciente age corretamente. Pesquisas comprovam que essa estratégia é mais eficiente em indivíduos com essas características.
Quem tomaria essa atitude corretiva, baseada no incentivo, não na punição? Pais, professores, babás, quase todos do convívio do indivíduo podem agir. É preciso trabalhar com o paciente, principalmente quando é uma criança, em todos os momentos de sua vida. Cabe ao psiquiatra treinar aqueles que fazem parte da vida do psicopata.
É possível reinserir um psicopata na sociedade, mesmo um com histórico de crimes? Isso depende muito da linha filosófica e social do sistema criminal de cada país. Acredito que os dados falam por si. Sem planejamento, não dá. Exemplo: 80% dos prisioneiros voltam ao sistema penitenciário dentro de três a cinco anos se não passaram pelo devido tratamento psiquiátrico. O ponto da minha pesquisa é que, já que eles serão soltos depois de cumprirem as penas, devemos elaborar tratamentos, estudos, programas de monitoramento, tudo para minimizar as chances de essas pessoas voltarem a cometer crimes consequentes de escolhas erradas de suas mentes perturbadas.

Objetivo original do programa Mais Médicos é sim enviar recursos financeiros à Cuba.



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