terça-feira 06 2012

Dvd E O Vento Levou 2 Legendado Começa exatamente onde E o Vento Levou p...

:)

Quanto mais exercício melhor?


especial
Não quando se passa dos limites. Quem malha pesado todos os dias e não sabe viver sem isso pode estar fazendo mal à própria saúde

Bel Moherdaui e Suzana Villaverde

Ernani D'Almeida
PODEROSA RAINHA
"Gosto de ficar durinha", diz Gracyanne Barbosa, e prova: faz duas ou mais horas de treino pesadíssimo de segunda a sexta – "Se puder, domingos e feriados também". Empurra meia tonelada com as pernas. Para desfilar como rainha de bateria da Mangueira, ela diminuiu a massa muscular. Esta, portanto, é a Gracyanne light. Depois do Carnaval, volta a pegar pesado


Os músculos do corpo humano funcionam como uma espécie de motor bioquímico. Quanto maior o esforço, mais consomem oxigênio e mais intensa é a eliminação de subprodutos das reações químicas provocadas pelo metabolismo, como o dióxido de carbono e o ácido láctico. A cada aceleração desse motor, as fibras musculares sofrem lesões microscópicas que, em reação ao trauma, se regeneram em forma mais resistente. São resultantes desse processo os músculos inchados dos saradões. A fonte de energia desse processo todo é uma substância chamada trifosfato de adenosina. Os estudiosos dos processos bioquímicos do organismo conhecem-na pela sigla ATP, mas os leigos podem chamá-la simplesmente de... Gracyanne Barbosa. A dançarina sul-mato-grossense de 25 anos que aparece na foto à direita é um prodígio de aumento muscular. Aos 15 anos, já media 1,75 metro, mas pesava apenas 45 quilos. Com dedicação incondicional aos exercícios, moldou o corpo e se transformou quase numa fisiculturista. Faz uma hora diária de exercícios aeróbicos pesados, mais três sessões semanais de musculatura de nível profissional: enfrenta quatro séries de oito agachamentos segurando uma barra de ferro de 180 quilos, anda 30 metros agachando-se a cada passo com 70 quilos nas costas, e no leg press, o aparelho para exercitar as coxas, empurra uma plataforma com meia tonelada.
Na imagem mental que faz de si mesma, porém, Gracyanne parece ainda ser a adolescente magrinha. Ela não vê a hora de passar o Carnaval para recuperar o peso habitual de 74 quilos, em boa parte de músculos poderosos – seu índice de gordura é de apenas 6%. Para desfilar como rainha da bateria da escola de samba Mangueira, a dançarina perdeu 6 quilos, numa espécie de concessão ao gosto popular. "Mulher musculosa não vende bem na avenida", diz seu treinador, Xande Negão. Gracyanne está na fronteira que separa a salutar e, no seu caso, espetacularmente bem-sucedida disciplina corporal do comportamento compulsivo, quando a rotina de exercícios vira um vício incontrolável. "Eu sei que o exagero é perigoso, que preciso de limites para não me machucar", diz. "Mas me acho viciada mesmo. Se tenho tempo, malho até aos domingos e feriados."
A turma dos malhadores pesados está em expansão. Para o paulista José Henrique Borghi, 42 anos, semana feliz é aquela em que o dia começa às 4h30 da manhã em cima de uma bicicleta, com ele pronto para percorrer 90 quilômetros de estrada, a distância entre São Paulo e Guarujá. No intervalo do almoço, ele dá seqüência com mais sessenta minutos de esforço na pista ou na piscina. Isso tudo é repetido durante seis dias, com transpiração extra no fim de semana, quando o tempo de dedicação chega a três horas consecutivas. Seu extenso currículo de atleta amador já soma dez provas de Ironman. Para os não iniciados, Ironman é a exaustiva competição em que homens e mulheres enfrentam uma seqüência ininterrupta de 3 800 metros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e 42 de corrida. "Nos dois ou três meses que antecedem a prova, adoto uma rotina de atleta. É um treinamento vigorosíssimo. Viro um monge do esporte", descreve Borghi, que nas horas não vagas dirige uma renomada agência de publicidade. Nos outros nove meses do ano, ele desacelera o ritmo para uma hora e meia de bicicleta, mais uma hora de corrida todo dia, com eventuais mergulhos na piscina. Diz ele: "Quando fico sem exercício me sinto o último dos homens. É até constrangedor".
Para a preguiçosa maioria, calçar um par de tênis e caminhar até o parque mais próximo é sinônimo de sacrifício. Para uma minoria crescente, não é apenas questão de saúde ou de gosto. É necessidade imperativa, quase uma compulsão na qual se somam duas sensações poderosamente prazerosas – com a forma física alcançada e com o domínio da vontade sobre o corpo. São, em geral, pessoas perfeccionistas e competitivas, que estabelecem metas ambiciosas para si mesmas e as incorporam à sua rotina. "Faz parte da minha vida como comer e respirar. Não dá para ficar sem", diz a fisioterapeuta carioca Malu Guimarães. Aos 33 anos, ela pega pesado de segunda a sábado por quase duas horas. Quando viaja, só se hospeda em hotéis que têm sala de ginástica. "Passei um mês em São Francisco e me matriculei em uma academia de lá. De manhã meu namorado ia passear e eu ia malhar", conta. Substituir pela malhação atividades consideradas agradáveis pela maioria é um sinal comum aos viciados em exercícios. "Recentemente deixei de viajar com a família para Fortaleza porque não conseguiria ficar dez dias sem treinar", conforma-se o estudante mineiro Thiago César Moraes, 19 anos, pelo menos duas horas diárias na academia de seu condomínio, de segunda a sábado. "Musculação está em primeiro lugar na minha vida. É quase uma doença", diz Moraes, que em viagens curtas leva na mochila seu halter desmontável de 40 quilos. "Sei que o treino foi bom quando saio dolorido. Se não sinto nada depois, no dia seguinte me esforço em dobro."

Lailson Santos
VIVA O PERSONAL
Fátima: aos 48 anos, regime de malhação integral e zero de flacidez. "Quem me olha jura que tomo mais do que suplementos", diz. "Até já fiz exame de sangue para provar que não"
Da mesma forma que ceder às inclinações naturais do corpo pode levar a excessos ("Vou passar o fim de semana inteiro esparramado no sofá e as atividades físicas consistirão em clicar o controle remoto da TV e ingerir comidas bem calóricas"), não é preciso muito mais do que bom senso para perceber quando há exagero nos exercícios. Segundo um padrão internacional, quem não é atleta profissional e faz mais de seis horas semanais de atividades físicas puxadas já se enquadra entre os excessivos. Na rede de academias Reebok Sports Club, 32% dos alunos são considerados "hard users", quer dizer, freqüentam a academia mais de 100 vezes ao ano, ou em média três vezes por semana pelo menos. Há cinco anos o número era 30% menor. Um sinal evidente dos exageros se vê na multidão de maratonistas amadores – sem sentido metafórico, maratona quer dizer exatamente 42.195 metros – que competem nas ruas das grandes cidades. Treinador de corridas há quase quinze anos, Marcos Paulo Reis tinha no início da carreira 10% de seus então oitenta alunos adeptos da maratona. Hoje, eles chegam a quase 20% dos seus atuais 900 alunos. Seu colega treinador Mário Sérgio Andrade Silva, que orienta cerca de 1.000 esportistas inscritos na Run&Fun, conta que no começo seu maior desafio era estimular os preguiçosos. "Hoje é o contrário: temos mais trabalho segurando quem exagera do que dando duro em quem relaxa", compara. "Tem homem que começa a treinar aos 40 anos achando que vai voltar ao corpo dos 18, que pode ganhar dos outros da mesma idade e até dos mais novos, que seu tempo sempre pode ser mais baixo, que dá para fazer uma maratona por ano ou até mais. Alguns passam um mês sentindo dor antes de contar para o treinador."
Eduardo Moteiro
QUANTO MAIS, MELHOR
A nutricionista Nathalia: musculação de segunda a sábado, mas nenhum exercício aeróbico, para não perder medidas. "Não conseguiria me divertir com a perna fina", diz

Testar os limites do corpo, como sabem os profissionais, não tem nada de natural. A provação aumenta a propensão a contusões, contrações, luxações, fissuras e, sempre, dor. "É difícil encontrar um atleta de elite que não tenha se machucado. Nós somos treinados para suportar a dor", constata o maratonista campeão Marilson dos Santos. "Mas quem faz esporte só por prazer não deveria sentir dor alguma." A questão, naturalmente, é que a dor é compensada por sensações positivas. "Comecei a treinar porque tinha muito glúteo, e braço e perna finos. Fiz balé, vôlei, handebol, e nada dava jeito, então parti para a musculação. Em pouco tempo comecei a ver resultado: meu braço tomando forma, meu abdômen formando gominho, meu ombro ficando ‘fibrado’. Fui pegando gosto. Minha mãe não entendia por que eu ia tanto, mas, depois de um certo tempo, duas vezes por semana não têm mais efeito nenhum", conta Renata Lopes, 27 anos, seis sessões semanais de malhação pesada. "Não vou para a academia perder tempo. Não vou lá para fazer fisioterapia. Faço a supersérie, que só termina com a fadiga total do músculo", descreve. Por fadiga total, entenda-se não conseguir levantar nem mais um alfinete. "Não me considero viciada, mas não vivo sem minha musculação", afirma Renata, criadora das comunidades no Orkut "Sou mulher e amo musculação" (17.370 membros), "Sou musculosa e feminina" (1.405 membros) e "Treino total" (2.140 membros).
A dona-de-casa carioca Fátima Gantus, de 48 anos, gasta entre 600 e 700 reais por mês com suplementos. Acompanha lançamentos, troca informações com seu personal trainer e com o dono da loja de que é cliente fiel. "Quem me olha jura que tomo mais do que suplementos. Já fiz exame de sangue para provar que não", defende-se Fátima, 1,61 metro de altura, 58 quilos e apenas 8% de gordura no corpo. Em um regime de duas horas e meia a três horas intensas na academia cinco vezes por semana, ela faz agachamentos com 100 quilos, 800 abdominais e exercícios para perna com até 240 quilos. Suas coxas parecem toras esculpidas em algum material extraterrestre. "Digo que 50% do meu corpo é meu, 50% é do meu personal", orgulha-se a ex-professora de educação física. Contornos de halterofilista podem não ter aprovação universal, mas para quem os busca não existe o conceito de músculos – nem de sacrifícios – em excesso: mais é sempre melhor.
Com o pé engessado e muletas, o paulistano Erik Aoki Biasetto, 31 anos, físico de super-herói de desenho animado, se esgueirava até a academia de madrugada para conseguir entrar e treinar escondido. "Meu pé estava ruim, mas o resto do corpo estava funcionando. Não tinha por que ficar parado", justifica. "Fico bastante ansioso quando estou machucado. Já faz seis meses que estou com um problema no joelho, mas dou minhas corridinhas, faço um pouco de bicicleta", confessa o administrador de empresas paulista Flavio Castanheira Junior, 40 anos, que contabiliza um tempo máximo sem exercício de quatro meses, em virtude de uma fascite plantar (inflamação no revestimento dos músculos da sola do pé, problema em evidente expansão). "Estava me preparando para uma maratona e demorei um mês e meio para procurar o médico. Acabei tendo de operar no início de 2006, mas em outubro já fiz uma prova", conta ele.

Lailson Santos
MUSCULAÇÃO DE MULETA
Biasetto: de pé quebrado, burlou a segurança da academia e treinou escondido, de madrugada. "O pé estava imobilizado, mas o resto estava bem", justifica
"Estamos vendo uma substituição dos acidentados em carros por traumatizados em esporte", analisa Flavio Murachovsky, ortopedista do Hospital Albert Einstein. Pelos seus cálculos, 40% do atendimento diário no consultório hoje é relacionado a lesões esportivas, número duas vezes maior do que há cinco anos. "Tem paciente para quem eu mostro o raio X com a lesão e ainda assim ele diz que não vai parar. Ou faz cirurgia e logo já está correndo 60 quilômetros por semana", alarma-se o médico. A designer Carla Giorgi Ferreira, 42 anos, é do tipo que não se impressiona com lesões: de tipóia, com a clavícula fraturada por causa de um acidente durante um treinamento de ciclismo, ela participou, escondido, de um treino de corrida. Apenas vinte dias depois de outro acidente, em que bateu a cabe&cc venceu um triatlon com distâncias olímpicas. "Não respeito nem médico nem treinador. Quando está no meio do processo de treino, você quer mais. É viciante", confessa. O psiquiatra Marco Aurélio Monteiro Peluso, do Hospital das Clínicas de São Paulo, classifica comportamentos desse tipo como indício da compulsão por exercícios. "A grande maioria das pessoas que faz esporte regularmente, quando pára, sente falta. Não dorme tão bem, fica mais nervosa, sente tensão muscular. Mas, em geral, essas pessoas, se sofrem alguma lesão, conseguem parar de treinar por um tempo. Considera-se viciado aquele que não pára nem quando o excesso de esporte lhe é prejudicial", diz. "São pessoas que fecham seu leque de atividades sociais: não vão a happy hour com amigos, passam menos horas com a família, dormem menos, tudo para poder treinar mais", diz.
Lailson Santos
HOMEM DE FERRO
Borghi: prazer em disputar o Ironman, prova que consiste em nadar 3 800 metros, andar 180 quilômetros de bicicleta e, para encerrar, correr 42 quilômetros

Sacrificar o corpo para salvar a alma ou disciplinar a mente é uma prática tão antiga quanto a civilização, presente na maioria das religiões e dos sistemas filosóficos. Quem se acaba para aprimorar o próprio corpo pode ter o mesmo e eufórico sentimento de autocontrole – além de uma certa superioridade moral – de um monge que jejua ou se flagela. "Minha mãe não acredita que eu deixo de jantar no domingo à noite para ir à academia. Mas domingo é o melhor dia da semana, estou descansado, cheio de energia", indigna-se Biasetto (o malhador de muletas), que testa seu fôlego em duas sessões diárias de uma hora e meia (corrida e abdominais) e uma hora (musculação). "Para mim, treinar é sagrado. Quem não tem a mesma disciplina simplesmente não entende", desabafa. Casos extremos de excesso de atividade física são diagnosticados como vigorexia, um transtorno psíquico irmão da anorexia, em que a pessoa nunca se satisfaz com o tamanho de seus músculos. Não há, no entanto, um diagnóstico preciso para as muitas situações que se encaixam entre a vigorexia e a atividade pesada mas saudável. "Quem exagera mas não chega a extremos não tem, ao que se sabe até agora, um transtorno psiquiátrico, uma compulsão ou dependência", diz o psiquiatra Peluso.
Provavelmente a definição mais precisa para o vício em exercícios seja como o da pornografia: todo mundo sabe o que é quando vê. Da mesma maneira, a prova de uma convivência não conflituosa com o próprio corpo pode ser puramente empírica: a pessoa se olha no espelho e dá um sorrisinho interior, mesmo murchando a barriga, estufando o peito e anotando uma série de outras áreas suscetíveis a melhorias. Já o contrário pode provocar um sofrimento psíquico que clama por compreensão e, eventualmente, ajuda. "A fase da vida em que eu mais gostei do meu corpo foi aos 18 anos. Toda semana eu anotava minhas medidas, da panturrilha ao antebraço, para ver se eu tinha aumentado de tamanho. Se não crescia, não saía de casa. Achava um absurdo minhas amigas me chamarem para sair com aquela perna tão fina", recorda a nutricionista fluminense Nathalia Alves, 22 anos, que no momento se acha "um esqueleto" por ter ficado cinco meses sem treinar a parte superior do corpo em virtude de uma cirurgia plástica. Ela pesa 55 quilos e tem 1,60 metro de altura, medidas que a maioria das mulheres consideraria perfeitas. "Meu maior medo é emagrecer, por isso não faço exercício aeróbico, só musculação", diz Nathalia, presença certa na academia de segunda a sábado. Quando dá, vai aos domingos também.

O exercício começa a fazer
mal para o corpo quando...

• a carga para o corpo fica tão pesada e é repetida com tanta freqüência que há um aumento exagerado dos níveis do hormônio cortisol, responsável pelos sintomas físicos típicos do stress – os mais perigosos deles são o aumento da pressão sanguínea e o enfraquecimento do sistema imunológico;
• a serotonina e a endorfina produzidas pelo corpo durante a malhação são as únicas fontes de prazer da pessoa, que, fora isso, vive em constante melancolia – com sono e sem apetite para comida e até para o sexo.

...e começa a atrapalhar
a vida quando a pessoa...
• abandona atividades que antes lhe davam prazer e compromissos sociais para ganhar mais tempo na academia;
• encurta as viagens de passeio para voltar logo ao regime de exercícios;
• se irrita com os comentários de que ela malha demais;
• desobedece aos médicos e ignora lesões para não sair da forma;
• se submete a dietas protéicas radicais e se entope de suplementos;
• nunca acha que está na forma física ideal;
• considera sedentário o resto da humanidade;
• deixa de malhar um único dia e acha que pôs todo o trabalho físico a perder, sentindo-se gorda e fraca.

COM A PALAVRA, OS PROFISSIONAIS
Dois atletas, duas bailarinas e até uma professora de ioga contabilizam o preço que pagam – com alegria – para domar o corpo
MULETA NO ARMÁRIO
Danilo Nogueira, ginasta, 24 anos

Treinamento: começou aos 8 anos. Aos 11 já treinava cinco horas por dia. Atualmente são seis a sete horas diárias, menos no domingo
Férias: cinco dias por ano
Lesões: operou o joelho (duas vezes) e o pé. Quebrou o esterno e o punho (duas ou três vezes, perdeu a conta) e machuca mão e dedos com freqüência, "sem contar as muitas batidas nos aparelhos e as torções"
Impressões: "A dor é constante. Quando operei o joelho, tinha de parar seis meses para uma recuperação total. Consegui ficar dois meses sem treinar. No armário de casa tem bota ortopédica, muleta, suporte para punho, tipóia e bolsa de gelo"


QUESTÃO DE EGO
Sushiila Leal, professora de ioga, 40 anos
Treinamento: começou aos 31 anos. Treina de uma a duas horas diárias e ministra de quatro a seis aulas de até uma hora e meia cada uma por dia
Férias: raramente fica sem praticar
Lesões: estiramento do músculo posterior da coxa, pinçamento do nervo ciático (que quase virou uma hérnia), inflamação de um tendão do ombro
Impressões: "Você tem de aprender a lidar com a dor, porque lá fora tem dor. Na maioria das vezes em que me machuquei praticando ioga, meu erro foi não ter controlado meu ego e teimado em fazer determinada posição para a qual eu não estava pronta"

DOR É ROTINA 
Marilson dos Santos, maratonista, 30 anos
Treinamento: começou aos 11 anos. Quando tem uma prova
em vista, passa três meses treinando de manhã e à tarde, mais musculação duas vezes por semana. Às segundas, "descanso" – corre 10 quilômetros
Férias: de duas a três semanas no ano
Lesões: inflamação no tendão dos dedos do pé ("Se não fosse atleta, não atrapalharia em nada, porque dá para fazer tudo, menos correr."), nervo ciático, tendão-de-aquiles, pé, joelho, tornozelo, músculo da coxa
Impressões: "Já tive várias lesões, porque trabalho sempre no limite. Dói tudo, toda a musculatura. Dói principalmente a panturrilha, o quadríceps, o posterior da coxa. É difícil achar um atleta de elite que não tenha se machucado. A gente é treinado para suportar a dor"

SÓ NA SAPATILHAJennifer, 16 anos, e Mariana Zschoerper, 17 anos, irmãs bailarinas
Treinamento: começaram aos 4 anos. Passam cinco horas, de segunda a sexta, treinando dança clássica e contemporânea e estudando piano e artes. Perto de apresentações, ensaiam mais duas horas por dia, inclusive sábado e domingo
Férias: em dezembro e mais uma semana no meio do ano, mas nunca param de fazer exercícios
Lesões: Jennifer teve duas contraturas na coxa e torções no pé. Mariana teve inflamação na virilha e nos nervos da costela (ficou paralisada uma semana). Ambas contabilizam diversas tendinites
Impressões: "Os professores são rígidos, e você tem de evoluir a cada dia. Nós nunca fazemos nada sem pensar na conseqüência para o balé. Não vamos a festas porque acordamos cedo, não comemos o que queremos para manter o peso. Ficamos de sapatilha até em casa; temos mais sapatilhas do que sapatos. Dormimos apertadas no mesmo quarto só para ter uma sala linda com barra e espelho para treinar"

Fotos Lailson Santos, Eduardo Monteiro, Nilson Bastia

Por que os cabelos caem



Thinkstock
Dedico este texto aos milhões de fios de cabelo caídos pelo mundo. Aos fios que acabaram no ralo. Aos que ficaram no travesseiro. Aos esquecidos nos incômodos assentos de aviões. Aos perdidos nos ombros de paletós. Aos que tombaram na calçada e aos que voaram pela janela do carro para nunca mais voltar. Mas é hora de pensar nos bravos fios que resistiram e cuidar para que não nos deixem tão cedo.
Caspa causa queda de cabelos?
Caspa sinaliza que o couro cabeludo está com dermatite seborreica, cujos sintomas são – além da própria caspa – excesso de oleosidade, vermelhidão e coceira. A dermatite pode causar queda de cabelo. Ou seja, se a pessoa está com caspa é sinal que pode estar perdendo cabelos por causa de dermatite. Se for este o seu caso, procure seu dermatologista.
Secador e chapinha causam queda de cabelos?
Não. Excesso de calor pode ressecar e danificar o fio, deixando-o sem brilho e quebradiço. Apesar disso, secador e chapinha não atingem o folículo capilar, estrutura que produz o fio e é responsável pelo seu crescimento e queda. Mas use delicadeza porque se você puxar muito seus fios quando faz escova, a tração forte e constante vai acabar arrancando-os.
Tintura causa queda?
Não. O motivo é o mesmo do secador e da chapinha: a tintura age no fio e não na raiz, e por isso não influencia na queda. Mas pode acontecer enfraquecimento das hastes dos cabelos, deixando-os ressecados, com pontas duplas e quebradiços. Uma exceção é quando a pessoa é alérgica à tintura. Aí o dano é maior, e pode ocorrer queda de cabelo após a tintura. Neste caso, a queda é acompanhada de vermelhidão, coceira e descamação do couro cabeludo.
Lavar os cabelos todos os dias causa queda?
Não. Os fios que caem durante o banho iriam cair de qualquer modo, pois estavam na fase de queda, completando o ciclo natural de vida deles. Massagear ou esfregar o couro cabeludo durante o banho também não causa queda de fios. Mas cuidado: o excesso de lavagens pode ressecar o cabelo. E, em pessoas com tendência a dermatite seborreica, água quente e massagem excessiva no couro cabeludo estimulam a oleosidade.
Boné ou capacete causam queda de cabelos?
Não, se o uso for esporádico. Mas usar diariamente um boné apertado  pode causar queda de fios nos pontos onde ele pressiona a pele. Também, ao passar muito tempo de boné, o calor e a umidade podem agravar uma dermatite seborreica, causadora de queda de cabelo. Mas, em geral, boné e capacete costumam ser inofensivos.
Penteado preso causa queda de cabelos?
Sim. Cabelos presos, como rabo de cavalo ou coque apertados, causam queda dos fios mais tracionados. É a chamada alopecia por tração, que é reversível mudando o penteado ou afrouxando o rabo ou coque.
Piscina prejudica o cabelo?
Sim. Cloro, algicidas e outros produtos de manutenção da água da piscina ressecam os fios e os deixam quebradiços. Claro que os benefícios da natação superam esses inconvenientes. E sempre dá para tomar cuidados extras: usar touca de silicone, por exemplo, que é mais impermeável à água. No banho, após a piscina, enxaguar abundantemente o cabelo com água morna ou fria. Usar condicionador regularmente, para hidratar, e fazer periodicamente máscaras capilares hidratantes ou hidratação no cabeleireiro.
Stress causa queda de cabelos?
Sim. Stress é uma causa frequente de queda de cabelos. E em pessoas predispostas a alopecia areata, condição que deixa o couro cabeludo com áreas arredondadas completamente calvas, o stress pode deflagrar uma crise.
Má alimentação causa queda?
Sim. Má alimentação é outra causa frequente de queda de cabelos. Para os cabelos serem saudáveis, a dieta deve ser balanceada. Inclua fontes de ferro, proteínas, vitaminas e gorduras insaturadas na sua alimentação.
Cortar fortalece os cabelos?
Não, infelizmente. Cortar o fio de cabelo não interfere no folículo, estrutura responsável pela produção e crescimento do fio. Nem na lua cheia, desculpe contradizer este mito tão simpático. Mas o corte elimina pontas ressecadas e pontas duplas, contribuindo para a boa aparência dos cabelos.
Queda de cabelos pode sinalizar problema de saúde?
Sim, e por isso é importante procurar orientação médica ao notar que seus cabelos estão caindo mais que o habitual. Alterações da tireoide, alterações hormonais, anemia, uso ou suspensão de alguns medicamentos, entre outras causas, podem afetar o ciclo normal de crescimento dos cabelos.
Por Lucia Mandel
http://veja.abril.com.br/blog/estetica-saude/tratamento/por-que-os-cabelos-caem/

Mercadante doutor pela Unicamp? É mentira!


Em 16/08/2006
 às 19:31

veja.com

Se vocês observarem bem, há algo de comum entre Ciro Gomes e Aloizio Mercadante. Os dois são capazes de fazer um elenco de números e dados com uma formidável imprecisão técnica. São, assim, como direi?, chegados a falar o que lhes dá na veneta. Mas sempre com muita convicção. E partilham de um outro hábito. Vocês se lembram de que, logo depois de ser sair da disputa presidencial no primeiro turno, em 2002, prosperou a versão de que Ciro tinha ido para Harvard especializar-se em sei lá o quê? Foi estudar inglês. Tomara que tenha aprendido. No debate da TV Gazeta, aquele que ninguém viu — ou quase, hehe —, o candidato do PT ao governo de São Paulo disse: “Fiz mestrado e doutorado [em economia] na Unicamp”. Ops! Não fez, não. Vai ter de mostrar o canudo. Mas, para mostrar, terá de fabricar um primeiro. Busquem lá as informações na universidade: ele até acompanhou algumas aulas do doutorado, mas, como não apresentou a tese, foi desligado do programa. Vaidoso que é, até pode se considerar um doutor honorário — em economia ou no que quer que seja (ele sempre fala com igual convicção sobre qualquer assunto, especialmente os que desconhece). Mas doutor em economia pela Unicamp, ah, isso ele não é. Esses petistas… Ou fazem a apologia da ignorância, como o Apedeuta-chefe, ou tentam exibir galardões intelectuais que não têm.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/mercadante-doutor-pela-unicamp-mentira/

Mercadante queria que estudantes fizessem o que ele fez em seu “doutorado”: puxar o saco de Lula. Demonstro!


veja.com

Não pensem que a prova de redação é o único absurdo patrulheiro do Enem. Não é não! Há coisa que só não é pior porque não tem a mesma importância dessa prova, que representa 50% da nota total do exame. Um candidato pode acertar, sei lá, 90% das questões, mas “desrespeitar os direitos humanos” segundo o juízo do examinador. Já era! Um candidato que seja considerado um humanista exemplar, no entanto, ainda que notavelmente ignorante, pode suplantar o outro… Prova que permite esse tipo de coisa, entregando ao examinador tal poder discricionário, tem viés totalitário, ainda que não se perceba à primeira vista. Mas vamos ao ministro Aloizio Mercadante.
Ele decidiu fazer a sua própria redação, revelando, no fim das contas, qual era a intenção da prova. Leiam o que disse sobre a escolha do tema da redação:
“Temos uma comissão competente que considerou, entre tantas sugestões de tema, este o mais adequado. Ele pressupõe a capacidade de articular informações e refletir sobre o momento que o Brasil está vivendo. O Brasil é um país que teve uma diáspora, mas, com a estabilidade, a democracia, hoje atrai povos. Acho que é um tema bastante contemporâneo, desafiador e não previsto”.
Voltei
Eis aí. O objetivo era cantar as glórias do governo Lula, a exemplo do que fez Mercadante com sua tese mandraque de doutorado, feita no joelho, lá nos corredores da Unicamp. Já falo um pouco mais a respeito. O Brasil nunca viveu diáspora nenhuma! Isso é uma grande bobagem, mero exagero de retórica.
É a “democracia” que atrai os haitianos para o Brasil ou o fato de que o país entrou no radar daquela pobre gente depois da infeliz intervenção que promove por lá? É a estabilidade que atrai os bolivianos ou a miséria a que está condenada boa parte da população daquele país, que vai perdendo chance de futuro, com Evo Morales, o “querido de Lula”, dia após dia?
A realidade não importa. Ao fazer a sua própria redação, Mercadante — sem limites, como sempre — estabelece, inclusive, aquele que deve ser o norte dos corretores, que ele parece querer transformados num batalhão a serviço de uma causa. Já temos o nosso Ministério da Ideologia.
Tudo é históriaNo dia 16 de agosto de 2006. Ele era candidato ao governo de São Paulo. É aquela eleição em que Hamilton Lacerda, seu braço direito, foi flagrado transportando R$ 1,7 milhão para pagar o dossiê dos aloprados. O preclaro contou no ar uma inverdade. Transcrevo trecho ( em azul):
(…)
No debate da TV Gazeta, aquele que ninguém viu — ou quase, hehe —, o candidato do PT ao governo de São Paulo disse: “Fiz mestrado e doutorado [em economia] na Unicamp”. Ops! Não fez, não. Vai ter de mostrar o canudo. Mas, para mostrar, terá de fabricar um primeiro. Busquem lá as informações na universidade: ele até acompanhou algumas aulas do doutorado, mas, como não apresentou a tese, foi desligado do programa. Vaidoso que é, até pode se considerar um doutor honorário — em economia ou no que quer que seja (ele sempre fala com igual convicção sobre qualquer assunto, especialmente os que desconhece). Mas doutor em economia pela Unicamp, ah, isso ele não é. Esses petistas… Ou fazem a apologia da ignorância, como o Apedeuta-chefe, ou tentam exibir galardões intelectuais que não têm.
É isso aí. O “doutor” doutor não era, entenderam? A sua, por assim dizer, tese foi defendida bem mais tarde, só em dezembro de 2010. Redigiu um calhamaço cantando as glórias do governo Lula — o que ele espera que os alunos tenham feito na prova de redação. Convidou para a banca Delfim Netto, João Manoel Cardozo de Mello, Luiz Carlos Bresser Pereira e Ricardo Abramovay. E deitou falação em defesa das conquistas da gestão petista em tom de comício, atacando, claro!, o governo FHC. Até os camaradas ficaram um tanto constrangidos e se viram obrigados a algumas ironias. Destaco, em vermelho, um trecho de uma reportagem, então, da Folha. Vejam que divertido:
Coube ao ex-ministro Delfim Netto, professor titular da USP, a tarefa de dar o primeiro freio à pregação petista. “Esse negócio de que o Fernando Henrique usou o Consenso de Washington… Não usou coisa nenhuma!, disse, arrancando gargalhadas. “Ele sabia era que 30% dos problemas são insolúveis, e 70%, o tempo resolve.” Irônico, Delfim evocou o cenário internacional favorável para sustentar que o bolo lulista não cresceu apenas por vontade do presidente. “Com o Lula você exagera um pouco, mas é a sua função”, disse. “O nível do mar subiu e o navio subiu junto. De vez em quando, o governo pensa que foi ele quem elevou o nível do mar…”
“O Lula teve uma sorte danada. Ele sabe, e isso não tira os seus méritos”, concordou João Manuel Cardoso de Mello (Unicamp), que reclamou de “barbeiragens no câmbio” e definiu o Fome Zero como “um desastre”. À medida que o doutorando rebatia as críticas, a discussão se afastava mais da metodologia da pesquisa, tornando-se um julgamento de prós e contras do governo. Só Luiz Carlos Bresser Pereira (USP) arriscou um reparo à falta de academicismo da tese: “Aloizio, você resolveu não discutir teoria…”. Ricardo Abramovay (USP) observou que o autor “exagera muito” ao comparar Lula aos antecessores. “Não vejo problema em ser um trabalho de combate”, disse. “Mas você acredita que o país estaria melhor se as telecomunicações não tivessem sido privatizadas?”
Entenderam?Esses eram aqueles que o próprio Mercadante chamou para avaliá-lo, hein!? Eram os “de confiança”. O que vai acima é o relato de uma humilhação intelectual para quem tem parâmetros para entendê-la. Mercadante, um homem destemido, comprovadamente sem medo do ridículo, não teve dúvida: respondeu a questão — ou melhor: não respondeu — atacando o preço dos pedágios em São Paulo!!! E saiu de lá com o título de “doutor”, conquistado com uma peroração de caráter puramente político. 
A época, reproduzi trecho de um post do economista Alexandre Schwartsman (em azul). Relembro:
[para um doutorado] Basta colocar no papel uns tantos elogios ao governante de plantão, juntar meia dúzia de compadres dispostos a participar da farsa, achar um departamento que se sujeite a este tipo de coisa e, parabéns, você é o mais novo doutor em Economia do Brasil, sem ter feito qualquer, minúscula, mísera migalha de contribuição para o desenvolvimento da ciência. De quebra, desmoralizou um título que muita gente boa teve que trabalhar duro para conquistar.
Talvez dê para descer um pouco mais, mas, sinceramente, vão ter que se esforçar.
EncerroÉ isso aí. Mercadante arranjou seu doutorado praticamente sem fazer pesquisa, sem lidar com a teoria, sem apelar à ciência. Produziu só ideologia encomiástica.
Assim, que importa que a tese da redação do Enem seja uma bobagem, contestada por 10 entre 10 especialistas com um mínimo de seriedade? De uma tese de doutorado à redação de um aluno do ensino médio numa prova oficial, a ordem é cantar as glórias do regime.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/mercadante-queria-que-estudantes-fizessem-o-que-ele-fez-em-seu-doutorado-puxar-o-saco-de-lula-demonstro/

O tema estúpido da redação do Enem, as mentiras do examinador e as duas exigências absurdas feitas aos estudantes. Ou: Intelectualmente falando, prova de redação deveria ser impugnada!



Não vi no detalhe a prova do Enem. Sei que professores de cursinho divergem sobre a resposta de algumas questões, a maioria relacionada a interpretação de texto, que costuma mesmo ser terra de ninguém. Mas não vou me ater a isso agora. Quero aqui comentar o tema da redação.
Poucas pessoas se deram conta de que o Enem — quem quer tenha elaborado a prova — deu à luz uma teoria e obrigou os pobres estudantes a escrever a respeito, a saber: “O movimento imigratório para o Brasil no século XXI”. Ainda que houvesse efetivamente um fenômeno de dimensão tal que permitisse tal afirmação — não há —, cumpre lembrar que estamos apenas nos 12 primeiros anos do referido século.
“Século”, em ciências humanas, não é só uma referência temporal. É também um tempo histórico. Mais 30 anos podem se passar, sem que tenhamos chegado à metade do século 21, e podem diminuir drasticamente as correntes — que nem são fluxo nem são movimento — de migração para o Brasil. Tratar esse evento como característica de século é burrice. Provo: “O PT é o partido que mais elegeu presidentes no século XXI”. O que lhes parece? Ou ainda: “O PSDB é o maior partido de oposição do século XXI no Brasil”. Ou isto: “O PMDB, no século 21, participa de todos os governos”.
Ao estudante, são apresentados três textos de referência. Um deles trata da imigração para o Brasil no século 19 e começo do século 20 e de sua importância na formação do país. Um segundo aborda a chegada dos haitianos ao Acre, e um terceiro trata dos bolivianos clandestinos que trabalham em oficinas de costura em São Paulo.
Vejam que curioso. O examinador acabou fazendo a redação — e das ruins, misturando alhos com bugalhos. Tenta-se induzir os alunos a relacionar essas duas ocorrências recentes — a chegada de haitianos e de bolivianos — aos fluxos migratórios do passado, quando houve um claro incentivo oficial à entrada de imigrantes. Os fatos de agora não guardam qualquer relação de forma ou conteúdo com o que se viu no passado.
Mas e daí? O Enem não está interessado em rigor intelectual — e bem poucos alunos do ensino médio teriam, com efeito, crítica suficiente para estabelecer as devidas diferenças. A prova não quer saber dessas diferenças — e chego a temer que um aluno mais preparado e ousado, coitado!, possa quebrar a cara. Um ou outro poderiam desmoralizar a “teoria”, com o risco de ser desclassificado.
Na formulação da proposta, pede-se que o aluno trate do tema “formulando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos”. Assim, exige-se do pobre que, além de defender e sustentar com argumentos uma tese estúpida, ainda se comporte como um verdadeiro formulador de políticas públicas ou, sei lá, um especialista em populações.
Essas duas exigências foram já incorporadas às provas de redação do Enem. Muito bem: digamos que um estudante seja contrário a que se concedam vistos a quaisquer pessoas que cheguem clandestinas ao Brasil, defendendo que sejam repatriadas. Esse aluno hipotético estaria apenas cobrando respeito à lei — pela qual deve zelar o Poder Público — o mesmo Poder Púbico que realiza a prova.
Digam-me cá: a repatriação de clandestinos é uma “intervenção aceitável”, ou o estudante está obrigado a concordar com o examinador, como há de ceder que, afinal, dois mais dois são quatro? A repatriação, no caso, seguindo os passos das leis democraticamente instituídas no Brasil, caracteriza um atentado aos direitos humanos? Até agora, o próprio governo federal não sabe o que fazer com os haitianos, e o Ministério Público do Trabalho não consegue coibir a exploração da mão de obra boliviana. Por que os estudantes teriam de ter para isso uma resposta?
Atenção! Eu nem estou aqui a defender isso ou aquilo. Noto apenas que a imigração ilegal divide opiniões no mundo inteiro e que é um absurdo, uma arrogância inaceitável, que se possa, depois de inventar uma tese, estabelecer qual é a opinião correta que se deve ter a respeito, exigindo ainda que os estudantes proponham “intervenções”, porém vigiados pelo “Tribunal dos Direitos Humanos”. Aí o bobinho esperneia: “Mas defender os direitos humanos não é um bem em si, um valor em si?”. Claro que é! Assim como ser favorável ao Bem, ao Belo e ao Justo. A questão é saber que tribunal decide quando “os direitos humanos” estão ou não a ser respeitados. Eu, por exemplo, considero que seguir leis democraticamente instituídas ou referendadas, segundo os fundamentos da dignidade humana (a integridade física e moral), é uma expressão eloquente dos… direitos humanos!
A prova é apenas macumbaria multiculturalista mal digerida — não que possa haver uma forma agradável de digeri-la, é bom deixar claro! As provas de redação do Enem — e de vários vestibulares — têm cobrado que os alunos sejam mais bonzinhos do que propriamente capazes.
Não por acaso, nas escolas e nos cursinhos, as aulas de redação têm-se convertido — sem prejuízo de o bom professor ensinar as técnicas da argumentação — numa coleção de dicas politicamente corretas para o aluno seduzir o examinador. Com mais um pouco de especialização, o pensamento será transformado numa fórmula ou numa variante do “emplastro anti-hipocondríaco”, de Brás Cubas (o de Machado de Assis), destinado “a aliviar a nossa pobre humanidade da melancolia”.
É o que têm feito os professores: um emplastro antipoliticamente incorreto, destinado a “aliviar os nossos pobres alunos da tentação de dizer o que eventualmente pensam”.
Isso, como todo mundo sabe, é o contrário da educação.
A partir de hoje, começo a escarafunchar as teses de especialistas brasileiros em geografia humana e populações em busca do “Movimento Migratório para o Brasil no século 21″ — nada menos. Segundo critérios estritamente intelectuais, essa prova de redação deveria ser simplesmente impugnada.
Sei que não é conforto para os alunos que fizeram a prova, mas escrevo mesmo assim: se vocês não tinham muito o que dizer a respeito, não fiquem preocupados — vocês foram convidados a falar sobre uma falácia, sobre o nada.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/o-tema-estupido-da-redacao-do-enem-as-mentiras-do-examinador-e-as-duas-exigencias-absurdas-feitas-aos-estudantes-ou-intelectualmente-falando-prova-de-redacao-deveria-ser-impugnada/

Marcos Valério, a redução da pena e o Programa de Proteção à Testemunha


veja.com

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou ontem, num encontro de magistrados, em Aracaju, que o empresário Marcos Valério ainda não precisa de proteção especial e que o eventual benefício de uma delação premiada não se aplica ao processo em curso no STF, que já está na fase da dosimetria, mas somente a outros que estão em curso ou que venham a ser abertos. A segunda parte me parece ok; quanto à primeira, tenho minhas dúvidas.
A esta altura, está claro para muita gente que ele aceita falar desde que obtenha, com isso, benefícios. Valério certamente está interessado no Programa de Proteção à Testemunha. Ainda que sua condenação não fosse anulada, ele não iria para a cadeia. Seria enviado a algum lugar ignorado, sob guarda da Polícia Federal. Ele já esboçou algumas coisas, mas, tudo indica, ainda é pouco. Deu a entender que sabe mais. No depoimento que fez ao Ministério Público, em setembro, tocou no assunto que o PT coloca na categoria do nefando: a morte do prefeito Celso Daniel. Segundo afirmou, foi procurado por emissários para entregar dinheiro a pessoas de Santo André que estariam chantageando Luiz Inácio Lula da Silva e Gilberto Carvalho, ameaçando ligá-los ao imbróglio que teria resultado na morte do prefeito. Ele teria se recusado a participar, mas a operação teria sido deflagrada.
Em Aracaju, Gurgel sugere que Valério não falou o bastante para merecer amparo especial. À primeira vista, parece, de fato, precipitado pensar em incluí-lo no Programa. Tampouco soa razoável a afirmação de que tenha colaborado de forma importante com a investigação a ponto de merecer redução da pena. Falou quando já não havia mais saída. A sua contribuição para a elucidação do esquema não é comparável à de Roberto Jefferson. Mas calma lá!
Se ele ofereceu muito pouco para merecer integrar o Programa de Proteção à Testemunha, é preciso considerar que é um arquivo vivo — por enquanto! — do esquema a que se chamou “mensalão”, de que se conhece só uma fatia. O próprio delegado que investigou a lambança, Luiz Flávio Zampronha, tem essa convicção a partir dos dados que colheu na investigação.
Afirmar que Marcos Valério não está correndo risco de morrer corresponde a ignorar os fatos e a história. Se assim não fosse por tudo o que falou até agora, assim seria por tudo aquilo que certamente silenciou — e deve haver muita gente interessada em que fique com a boca pra sempre fechada. Ele é um jogador? No seu ramo de atividade, tem de ser. Ninguém fala o que sabe em casos assim se não for para obter benefícios. A questão é avaliar a qualidade do que diz.
Ao país, interessa que Valério fale o que sabe. E os esforços devem ser feitos nesse sentido. 
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/marcos-valerio-a-reducao-da-pena-e-o-programa-de-protecao-a-testemunha/

Israel está pronto para um ataque ao Irã, diz Netanyahu


Diplomacia

Premiê ressaltou que não vai permitir que Teerã consiga armas nucleares e descartou a necessidade de apoio internacional para uma ação militar

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acusa o Irã de tentar fabricar bomba atômica
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acusa o Irã de tentar fabricar bomba atômica (Jack Guez/Reuters)
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, voltou a subir o tom contra as pretensões nucleares do Irã e afirmou que Israel está pronto para, se necessário, lançar um ataque às instalações atômicas do país islâmico. Em entrevista para a rede de televisão Channel 2, na noite desta segunda-feira, o premiê disse que se não houver outro jeito de frear a escalada do programa nuclear de Teerã, ele está preparado para "apertar o botão" autorizando a ofensiva.

"Estamos prontos", garantiu, sem deixar de frisar que não está “ansioso para ir à guerra” e prefere resolver a situação mediante pressões diplomáticas. Netanyahu, no entanto, alertou que Teerã prossegue com a intenção de construir armamentos atômicos e ressaltou que é sua responsabilidade defender a existência de Israel. "Enquanto eu for o premiê, o Irã não terá a arma nuclear. Se não houver outra possibilidade, Israel terá que agir."


As fortes declarações de Netanyahu contrastam com a afirmação de seu ministro de Defesa,Ehud Barak, que disse na semana passada que o Irã deu um passo atrás em sua ambição atômica e, por causa disso, a decisão de atacar ou não o país islâmico ficaria para o ano que vem.

Ação unilateral - Na entrevista desta segunda, Netanyahu insinuou que Israel poderia inclusive atacar o Irã sem esperar qualquer aprovação internacional – nem a dos Estados Unidos. “Quando David Ben-Gurion (o primeiro premiê israelense) declarou a fundação do estado de Israel, ele fez isso com a aprovação americana?”, questionou. Apesar do discurso inflamado, Netanyahu lembrou que Barack Obama já reconheceu formalmente o direito de autodefesa de Israel.

O premiê israelense e o presidente americano têm uma relação fria e discordam sobre a forma mais apropriada de lidar com a questão iraniana. Embora Obama afirme que todas as opções são válidas para impedir que Teerã desenvolva uma bomba atômica, ele defende que ainda há tempo para a diplomacia e que, no momento, as sanções econômicas são as melhores armas. Enquanto isso, Netanyahu acredita que o tempo para impedir o Irã está se esgotando e pede que a comunidade internacional dê um ultimato claro – a famosa “linha vermelha” – para que Teerã interrompa seu programa nuclear.

Revelação - Em uma reportagem especial, o canal de televisão israelense também relatou que o ataque contra o Irã quase aconteceu em 2010. Segundo o Channel 2, Netanyahu e seu ministro da Defesa, Ehud Barak, deram a ordem às Forças Armadas para preparar uma ofensiva contra as instalações nucleares de Teerã, mas a missão acabou sendo cancelada diante da oposição dos chefes do Estado-Maior e do Mossad, o serviço secreto de Israel.

(Com agência France-Presse)

Capital Inicial - Tempo Perdido - Tributo Renato Russo - Legiao Urbana

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