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O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou ontem, num encontro de magistrados, em Aracaju, que o empresário Marcos Valério ainda não precisa de proteção especial e que o eventual benefício de uma delação premiada não se aplica ao processo em curso no STF, que já está na fase da dosimetria, mas somente a outros que estão em curso ou que venham a ser abertos. A segunda parte me parece ok; quanto à primeira, tenho minhas dúvidas.
A esta altura, está claro para muita gente que ele aceita falar desde que obtenha, com isso, benefícios. Valério certamente está interessado no Programa de Proteção à Testemunha. Ainda que sua condenação não fosse anulada, ele não iria para a cadeia. Seria enviado a algum lugar ignorado, sob guarda da Polícia Federal. Ele já esboçou algumas coisas, mas, tudo indica, ainda é pouco. Deu a entender que sabe mais. No depoimento que fez ao Ministério Público, em setembro, tocou no assunto que o PT coloca na categoria do nefando: a morte do prefeito Celso Daniel. Segundo afirmou, foi procurado por emissários para entregar dinheiro a pessoas de Santo André que estariam chantageando Luiz Inácio Lula da Silva e Gilberto Carvalho, ameaçando ligá-los ao imbróglio que teria resultado na morte do prefeito. Ele teria se recusado a participar, mas a operação teria sido deflagrada.
Em Aracaju, Gurgel sugere que Valério não falou o bastante para merecer amparo especial. À primeira vista, parece, de fato, precipitado pensar em incluí-lo no Programa. Tampouco soa razoável a afirmação de que tenha colaborado de forma importante com a investigação a ponto de merecer redução da pena. Falou quando já não havia mais saída. A sua contribuição para a elucidação do esquema não é comparável à de Roberto Jefferson. Mas calma lá!
Se ele ofereceu muito pouco para merecer integrar o Programa de Proteção à Testemunha, é preciso considerar que é um arquivo vivo — por enquanto! — do esquema a que se chamou “mensalão”, de que se conhece só uma fatia. O próprio delegado que investigou a lambança, Luiz Flávio Zampronha, tem essa convicção a partir dos dados que colheu na investigação.
Afirmar que Marcos Valério não está correndo risco de morrer corresponde a ignorar os fatos e a história. Se assim não fosse por tudo o que falou até agora, assim seria por tudo aquilo que certamente silenciou — e deve haver muita gente interessada em que fique com a boca pra sempre fechada. Ele é um jogador? No seu ramo de atividade, tem de ser. Ninguém fala o que sabe em casos assim se não for para obter benefícios. A questão é avaliar a qualidade do que diz.
Ao país, interessa que Valério fale o que sabe. E os esforços devem ser feitos nesse sentido.
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/marcos-valerio-a-reducao-da-pena-e-o-programa-de-protecao-a-testemunha/
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