quinta-feira 21 2012

Não se esqueça de mim - Nana Caymmi - Elas cantam Roberto

Danilo Caymmi - Alvear

É Maluf quem ajuda a “higienizar” o PT, não o contrário. Ou: Aliança com deputado do PP é parte da saga petista para se constituir como Partido Único



Ontem, eu lhes fiz um desafio: explicar por que Erundina está errada ao dizer que o PT ajuda a “higienizar” a imagem de Maluf. Abaixo, num daqueles textões (!), explico por que a aliança é absolutamente coerente e por que é Maluf quem contribui para lavar a imagem do partido, que o utiliza como instrumento na consolidação de seu projeto autoritário. Acho que ficou bacana. Se gostarem, debatam e passem adiante.
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Vocês perceberam, caros leitores, dada a aliança do PT com Maluf, o tom choroso, lacrimejante, funéreo, de muitos colunistas “isentos”, como se estivessem assistindo à queda de um puro ou à morte de uma utopia? Alguns chegaram mesmo a encomendar as exéquias do antigo “partido ético”, “diferente de tudo o que está aí”. Houve os que fizeram como José Saramago quando Fidel Castro mandou fuzilar, em 2003, sem julgamento, três dissidentes que haviam tentado fugir de Cuba: “Até aqui fui com Fidel, agora não mais”. Pô!!! O barbudo assassino já era responsável por 100 mil mortes, e Saramago tinha ido com ele “até ali”??? Aquelas três a mais, no entanto, mexeram com seu coração humanista… Assim fizeram certos analistas “isentos”: “Até aqui fui com o PT; agora não mais!”. Faço a eles pergunta semelhante à que fiz à época a Saramago: “Por quê? Tudo o que PT havia feito até então parecia pouco?”.
Luiza Erundina, que foi vice por dois dias na chapa de Fernando Haddad, recorreu a uma imagem que vira emblema dessa leitura torta sobre o PT: “Maluf quer aparecer em outra imagem, que não aquela de estar sendo procurado pela Interpol. Ele se higieniza ao lado de forças que não têm nada a ver com o malufismo. Somos do outro lado. Só quem ganha nisso é ele, aparecendo, falando comemorando junto. É todo o significado que tem”. Erundina está absurdamente errada porque, e vou demonstrar isto aqui, o que se tem é justamente o contrário — e alguns leitores acertaram na mosca: É O PT QUE USA MALUF PARA SE HIGIENIZAR, DEPUTADA, NÃO O CONTRÁRIO!No projeto de poder petista, quem, para ficar no paradigma vocabular escolhido, “suja” o PT é Erundina; Maluf, ao contrário, ainda que a muitos pareça incrível, ajuda a “lavar” o projeto hegemônico. Vou explicar tudo direitinho. Antes, uma questão de natureza conceitual.
A questão conceitualUm partido — e isto é teoria política, não paranoia, como acusaria aquele economista que tem de se conter para não cair de boca no Sonho de Valsa — está a caminho de construir a hegemonia quando determina até os critérios segundo os quais será criticado. Ou por outra: quando aqueles que se opõem a suas orientações o fazem segundo marcos que ele próprio estabeleceu. Eis o partido tornado, como queria o teórico comunista Antonio Gramsci, “um novo imperativo categórico”, um “laicismo moderno”, de sorte que tudo o que se pensa só faz sentido segundo o que é e o que não é útil a esse partido.
Ora, quando Maluf é contrastado com o petismo, tomando-se o deputado do PP como símbolo de tudo o que há de ruim na política brasileira — e isso, em si, é verdade —, está-se partindo de um pressuposto, PETISTA EM ESSÊNCIA, segundo o qual o PT é, então, a antítese de Maluf. O erro é brutal e se dá em duas dimensões, uma mais rasa, revelada pelo noticiário cotidiano, e outra mais profunda, que requer algumas especulações além da notícia. Fixemo-nos primeiro na dimensão mais superficial do engano, e demonstrá-la é tarefa simples. Pode alguém advogar a pureza ética, ora supostamente conspurcada, do partido que fez o mensalão? Pode alguém advogar a pureza ética, ora supostamente maculada, do partido que patrocinou o escândalo dos aloprados? Pode alguém advogar a pureza ética, ora supostamente violada, do partido capaz de criar uma CPI para perseguir adversários, tentando impedir que uma central de escândalos como a Delta seja investigada?
Que pureza de lupanar é essa?
Calma aí, senhoras carpideiras, a derramar cachoeiras de lamentos por causa dos descaminhos do partido puro! Em que a moralidade de Paulo Maluf é essencialmente diferente da moralidade dos petistas? Maluf é pior do que José Dirceu? Por quê? Lambanças acabam de derrubar o presidente do Banco do Nordeste — sim, em razão de reportagens da imprensa que os vigaristas chamam “golpista”. Ele era homem do deputado federal José Nobre (PT-CE), chefe daquele pobre-coitado que foi flagrado, em 2005, com a cueca cheia de dólares, notoriamente mero pau-mandado. Nobre, calculem, é considerado figura em ascensão no partido. É irmão de José Genoino, presidente do PT quando estourou o escândalo do mensalão e um dos réus no processo que tramita no STF. Ora, por que, afinal de contas, Maluf não pode se juntar com o PT? Dólares ilegais na cueca, nas Ilhas Jersey ou num banco em Miami para pagar Duda Mendonça pela campanha eleitoral de Lula, qual é a diferença? Eu lhes conto qual é a diferença: Maluf há tempos é tratado, e com razão, como uma figura detestável da política, e Lula, o chefe da organização petista, é considerado um herói. Inclusive por esses que ficam derramando lágrimas. Será que Maluf não pode se juntar com o governo que levou a Caixa Econômica Federal a comprar o Panamericano, um banco quebrado?
Por que não?
Eis a dimensão que chamo mais rasa, que pode ser percebida com uma simples pesquisa no Google. O elenco de malfeitos e de operações suspeitas do petismo no governo federal — e, se quiserem, de administrações estaduais e municipais — referenda uma observação que já se fez aqui: a diferença entre Maluf e o PT é aquela que existe em “Era Uma Vez no Oeste” entre a pistolagem que chegava a cavalo — bruta, mas algo romântica — e aquela que vinha de trem: não menos bruta, mas já profissional.
A dimensão profundaAgora vamos à dimensão mais profunda, esta mais difícil de detectar porque requer algum aporte teórico para entender o projeto de poder petista. De saída, cumpre notar: os petistas não são socialistas à moda antiga, do tipo que ainda mandam flores… vermelhas para a camarada. Isso é uma bobagem — a rigor, nunca chegou a ser assim. O próprio Babalorixá de Banânia, como o jornalista José Nêumanne demonstra em detalhes no livro “O que sei de Lula”, jamais foi de esquerda. Ao contrário até: tem uma visão de mundo que os esquerdistas de antigamente chamariam “conservadora”. E sempre soube se orientar muito bem nos bastidores do poder. Tudo bem analisado, a sua ascensão no sindicalismo, leiam lá, se deveu a uma espécie de golpe desferido contra antigos “companheiros”. Muito bem, dito isso, vamos adiante.
Lula não é de esquerda, mas é autoritário. Suas decisões recentes no partido o comprovam à larga. Esse autoritarismo se estende também à sua concepção de poder. Influenciado pelas esquerdas — sim, elas existiam — que ajudaram a criar o PT, o Apedeuta passou um bom tempo fazendo um discurso com forte conteúdo classista, com sotaque socializante, avesso a alianças com “partidos da burguesia” ou com “forças conservadoras”. Na face indigna de sua história, o homem que agora vai à casa de Paulo Maluf recusou o apoio de Ulysses Guimarães no segundo turno das eleições de 1989, contra Fernando Collor. Escrevo de novo: o homem que repudiou o apoio de Ulysses e que proibiu seu partido de participar do colégio eleitoral que elegeu Tancredo Neves foi prestar homenagens a Maluf — nada menos do que o adversário de Tancredo no Colégio Eleitoral!
Política de aliançasNum dado momento,  o PT percebeu fragilidades e fissuras na política brasileira. ATENÇÃO PARA ISTO: em vez de corrigidas, pensaram  os chefões, elas deveriam ser revertidas em ações benéficas à construção, consolidação e fortalecimento do partido. E decidiram, então, aderir às alianças políticas. Socialista à moda antiga o partido não era. Mas autoritário sempre foi e é. Desde que mudou a sua prática — E AQUI ESTÁ O BUSÍLIS PRINCIPAL DESTA ANÁLISE — e passou a fazer composições, os petistas buscam de modo obcecado forças antes ditas “conservadoras”. O objetivo é “lavar”, disfarçar, travestir o projeto político do partido, que continua o mesmo: constituir-se como Partido Único. “Ah, como Reinaldo é paranoico!”, diriam os comedores de bombons. “Isso é impossível no Brasil!” Não se trata, bobinhos, de partido único à moda cubana ou chinesa (bem que eles gostariam, mas sabem ser impossível). Trata-se de deter a hegemonia do processo político de tal sorte que as demais forças organizadas da sociedade se tornem irrelevantes. E não só as da política. Gilberto Carvalho, sempre ele!, alertou os petistas para a necessidade de começar a enfrentar os evangélicos, como vocês bem se lembram.
Em 2002, o PT escreveu a sua  carta de conversão ao capitalismo porque pesava ainda uma, em muitos aspectos, injusta desconfiança sobre a adesão do partido à economia de mercado. Muito modestamente, então no site e revista Primeira Leitura, escrevi algo assim: “Vamos parar de besteira! O PT não é candidato a implementar o socialismo no Brasil; ele é candidato a pôr a sua canga no capitalismo que temos”. Acho que acertei. Cercado de desconfiança, o partido deu a potentados do capital financeiro e industrial o que eles não teriam ousado pedir a um “partido de direita”.
Entenda o partido que a senhora ajudou a criar e do qual teve de sair, deputada Erundina! O PT precisa de forças que ele próprio chama “de direita” para tentar aniquilar qualquer um que lhe faça oposição. Em 2002, quando buscava um vice, a única exigência era esta: tinha de ser do campo conservador. E encontraram o então senador José Alencar. Ora, é evidente que o PSDB ou José Serra estão à esquerda, respectivamente, de PP e Paulo Maluf! Ocorre que esses dois não representam empecilho ao tal projeto hegemônico — logo, são aliados. ASSIM, NÃO É MALUF QUE BUSCA O PT PARA SE HIGIENIZAR. É O PT QUE BUSCA MALUF PARA, A UM SÓ TEMPO, EXIBIR A SUA FACE SUPOSTAMENTE PLURAL, TOLERANTE E INCLUSIVA E PARA DAR PROSSEGUIMENTO AO PROJETO DO PARTIDO ÚNICO.
Gilberto Carvalho confessou isso anteontem com clareza inequívoca. Defendeu a aliança com Maluf deixando claro que o PT está no comando. José Dirceu fez a mesma coisa. Quem não cabe nesse processo é justamente Luiza Erundina —  não por acaso, pertencia ao partido e teve de deixá-lo. Ela já não cabe porque fala aquela linguagem do socialismo à moda antiga — chegou até a evocar “a luta de classes”. Ela já não cabe porque relembra aquele partido que queria se dirigir aos “oprimidos” (e o PT é hoje uma força da ordem, que tem muita intimidade com os que a ex-prefeita considera “opressores”). Ela já não cabe porque cria obstáculos à aliança com o capeta se o capeta ajudar a vencer o único núcleo mais ou menos organizado que ainda pode liderar uma resistência ao PT: os tucanos! A propósito: não foi Lula quem disse que Jesus Cristo, se voltasse à terra, acabaria tendo de se aliar ao demônio? O “cristo” de Lula, por óbvio, é uma criação à sua imagem e semelhança.
Não sei se o PT será bem ou malsucedido ao se aliar a Maluf. O que sei é que a aliança é absolutamente coerente porque não há entre eles diferença nenhuma de moralidade — a do deputado do PP leva alguma vantagem porque ligeiramente menos cínica — e porque Maluf é mais um, vá lá, “conservador” cooptado na saga para aniquilar o que resta de oposição no país. Assim, ele é, a um só tempo, uma conquista e uma presa. E olhem, para citar Lula, que o ex-prefeito, muito provavelmente, ainda não é o diabo. Imaginem quando chegar a hora…
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

Espaço da CNA na Rio+20 é invadido e depredado por terroristas do MST, da Via Campesina e de outros movimentos



Vejam estas fotos.
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A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) participa da “Rio+20″. Tem um estande no Pier Mauá denominado “AgroBrasil”, montado com o apoio da Embrapa e do Sebrae, para expor práticas de agricultura sustentável no Brasil. Pois bem: no fim da manhã desta quinta, militantes dos MST e da Via Campesina, entre outros grupos, invadiram e depredaram o espaço, como se pode ver acima.
Os invasores chegaram como se fossem visitantes comuns. Uma vez no local, deram início a seu “protesto”. Danificaram maquetes, jogaram tinta vermelha no local e espalharam panfletos. A segurança no Pier Mauá é feita por empresa privada. A Polícia Militar teve de ser acionada, e só não houve confronto porque ninguém resistiu à ação dos vândalos.
Leiam a declaração dada ao Globo por Divina Lopes, do MST:
“Ficamos satisfeitos com a manifestação, que conseguiu apresentar um contraponto ao agronegócio. Mas não houve depredação. Lá dentro, fizemos uma colagem de cartazes contra este modelo de agricultura e gritamos palavras de ordem. Mas a manifestação foi pacífica e ninguém saiu machucado”.
Vamos decupar a sua fala. “Apresentar contraponto”, segundo Divina, é invadir um espaço, depredar o trabalho alheio e gritar palavras de ordem. Segundo ela, a “manifestação foi pacífica” porque, afinal, “ninguém saiu machucado”. Ou por outra: deixe o MST agir à vontade, e ninguém se machuca. As fotos estão aí. A polícia tem como atuar se quiser.
A propósito: o MST e a Via Campesina são organizações políticas de extrema esquerda — há ATÉ alguns agricultores entre eles. O chefão é João Pedro Stédile, que nunca pegou num cabo de enxada. Basta olhar as fotos para perceber que há manifestantes que não têm nenhuma intimidade com as questões ligadas à terra. São as Mafaldinhas e os Remelentos de sempre, que saem dali para algum bar da Zona Sul, onde vão comemorar o seu feito heroico, e dali para o conforto de seus lares. Enquanto empregadas invisíveis administram a casa, eles se dedicam à revolução…
A CNA emitiu uma nota de repúdio, assinada pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da entidade. Leiam. Volto em seguida:
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vem a público manifestar o seu repúdio aos tristes episódios ocorridos na manhã desta quinta-feira, dia 21 de junho, quando o Espaço AgroBrasil, que lidera no Pier Mauá, um dos espaços oficiais da Rio+20, foi invadido por cerca de 200 manifestantes.
Rejeita a violência do grupo que  portava cartazes do Movimento dos Sem Terra (MST), além de materiais de outros movimentos não identificados.
Lamenta os atos de vandalismo que danificaram parte das instalações, especialmente uma maquete que reproduz as várias técnicas de agricultura de baixo carbono, além de uma Área de Preservação Permanente (APP), conforme fotos disponibilizadas no link:  http://www.flickr.com/photos/canaldoprodutor/
Por esse motivo, protesta mais uma vez frente ao preconceito contra um setor que utiliza apenas 27,7% do território do país para produzir alimentos de forma sustentável, preservando 61% do Brasil com cobertura vegetal nativa.
A CNA considera inaceitável que manifestações antidemocráticas como estas ainda tenham lugar em um evento como a Rio+20, onde os povos e as nações buscam o entendimento e a convergência para um mundo melhor, sempre respeitando a diversidade de ideias.
Senadora KÁTIA ABREU
Presidente da CNA
Voltei“A CNA não chama os manifestantes de terr0ristas, Reinaldo, mas você chama?” Quem quer que, por questão política, imponha ao outro a sua vontade, submetendo-o pela força,  pondo em risco a segurança de terceiros, pratica ato terrorista. Todos esses elementos estão dados na ação empreendida pelo MST e pela Via Campesina. Há mais: há gente ali que não pertence a esses movimentos nem a pau, Juvenal!
Vocês acham que aquele barbudo e cabeludo e sua companheira alimentada com Toddynho e sucrilho moram naquelas barrascas de plástico preto do MST? Vocês acham que aquela senhora que discursa sobre a maquete sabe distinguir uma batata de um nabo? Vocês imaginam aquele rapazola de camiseta cor-de-rosa e cabelo de surfista plantando o alimento que come com as próprias mãos?
Basta pensar um pouquinho para constatar que há grupo ambientalistas de alcance mundial bastante chegados a esse tipo de ação direta e… terrorista!
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

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Brasil entra na defesa da liberdade na internet


Política

Por Jamil Chade
Genebra - O Brasil vai patrocinar, ao lado dos Estados Unidos e da Europa, a primeira resolução na história da Organização das Nações Unidas (ONU) para tentar garantir a defesa da liberdade de expressão na internet. Eileen Donahoe, embaixadora americana na ONU, confirmou que negociações entre as diplomacias brasileira, europeia e dos EUA chegaram a um acordo sobre o conteúdo da iniciativa.
"A ideia é que o texto peça que o direito à liberdade de expressão na internet seja equiparado ao direito tradicional da liberdade de expressão fora da web", explicou a diplomata americana. A preocupação dos EUA é que governos estejam adotando, na web, censuras e controles sobre o fluxo de informações bem mais estritas do que fora da internet.
Um ponto que aproximou o Brasil da posição americana foi a decisão de Washington e dos europeus de incluir no texto a necessidade de a internet ser um vetor para o desenvolvimento. O Brasil, porém, também faz questão de alertar que não aceitará que a decisão na ONU seja usada para pressionar um ou outro país. O recado já foi dado ao governo americano.
A resolução deve ser votada em duas semanas, na reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. A presidente Dilma Rousseff havia colocado como um de seus pontos na área de direitos humanos a questão da liberdade da imprensa. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Um tribunal internacional para julgar crimes ambientais


Meio ambiente

Grupo de intelectuais e lideranças ambientais reunidos em evento paralelo à Rio+20 propõe a criação de uma instância semelhante à Corte Penal Internacional de Haia voltada para as ações que degradam o ambiente com consequências futuras

Juliana Arini, do Rio de Janeiro
Cristo Redentor é iluminado de verde durante Rio+20
Cristo Redentor é iluminado de verde durante Rio+20 (Reuters)
Um tribunal autônomo para julgar os crimes ambientais da humanidade. Esta foi a proposta lançada no Rio de Janeiro por um grupo de intelectuais e lideranças ambientais mundiais, como o filósofo francês Edgar Morin. A ideia foi debatida no encontro “A Terra está inquieta”, no Sesc Jacarepaguá, em um dos eventos paralelos aos debates da Conferência Rio+20, no Riocentro. O objetivo do Tribunal Ambiental Mundial é preencher as lacunas dos tribunais que já existem para debater os crimes contra a humanidade, como a Corte Penal Internacional, em Haia, na Holanda. A principal função do tribunal seria julgar ações que degradam o meio ambiente com consequências futuras, como o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011.
“Existe uma legislação muito boa, principalmente no tocante aos crimes de genocídio, porém ainda há brechas relacionadas à questão ambiental. E isso faz com que, em alguns casos, governos ocultem suas ações prejudiciais”, disse a francesa Eva Joly, diretora da comissão de desenvolvimento do Parlamento Europeu. Os testes feitos pela França com armas nucleares na Argélia, entre 1960 e 1966, foram um dos exemplos dados por Joly. “Até hoje ninguém sabe onde estão esses dejetos radioativos, pois os franceses tratam a questão como um problema de estado, e exigem sigilo das informações por cem anos”.
O grupo acredita que o Tribunal deve funcionar sem ações punitivas formais. A proposta é que as denúncias sejam analisadas por um grupo de intelectuais de várias áreas, com prestígio mundial. Aceita a denúncia, ela seria levada a uma votação mundial por meio da internet e outras redes de comunicação. O parecer seria dado pelos membros do tribunal, levando em conta o resultado dessa votação. A punição seria a divulgação, como uma forma de sanção ética.  
A ideia foi inspirada no Tribunal Russell, criado pelos escritores Bertrand Russell e Jean-Paul Sartre, na década de 1960, para julgar o que consideravam crimes dos EUA durante a Guerra do Vietnã (1955-75). O mesmo modelo pode ser aplicado no caso da proposta lançada durante a discussões da Rio+20.
“Estamos em um período de suicídio coletivo na humanidade, por isso a sanção ética é importante, pois a ética torna essas questões algo muito maior do que a mera discussão política. E todos os problemas da humanidade ocorrem por falta de consciência no centro das questões”, diz Edgar Morin, sociólogo e presidente emérito do Centro Nacional de Pesquisa Científica francês.
Entre as propostas iniciais também estaria a possibilidade de julgamento de crimes de desrespeito à diversidade cultural, crimes sobre a manipulação de informações e ações que fomentem a desigualdade social. “Muitos fundos de investimento nos EUA lucraram até US$2 bilhões vendendo títulos podres, e mesmo que exista uma investigação local no país, é importante que ocorra um julgamento dessa ação, pois houve um impacto gigantesco na economia internacional”, disse Eva Joly.
O acesso irrestrito de pessoas de qualquer classe social e país como proponentes de denúncias é outro instrumento em debate. “A falta de acesso à Justiça para populações isoladas é outro problema. Na Costa do Marfim, uma empresa britânica despejou lixo tóxico na costa em 2006 e contaminou milhares de pessoas. Muitas nunca conseguiram lutar pela indenização”, disse Doudou Diene, encarregado da missão da ONU na Costa do Marfim.
A abrangência das questões passíveis de julgamento ainda é um ponto em discussão. Para Michel Prieur, jurista ambiental da faculdade de Limoges, na França, questões locais como as divergências em torno da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte não deveriam entrar nesse rol. “Belo Monte ainda é um assunto muito local. É difícil um francês compreender a dimensão desse problema para poder julgar”, afirmou Prieur. Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos poucos brasileiros a integrarem a proposta, a construção da hidrelétrica no rio Xingu, no Pará, pode ser debatida no tribunal. “Se pensarmos nos índios que podem ser atingidos pelos impactos ambientais da hidrelétrica, podemos considerar que Belo Monte é, sim, um tema passível de ser levada a um tribunal ambiental mundial”.
Mesmo ainda incompleta em seus objetivos e abrangência, a ideia do tribunal já é utilizada para lançar alertas aos líderes mundiais que debatem o texto final da Rio+20. “A morosidade com que os chefes de Estado estão lidando com questões ambientais que exigem com tanta urgência um acordo mundial poderia ser um tema futuro a ser julgado”, disse Edgar Morin.