segunda-feira 15 2013

Pearl Jam - Even Flow e Outras tantas....



Bom demais ouvir a voz deste Super Eddie!!

Pearl Jam - Yellow Ledbetter


Levei vinte anos para fazer sucesso da noite para o dia.
Eddie

'Investir em educação infantil é investir em capital humano'


Entrevista: Jack Shonkoff

Especialista defende que crianças oriundas de família de baixa renda e escolaridade necessitam de assistência escolar desde os primeiros anos

Nathalia Goulart
Quanto antes os incentivos ao aprendizado vierem, mais chance a criança terá de se tornar um adulto bem preparado. O pensamento é de James Heckman, prêmio Nobel de economia e autor do mais abrangente estudo já realizado sobre educação infantil e seus impactos no indivíduo e na sociedade. Nesse quesito, o Brasil ainda engatinha: aqui, oito em cada dez crianças de até 3 anos estão fora da escola. Crianças vindas de famílias com renda e escolaridade mais elevadas tendem a ser supridas desses estímulos em casa, mas as outras, não. Por isso, os índices brasileiros merecem atenção, diz Jack Shonkoff, diretor do Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard e professor da faculdade de educação da mesma instituição.
Fora da sala de aula, elas têm suas chances de avançar limitadas antes mesmo de iniciar a educação formal. Resume o especialista: "No momento que elas começarem na pré-escola ou no ensino fundamental, já com quatro ou seis anos, eles terão dificuldades de alcançar aqueles que receberam o estímulos." Para ver crescer o número de crianças atendidas, o governo federal pretende inaugurar 6.000 creches até 2014 ao custo de 7,6 bilhões de reais. A medida vai ao encontro ao Plano Nacional de Educação que prevê que, até 2020, 50% das crianças até 3 anos estejam na escola. "Para o Brasil, o desenvolvimento depende da capacidade do país de fomentar capital humano. Para isso, é preciso estar seguro de que cada geração seja mais educada, mais saudável e mais produtiva que a anterior", opina Shonkoff. "E os fundamentos são construídos na infância."
Confira os principais trechos da entrevista que o pesquisador americano concedeu ao site de VEJA:
Arquivo pessoal
Jack Shonkoff, pesquisador de Harvard
Jack Shonkoff, pesquisador de Harvard
Do ponto de vista da ciência, qual a importância da educação infantil nos primeiros anos de vida?
Não há dúvidas de que as experiências da primeira infância influenciam o desenvolvimento da arquitetura do nosso cérebro. Essas fundações interferem na capacidade de aprender, no comportamento, na saúde física e mental, na capacidade de produção econômica e até na responsabilidade social. Por essas razões, discutir a educação é infantil é também discutir o desenvolvimento infantil, porque é preciso entender que não se trata apenas de educação. Não colocamos crianças de um ano sentadas nas carteiras para aprender a ler. Estamos falando da formação de pessoas.

Qual o papel da escola nesse processo?
Existem crianças que crescem em um ambiente que garante boas experiências de aprendizado e que as protegem do stress tóxico e da violência. Para elas, a escola pode ser enriquecedora, mas não é essencial. Por outro lado, muitas outras crianças crescem em lares que não proporcionam esse ambiente. Em lares onde há insegurança ou onde os pais possuem uma educação formal limitada, as oportunidades de aprendizado são muito menores. Para essas crianças, o ambiente escolar é não só enriquecedor, mas essencial pois oferecem as experiências mais básicas que a família tem dificuldade de oferecer sozinha. Mas é importante lembrar, que quando se trata de programas direcionados a crianças muito novas, a participação da família é muito importante e as escolas e os pais precisam trabalhar em conjunto. A escola não substitui os pais.

O que perdem as crianças que não são estimuladas na idade certa?
No momento que elas começarem na pré-escola ou no ensino fundamental, já com quatro ou seis anos, eles terão dificuldades de alcançar aqueles que receberam estímulos. Porém, não só as crianças saem perdendo. A sociedade também perde. Eu acredito que para o Brasil, em particular, essa seja uma questão importante, já que o país tem uma economia tão vibrante e crescente. Para o Brasil, o desenvolvimento depende da capacidade do país de fomentar capital humano. Para isso, é preciso estar seguro de que cada geração seja mais educada, mais saudável e mais produtiva que a geração anterior.

O senhor acredita que o Brasil, com apenas 20% das crianças de até 3 anos na escola, precisa ser preocupar com essa questão?
Respondo essa pergunta com outra pergunta: qual o percentual de famílias que não são capazes de prover um lar seguro, estável, rico em experiências construtivas?

Acredito que mais do que 20%...
Então existem razões para se preocupar. Se pensarmos que essas crianças são oriundas de lares que não podem suprir os estímulos necessários à idade, então a população que pode se beneficiar dessa educação não está sendo servida. Como mencionei, para crianças que possuem um lar que oferece esse tipo de experiência, o ambiente escolar nessa idade pode ser um bom complemento, mas a prioridade nacional deve ser prover esse tipo de serviço para as famílias que não podem oferecer estímulos dentro de casa. Os benefícios já foram provados. Diversos estudos mostram que os retornos do investimento na educação infantil nos primeiros anos de vida de crianças que vivem em um ambiente pouco propício para o desenvolvimento das habilidades são muito altos. Quando governos investem em programas educacionais de qualidade para famílias de baixa renda ou escolaridade, eles aumentam a probabilidade da criança se tornar um adulto economicamente produtivo, de ser um profissional com maior salário e que pague mais impostos. Além disso, diminuem as chances de que a criança se torne criminosa ou economicamente dependente. Educação é a chave para a produtividade econômica. Especialmente em uma economia global. 
Então é possível dizer que quanto mais cedo, melhor?
Sim, principalmente para as crianças de família de baixa renda e escolaridade. Isso porque, se os cuidados começam somente aos 3 ou 4 anos, isso significa um período grande de desestímulo que pode danificar a saúde do cérebro e essa situação pode ser irreversível. É para essas crianças que os programas de educação infantil devem ser dirigidos. Esse é o melhor investimento que sociedade pode fazer. Portanto, eu não diria que é melhor para todos, mas sem dúvida é melhor para aquelas crianças que precisam.

Trocar a creche por uma babá é uma boa ideia nos primeiros anos de vida?
Do ponto de vista da criança não importa quem vai cuidar dela. O que importa é que essa criança seja acolhida, nutrida e provida de experiências enriquecedoras. Então, se o adulto foi capaz de prover isso, não importa se é uma babá ou se é a professora de uma creche. No entanto, ao redor dos três anos de idade, a escola ganha outra dimensão devido a oportunidade de convívio e interação com outras crianças. Essa experiência é extremamente enriquecedora, porque proporciona uma melhor preparação para as próximas etapas da educação, onde trabalhar em grupo é essencial.

Que tipo de atividades devem ser realizadas pelos programas direcionados às crianças? 
Ler para as crianças é uma boa atividade, assim como brincar com elas de uma maneira apropriada para a idade, ensinar como se comportar de maneira adequada, como se relacionar com os demais, como lidar com as mais diversas situações. Os programas direcionados a essas crianças não são – e não devem ser – baseados em livros didáticos ou lições de casa.

As experiências são mais importantes nessa etapa?
Muitas pessoas pensam que coisas como comportamento e sentimentos independem daquilo que chamamos inteligência. Mas quando o assunto é educação, tudo está interligado. Se o indivíduo é uma pessoa com facilidades de aprendizado mas não sabe controlar seu comportamento, seus medos e receios, então seu rendimento escolar pode estar comprometido. Assim, a educação infantil é sobre pensar, resolver problemas, saber interagir em grupo, controlar seu comportamento e seus sentimentos - tudo isso junto é preciso para que sejam estabelecidas bases fortes e necessárias para a educação formal posterior e para o mercado de trabalho. Um trabalhador, um homem de negócios não é apenas inteligente, ele precisa ser capaz de dominar outras habilidades.

Lei da pré-escola é avanço. E tirá-la do papel, um desafio


Educação infantil

Em 2011, país tinha mais de 1 milhão de crianças de 4 e 5 anos fora das salas de aula. Para que lei se concretize, será preciso investimento robusto de municípios e parceria com governo federal

Lecticia Maggi
Educação infantil é responsável por desenvolver habilidades que serão fundamentais para o progresso escolar da criança
Educação infantil é responsável por desenvolver habilidades que serão fundamentais para o progresso escolar(Thinkstock)
A mudança na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que reduz de 6 para 4 anos a idade mínima obrigatória para ingresso na escola, é vista como um avanço por especialistas. Do ponto de vista pedagógico, a alteração não precisa ser motivo de preocupação para os pais. Ao contrário. "A educação infantil é primordial. Todos os estudos, tanto nacionais como internacionais, mostram que as crianças bem atendidas pela escola nos primeiros anos de vida têm mais chances de ter um bom aproveitamento no ensino fundamental e de concluir o ensino médio na idade adequada", afirma a professora da USP Maria Regina Maluf, especialista em alfabetização e pós-doutora em psicologia. O maior desafio é fazer com que as modificações determinadas pela lei federal saiam do papel. Dados recentes apontam para mais de um milhão de crianças de 4 e 5 anos longe das salas de aula no Brasil. E a maior parte da responsabilidade de incluí-las - ou do ônus de não fazê-lo - não será da União, mas dos prefeitos.

Sancionada pela presidente Dilma Rousseff na última semana, a Lei 12.796 estabelece que a educação básica deve ser obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos, e dividida entre pré-escola, ensino fundamental e ensino médio. Os municípios têm até 2016 para garantir vaga a todos os pequenos de 4 e 5 anos - que devem ter carga anual mínima de 800 horas, distribuídas por no mínimo 200 dias letivos. Pela constituição federal, é de esfera municipal a incumbência de oferecer educação infantil em creches e pré-escolas.


Segundo os últimos dados disponíveis da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), tabulados pelo movimento Todos pela Educação, em 2011, havia no país quase 4,7 milhões de crianças de 4 e 5 anos matriculadas na pré-escola. Destas, 74,8% estavam em instituições públicas, sendo mais de 90% da rede municipal.

Outras 1.050.560 crianças encontravam-se longe dos bancos escolares. Em estados como Rondônia e Amazonas, a taxa de atendimento nesta faixa etária atingia pouco mais da metade do total de possíveis alunos: 53,3% e 66,4%, respectivamente. Sobre este montante de excluídos é que os prefeitos terão de atuar, com investimentos robustos que contemplem desde a infraestrutura das escolas, até a formação de professores. Tarefa que, na visão de especialistas, não será nada fácil.

"Do ponto de vista orçamentário, se não houver um regime de colaboração do governo federal com os municípios, será dificílimo para os prefeitos atenderem essa lei. O governo federal geralmente ajuda com a construção de escolas, mas inclusão não é só construir prédios e colocar as crianças dentro. A parte que realmente custa caro é investir na formação de professores e pagar o salário deles e de funcionários", considera Rubens de Camargo, professor da USP e ex-secretário de educação das cidades de Suzano e São Carlos, no interior de São Paulo.

Conforme informações do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), em 2012, o custo médio estimado por aluno da pré-escola, de tempo parcial, foi de 2.440,85 reais por ano. Tomando como base este valor, a inclusão das mais de um milhão de crianças custaria aos cofres públicos cerca de 2,5 bilhões de reais anuais.

Neste cenário, Priscila Cruz, diretora do Todos pela Educação, tem posicionamento semelhante ao de Camargo: "Se não for criado um programa nacional que apoie os municípios na construção e manutenção de pré-escolas e na formação de professores, corre-se o risco de que essa seja mais uma das leis que ‘não pegam’ no país. Para a educação, é gravíssimo". Segundo ela, há a possibilidade - nada desejável, é claro - de que próximo a 2016 os prefeitos peçam para esticar o prazo de cumprimento da lei. "Infelizmente, essa lei não prevê sanções em caso de descumprimento; diferentemente, por exemplo, do que acontece com a Lei de Responsabilidade Fiscal", afirma.

Quem serão os professores de todas essas crianças e de que forma eles serão treinados é outro ponto chave da discussão – e que também deve custar caro. Um boletim elaborado pela coordenadoria do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em janeiro de 2011, estimou que seriam necessários quase 100.000 novos docentes para a inclusão de todas as crianças de 4 e 5 anos que, na ocasião, ainda estavam fora da escola. Atrair novas pessoas para o magistério não é simples e envolve, inevitavelmente, a reestruturação e valorização da carreira docente. O atual piso nacional para professores da educação básica (ensino infantil, fundamental e médio) é de 1.567 reais por uma jornada de 40 horas semanais. "Com a nova lei das empregadas domésticas, algumas já estão ganhando mais do que professor. Daqui a pouco, teremos uma crise generalizada por causa da falta de profissionais", acredita Priscila.

Para a formação dos futuros educadores, especialistas apontam a necessidade de reformulação dos cursos de pedagogia. "Hoje, os cursos têm apenas uma disciplina voltada à educação infantil e não qualificam adequadamente os docentes para lidar com crianças de fase pré-escolar", afirma Maria Maluf. Ela ressalta o grande equívoco de se considerar que educação infantil é sinônimo de brincadeira. Não é. A pré-escola deve propiciar o desenvolvimento da linguagem oral e das relações com o mundo por meio de experimentações com objetos, desenhos, formas e cores.

"A partir dos 4 anos, a criança já consegue aprender o nome das letras e a escrevê-las. É o momento de ouvir e contar histórias. Pode-se brincar, mas devem ser brincadeiras sempre direcionadas e com propósitos", afirma Maria. A pré-escola é o ciclo responsável por desenvolver habilidades que serão fundamentais para o progresso escolar do aluno. Não se pode esquecer, no entanto, que crianças de 4 anos ainda não têm (e nem devem ter) total autonomia. Por isso, o recomendável, segundo a educadora, é uma professora para no máximo 15 alunos.

A determinação de ingresso na escola aos 4 anos, vale lembrar, não é nova e já consta em emenda constitucional de 2009. O que houve foi uma atualizando da LDB , de 1996, à luz da constituição federal. O grande desafio, portanto, não é tornar o ensino infantil obrigatório - aprovar a lei é a parte mais fácil de todo o processo -, mas sim criar condições mínimas de oferecer  educação de qualidade a essas crianças.

Pais recorrem à experiência de profissionais para ajudar os filhos na hora dos deveres escolares



Especialistas explicam que a rotina de estudos não pode terminar com o sinal de saída do colégio

por Thiago Alves | 17 de Abril de 2013
Gustavo Andrade/Odin

A professora Beatriz Lima: “A rotina de estudos não acaba com o último sinal do colégio”

O garoto balança o lápis, olha para o lado, rabisca a folha e, depois de muita delonga, lê o enunciado do exercício sem demonstrar grande interesse. Quem tem filho em idade escolar sabe que o dever de casa pode ser um teste de paciência - para as crianças e para os pais. Divididos entre os cuidados com o lar e o trabalho, alguns pais recorrem à ajuda de um profissional para não ter de travar uma queda de braço diária com os pequenos ao garantir a execução das tarefas. 

Professora particular há quinze anos, a bióloga Stefany Monteiro viu a procura pelo serviço crescer 50% em apenas dois anos. “Eu não estava dando conta do número de alunos e montei uma empresa”, conta. Ela inaugurou a Professor Particular em 2011 e, desde então, coordena dezessete profissionais, entre professores e pedagogos. Stefany e sua turma cobram até 75 reais por uma hora de aula. A dentista Maria Dolores Amorim diz que tinha prazer em acompanhar o filho Pedro, de 10 anos, nos estudos, mas a jornada de trabalho tornou a relação entre os dois desgastante. “Chegávamos cansados em casa e ambos sem humor para o dever”, lembra. Após colocá-lo no acompanhamento escolar, Maria Dolores viu sobrar tempo na sua agenda e na dele. “As notas do Pedro melhoraram e ele tem um compromisso maior com os prazos.”

Para a pedagoga e professora da Universidade Federal de Minas Gerais Maria Alice Nogueira, a participação de terceiros ajuda a evitar conflitos que prejudicam as relações familiares. “A mãe de hoje é uma profissional ativa e o pai tem uma jornada de trabalho ainda mais intensa.” Maria Alice ressalta que, mesmo com a agenda apertada, os pais têm de acompanhar de alguma forma o desenvolvimento das tarefas. “Eles não precisam ensinar, mas devem conferir o caderno dos filhos. É importante para seu desenvolvimento futuro.”

Ercilia Machado Santos abandonou a carreira de administradora de empresas para dedicar-se à criação dos três filhos - Otávio, de 15 anos, Estella, de 11, e Sophia, de 8. “Devido à agenda social agitadíssima deles, virei administradora do lar”, afirma. Mesmo assim, ela não encontra tempo para ajudá-los nos deveres escolares. “Fica complicado reuni-los à mesa e, quando consigo, não há como dividir minha atenção entre os três”, lamenta. A solução foi pôr o trio no acompanhamento escolar do Minas Tênis Clube, que é oferecido gratuitamente aos sócios. “Eles saem da piscina e vão para o estudo, às vezes ainda molhados”, diverte-se. Coordenadora do acompanhamento escolar do Minas Tênis Clube, a professora Beatriz Lima diz que, ao analisar os exercícios dos estudantes, o monitor descobre quais são as dúvidas de cada um e trabalha novamente os pontos em que eles apresentam mais dificuldades. “Tanto alunos quanto pais devem saber que a rotina de estudos não acaba com o último sinal do colégio, após quatro ou cinco horas de aula.” Em casa, no clube ou em um centro de acompanhamento, o aprendizado tem de continuar.