Lava Jato
Em depoimento, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras admitiu corrupção em compra de refinaria nos Estados Unidos e disse que Nestor Cerveró e o PMD podem ter embolsado até 30 milhões de dólares em propina
Gabriel Castro e Laryssa Borges, de Brasília
Agentes da Polícia Legislativa do Senado e da Polícia Federal fazem a escolta do ex- diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, que chega ao Senado Federal, em Brasília, por uma entrada privativa (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa admitiu ter recebido 1,5 milhão de dólares em propina de Fernando Soares, o Fernando Baiano, para não criar entraves à compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela estatal petroleira. “Por ser um negócio ruim, era previsível que em uma análise técnica [Costa] fosse apresentar objeções à provação desta compra”, disse. A confissão está em depoimento que a Justiça Federal do Paraná tornou público nesta quinta-feira.
Na oitiva, Costa ainda indica que o ex-diretor da Área Internacional da petroleira, Nestor Cerveró, autoridades ligadas ao PMDB e o operador do partido no escândalo do petrolão, Fernando Baiano, podem ter embolsado até 30 milhões de dólares em propina na compra de Pasadena. "Havia boatos na empresa de que o grupo de Nestor Cerveró, incluindo o PMDB e Fernando Baiano, teria dividido algo entre 20 milhões de dólares e 30 milhões de dólares, recebidos provavelmente da Astra", disse o ex-diretor ao juiz Sergio Moro, responsável pelo processo da Operação Lava Jato.
No depoimento à Justiça, Paulo Roberto Costa ainda afirma ter conhecido Fernando Baiano no início de 2006 por meio de Nestor Cerveró, que era diretor da Área Internacional da estatal. Apontado como um dos principais delatores do escândalo do petrolão, Costa confirmou que Baiano operava como lobista do PMDB na companhia e teria operado para garantir a compra de Pasadena. Mais: deu detalhes da triangulação para que ele próprio recebesse a propina daquela obra. Ele contou ter feito uma viagem "por volta de 2007 ou 2008" a Liechenstein na companhia de Fernando Baiano. Lá, eles foram até o Vilartes Bank, que teria sido usado para movimentar o montante de 1,5 milhão de dólares.
O papel de Nestor Cerveró na consolidação da compra da unidade de refino nos Estados Unidos foi crucial já que ele foi responsável por elaborar o resumo executivo levado ao Conselho de Administração da Petrobras, na época presidido pela então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, apontado pela petista como um “parecer falho” que levou a empresa a autorizar erroneamente a compra da refinaria de Pasadena. Em depoimentos no Congresso Nacional, Cerveró se eximiu de culpa ao informar que não era de sua alçada encaminhar ao conselho da estatal a existência das cláusulas Marlim e Put Option na transação e disse que as duas cláusulas não eram “importantes” do ponto de vista negocial.
No depoimento à Justiça Federal, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras admitiu o que o governo tinha dificuldade em afirmar – que a compra da refinaria de Pasadena “não foi um bom negócio” porque a unidade de refino precisaria passar por um processo de readequação para processar petróleo pesado, o que poderia custar até 2 bilhões de dólares. “Pasadena era uma refinaria muito velha e a Petrobras poderia ter adquirido mais novas e com capacidade para refinar o tipo de petróleo que a Petrobras exportava. O principal problema de Pasadena era que não era adequada para o refino de petróleo do tipo que a Petrobras exportava, era velha e tinha por dono uma trading pequena e que não era da área de refino", relatou.
Apesar do iminente mau negócio na época, Paulo Roberto Costa deu indicativos de que o chamado Clube do Bilhão, um cartel de grandes empreiteiras formado para controlar as principais obras da petroleira, já estava a postos para assumir a refirnaria de Pasadena. Segundo ele, caso fosse adiante o processo de reforma e ampliação das instalações, já havia um acordo para que a Odebrecht e a UTC fizessem a obra.
Em janeiro de 2005, o grupo belga Astra comprou 100% da refinaria de Pasadena pelo valor de 42,5 milhões de dólares. No ano seguinte, vendeu 50% do negócio para a Petrobras por 431,7 milhões de dólares. Após mais de três anos de litígio, a Petrobras se viu forçada a adquirir todas as ações da refinaria e da trading associada à empresa por 1,24 bilhão de dólares. A conta até o início deste ano já ultrapassava 1,9 bilhão de dólares se contabilizados os investimentos feitos na planta ao longo do período. De acordo com cálculos do Tribunal de Contas da União (TCU), a Petrobras teve prejuízo de 792 milhões de dólares na operação de compra da refinaria nos Estados Unidos. A chamada operação Pasadena é considerada um dos piores negócios da história da empresa.
Bumlai - Costa também afirma que José Carlos Bumlai "era um contato muito próximo de Fernando Baiano", e que o lobista do PMDB tinha muitos contatos no mundo político e empresarial. Como VEJA havia revelado em 2011, o pecuarista Bumlai era um amigo próximo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Favorecido por financiamentos do BNDES, ele tinha livre acesso ao Palácio do Planalto. Um recado na portaria determinava: "O sr. José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria Principal do Palácio do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino, após prévio contato telefônico, em qualquer tempo e qualquer circunstância”.
Bumlai - Costa também afirma que José Carlos Bumlai "era um contato muito próximo de Fernando Baiano", e que o lobista do PMDB tinha muitos contatos no mundo político e empresarial. Como VEJA havia revelado em 2011, o pecuarista Bumlai era um amigo próximo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Favorecido por financiamentos do BNDES, ele tinha livre acesso ao Palácio do Planalto. Um recado na portaria determinava: "O sr. José Carlos Bumlai deverá ter prioridade de atendimento na portaria Principal do Palácio do Planalto, devendo ser encaminhado ao local de destino, após prévio contato telefônico, em qualquer tempo e qualquer circunstância”.