Com articulação de Sérgio Cabral, deputado federal é nomeado secretário de Eduardo Paes na expectativa de ter pai absolvido em processo no Tribunal de Contas do Estado
Na esperança de reverter a saída do deputado Leonardo Picciani da liderança do PMDB na Câmara dos Deputados, os caciques do partido no Rio de Janeiro estão colocando na rua uma operação política que envolve oferta de cargos e troca de favores com aliados. Desde o início da semana passada, o prefeito Eduardo Paes e o governador Luiz Fernando Pezão autorizaram seus secretários Pedro Paulo Carvalho Teixeira e Marco Antonio Cabral a reassumirem seus mandatos no Congresso para ajudar na disputa partidária. Pedro Paulo, com receio de ser alvo de uma representação no Conselho de Ética por ter agredido a sua ex-mulher, ainda estuda se vai mesmo se desincompatibilizar. Soma-se à estratégia um movimento ainda mais ousado definido na última quinta-feira - nomear o deputado federal Alexandre Serfiotis (PSD) usando como barganha uma possível absolvição do seu pai, Jorge Serfiotis, em um processo no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Com a escolha, seu suplente, Nelson Nahim (irmão de Anthony Garotinho, que está de malas prontas para o PMDB) será mais um parlamentar a desembarcar em Brasília para tentar tirar Leonardo Quintão do comando do partido na Câmara.
Pelo acordo, Serfiotis será empossado esta semana como secretário de Ciência e Tecnologia da prefeitura do Rio de Janeiro. Aos aliados, inicialmente afirmou que não fora consultado sobre a nomeação - fato este negado por Paes ao ser perguntado por VEJA. Durante o fim de semana, Serfiotis confidenciou a pelo menos dois interlocutores que a negociação para que assumisse o cargo passou pelo seu pai. Ex-prefeito de Porto Real, Jorge Serfiotis está na lista de políticos inelegíveis do Rio por ter tido as contas da sua administração rejeitadas pelo TCE-RJ no processo 218546-2/07. Um recurso do dia 24 de julho pedindo a mudança da decisão aguarda um posicionamento da corte. Segundo Alexandre Serfiotis revelou a aliados, seu pai conversou na semana passada sobre o tema com o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente do TCE, Jonas Lopes. Jorge Serfiotis precisa de uma decisão favorável do tribunal para ser candidato a prefeito novamente em 2016.
Procurado, Jonas Lopes negou o diálogo com Jorge. Em nota oficial, Cabral afirmou que "jamais falou com o ex-prefeito Serfiotis sobre assunto seu no Tribunal de Contas". VEJA conversou com Jorge Serfiotis. Ele confirmou que recebeu uma ligação de Cabral na semana passada, mas apenas para "falar sobre a situação política de Porto Real". Sobre o filho Alexandre assumir uma secretaria apenas para resolver uma questão interna do PMDB, Jorge afirmou que "não há nada de imoral e ilegal nisso". Procurado durante o fim de semana, Alexandre não foi encontrado para dar declarações. Hoje, assustado com a confusão envolvendo seu nome, novamente voltou a dizer para correligionários que talvez não assumisse a secretaria de Paes.
Dentro do PSD fluminense, que em sua maioria deseja o impeachment de Dilma Rousseff, o clima de revolta com a articulação levou deputados a enviar recados para a cúpula do PMDB do Rio. Se for preciso, o deputado federal Arolde de Oliveira, secretário de Trabalho de Pezão, pedirá exoneração para assumir o mandato parlamentar e novamente desequilibrar o jogo pró-Picciani. Como PMDB e PSD formaram uma coligação na última eleição do Rio, cada vez que um parlamentar assume ou deixa uma cadeira em Brasília, outro da mesma coalização assume. Os recados não intimidaram Paes e cia, que seguem operando e fazendo contas. Na semana passada, para abrir vaga para Marco Antonio Cabral em Brasília, a secretaria municipal de Abastecimento foi entregue para Walney Rocha do PTB. Em menos de um dia, 51 pessoas foram exoneradas da pasta para dar lugar a novos petebistas sedentos por cargos.
No entanto, a operação para colocar Picciani de volta à liderança do PMDB na Câmara não será simples. Além das estratégias definidas na semana passada, os caciques fluminenses tinham planejado filiar ao partido os deputados Altineu Cortes e Dr João, ambos do PR. Mas o grupo ligado ao vice-presidente Michel Temer - com apoio do deputado Eduardo Cunha - enviou sinais para os peemedebistas do Rio de que vetaria as novas filiações. No limite, o grupo de Temer ameaça até expulsar Leonardo Picciani do partido caso a ofensiva para tirar Quintão não termine.
Ontem, em entrevista ao jornal O Dia, o presidente do PMDB do Rio de Janeiro, o deputado estadual Jorge Picciani, colocou ainda mais lenha na fogueira da disputa interna do PMDB: "O vice-presidente diz que não vai se meter no impeachment e se mete, coordenando isso do Palácio do Jaburu. Ele diz que não se mete na bancada, mas comandou diretamente, junto com Eduardo Cunha, a maioria pró-Leonardo Quintão. Eles resgataram dentro do PMDB um processo que já não existia, que é a assinatura por lista. Então, se amanhã ou depois outro candidato tiver uma lista com o maior número, retoma a liderança. É preciso que se conheça um pouco melhor o Leonardo Quintão, que é o candidato do Temer e do Eduardo Cunha. Já viu alguém que tem R$ 2,6 milhões em dinheiro, em casa?", afirmou, para depois cutucar o vice-presidente: "O Temer está tramando o golpe não é de hoje".