quarta-feira 30 2015

Sergio Moro é eleito pela 2ª vez a Personalidade do Ano; protestos de março contra Dilma são o Fato de 2015


VEJA.com selecionou 15 pessoas e 15 acontecimentos que marcaram 2015 e convidou os leitores a escolher, em votação via Twitter, quais deles merecem ser lembrados pela história. Os dois eleitos expressam um só desejo: o combate às mazelas do Brasil — em especial, a corrupção, que encontrou no escândalo do petrolão um exemplo assombroso

Personalidade e Fato 2015
Sergio Moro e os protestos de março: marcas na história(VEJA.com/VEJA)
Dois mil e quinze foi o ano em que o petrolão ganhou dimensões espantosas. Mais empresários envolvidos, políticos graúdos denunciados, mais revelações sobre o assalto organizado à Petrobras. Mas foi também o ano do castigo. Sergio Moro, o juiz à frente dos processos da operação Lava Jato, da Polícia Federal, começou a proferir sentenças, mandando para a cadeia gente que se beneficiou da roubalheiro. Colocando gente graúda atrás das grades, Moro parece ter devolvido aos brasileiros a esperança na Justiça. Foi certamente a recuperação desse sentimento que animou 61% dos leitores que participaram da votação da Personalidade do Ano, promovida por VEJA e Twitter, a escolher o juiz de Curitiba a figura pública mais importante do ano - depois dele aparecerem a lutadora de UFC Ronda Rousey (33% dos votos) e Kim Kataguiri (3%), um dos líderes do Movimento Brasil Livre. É a segunda vitória de Moro: em 2014, ano em que estourou o petrolão, a intransigência do juiz com a roubalheira já havia levado o magistrado a derrotar todos os candidatos.
Os leitores de VEJA e usuários do Twitter foram convidados também a escolher, via voto na rede social, qual o Fato mais marcante de 2015. O vencedor parece expressar o mesmo desejo contido no voto do juiz Moro: repúdio aos malfeitos do governo e do PT e a vontade de mudança. Os protestos de março - que levaram quase 2 milhões de brasileiros às ruas contra o governo Dilma - venceu a disputa com 56% dos votos, seguido pelo início do processo de impeachment de Dilma na Câmara (18% dos votos) e a tragédia de Mariana (10%).
É a terceira vez que VEJA.com realiza a eleição em parceria com o Twitter - a segunda, contudo, em que há também a categoria Fato do Ano. Em todas as oportunidades, os candidatos (sempre em torno de 15 em cada categoria) foram apontados por editores de VEJA.com. Os leitores, então, foram convidados a escolher os melhores, tuitando seu voto. Os eleitores recebiam em resposta uma mensagem de agradecimento e, em alguns casos, um breve histórico relembrando o que candidato havia feito naquele ano.
A votação foi aberta no dia 19 de dezembro e encerrada nesta quarta-feira. Foram computadas as mensagens publicadas no Twitter que continham, simultaneamente, o texto #VejaPersonalidade2015 e o nome de um dos candidatos antecedido do símbolo hashtag - por exemplo: #SergioMoro. O mesmo valia para a votação do Fato do Ano, para a qual foram considerados tuítes contendo a hashtag #VejaFato2015 acompanhados de um dos candidatos a evento mais marcante, como #CriseDosRefugiados, em referência ao drama dos imigrantes que deixam guerras e miséria na África, Oriente Médio e Ásia e tentam a sorte na Europa. Cada tuíte correspondia a um voto.
Agradecemos a todos pela participação! Um feliz 2016!

O Rio dos paradoxos -inépcia do poder público, atalho para a dramática crise financeira que fechou hospitais controlados pelo estado


O inegável charme da capital da Olimpíada de 2016, globalmente celebrado, convive com a inépcia do poder público, atalho para a dramática crise financeira que fechou hospitais controlados pelo estado


Cristo Redentor - Eletrocardiograma
(VEJA.com/VEJA)
Pela televisão, tudo sempre parecerá mais organizado e bem administrado do que a realidade entrega. Estima-se que 4,5 bilhões de pessoas em algum momento entre 5 e 21 de agosto de 2016 acompanhem as partidas de vôlei de praia da Olimpíada com o mar de Copacabana ao fundo, a maratona à margem da Baía de Guanabara, de um lado o Pão de Açúcar, do outro o Cristo Redentor lá no cume do Corcovado, num recorte da natureza que um dia o antropólogo Claude Lévi-Strauss comparou, com mau humor, a uma boca banguela. A boa toada das obras esportivas, a inauguração de longos trechos de infraestrutura de mobilidade urbana, tudo ancorado no empenho do prefeito Eduardo Paes, pareciam indicar um caminho sem muitos sobressaltos para os Jogos Olímpicos do Rio - especialmente se comparados ao país em plena crise econômica e política. O Brasil de 2009, quando o Rio ganhou a corrida olímpica, não existe mais - mas a cidade parecia resistir aos estragos.
Não mais. Na véspera do Natal, o governo estadual revelou a existência de uma dívida financeira de 1,4 bilhão de reais com fornecedores da área de saúde. O resultado foi o fechamento total ou parcial de pelo menos sete hospitais e dezessete Unidades de Pronto Atendimento, parte deles na capital. A alegação oficial foi a queda brusca na arrecadação de ICMS e na receita de royalties do petróleo com o declínio do preço do barril. São explicações plausíveis, mas insuficientes para esconder a inépcia e o mau planejamento. As cenas tristes de pacientes à espera de um leito certamente não aparecerão na televisão - mas não há como escondê-­las, como mostra a reportagem a seguir. O Rio olímpico, o Rio da esperança de um amanhã menos desigual, é também o Rio de hoje, no pronto-socorro. Salvá-lo do colapso da saúde é o único caminho de recuperação de uma cidade celebrada globalmente - apesar do tráfico de drogas, do crime, da sujeira e do descaso - por um estilo de vida singular. Não há outro lugar no mundo capaz de manter essas duas facetas em doses iguais. Mas, para que o lado bom e bonito prospere, é crucial que o ruim e feio esteja minimamente controlado. A convite de VEJA, alguns cariocas da gema, e outros por escolha, traduziram em artigos exclusivos esse estado de espírito de uma população que continua a enxergar na sua praia o umbigo do universo, mesmo passado mais de meio século dos áureos tempos de capital federal. Neste pacote especial há um pouco de história, um tanto das mazelas atávicas e um bocado do jargão local - enfim, aquilo que faz do Rio o Rio, apesar da vergonha de hospitais momentaneamente protegidos por tapumes.