Tal como faziam os militares durante a ditadura, o PT pretende ter o monopólio do patriotismo e de desejar o bem do país. Rico está proibido de querer ajudar o Brasil — exceto, é claro, se o rico simpatizar com o PT
Haja hipocrisia e mentira!
A campanha à reeleição da presidente Dilma (PT) e ela própria estão disparando grosso fogo de artilharia sobre a adversária Marina Silva (PSB) por sua suposta associação com “banqueiros”, chegando à barbaridade — inteiramente mentirosa — de um de seus programas do horário eleitoral afirmar, pela boca de atores, que um Banco Central independente seria entregar os destinos do país aos bancos, o que incluiria até a política externa!!!!
Pois bem, nada como números para restabelecer certas verdades. Está tudo lá, registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
A campanha da “candidata dos banqueiros” recebeu de bancos e instituições financeiras, até o final de agosto, 4,5 milhões de reais em doações.
E quanto teria embolsado a campanha da brava e independente presidente que não se rendem aos famintos “donos do capital”? Bem, segundo o TSE, esses monstros tenebrosos doaram a Dima 9,5 milhões de reais — MAIS DO QUE O DOBRO DO QUE MARINA RECEBEU!!!
E passemos, agora, ao capítulo Neca Setúbal, assessora de Marina e, supostamente, “dona” do Banco Itaú.
Os jornalistas David Friedlander e Érica Fraga, da Folha de S. Paulo, prestaram um grande serviço à verdade e a um mínimo de lisura na campanha presidencial ao esclarecer, em detalhada reportagem na semana passada, quem é, o que faz e o que representa a educadora Maria Alice Setubal, a “Neca” Setubal, colaboradora da candidata do PSB à Presidência da República, objeto de cerrada, demagógica e mentirosa campanha do PT contra a ex-senadora.
A proximidade de Marina com Neca Setúbal, que é, sim, proprietária de ações do Banco Itaú, mas, como se verá, não mais do que isso, está levando os marqueteiros de Dilma a uma cerrada bateria de mentiras contra a ex-senadora, cuja proposta de tornar independente por lei o Banco Central — para que trabalhe tecnicamente, sem influência da politicagem — é atribuída a sua suposta ligação “com banqueiros”, como se a educadora fosse um deles. Neca, junto com o ex-deputado petista Maurício Rands, de Pernambuco, coordena o programa de governo do PSB.
Começa a reportagem dos dois jornalistas por contrariar uma bobagem que a própria Folha insistia em publicar e repetir — Neca seria “a herdeira do Banco Itaú”. Não, essa senhora de 63 anos, como um dos sete filhos do banqueiro Olavo Setubal, não apenas não é banqueira como sequer é“a herdeira” do Itaú: possui, sim, um percentual das ações controladoras do banco mas, diferentemente do que o próprio jornal informava, este percentual não é de 1,5%, mas de 0,5%.
A verdade dos fatos: os herdeiros do Itaú são muitos e, como demonstram Friedlander e Fraga, nem sequer a família Setubal tem o maior naco da holding Itaúsa, um dos grupos que controlam o Itaú-Unibanco, pois os descendentes do banqueiro Eudoro Vilela possuem 16,6% das ações, contra 11,3% dos descendentes de Olavo Setubal. Sem contar que não estão consideradas na reportagem as ações pertencentes aos quatro irmãos Moreira Salles, que eram os controladores do Unibanco até a fusão entre os dois colossos, ocorrida em 2008. Os Moreira Salles são, hoje, grandes acionistas do banco resultante.
E mais: Neca é socióloga de formação, lecionou no colégio católico Santa Cruz, um dos mais renomados de São Paulo, e na Universidade Mackenzie, foi proprietária de uma escola de educação infantil e trabalha há anos com educação, cultura e projetos sociais. Não vive de dividendos provenientes de suas ações.
Só pisou na sede do banco uma única vez este ano, e foi para participar de uma reunião da Fundação Itaú, que cuida de projetos sociais e culturais do banco. Divorciada e vivendo um segundo relacionamento, ela tem três filhos, e nenhum deles integra os quadros do Itaú-Unibanco: dois trabalham na área financeira, mas em bancos concorrentes, e a filha é psicanalista.
Esclarecida quem é e o que faz Neca Setúbal — vale a pena ler a íntegra da matéria neste link, infelizmente não disponível para quem não assine a Folha ou o UOL –, vamos a algo fundamental deste texto: a postura hipócrita, safada e desonesta do PT, implícita na guerra contra Neca Setúbal e contra o grande empresário Guilherme Leal, um dos controladores da empresa de cosméticos Natura, também colaborador de Marina e seu ex-candidato a vice pelo Partido Verde em 2010. E, claro, a Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na gestão FHC, ministro da Fazenda em caso de Aécio Neves chegar ao Planalto e um riquíssimo proprietário de empresa de gestão de recursos financeiros.
Armínio ainda é réu do crime hediondo, para o lulopetismo, de ser filho de uma cidadã dos Estados Unidos.
A postura do PT é a seguinte: se alguém é rico, não pode de forma alguma querer o bem do Brasil, ter bons propósitos, desejar a melhoria das condições do povo brasileiro. Apesar de o próprio Lula adorar o convívio com os bem nascidos ou os que a vida beneficiou com fortunas, rico é anátema absoluto para o PT: são os petistas, junto com os pobres e os oprimidos, que detêm, com exclusividade, o monopólio de bem-querer ao país e mais, o monopólio do próprio patriotismo.
Fazem tal qual os militares golpistas de 1964, que se apoderaram do Hino Nacional, da bandeira verde-amarela e se auto-consideravam os donos dos sentimentos patrióticos mais nobres. Um ou outro segmento social, eventualmente, poderia compartilhar desses valores, mas seus “donos” verdadeiros, segundo eles próprios, eram os militares.
O PT e os lulopetistas, da boca para fora, detestam os ricos — mas, NOTE-SE BEM, desde que os ricos não estejam ao lado deles! Sim, porque se um bem nascido tem o nome de solteira de Marta Teresa Smith de Vasconcellos, por exemplo (mais conhecida hoje como Marta Suplicy, senadora pelo PT de São Paulo e ministra da Cultura), com pai industrial rico, mãe pertencente à rica família Fracalanza, de tradicional indústria de prataria (seu avô materno era o dono da Metalúrgica Fracalanza), aí tudo bem.
Rico presta se é um Matarazzo Suplicy, como o ex-marido de Marta, o senador Eduardo Matarazzo Suplicy, rico pelo dois troncos familiares — o da mãe, Matarazzo, e o do pai, dono do que foi uma das grandes corretoras de valores do Brasil.
Rico, para o PT, é bom só se for como o multimilionário empresário Lawrence Pih, dono entre outras coisas do Moinho Pacífico, um dos maiores do setor trigo no Brasil, um dos primeiros empresários a financiar e a aderir ao PT, no qual exerceu cargos até finalmente desiludir-se com os despautérios do governo Dilma. Para não falar de José Alencar, o empresário bilionário do ramo têxtil que juntou-se a Lula como candidato a vice em 2002, foi reeleito em 2006 e faleceu em 2011.
Como era um “rico do PT”, a José Alencar também era concedida pelo lulopetismo, portanto, a honra de poder ser patriota, desejar o bem para o país e querer melhorar a vida dos mais pobres. Rico que apoia candidato de outra orientação ideológica, definitivamente, não está autorizado a isso.