quinta-feira 03 2013
Em vez de socorrer o Estado de Direito, o mais antigo ministro do Supremo Tribunal Federal estendeu a mão aos quadrilheiros
“Da maneira que está sendo veiculado, dá a impressão que o acolhimento vai representar absolvição ou redução de pena automaticamente, e não é absolutamente nada disso”, queixou-se Celso de Mello no domingo ao repórter Severino Motta, da Folha, com quem conversou enquanto tomava café com a filha numa livraria de Brasília. Nesta quarta-feira, ao votar pelo acolhimento dos votos infringentes, o decano do Supremo Tribunal Federal caprichou por mais de duas horas na pose de quem não estava inocentando ninguém. Terminada a maratona retórica, tornara inevitável a absolvição, daqui a alguns meses, de todos os condenados por formação de quadrilha no julgamento do mensalão.
Nas sessões do ano passado, os ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Rosa Weber não conseguiram enxergar uma quadrilha onde Celso de Mello, em agosto de 2012, viu com nitidez o mais descarado ajuntamento de quadrilheiros que já contemplara em 43 anos nos tribunais. Mas o mesmo Celso de Mello, constatou-se nesta tarde, não consegue ver nada de mais em achar que todo réu inocentado por quatro ministros do STF pode valer-se do embargo infringente para ser julgado de novo.
Julgado e, no caso, absolvido por um Supremo espertamente modificado pela infiltração de duas togas escaladas para socorrer companheiros em apuros. Com a chegada de Teori Zavaschi e Roberto Barroso, os quatro viraram seis e a minoria virou maioria. Assim, é mera questão de tempo o parto oficial do mais recente monstrengo jurídico do Brasil lulopetista: os quadrilheiros que, embora ajam em conjunto e continuadamente, não formam uma quadrilha. Os mensaleiros, portanto, são bandoleiros sem bando.
Se não houve quadrilha, tampouco pode existir um chefe de quadrilha. Assim, José Dirceu será oficialmente exonerado do cargo que exerceu enquanto chefiava a Casa Civil do governo Lula. Embora condenado por corrupção ativa (e sem direito a embargo infringente), o guerrilheiro de festim jamais se livrará do estigma perpétuo. Mas é um consolo e tanto saber que acabou de livrar-se da prisão em regime fechado. Na hipótese menos branda, passará alguns meses dormindo na cadeia (e pecando em paz durante o dia). Ao prorrogar a velharia com nome de produto de limpeza, Celso de Mello decidiu que os votos dos quatro ministros da defesa valem mais que a opinião vencedora dos seis que condenaram os quadrilheiros (e permitiram que 70% dos brasileiros sonhassem com o começo do fim da corrupção impune).
Para proteger um zumbi regimental, o mais antigo dos juízes deixou a nação exposta aos inimigos do Estado de Direito. Se tivesse socorrido a democracia ameaçada, Celso de Mello mereceria ter o nome eternizado em praças e avenidas. Por ter estendido a mão aos criminosos, talvez tenha perdido até a chance de ser nome de rua em Tatuí, a cidade paulista onde nasceu, cresceu e vai desfrutar da melancólica aposentadoria reservada a todo aquele que poderia ter sido e não foi.
Celso de Mello vence a eleição de setembro com a maior vantagem da história do HSV
“Dedico o troféu ao regimento interno do Supremo Tribunal Federal”, emocionou-se Celso de Mello ao ser oficialmente informado da conquista do título de Homem sem Visão de Setembro. Depois de saber que o regulamento do concurso determina que o o prêmio seja dedicado a pessoas físicas, o campeão fez a seguinte declaração: “Data maxima venia, invoco o status de decano do egrégio colégio a que pertenço para discrepar de Vossas Excelências. Como ensina a escola jurídica tailandesa, tudo é subordinado ao regimento da Corte, o que inclui regulamentos viciados pela pressão das multidões. Mantenho a homenagem ao regulamento”.
Contemplado com a mais espetacular votação proporcional da história do HSV, o ministro recebeu o apoio de 4.375 eleitores (86% do total de 5.084) e estabeleceu uma vantagem de quase 4.000 votos sobre o segundo colocado, Luís Roberto Barroso (573 votos, ou 11%). Apesar da diferença histórica, o caçula do STF informou que recorrerá a embargos infringentes para exigir uma nova eleição. “O ministro acha que qualquer votação abaixo de 100% é passível de revisão”, informou um dos capinhas do STF. “É preciso garantir também aos candidatos a HSV o direito de ampla defesa e o devido processo eleitoral”.
O terceiro lugar ficou com João Paulo Cunha (82 votos, ou 2%). O lanterninha foi Manoel Dias (53 votos, ou 1%), novato no HSV.
Foi uma eleição de tirar o fôlego, leitores-eleitores! Mais uma comovente demonstração de civismo e discernimento! A disputa pelo troféu de outubro já começou! Que vença o pior!
O pecador que se nomeou Juiz dos Juízes escapou por pouco de enfrentar a primavera pendurado em embargos infringentes
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ATUALIZADO
Na festa promovida pela OAB para celebrar o 25º aniversário da Constituição de 1988, que o PT se recusou a assinar no dia da promulgação, o ex-presidente Lula confirmou que, se descobrissem que o governo simpatizava com o calendário gregoriano, os ferozes oposicionistas do século passado proporiam a adoção do calendário chinês. “O PT foi o único partido que, no dia da instalação da Constituinte, entregou um projeto de Constituição”, lembrou o palanque ambulante. “Só tínhamos 16 deputados, mas éramos desaforados como se fôssemos 500″. (Desaforado, como ensina o glossário da novílingua lulopetista, é o adjetivo que se deve aplicar a companheiros carentes de juízo e neurônios, que não resistem à tentação da molecagem irresponsável quando deliberam sobre assuntos relevantes).
“Se a Constituição que a gente apresentou fosse aprovada”, admitiu com o sorriso jocoso de quem retransmite uma previsão de Guido Mantega, “certamente seria ingovernável, porque éramos muito duros na queda”. No glossário da novilíngua, duro na queda é a expressão que designa quem confunde teimosia com coerência, é incapaz de refletir sobre ideias divergentes, rejeita o convívio dos contrários, sonha com o partido único e persegue o poder perpétuo. Há dez anos no controle do governo federal, os devotos continuam tão “duros na queda” quanto nos velhos tempos. O mestre mudou para pior.
Nesta terça-feira, por exemplo, aproveitou o sarau na OAB para proclamar-se Patrono do Judiciário e Controlador-Geral do Supremo Tribunal Federal. Caprichando na pose de Juiz dos Juízes, informou ter descoberto que os ministros devem usar a toga por menos tempo. “Se tudo no país pode ser renovado, por que um juiz tem que ficar a vida inteira?”, comparou. “Eu acho que tem que ter mandato em tudo quanto é lugar, porque senão as pessoas ficam 35, 40 anos”. Ele garante que a nova fórmula “teria outra vantagem: a alternância”. Mas ainda não decidiu se a idade limite para a aposentadoria “vai ser 75 anos ou vai ficar como está”.
O fundador do Brasil Maravilha reiterou que, se pudesse voltar no tempo, corrigiria um dos raríssimos erros que cometeu. “Eu teria mais critério para nomear ministros do Supremo”, penitenciou-se com sotaque de pecador no confessionário. Mais critério, no caso, quer dizer mais desfaçatez, ou nenhuma vergonha. Lula nunca levou em conta os dois pré-requisitos constitucionais que antigamente orientavam o preenchimento de vagas no STF: eram indicados pelo chefe do Executivo e sabatinados pelo Senado apenas juristas dotados de notório saber e reputação ilibada.
Lula sempre indicou (e os senadores engoliram sem engasgos) doutores que lhe pareceram prontos para pagar a toga com a absolvição de bandidos companheiros e cumprir disciplinadamente as determinações do presidente que lhes garantiu o empregão. Com o julgamento do mensalão, descobriu que existem juízes independentes e sem medo. A decepção e o ressentimento induziram o estadista de galinheiro a parir a aberração com que sempre sonharam os bacharéis de porta de cadeia: a Teoria do Mais Critério.
Dos ministros nomeados por Lula, permanecem no STF Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Os dois primeiros não chegariam lá se o chefe do Executivo tivesse seguido a teoria que inventou. O nome de Lewandowski foi soprado por Marisa Letícia, que vivia ouvindo da vizinha elogios superlativos ao filho desembargador. A indicação acabou dando certo, mas o primeiro dos selecionados com mais critério foi Dias Toffoli. Duas vezes reprovado no exame para o ingresso na magistratura, ex-advogado do PT, ex-assessor de José Dirceu na Casa Civil, ex-chefe da Advocacia-Geral da União, tinha tudo para brilhar como ministro da defesa dos quadrilheiros do mensalão. Bingo.
Lula deveria ser mais amável com juízes que qualifica de “ingratos”, caso do já aposentado Ayres Britto e, sobretudo, de Joaquim Barbosa. Se fossem menos clementes, ambos teriam argumentos de sobra para defender a instalação do ex-presidente no banco dos réus. Os ministros fingiram acreditar que Lula nunca soube de nada que ocorria nas salas ao lado, acima e logo abaixo do gabinete presidencial. Também fingiram nunca ter ouvido o que disse José Dirceu mais de uma vez: “Nunca fiz nada sem a autorização do presidente Lula”.
Se os julgadores optassem por um tratamento menos compassivo, este começo de primavera encontraria o Juiz dos Juízes pendurado em meia dúzia de embargos infringentes. E Dirceu teria muito mais chances de repassar a patente de chefe de quadrilha.
A celebração da ignorância é um insulto aos brasileiros que lutam para estudar
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PUBLICADO EM 26 DE AGOSTO DE 2009
“Eu cheguei à Presidência mesmo sem ter um curso superior”, repetiu Lula a frase que nasceu como pedido de desculpas, tornou-se desafio, foi promovida a motivo de orgulho e acabou virando refrão do hino à ignorância. ”Talvez até quando eu deixar a Presidência possa até cursar uma universidade”, disse nesta terça-feira o único chefe de governo do mundo que não sabe escrever e nunca leu um livro.
Desse perigo estão livres os professores universitários. Lula evita livros e cadernos como o Super-Homem evita a kriptonita verde. Longe do trabalho duro há 30 anos, não estudou porque não quis. Tempo teve de sobra. Vai sobrar mais tempo ainda quando sair do Planalto, mas continua sobrando preguiça. E ele botou na cabeça que foi formalmente dispensado de aprender qualquer coisa pelos companheiros que sabem juntar sujeito e predicado.
A lastimável formação escolar foi tratada como pecado venial até que o crítico literário Antonio Candido ensinou que, dependendo do portador, ignorância é virtude. “Essa história de despreparo é bobagem”, decretou há dois anos, entre um ensaio e a leitura de um clássico, o professor que não perdoava sequer cacófatos. ”Lula tem uma poderosa inteligência e uma capacidade extraordinária de absorver qualquer fonte de ensinamento que existe em volta dele ─ viajando pelo país, conversando com o povo, convivendo com os intelectuais”.
Amigo do fenômeno há 20 anos, Antônio Candido descobriu um doutor de nascença. ”Nunca vi Lula ser um papagaio de ninguém”, garantiu. “Nunca vi Lula repetir o que ouviu. Ele tem uma grande capacidade de reelaborar o que aprende. E isso é muito importante num líder”. O líder passou a reelaborar o que aprende com tal desembaraço que anda dando lições a quem sabe.
Em junho, numa entrevista à RBS, explicou que a ministra Ellen Gracie não conseguiu o emprego no Exterior porque não estudou como deveria. “Mas ela é moça, ainda tem tempo”, consolou-a. Em julho, enquadrou os críticos do programa que provocou o sumiço da miséria, o extermínio da fome e a promoção de todos os pobres a brasileiros da classe média.
“Alguns dizem assim: o Bolsa Família é uma esmola, é assistencialismo, é demagogia e vai por aí afora”, decolou o exterminador de plurais. “Tem gente tão imbecil, tão ignorante, que ainda fala ‘o Bolsa Família é pra deixá as pessoas preguiçosa porque quem recebe não quer mais trabalhá”. Quem discorda do presidente que ignora a existência da fronteira entre o Brasil e a Bolívia, reincidiu, ”é uma pessoa ignorante ou uma pessoa de má-fé ou uma pessoa que não conhece o povo brasileiro”.
Povo é com ele, gabou-se outra vez nesta terça-feira. No meio da aula, recomendou o estudo de português. ”É muito importante para as crianças não falarem menas laranjas, como eu”, exemplificou. Mas não tão importante assim: ”Às vezes, o português correto as pessoas nem entendem. Entendem o menas que eu falo”.
Mesmo os que não se expressam corretamente também entendem quem fala menos. Não falta inteligência ao povo. Falta escola. Falta educação. Falta gente letrada com disposição e coragem para corrigir erros cometidos por adultos que nasceram pobres. Lula deixou de dizer menas quando alguém lhe ensinou que a palavra não existe. O exemplo que invocou foi apenas outra esperteza. Poucas manifestações de elitismo são tão perversas quanto conceder a quem nasce pobre o direito de nada aprender até a morte.
Milhões de meninos muito mais pobres do que Lula foi enfrentam carências desoladoras para assimilar conhecimentos. A celebração da ignorância é sobretudo um insulto aos pobres que estudam. É também uma agressão aos homens que sabem. Num Brasil pelo avesso, os que se aprenderam português logo terão de pedir licença aos analfabetos para expressar-se corretamente, e os que estudaram em Harvard esconderão o diploma iploma no sótão.
A boa formação intelectual não transforma um governante em bom presidente. Mas quem se orgulha da formação indigente e despreza o conhecimento só se candidata a estadista por não saber o que é isso. Lula será apenas outra má lembrança destes tempos estranhos.
Os livro mais interessante estão emprestado
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PUBLICADO EM 13 DE MAIO DE 2011
A frase reproduzida no título do post parece ter sido pinçada de alguma discurseira de Lula. Não foi. Mas os autores do livro didático “Por uma vida melhor”, chancelado pelo MEC, decerto se inspiraram na oratória indigente do Exterminador do Plural para a escolha de exemplos que ensinem aos alunos do curso fundamental que o s no fim de qualquer palavra é tão dispensável quanto um apêndice supurado. O certo é falar errado, sustenta o papelório inverossímil.
A lição que convida ao extermínio da sinuosa consoante é um dos muitos momentos cafajestes dessa abjeta louvação da “norma popular da língua portuguesa”. Não é preciso obedecer à norma culta em concordâncias, aprendem os estudantes. Isso porque “o fato de haver a palavra os (plural) já indica que se trata de mais de um livro“. Assim, continuam os exemplos, merece nota 10 quem disser ou escrever “nós pega o peixe”. E só elitistas incorrigíveis conseguem espantar-se com a medonha variação: “Os menino pega os peixe”.
“Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever tomando as regras estabelecidas para norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas”, lamenta um trecho da obra. Por isso, o estudante que fala errado com bastante fluência “corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”. No Brasil Maravilha que Lula inventou e Dilma Rousseff vai aperfeiçoando, professores que efetivamente educam não passam de “preconceituosos linguísticos”. Haja idiotia.
“Não queremos ensinar errado, mas deixar claro que cada linguagem é adequada para uma situação”, alega Heloísa Ramos, uma das autoras da afronta à inteligência e à sensatez. Em nota oficial, o MEC assumiu sem ficar ruborizado a condição de cúmplice. “O papel da escola”, argumentam os acólitos de Fernando Haddad, ” não é só o de ensinar a forma culta da língua, mas também o de combater o preconceito contra os alunos que falam linguagem popular”.
A professora Heloísa sentiu-se insultada com a perplexidade provocada pelo assassinato a sangue frio da gramática, da ortografia e da lucidez. “Não há irresponsabilidade de nossa parte”, ofendeu-se. Há muito mais que isso. Há um crime hediondo contra a educação que merece tal nome, consumado com requintes de cinismo e arrogância. O Brasil vem afundando desde janeiro de 2003 num oceano de estupidez. Mas é a primeira vez que o governo se atreve a usar uma obra supostamente didática para difundi-la.
Poucas manifestações de elitismo são tão perversas quanto conceder aos brasileiros desvalidos o direito de nada aprender até a morte, advertiu o post reproduzido na seção Vale Reprise. As lições de idiotia endossadas pelo MEC prorrogaram o prazo de validade do título: a celebração da ignorância é um insulto aos pobres que estudam.
A Era da Mediocridade já foi longe demais.
Clique na imagem e confira um dos trechos do livro “Por uma vida melhor”:
‘Muita política, pouca saúde’, editorial do Estadão
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Publicado no Estadão desta quinta-feira
A cada dia que passa, as peripécias do programa Mais Médicos só reforçam aquilo que se suspeitava desde o seu lançamento – que debaixo da retórica demagógica que o envolve está apenas uma jogada política destinada a favorecer a candidatura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao governo de São Paulo, que é hoje, junto com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o grande objetivo do PT. É isso que explica a sua improvisação – cujas consequências negativas se multiplicam – e o fato de que esse programa não tem muito a ver com as verdadeiras prioridades do setor de saúde.
Movido pela ânsia de tornar popular o ministro, o governo improvisou aquele programa e atropelou as entidades representativas dos médicos brasileiros. Com uma medida provisória, contornou a obrigatoriedade legal do exame de revalidação dos diplomas dos médicos estrangeiros e dos brasileiros formados no exterior, substituindo-o por um registro provisório a ser dado pelos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), com base em exigências mínimas.
Não satisfeito, vem recorrendo à Justiça Federal para obrigar os CRMs de alguns Estados – que a seu ver demoram muito a liberar esse registro – a fazer isso rapidamente. E tem conseguido decisões favoráveis em primeira instância. Inconformado, o presidente do CRM de Minais Gerais, João Batista Gomes Soares, renunciou. Antes dele, seu colega do Paraná, Alexandre Augusto Bley, sentindo-se pressionado pela sofreguidão do governo, já havia feito o mesmo.
Mas isso ainda é pouco perto do que acaba de acontecer. O governo conseguiu que a Comissão Mista do Congresso que analisa a Medida Provisória do Mais Médicos aprovasse dispositivo que transfere dos CRMs para o Ministério da Saúde o poder de dar o registro provisório aos médicos estrangeiros.
A matéria ainda precisa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado, mas, com a ampla maioria que tem nessas duas Casas, isso será fácil para ele. Em resumo, quem quer que se oponha ao programa será neutralizado.
O governo não aceita limites e se mostra determinado a passar como um trator sobre as objeções das entidades médicas, que tentam tomar um mínimo de cuidados com relação ao preparo de médicos de cuja competência técnica dependem milhares de vida. Ele vence, mas não convence, porque o seu diagnóstico da saúde no Brasil deixa muito a desejar, para dizer o mínimo. Não podia ser diferente, pois o que o move, antes de tudo, é o interesse eleitoral, não o desejo genuíno de identificar e atacar as deficiências do sistema de saúde brasileiro.
A falta de médicos, que é real, está longe de ser a principal delas, como quer fazer crer o governo. Antes dela estão, por exemplo, os graves problemas de infraestrutura – referentes a hospitais e equipamentos médicos – que dificultam o trabalho dos próprios profissionais que estão sendo contratados a toque de caixa. Tanto é verdade que o governo parece cego pela paixão política, que o Ministério da Saúde se descuidou de gastar nesse item fundamental o dinheiro que para isso tem disponível em 2013. Até agosto, investiu apenas 26,5% dos R$ 10 bilhões que reservou para a compra de equipamentos e a execução de obras.
Para onde os médicos cubanos e de outras nacionalidades, que o governo está importando com tanto alarde, vão enviar os casos mais graves que diagnosticarem? Para os corredores de hospitais superlotados que, além de vagas, não dispõem também de equipamentos para os exames necessários?
Mais grave ainda que esse é o velho e bem conhecido problema da defasagem da tabela de procedimentos do SUS, que cobre apenas 60% dos custos. Como as Santas Casas e os hospitais filantrópicos não têm como arcar indefinidamente com esse prejuízo, já se aproxima o momento em que, ou deixarão de atender pelo SUS, ou irão à falência. E, como respondem por 45% dos atendimentos dos SUS, isto significará o colapso do sistema público de saúde.
Esses são os verdadeiros problemas da saúde, mas cuidar deles não dá votos a curto prazo. Logo, isso não ajuda o ministro Padilha.
Uma sucessão de segredos
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Publicado na edição especial de VEJA 45 anos que está nas bancas
AUGUSTO NUNES
“Presidência é destino”, dizia Tancredo Neves a quem imaginava existir alguma rota segura para o coração do poder. Mas o destino dá preferência a quem lhe facilita o trabalho, usando com sabedoria o livre-arbítrio, ensina a edição especial de VEJA datada de 16 de janeiro de 1985 mas distribuída no dia 12 — 72 horas antes da vitória do candidato da oposição no Colégio Eleitoral. Nela se reconstitui em nove capítulos, que somam 33 páginas, a caminhada que depositou o governador de Minas Gerais ao pé da rampa do Palácio do Planalto, bruscamente interditada por sua morte. Parece um trepidante filme de ação com muitos momentos de suspense. O elenco é da melhor qualidade, mas nenhum dos atores ofusca o protagonista: um septuagenário calvo, franzino e introspectivo que, desprovido de superpoderes, recorre à astúcia para contornar as sucessivas pedras no caminho.
A mais extensa reportagem política publicada por VEJA provou que, naquele Brasil surreal da primeira metade dos anos 80, que já não era uma ditadura e ainda não se tornara uma democracia, só um Tancredo de Almeida Neves conseguiria materializar a façanha resumida nas seguintes linhas: “Nesta terça-feira, o mineiro Tancredo Neves, 74 anos, será eleito presidente da República pelos 686 integrantes do Colégio Eleitoral. (…) Pela primeira vez em 21 anos, um civil ocupará a chefia do governo brasileiro”. Só um Tancredo conseguiria avançar na direção do Planalto, sem tropeços nem tombos, percorrendo trilhas atulhadas de militares sensatos e generais incapazes de enxergar o que ocorria a um palmo do quepe, políticos sagazes e bisonhos caçadores de votos, mentes brilhantes e perfeitas cavalgaduras, homens de bem e trapaceiros incuráveis. só um Tancredo poderia ter sobrevivido a um ano singularíssimo como 1984.
Entre janeiro, “quando as primeiras multidões começaram a rodear os palanques de onde se pedia a volta do sufrágio universal”, e dezembro, quando a oposição já se preparava “para se transformar em governo através do sistema de eleição que amaldiçoara”, o conciliador extraordinariamente astucioso fez sempre a escolha certa na hora da encruzilhada. Porque “não se tiram os sapatos antes de chegar ao rio”, esperou passar a campanha das Diretas Já, esperou que as rachaduras no PDS governista se escancarassem, esperou que os líderes do PMDB induzissem Ulysses Guimarães a desistir do sonho presidencial, esperou que o partido inteiro se convencesse de que a solução estava no palácio das Mangabeiras. Só no fim de junho aceitou candidatar-se à sucessão de João Figueiredo, com o apoio da oposição e de um bloco de ex-governistas suficientemente numeroso para garantir um duelo eleitoral de verdade.
Na margem do rio, o candidato em campanha tratou de mostrar que “ninguém vai ao rubicão para pescar”. Escolheu como candidato a vice o senador José Sarney, que renunciara à presidência do PDS. E, como “a escolha do adversário quase sempre é mais importante que a escolha de aliados”, escolheu Paulo Maluf para o duelo derradeiro. Especialista em métodos eleitorais heterodoxos, o ex-governador paulista se julgava “imbatível” em disputas indiretas. “Ele nunca enfrentou profissionais”, avisou Tancredo. O candidato do PMDB sempre confiou na previsão feita no fim de 1982 pelo senador Jorge Bornhausen, durante uma conversa com José Roberto Guzzo, diretor de redação de VEJA, e Elio Gaspari, diretor adjunto: “Muita gente dentro do partido não vai querer se associar ao repúdio que o Maluf gera. O PDS racha”, diz Bornhausen na página 33 da edição especial. (A pedido do senador, foram omitidas as razões do repúdio, quase todas vinculadas ao Código Penal.) Entre setembro e novembro de 1984, enfim, Tancredo definiu os atalhos que desmataria para livrar-se da assombração recorrente na política brasileira: o golpe militar tramado para prorrogar o mandato de Figueiredo.
Ao lado de Etevaldo Dias, chefe da sucursal de Brasília, e dos repórteres Guilherme Costa Manso e Henrique José Alves, participei do levantamento jornalístico iniciado em 15 de novembro de 1984 e encerrado cinquenta dias, 54 entrevistas e 150 horas de conversa depois. Só informações confirmadas por mais de uma fonte se juntaram às colhidas paralelamente por Guzzo e por Gaspari (que, entre outros espantos, exumou o esqueleto golpista que acabara de ser sepultado longe dos olhos do país). Algumas revelações foram embargadas pelos informantes para poupar de constrangimentos antigos parceiros. No encontro com o ministro Mário Andreazza, por exemplo, Tancredo e Antonio Carlos Magalhães não se limitaram a marcar uma conversa a dois quando o anfitrião, derrotado por Maluf na convenção do PDS, foi ao banheiro. “Isto não é coisa para amadores”, murmurou ACM. “Melhor tratar disso sem ele”, concordou Tancredo. Poucas e irrelevantes, tais omissões não fizeram falta à procissão de segredos revelados, ilustrada por fotos e charges em preto e branco. Destacadas pela dupla moldura, rimavam com um brasil que havia tempos oscilava entre a sombra e a claridade.
A reportagem sobre a sucessão de 1985 é muito mais que uma fonte de consulta para historiadores. É a história definitiva em 33 páginas de revista.
Um encantador passeio pela Itália
Neste fim de semana, a coluna convida os leitores a incursionar por cenários que justificam a permanência da Itália no topo do ranking dos mais sedutores pedaços do planeta.
‘Cresce o analfabetismo’, editorial do Estadão
Publicado no Estadão desta terça-feira
Depois da universalização das matrículas no ensino fundamental, que foi uma das principais conquistas do país das décadas de 1990 e 2000, era de esperar uma significativa melhoria na qualidade das escolas nos últimos anos. Mas, em vez do desenvolvimento natural rumo a uma educação básica mais eficiente, capaz de assegurar ao país a formação de capital humano de que necessita para poder crescer e passar para níveis mais sofisticados de produção, o Brasil está retrocedendo.
Essa é uma das mais importantes ─ e preocupantes ─ conclusões que podem ser extraídas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, divulgada pelo IBGE. A pesquisa é realizada desde 1967 e traz informações sobre população, migração, trabalho, rendimento e domicílios, além de educação. A partir de 2004, ela passou a cobrir todo o país. Para realizar a Pnad de 2012, os técnicos do IBGE consultaram 147 mil domicílios.
Segundo os indicadores da Pnad na área de educação, o analfabetismo ─ que vinha em queda constante desde 1998 ─ voltou a crescer no ano passado. Os técnicos do IBGE identificaram 13,163 milhões de pessoas que não sabiam ler nem escrever ─ o equivalente a 8,7% da população com 15 anos ou mais. Em 2011, o número de analfabetos era de 12,866 milhões. Em termos absolutos, o aumento foi de 297 mil analfabetos e se concentrou no Nordeste ─ especialmente nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Bahia e Alagoas. A taxa de analfabetismo na região passou de 16,9%, em 2011, para 17,4%, em 2012. O Nordeste concentra 54% do total de analfabetos do País. Ou seja, um em cada dois analfabetos é nordestino.
No Centro-Oeste, a taxa de analfabetismo passou de 6,3%, em 2011, para 6,7%, em 2012. Na Região Norte, ela foi de 10%, no ano passado. As menores taxas foram registradas nas regiões mais desenvolvidas. No Sul, a taxa de analfabetismo foi de 4,4% da população com 15 anos ou mais. No Sudeste, ela chegou a 4,8%. Santa Catarina é o Estado com a menor taxa de analfabetismo do País, com 3,1%.
Os números da Pnad também mostram como o analfabetismo incide sobre a população mais velha. Entre os que têm 60 anos ou mais de idade, 24,4% não sabem ler ou escrever. Na faixa dos 49 aos 59 anos, a proporção é de 9,8% do total. Já na faixa dos 30 aos 39 anos, 5,1% são analfabetos. As menores taxas ─ de 2,8% e 1,2% ─ estão nas faixas de 25 a 29 anos e de 15 a 19 anos, respectivamente.
Os técnicos do IBGE também constataram uma melhora na taxa de analfabetismo funcional, que passou de 20,4%, em 2011, para 18,3%, em 2012 ─ uma queda de 2,1 pontos porcentuais. Em termos absolutos, isso significa que o país tinha no ano passado 27,8 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade com menos de 4 anos de escolaridade ─ um número muito alto de brasileiros incapazes de ler e compreender um simples manual de instrução de equipamentos. O levantamento do IBGE mostra ainda que 11,9% da população com 25 anos ou mais de idade não tinha qualquer instrução ou tem menos de um ano de estudo. Em 2011, a proporção era de 15,1%.
Os números da Pnad mostram, no entanto, que, em vez de aumentar o número de pessoas preparadas para enfrentar o ambiente competitivo de um mercado de trabalho cada vez mais sofisticado em termos tecnológicos, a educação brasileira está no caminho inverso. E, com isso, o Brasil permanece com um importante segmento da população à margem do processo econômico, por falta de instrução, o que agrava a desigualdade. Esse é o atestado do fracasso da política educacional adotada nos últimos anos. Ela agitou bandeiras politicamente vistosas, como a adoção do sistema de cotas raciais, a democratização do ensino superior e a criação de universidades. Mas revelou-se incapaz de alfabetizar e preparar milhões de brasileiros para o mercado de trabalho, negando-lhes com isso as condições para que possam se emancipar econômica e socialmente.
‘Os mais iguais’, por Carlos Brickmann
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Publicado na coluna de Carlos Brickmann
Num livro excelente, A Revolução dos Bichos, o irlandês George Orwell conta que os animais de uma fazenda, revoltados com a exploração a que eram submetidos, assumiram o poder, liderados pelos porcos. Seu lema: “Todos os animais são iguais”. Com o tempo, os porcos viraram ditadores e mudaram o lema: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.
No Brasil, todos são iguais perante a lei. Mas o desembargador maranhense Megbel Ferreira, condenado pelo Conselho Nacional de Justiça por favorecer uma empresa num acordo com a Prefeitura de São Luís, não levou nem multa: foi punido com aposentadoria compulsória, mantendo o salário integral. Revogou-se a maldição bíblica: o fora da lei ganha o pão sem o suor de seu rosto.
Não é caso único: o juiz Marcos Antônio Tavares matou a esposa, cumpriu pena, mas continua como juiz titular, com todos os vencimentos e vantagens, embora não possa exercer o cargo. O promotor que dirigia em excesso de velocidade, alcoolizado, na contramão, e provocou o desastre que matou uma família inteira, foi transferido de seu posto ─ só isso. E passou do Interior para a Capital.
Há a menina L.B., de 15 anos ─ mulher e menor. Foi posta na cela de uma delegacia com 20 homens, por 26 dias. Era previsível: sofreu mais de cem estupros. A juíza que a enviou para a cela masculina foi punida com aposentadoria e salário integral. Recorreu e ganhou. E exerce o mesmo cargo em outra comarca.
Somos todos iguais perante a lei, mas há alguns que são muito mais iguais.
Nunca dantes…
Pergunta: quem é o deputado estadual mais faltoso de São Paulo?
Pergunta: quem é o deputado estadual mais faltoso de São Paulo?
Resposta: o presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão. Em 584 sessões, faltou a 187 ─ mais de 30%. Há outros faltosos contumazes espalhados por outros partidos: PSDB, João Caramez, Roberto Engler, Pedro Tobias; DEM, Milton Leite, Gilson Souza; PEN, Feliciano Filho; PMDB, Vanessa Damo; e outros, todos com mais de cem faltas. Mas ninguém chega perto do recorde de Falcão. O presidente nacional do PT abonou boa parte das faltas, 74, recebendo sem aparecer, alegando que trabalhava fora do plenário (embora muitas vezes estivesse a serviço do partido, fora do Estado).
Já houve caso de deputados cassados por faltas (poucos) e, na prática, a punição é o não pagamento. Mas isso se contorna.
Escolha os novos
Não gosta dos políticos atuais? Há novos candidatos para 2014: Emerson Fittipaldi, por exemplo, no PSB de Eduardo Campos. Bebeto do Tetra é o novo nome de Bebeto, que fez dupla com Romário (também candidato) em 1994. Há Valeska Popozuda, Adriana Bombom, Renata Frisson ─ a Mulher Melão ─ Tati Quebra-Barraco, Waguinho (Os Morenos), a ex-BBB Anamara, Viviane Araújo.
Não gosta dos políticos atuais? Há novos candidatos para 2014: Emerson Fittipaldi, por exemplo, no PSB de Eduardo Campos. Bebeto do Tetra é o novo nome de Bebeto, que fez dupla com Romário (também candidato) em 1994. Há Valeska Popozuda, Adriana Bombom, Renata Frisson ─ a Mulher Melão ─ Tati Quebra-Barraco, Waguinho (Os Morenos), a ex-BBB Anamara, Viviane Araújo.
As outras escolhas
O caro leitor pode optar por candidatos mais experientes. Lindberg Farias, do PT, sai para o Governo do Rio. Tem tarimba na Justiça: responde a 13 acusações no STF, de improbidade administrativa e corrupção passiva a formação de quadrilha e peculato. Há outro candidato inesperado: José Roberto Arruda, PROS, quer disputar o Governo de Brasília, de onde saiu preso em 2010 (seu mandato foi cassado pela Justiça Eleitoral).
O caro leitor pode optar por candidatos mais experientes. Lindberg Farias, do PT, sai para o Governo do Rio. Tem tarimba na Justiça: responde a 13 acusações no STF, de improbidade administrativa e corrupção passiva a formação de quadrilha e peculato. Há outro candidato inesperado: José Roberto Arruda, PROS, quer disputar o Governo de Brasília, de onde saiu preso em 2010 (seu mandato foi cassado pela Justiça Eleitoral).
Um dos adversários de Arruda ─ aliás, o favorito ─ deve ser Joaquim Roriz, várias vezes impugnado como ficha suja.
Silêncio de ouro
Frase do presidente do IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, da qual bem poderia ter-se poupado: “Antigamente, o analfabeto pobre morria mais cedo. Agora, vive mais. Fica ali pesando na estatística da taxa de analfabetismo”.
Frase do presidente do IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, da qual bem poderia ter-se poupado: “Antigamente, o analfabeto pobre morria mais cedo. Agora, vive mais. Fica ali pesando na estatística da taxa de analfabetismo”.
País rico é país sem pobreza. País alfabetizado é país em que analfabeto tem a gentileza de morrer logo para não pesar na estatística da taxa de analfabetismo.
No vai da valsa
O candidato do PT ao Governo de São Paulo, Alexandre Padilha, até dois meses atrás tinha domicílio eleitoral em Santarém, no Pará. O novo comandante do PMDB em Minas Gerais, Josué Gomes da Silva, provável candidato a vice-governador na chapa liderada pelo petista Fernando Pimentel, mora em São Paulo e é vice-presidente da FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Padilha nasceu em São Paulo há 42 anos, e viveu os últimos 13 no Pará; Josué nasceu em Minas há 45 anos e viveu os últimos 24 em São Paulo.
O candidato do PT ao Governo de São Paulo, Alexandre Padilha, até dois meses atrás tinha domicílio eleitoral em Santarém, no Pará. O novo comandante do PMDB em Minas Gerais, Josué Gomes da Silva, provável candidato a vice-governador na chapa liderada pelo petista Fernando Pimentel, mora em São Paulo e é vice-presidente da FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Padilha nasceu em São Paulo há 42 anos, e viveu os últimos 13 no Pará; Josué nasceu em Minas há 45 anos e viveu os últimos 24 em São Paulo.
Mas os dois, com certeza, têm profunda ligação com os Estados onde nasceram.
Quarto de século
Para comemorar 25 anos da Constituição, o Congresso criou uma comenda, que será outorgada a cinco homenageados: Bernardo Cabral, José Sarney, Lula, Michel Temer e Nelson Jobim. José Sarney disse que a Constituição tornaria o país ingovernável. Lula votou contra o texto da Constituição, porque na época queria algo mais radical (mas, depois de aprovado, tanto ele quanto o PT o assinaram). Nelson Jobim contou, muito depois, que introduziu na Constituição itens que não foram votados. Ulysses Guimarães, que com Bernardo Cabral foi o motor da Constituinte, não terá a homenagem da comenda post-mortem
Para comemorar 25 anos da Constituição, o Congresso criou uma comenda, que será outorgada a cinco homenageados: Bernardo Cabral, José Sarney, Lula, Michel Temer e Nelson Jobim. José Sarney disse que a Constituição tornaria o país ingovernável. Lula votou contra o texto da Constituição, porque na época queria algo mais radical (mas, depois de aprovado, tanto ele quanto o PT o assinaram). Nelson Jobim contou, muito depois, que introduziu na Constituição itens que não foram votados. Ulysses Guimarães, que com Bernardo Cabral foi o motor da Constituinte, não terá a homenagem da comenda post-mortem
Parabéns, senhores comendadores!
‘O voo da galinha’, por Arnaldo Jabor
veja.com
Publicado no Globo desta terça-feira
ARNALDO JABOR
A extensa reportagem da revista inglesa The Economist sobre o Brasil devia servir como um programa de governo para a presidenta Dilma. A revista é reconhecidamente a melhor do mundo em seriedade e profundidade de informação. No entanto, nossa raivosa e arrogante Chefa considerou a matéria uma espécie de “oposição” à sua administração cada vez mais “bolivariana”: “A revista está mal informada etc.” e repetiu os slogans que seus assessores petistas lhe sopram. É tão impressionante isso tudo. O tom geral da matéria deplora, lamenta que o Brasil, com todas as condições para uma decolagem, um “take off”, esteja jogando tudo para o alto, tanto pelo olho nas eleições quanto pela teimosia ideológica de enfiar o país dentro de um programa arcaico e inútil. Claro que os governistas acusarão a revista de “imperialista”, de “neoliberal”, de estar do lado das “grandes corporações” ─ o mesmo uso que fizeram sobre a espionagem americana na Petrobras (será que descobriram por que a Petrobras comprou uma refinaria no Texas por 1 bilhão e duzentos milhões de dólares que não consegue vender nem por 100 milhões?).
Essa gente que está no poder bota sempre a culpa de nossa indigência em alguém de fora. Nosso amigo e líder Nicolas Maduro, da Venezuela, disse que a falta de papel higiênico, de comida e de energia é tudo culpa do Estados Unidos. Seguimos sua linha.
Aliás, preparem-se para uma eventual reeleição da Dilma que, ao que tudo indica, vai partir para o “bolivarianismo” explícito, como já declara o site do PT. Será que a nova Dilma vai se “cristinizar” para a construção do “socialismo imaginário” que justificou o “mensalão”?
Na realidade, a revista, em seu artigo chamado “Será que o Brasil se detonou?”, praticamente só faz perguntas. “Por quê?” ─ pergunta a revista o tempo todo.
Por que, entre os países emergentes, nós temos o pior desempenho? Terá sido apenas um voo de galinha (chicken flight?), pois aproveitamos muito mal a enxurrada de dinheiro que entrou aqui nos últimos anos? Por quê? Por que o governo não ataca os problemas principais, enunciados por qualquer economista sério do mundo, e se detém em remédios demagógicos, como buscar médicos medíocres em Cuba para fazer propaganda socialista nas cidades pobres, como o ridículo trem-bala, como os estádios bilionários para a Copa, que até nosso povo “futeboleiro” condenou nas manifestações? Por que o famoso PAC, com seu “desenvolvimentismo tardio”, não consegue terminar nem 20% das obras propostas? Por que o governo não consegue privatizar (opa: “fazer concessões”) nem rodovias, nem ferrovias, nem aeroportos, sem errar várias vezes, sem conseguir redigir contratos decentes, atraentes? Por que o Rio São Francisco continua parado, com grandes regos secos que o Exército fez? Por que não explicam à população as causas dos atrasos, em vez de gastarem bilhões em propaganda enganosa? Por que o número de carros dobrou em dez anos e as estradas continuam podres e paralisadas? Por que a China acaba de cancelar a compra de 2 milhões de toneladas de soja por causa da dificuldade do “gargalo Brasil”? Por que a maior produção de soja no mundo fica na fila infinita de caminhões porque não há silos, detidos pela burocracia mais atrasada do planeta? Por que a inflação pode se descontrolar de novo? Por que contrataram mais de 100 mil pelegos para boquinhas no governo, em vez de cortar custos da atividade-meio? Por que estimular o consumo, sem estimular o aumento da oferta? Por que os preços no Brasil são o dobro de qualquer país do mundo, sendo que o chamado “Big Mac Index”, a ferramenta de comparação de preços, mostra que nosso Big Mac é 72% mais caro que em qualquer lugar e carros custam 45% mais caro que no México, nos EUA? “Ah… porque a carga tributária é de 36% do PIB e nos outros países semelhantes não passa de 21%”. Então, por que não lutar por uma reforma tributária profunda, em vez de jogadas periódicas premiando uma ou outra atividade? Por quê? “Ah, porque é muito difícil passar no Legislativo…” Mas, por que não usar toda a força da maioria que tem para isso? Por que a agroindústria, tão esquecida pelo governo (que gosta mais do MST), salva-nos todo ano com sua lucratividade? Será que vai bem justamente porque o governo não se meteu? Por que o SUS é a porta do inferno? Por que a educação-zero está impedindo a produção nacional, sem mão de obra para nada? Por que temos o recorde mundial de analfabetismo funcional? Por que será que os investidores internacionais têm medo de vir para cá, ultimamente? Será que é porque eles sabem que nós mudamos regras, não respeitamos contratos nem marcos regulatórios e porque nós queremos lhes enfiar o Estado goela abaixo? Por que será que, de todo o dinheiro arrecadado para as aposentadorias no país, 50% são para pagar apenas 20% dos aposentados (setor público, claro), enquanto a outra metade é para pagar os 80% restantes? Por que somente 1,5% do PIB é investido em infraestrutura, quando no resto do mundo são por volta de 4%? Por quê? Nossa infraestrutura é a 114ª pior entre 148 países.
Ou seja, continuamos sob “anestesia mas sem cirurgia” (Simonsen). Por quê? Talvez a resposta esteja em Platão e sua carroça. Ele disse que é dificílimo guiar um carro com dois cavalos diferentes ─ um bom marchador e outro manco e lento. É nosso destino, em um governo dividido entre o “bolivarianismo” e as necessidades óbvias, reais do país. Ao contrário do que proclamam, o óbvio pragmatismo administrativo não é “de direita” não, e seria bom para o crescimento e para reduzir a desigualdade.
A matéria da The Economist tem a boa intenção de nos acordar para a racionalidade; não quer nos destruir, não é da “oposição”. A reportagem da revista, que é lida no mundo inteiro, serve para nos lembrar da famosa frase de Reagan (sim, o reacionário) ─ perfeita para nos definir: “O Estado não é a solução; o Estado é o problema.”
Ah, sim; a revista esqueceu de mencionar uma importante força da natureza que nos impele para o erro: a muito esquecida categoria política da… burrice.
A farra dos partidos informa: quem só protesta em junho libera a tribo dos gatunos para agir sem medo no resto do ano
veja.com
ATUALIZADO
Como se pode governar um país que tem 246 espécies de queijo?, intrigava-se o presidente francês Charles de Gaulle. Como pode funcionar um governo que tem 39 ministérios?, assombram-se os brasileiros sensatos desde que Lula e Dilma resolveram multiplicar as ampliar as nulidades amontoadas no primeiro escalão. E como pode existir um país com 32 partidos políticos?, espantou-se nesta terça-feira, quando foi expedida pelo Tribunal Superior Eleitoral a certidão de nascimento do PROS e do Solidariedade, mesmo quem achava que não se espantaria com mais nada.
Pelo critério da quantidade, é improvável que algum lugar do mundo tenha mais partidos que o Brasil. Pelo critério da qualidade, qualquer grotão do planeta supera o colosso sul-americano: aqui não existe um único partido de verdade. O PT pareceu que era antes de sucumbir ao excesso de cinismo e idiotia. Transformou-se numa seita que tem em Lula seu único deus, faz qualquer negócio para ganhar a eleição e topa a mais sórdida aliança para manter-se no poder.
O PSDB seria um partido se soubesse o que é coragem, tratasse de aprender que o o papel da oposição é fazer oposição, vocalizasse o pensamento dos muitos milhões de eleitores que resistem ao avanço dos liberticidas e oferecesse um caminho alternativo aos mais de 60% que se recusam a engolir mais quatro anos de governo petista. O resto dos partidos nem tem carteira de identidade. A leitura dos programas, planos de ação e declarações de princípios aguça a suspeita de que o palavrório foi produzido pelo mesmo redator.
A insossa sopa de letras garante que todos moram em algum ponto impreciso entre o centro e a esquerda. Se o eleitorado lhes conferir um voto de confiança, vão dar um jeito na saúde e na educação, acabar com a injustiça social e tranformar o Brasil numa Noruega com praia. A prática fulmina a teoria. Os políticos brasileiros reduziram os partidos a fontes de lucros bilionários, balcões de compra e venda de voto, usinas de negociatas, gazuas feitas sob medida para arrombadores de cofres públicos.
Segundo Ciro Gomes, o PMDB é um ajuntamento de assaltantes. Pelo que andou fazendo o PT, talvez nem seja o maior. Ambos abrigam uma demasia de ladrões, mas nenhum partido fecha as portas a estupradores da lei. Financiadores involuntários de todas as gastanças, vítimas indefesas de todas as ladroagens, os pagadores de impostos bancam as despesas cotidianas das caricaturas partidárias e abastecem os cofres federais incessantemente esvaziados pelos chefões desprovidos de ideias e de vergonha.
Na Alemanha , por exemplo, existem seis partidos, que cuidam da própria subsistência e estão sujeitos à cláusula de barreira: os que não alcançam um número mínimo de votos caem fora do Congresso. Foi o que aconteceu ao FDP nas eleições da semana passada. Para os alemães, aliás, 13 sindicatos de trabalhadores bastam. No País do Carnaval, os sindicatos passam de 13 mil e nenhum partido precisa ter voto para entrar na festa das verbas que mereciam destino menos abjeto.
Até siglas sem vereadores são sustentadas pelos brasileiros implacavelmente extorquidos pela Receita Federal. Dos seus bolsos saíram os R$ 286 milhões distribuídos pelo Fundo Partidário em 2012. Deles também sairão os dotes de R$ 30 milhões reservados ao PROS e ao Solidariedade, além das verbas torradas no horário eleitoral que só é gratuito para quem dele se aproveita. Os lesados que se queixem ao bispo, ou ao Papa Francisco.
Assim será até que o rebanho primitivo aprenda a votar com lucidez. Assim será até que o Brasil civilizado comprenda que quem só protesta em junho autoriza a imensa tribo dos gatunos a delinquir sem medo no resto do ano.
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O trabalho ininterrupto gera diversas consequências físicas e psicológicas ao empregado. A exigência constante por produtividade faz com ...