quinta-feira 03 2013

‘Os mais iguais’, por Carlos Brickmann

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Num livro excelente, A Revolução dos Bichos, o irlandês George Orwell conta que os animais de uma fazenda, revoltados com a exploração a que eram submetidos, assumiram o poder, liderados pelos porcos. Seu lema: “Todos os animais são iguais”. Com o tempo, os porcos viraram ditadores e mudaram o lema: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.
No Brasil, todos são iguais perante a lei. Mas o desembargador maranhense Megbel Ferreira, condenado pelo Conselho Nacional de Justiça por favorecer uma empresa num acordo com a Prefeitura de São Luís, não levou nem multa: foi punido com aposentadoria compulsória, mantendo o salário integral. Revogou-se a maldição bíblica: o fora da lei ganha o pão sem o suor de seu rosto.
Não é caso único: o juiz Marcos Antônio Tavares matou a esposa, cumpriu pena, mas continua como juiz titular, com todos os vencimentos e vantagens, embora não possa exercer o cargo. O promotor que dirigia em excesso de velocidade, alcoolizado, na contramão, e provocou o desastre que matou uma família inteira, foi transferido de seu posto ─ só isso. E passou do Interior para a Capital.
Há a menina L.B., de 15 anos ─ mulher e menor. Foi posta na cela de uma delegacia com 20 homens, por 26 dias. Era previsível: sofreu mais de cem estupros. A juíza que a enviou para a cela masculina foi punida com aposentadoria e salário integral. Recorreu e ganhou. E exerce o mesmo cargo em outra comarca.
Somos todos iguais perante a lei, mas há alguns que são muito mais iguais.
Nunca dantes…
Pergunta: quem é o deputado estadual mais faltoso de São Paulo?
Resposta: o presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão. Em 584 sessões, faltou a 187 ─ mais de 30%. Há outros faltosos contumazes espalhados por outros partidos: PSDB, João Caramez, Roberto Engler, Pedro Tobias; DEM, Milton Leite, Gilson Souza; PEN, Feliciano Filho; PMDB, Vanessa Damo; e outros, todos com mais de cem faltas. Mas ninguém chega perto do recorde de Falcão. O presidente nacional do PT abonou boa parte das faltas, 74, recebendo sem aparecer, alegando que trabalhava fora do plenário (embora muitas vezes estivesse a serviço do partido, fora do Estado).
Já houve caso de deputados cassados por faltas (poucos) e, na prática, a punição é o não pagamento. Mas isso se contorna.
Escolha os novos
Não gosta dos políticos atuais? Há novos candidatos para 2014: Emerson Fittipaldi, por exemplo, no PSB de Eduardo Campos. Bebeto do Tetra é o novo nome de Bebeto, que fez dupla com Romário (também candidato) em 1994. Há Valeska Popozuda, Adriana Bombom, Renata Frisson ─ a Mulher Melão ─ Tati Quebra-Barraco, Waguinho (Os Morenos), a ex-BBB Anamara, Viviane Araújo.
As outras escolhas
O caro leitor pode optar por candidatos mais experientes. Lindberg Farias, do PT, sai para o Governo do Rio. Tem tarimba na Justiça: responde a 13 acusações no STF, de improbidade administrativa e corrupção passiva a formação de quadrilha e peculato. Há outro candidato inesperado: José Roberto Arruda, PROS, quer disputar o Governo de Brasília, de onde saiu preso em 2010 (seu mandato foi cassado pela Justiça Eleitoral).
Um dos adversários de Arruda ─ aliás, o favorito ─ deve ser Joaquim Roriz, várias vezes impugnado como ficha suja.
Silêncio de ouro
Frase do presidente do IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, da qual bem poderia ter-se poupado: “Antigamente, o analfabeto pobre morria mais cedo. Agora, vive mais. Fica ali pesando na estatística da taxa de analfabetismo”.
País rico é país sem pobreza. País alfabetizado é país em que analfabeto tem a gentileza de morrer logo para não pesar na estatística da taxa de analfabetismo.
No vai da valsa
O candidato do PT ao Governo de São Paulo, Alexandre Padilha, até dois meses atrás tinha domicílio eleitoral em Santarém, no Pará. O novo comandante do PMDB em Minas Gerais, Josué Gomes da Silva, provável candidato a vice-governador na chapa liderada pelo petista Fernando Pimentel, mora em São Paulo e é vice-presidente da FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Padilha nasceu em São Paulo há 42 anos, e viveu os últimos 13 no Pará; Josué nasceu em Minas há 45 anos e viveu os últimos 24 em São Paulo.
Mas os dois, com certeza, têm profunda ligação com os Estados onde nasceram.
Quarto de século
Para comemorar 25 anos da Constituição, o Congresso criou uma comenda, que será outorgada a cinco homenageados: Bernardo Cabral, José Sarney, Lula, Michel Temer e Nelson Jobim. José Sarney disse que a Constituição tornaria o país ingovernável. Lula votou contra o texto da Constituição, porque na época queria algo mais radical (mas, depois de aprovado, tanto ele quanto o PT o assinaram). Nelson Jobim contou, muito depois, que introduziu na Constituição itens que não foram votados. Ulysses Guimarães, que com Bernardo Cabral foi o motor da Constituinte, não terá a homenagem da comenda post-mortem
Parabéns, senhores comendadores!

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