sábado 10 2013

Após reunião com vereadores, ativistas continuarão a ocupar Câmara do Rio

Rio de Janeiro

Manifestantes prometem manter ocupação até que suas exigências sejam atendidas

Rio: Manifestantes tomam o plenário da Câmara de Vereadores, nesta sexta (9/8)
Rio: Manifestantes tomam o plenário da Câmara de Vereadores, nesta sexta  - VEJA

Após 1h30 de reunião neste sábado, 10, uma comissão de 12 manifestantes que ocupam a Câmara de Vereadores do Rio desde a última quinta-feira entregou uma lista com cinco reivindicações ao presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB). A principal exigência é a substituição de quatro dos cinco vereadores que compõem a recém-instalada CPI dos Ônibus, e que não assinaram o requerimento para criação da comissão.
Segundo o vereador Jefferson Moura (PSOL), que participou do encontro, o presidente da Câmara recebeu a lista de reivindicações e prometeu marcar uma reunião com todos os 51 parlamentares na segunda-feira, 12, para debater o assunto. Os manifestantes, no entanto, prometeram continuar com a ocupação do Palácio Pedro Ernesto até que suas exigências sejam atendidas.
"Do ponto de vista do regimento da Casa, a CPI já está formada e o presidente não tem poder para substituir seus membros. Ele prometeu convocar uma reunião na segunda-feira, com todos os vereadores, para tentar encontrar uma saída política. Ou seja: que os atuais membros renunciem. Mas nada impede que a OAB ou o Ministério Público entrem na Justiça contra a atual comissão", explicou Jefferson Moura.
Além de Moura e Jorge Felippe, participaram da reunião deste sábado os vereadores Renato Cinco (PSOL), Reimont (PT), Jairinho (PSC) e Rosa Fernandes (PMDB), além de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O autor do requerimento de criação da CPI, Eliomar Coelho (PSOL), não compareceu.
A CPI atualmente é composta pelos vereadores Chiquinho Brazão (PMDB), Professor Uóston (PMDB), Jorginho da SOS (PMDB) e Renato Moura (PTC). Nessa sexta-feira, os dois primeiros foram escolhidos presidente e relator da CPI, respectivamente.
Tradicionalmente, o autor do requerimento é escolhido presidente da CPI. Por isso, outra exigência dos ativistas é que Eliomar Coelho presida a comissão.
A reunião estava marcada para as 11h com as lideranças do protesto, mas começou com mais de uma hora de atraso. A principal das cinco reivindicações dos manifestantes é a impugnação da sessão de ontem da Câmara que escolheu os representantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará os mecanismos de concessão de linhas de ônibus pela Prefeitura do Rio.
Os idealizadores do protesto não aceitam que a presidência e a relatoria estejam a cargo de deputados que integram a base do prefeito Eduardo Paes (PMDB). O presidente é o peemedebista Chiquinho Brazão, que teve o gabinete invadido e pichado nesta sexta-feira. O relator, também do partido do prefeito, é o vereador Professor Uóston, cujo gabinete quase foi invadido e teve a porta pixada.
A segunda reivindicação é o afastamento da CPI dos quatro membros que recusaram-se a assinar o requerimento que resultou na sua instalação. São eles Brazão, Professor Uóston, Jorginho da SOS (PMDB) e Renato Moura (PTC).
O terceiro item da lista é assegurar a "participação ampla e irrestrita" da população nos trabalhos desenvolvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito. A quarta, a escolha para a presidência da CPI do vereador Eliomar Coelho (PSOL), autor do requerimento de instalação. A quinta, a participação na Comissão apenas de deputados signatários do requerimento.
No plenário, dormiram 56 manifestantes, vigiados por 15 policiais militares.
(Com Estadão Conteúdo)

Ativistas vão continuar com ocupação da Câmara do Rio

Por RIO, estadao.com.br
Após 1h30 de reunião neste sábado, uma comissão de 12 manifestantes que ocupam a Câmara de Vereadores do Rio desde...



Após 1h30 de reunião neste sábado, uma comissão de 12 manifestantes que ocupam a Câmara de Vereadores do Rio desde a última quinta-feira entregou uma lista com cinco reivindicações ao presidente da Casa, Jorge Felippe (PMDB). A principal exigência é a substituição de quatro dos cinco vereadores que compõem a recém-instalada CPI dos Ônibus, e que não assinaram o requerimento para criação da comissão.
Segundo o vereador Jefferson Moura (PSOL), que participou do encontro, o presidente da Câmara recebeu a lista de reivindicações e prometeu marcar uma reunião com todos os 51 parlamentares na próxima segunda-feira (12) para debater o assunto. Os manifestantes, no entanto, prometeram continuar com a ocupação do Palácio Pedro Ernesto até que suas exigências sejam atendidas.
"Do ponto de vista do regimento da Casa, a CPI já está formada e o presidente não tem poder para substituir seus membros. Ele prometeu convocar uma reunião na segunda-feira, com todos os vereadores, para tentar encontrar uma saída política. Ou seja: que os atuais membros renunciem. Mas nada impede que a OAB ou o Ministério Público entre na Justiça contra a atual comissão", explicou Jefferson Moura.
Além de Moura e Jorge Felippe, participaram da reunião deste sábado os vereadores Renato Cinco (PSOL), Reimont (PT), Jairinho (PSC) e Rosa Fernandes (PMDB), além de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O autor do requerimento de criação da CPI, Eliomar Coelho (PSOL), não compareceu.
A CPI atualmente é composta pelos vereadores Chiquinho Brazão (PMDB), Professor Uóston (PMDB), Jorginho da SOS (PMDB) e Renato Moura (PTC). Nessa sexta-feira, os dois primeiros foram escolhidos presidente e relator da CPI, respectivamente.
Tradicionalmente, o autor do requerimento é escolhido presidente da CPI. Por isso, outra exigência dos ativistas é que Eliomar Coelho presida a comissão.

Siemens sabia que teria contrato antes mesmo da licitação

 Por Bruno Ribeiro e Marcelo Godoy, de O Estado de S. Paulo, estadao.com.br
E-mails trocados por executivos da empresa sugerem acerto prévio para pacote de reforma de trens da CPTM no 2º mandato de Alckmin



Mensagens trocadas entre executivos da Siemens mostram que eles já sabiam que seriam contratados para um pacote de reformas de trens metropolitanos antes mesmo de o governo paulista lançar os editais de licitação para o serviço. O episódio ocorreu entre 2004 e 2005, durante o segundo mandato do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Os e-mails sobre os contratos da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) para o programa de reforma, batizado de Boa Viagem, constam da documentação em posse do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre o cartel que atuou no setor ferroviário paulista desde os anos 1990.
Em 24 de novembro de 2004, o executivo Marco Vinícios Barbi Missawa afirma a Dirk Schoenberguer, da Siemens alemã, que a CPTM teria "por objetivo principal dar o pacote completo (da licitação para o programa Boa Viagem) para quatro fornecedores grandes (Alstom, Siemens, Bombardier e ADTrans)".
O edital, com os termos do projeto, foi lançado dois dias depois. O programa, orçado em R$ 400 milhões, em valores atualizados, previa a reforma de trens de quatro das seis linhas da CPTM. A licitação foi concluída em agosto de 2005 e os vencedores foram de fato as quatro empresas citadas nos e-mails da Siemens.
A assessoria de Alckmin informou que tem "total interesse" em esclarecer o caso (mais informações no texto ao lado).
Subcontratações. Um e-mail escrito em alemão, que consta na página 884 do processo do Cade, mostra que a Siemens teria de subcontratar outras duas empresas do setor como fornecedoras e afirma que a Siemens estava "desenvolvendo os prazos da licitação com as três outras firmas e a CPTM". A conversa não esclarece se a subcontratação das empresas era uma exigência. Diz apenas que a Siemens já contava com duas empresas para preencher os requisitos.
Na mensagem eletrônica, o executivo faz ainda referências a reuniões entre as empresas "para assegurar as condições mais importantes para que a concorrência ocorra sem problemas". Diz ainda que "conjuntamente, são verificadas as possíveis condições e formatos da licitação" que a CPTM deveria lançar naquele ano.
O presidente da CPTM na época era Mário Bandeira, o mesmo que atualmente preside a empresa. A Secretaria dos Transportes Metropolitanos, à qual a CPTM é subordinada, também era chefiada pelo atual secretário, Jurandir Fernandes.
Essa não é a única citação da CPTM no processo em que os executivos indicam uma ação direta da empresa para pressionar os integrantes do cartel. Em um documento anterior, datado do ano 2000, outro executivo da empresa também dizia que, naquele ano, o governo paulista, sob o comando do também tucano Mário Covas, "pressionava" as empresas a fazerem acordo para dividir logo os lotes da licitação que iria fornecer material para o projeto da primeira fase da Linha 5-Lilás do Metrô. A anotação estava em um diário de Peter Rathgeber, então gerente de vendas da Siemens.
Competências. A documentação faz parte dos sete volumes em poder do Cade para investigar as práticas antimercado que teriam sido conduzidas pelas empresas do setor metroferroviário entre os anos de 1998 e 2007. O Cade não apura participação de funcionários públicos no direcionamento de licitações para facilitar a atuação do cartel.
Esse trabalho está sendo desenvolvido pelo Ministério Público Estadual, que tem 45 inquéritos civis sobre irregularidades nos transpores e, na sexta-feira, abriu um procedimento criminal para investigar a conduta dos servidores do governo paulista. Ele pode indiciá-los criminalmente.

Israelenses descobrem hospital da época das Cruzadas

Arqueologia

Construção situada em Jerusalém tem aproximadamente 1.000 anos. Descoberta oferece informações sobre medicina da época

Com várias divisões, a estrutura descoberta assemelha-se a de um hospital moderno
Com várias divisões, a estrutura descoberta assemelha-se a de um hospital moderno (EFE)
A Autoridade de Antiguidades de Israel (AAI) anunciou, por meio de comunicado oficial, a descoberta de um hospital do período das Cruzadas (1099 – 1291 d.C.) situado no Quarteirão Cristão, na Cidade Velha de Jerusalém. Trata-se de uma estrutura com cerca de 1 000 anos atrás, com pilares e abóbadas que medem mais de seis metros de altura. Segundo a AAI, a construção corresponde a apenas uma parte do hospital: os arqueólogos calculam que o complexo compreendia uma área total de 15 000 metros quadrados.

Saiba mais

CRUZADAS
As cruzadas foram expedições armadas comandadas por potências cristãs da Europa, com o objetivo de reconquistar territórios que foram dominados pelo islamismo, mas eram considerados sagrados pelos cristãos, como Jerusalém. Foram 200 anos de guerra do mundo cristão contra o mundo muçulmano. Grande parte dos historiadores defende que as Cruzadas geraram uma violência que contribuiu para a rivalidade entre muçulmanos e cristãos nos anos decorrentes. Além disso, os europeus não alcançaram seu objetivo inicial. A rica troca de tradições que aconteceu durante o período, introduzindo ao universo ocidental diversos elementos da cultura oriental, porém, é considerada um aspecto positivo das Cruzadas.
Em desuso há aproximadamente dez anos, o local antes abrigava um movimentado mercado de frutas e verduras. Depois disso, permaneceu abandonado, até surgir o interesse de uma empresa em transformar a estrutura em um restaurante. Isso levou às explorações arqueológicas, que descobriram a antiga existência do hospital no local.
De acordo com a AAI, os arqueólogos aprenderam mais sobre a história do ambulatório por meio de documentos da época - a maior parte deles escrita em latim.
Ordem de St. John — "Os documentos mencionam a existência de um sofisticado hospital construído por uma ordem militar cristã denominada Ordem de St. John do Hospital de Jerusalém", contam os israelenses Renee Forestany e Amit Re’em, coordenadores da escavação. Há indícios de que o hospital tenha sido construído por um grupo de monges beneditinos que tinham como objetivo cuidar dos peregrinos cristãos que participavam das expedições à Jerusalém. 
Ao longo do tempo, a Ordem de St. John evoluiu e passou por inúmeras reestruturações. Em 1888, na época da Revolução Industrial, a Rainha Victoria, da Inglaterra, incorporou a Ordem à realeza inglesa e, atualmente, a Rainha Elizabeth II é a “cabeça soberana” da Ordem de St. John, ou seja, uma espécie de líder. Apesar de seu caráter cristão, hoje não é mais preciso ser religioso para integrar a organização, como era em sua origem. São 25 000 membros da Ordem ao redor do globo. E, para se tornar um deles, é necessário ter seu mérito reconhecido pela Rainha. 
A Ordem conta com oito monastérios ao redor do mundo, além de manter um hospital oftalmológico de caridade localizado na parte leste de Jerusalém, chamado Hospital do Olho de St. John. 
Medicina — Apesar da estrutura encontrada se assemelhar muito a dos hospitais modernos — com divisão de alas e departamentos conforme as diferentes enfermidades, e capacidade para atender até dois mil pacientes — os documentos revelam que a medicina da época ainda se encontrava em um estado bastante rudimentar. Em um dos relatos recuperados, uma testemunha narra o caso de um soldado cristão que morreu após ter sua perna amputada por conta de um pequeno ferimento. 
"Isso acontecia porque, naquela época, os árabes já tinham conhecimentos médicos mais avançados, enquanto a medicina europeia ainda era muito ligada à religião", explica Rodrigo Rainha, doutor em História Medieval pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista ao site de VEJA. "Então, em um caso como esse, o árabe poderia olhar para a perna e dizer apenas que teriam que fazer um torniquete, mas o europeu cristão tinha que saber o que o padre (que agia como médico) achava. Esse padre provavelmente disse que a perna deveria ser cortada, porque aquela ferida era a presença do mal no corpo do indivíduo, e assim amputaram a perna do soldado que, é claro, faleceu." 
Para Rodrigo, a descoberta oferece uma nova percepção em relação à organização dos cruzadistas. "Até hoje, não existiam indícios de hospitais dessa época e nessa região, especificamente", afirma. Ainda segundo o professor, a existência do hospital pode ser considerada uma espécie de pequeno símbolo das trocas culturais que aconteciam no período. "As Cruzadas são frequentemente lembradas pela violência e invasão, mas elas também tiveram como resultado uma troca de tradições: foi um verdadeiro encontro de mundos diferentes, que permitiram a transformação daquela região."
(Com agência EFE)

Lewandowski interferiu em processo para ajudar o PT e a presidente Dilma

Justiça

O Tribunal Superior Eleitoral sumiu com os pareceres técnicos que sugeriam a reprovação das contas do PT na época do mensalão e da campanha da presidente Dilma em 2010. Documentos revelam que isso ocorreu por determinação do ministro Ricardo Lewandowski

Rodrigo Rangel
Ricardo Lewandowski
Ricardo Lewandowski (Cristiano Mariz)
Em outubro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal monopolizava as atenções do país quando alinhavava as últimas sentenças aos responsáveis pelo escândalo do mensalão. Naquele mesmo mês, só que em outra corte de Justiça e bem longe dos holofotes, um auditor prestava um surpreendente depoimento, que jogava luz sobre episódios ainda nebulosos que envolvem o maior caso de corrupção da história. O depoente contou que, em 2010, às vésperas da eleição presidencial, foi destacado para analisar as contas do PT relativas a 2003 - o ano em que se acionou a superengrenagem de corrupção. Foi nessa época que Delúbio Soares, Marcos Valério, José Genoino e o restante da quadrilha comandada pelo ex-ministro José Dirceu passaram a subornar com dinheiro público parlamentares e partidos aliados. Havia farto material que demonstrava que a contabilidade do partido era similar à de uma organização criminosa. Munido de documentos que atestavam as fraudes, o auditor elaborou seu parecer recomendando ao tribunal a rejeição das contas. O parecer, porém, sumiu - e as contas do mensalão foram aprovadas.
Menos de dois meses depois, ocorreu um caso semelhante, tão estranho quanto o dos mensaleiros, mas dessa vez envolvendo as contas da última campanha presidencial do PT. O mesmo auditor foi encarregado de analisar o processo. Ao conferir as planilhas de gastos, descobriu diversas irregularidades, algumas formais, outras nem tanto. Faltavam comprovantes para justificar despesas da campanha. A recomendação do técnico: rejeitar as contas eleitorais, o que, na prática, significava impedir a diplomação da presidente Dilma Rousseff, como determina a lei. Ocorre que, de novo, o parecer nem sequer foi incluído no processo - e as contas de campanha foram aprovadas. As duas histórias foram narradas em detalhes pelo auditor do Tribunal Superior Eleitoral, Rodrigo Aranha Lacombe, em depoimento ao qual VEJA teve acesso. Ambas cristalizam a suspeita de que a Justiça Eleitoral manipula pareceres técnicos para atender a interesses políticos - o que já seria um escândalo. Mas há uma acusação ainda mais grave. A manipulação que permitiu a aprovação das contas do mensalão e da campanha de Dilma Rousseff teria sido conduzida pessoalmente pelo então presidente do TSE, o ministro Ricardo Lewandowski.

Petrobras não consegue crescer

veja.com

A maior empresa do Brasil divulgou seu resultado do segundo trimestre nessa sexta-feira, após o fechamento do mercado. Seu lucro, de R$ 6,2 bilhões, foi beneficiado por operações contábeis, venda de ativos e hedge cambial. Ainda há incertezas, e os analistas terão que se debruçar sobre os dados nos próximos dias para compreender melhor os números e expurgar os efeitos meramente contábeis para avaliar melhor o resultado operacional.
Alguns dados, entretanto, já são mais palpáveis, pois dificilmente podem ser manipulados pela contabilidade. Entre eles, o endividamento da companhia e sua produção no período. Ambos preocupam. O endividamento total cresceu 27% no primeiro semestre e somou R$ 249 bilhões. De acordo com a Petrobras, o dado reflete o aumento do endividamento de longo prazo e a depreciação cambial de 8,4%.
Não vamos esquecer que a Petrobras vem expandindo seu financiamento há algum tempo, e chegou inclusive a realizar um enorme aumento de capital para equilibrar mais seu balanço. A justificativa era seu gigantesco projeto de investimento para permitir um crescimento acelerado na produção. Este ainda é só uma promessa distante.
A produção de petróleo ficou praticamente estável no segundo trimestre, com um total de 2,555 milhões de barris/dia, praticamente o mesmo valor do primeiro trimestre do ano. No acumulado do primeiro semestre, o volume de 2,553 milhões de barris/dia representou uma queda na produção de 3% sobre o mesmo período de 2012, quando a média havia sido de 2,628 milhões de barris/dia.
Em outras palavras: a Petrobras não consegue crescer! Conforme apontei em meu livro Privatize Já, essa tem sido a realidade da empresa desde que o PT assumiu o poder:
O crescimento da produção total de óleo e gás da Petrobras desde que o PT assumiu o governo, em 2003, foi medíocre. A empresa, em seus planos estratégicos de cinco anos, costuma prometer aos analistas um crescimento esperado acima de 5% ao ano na produção. Potencial para isso o país tem de sobra. Mas quanto foi entregue de fato? De janeiro de 2003 a janeiro de 2012, a produção cresceu somente 2,4% ao ano. Trata-se de um resultado lamentável.
[...]
Para piorar a situação, boa parte desse programa de investimento teve que ser financiada por aumento de endividamento, pois a geração própria de caixa não foi suficiente. A Petrobras, que tinha R$ 26,7 bilhões de dívida líquida em 2007, terminou 2011 devendo mais de R$ 100 bilhões. Isso mesmo depois do enorme aumento de capital. Ao término do primeiro semestre de 2012, seu endividamento líquido já passava de R$ 130 bilhões. Eis algo que cresce a taxas elevadas na empresa, ao contrário da produção.
A frase atribuída ao magnata John D. Rockfeller virou um mantra na economia: “O melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; e o segundo melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo mal administrada”. O PT tem desafiado essa máxima aceita ao longo dos anos. A Petrobras tem sido muito mal administrada, e os investidores acusam o golpe. Suas ações perderam bastante valor em relação às demais no setor. Os analistas estão cansados de promessas que nunca se tornam realidade.
Enquanto a produção patina, ou até se retrai, o endividamento segue em alta. O futuro da Petrobras está em xeque. É impressionante o estrago que uma gestão incompetente e partidária conseguiu causar em uma empresa quase monopolista. Tem que se esforçar muito para danificar dessa forma uma companhia do porte da Petrobras, a única empresa de petróleo do mundo queperde dinheiro quando o preço de seu produto sobe!

ROUBALHEIRA DOS BANCOS



Glossário dos bons vinhos

Porto


Vinho fortificado feito na região do Rio Douro, no norte de Portugal, o Porto pode ter vários estilos. O Tawny é oxidado propositalmente.

Jerez

Fortificado produzido na Andaluzia, no sul da Espanha, o Jerez pode ser fino, amontillado, oloroso ou palo cortado. O amontillado tem um marcante caráter oxidado.

Chianti

Nome das colinas ao sul de Florença, na Toscana, é também uma denominação que produz vinhos de ótima acidez a partir, principalmente, da uva sangiovese, a mais plantada da Itália.

Angelo Gaja

Produtor italiano, da região do Piemonte, famoso por seus vinhos Barbaresco.  Nos anos 70, ele revolucionou a vinificação da uva nebbiolo, introduziu o uso de barricas de carvalho francês para amadurecer o Barbaresco.

Marquês Piero Antinori

Produtor da zona de Chianti, nos anos 70 lançou o Tignarello, o primeiro dos supertoscanos, tintos de qualidade que não seguem as regras regionais e costumam levar uvas francesas, como a cabernet sauvignon. 

Bordeaux

Região na costa atlântica da França, conhecida pela qualidade de seus vinhos. Os tintos levam principalmente as uvas  cabernet sauvignon e merlot e os brancos, sauvignon blanc e semillion 

Borgonha

Região próxima a Paris que produz os vinhos considerados como os mais elegantes do mundo. Os tintos são feitos de pinot noir e os brancos de chardonnay.

Napa Valley

Região produtora de vinhos do norte da Califórnia, a mais tradicional dos Estados Unidos, onde a principal uva é a cabernet sauvignon.

Robert Mondavi

O mais famoso dos produtores da Califórnia, foi Mondavi quem teve a ideia de colocar o nome da uva bem grande no rótulo dos vinhos para facilitar a vida do consumidor americano.

Malbec

Uva de origem francesa que produz vinhos muito escuros e com um marcante aroma floral. De pouca relevância em Bordeaux, na França, a malbec hoje quase só é usada na região de Cahors.

Wine Spectator

Revista americana especializada que classifica os vinhos em uma escala de 0 a 100.

Terroir


Conjunto de condições de clima, solo e luminosidade do local onde estão localizados os vinhedos, o terroir influencia nas características e qualidade das uvas e dos vinhos.

O homem que inventou o vinho malbec

Entrevista: Nicolás Catena

Nicolás Catena colocou a Argentina no mapa dos países produtores e exportadores de vinhos de qualidade

Tânia Nogueira
Bodega Catena
Nicolás Catena colocou a Argentina no mapa dos países produtores e exportadores de vinhos de qualidade - Divulgação
Ao fazer do malbec argentino um dos vinhos mais conhecidos no mundo, Nicolás Catena mudou a história da indústria vinícola em seu país. Dizem até que a vitivinicultura - o processo de fabricação de vinho - na Argentina se divide em a.C. e d.C, antes de Catena e depois de Catena. Sua influência, na verdade, há muito ultrapassou as fronteiras da Argentina, tanto que as duas principais publicações especializadas em vinhos já o colocaram na lista dos grandes: em 2009 foi eleito “Homem do Ano” pela revista inglesa Decanter e em 2012 recebeu o prêmio “Distinguished Service Award”, da americana Wine Spectator. Os vinhos top de Catena são de fato bons, mas esses prêmios não foram dados pela maciez dos taninos nem pela complexidade dos aromas de seus rótulos - eles são o reconhecimento da sensibilidade e da habilidade de Nicolás Catena como homem de negócios que sabe crescer criando progresso à sua volta.
Nascido em Mendonça numa família de importantes produtores de vinhos, o empresário de 73 anos nunca estudou enologia, mas sempre participou de todas as etapas de elaboração dos vinhos de suas três vinícolas: Bodega Catena Zapata, Alamos e Tília. Formado em Economia pela Universidade de Columbia, em Nova York, ele teve uma relevante carreira acadêmica: chegou a ser professor-convidado da Universidade de Berkeley, na Califórnia. Mas Catena destacou-se sempre por uma visão de mercado oportuna, capacidade que o fez acreditar no potencial da Argentina para torná-lo um grande exportador de vinhos, desde que mudasse o estilo do que produzia. Mais que isso, ao perceber a qualidade do malbec de Mendonça, Catena o transformou numa marca capaz de conquistar a fidelidade de milhões de consumidores no Brasil, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e vários outros mercados importantes.
É comum dizerem que antes dos anos 80, o vinho argentino era muito ruim. Isso é verdade? Não, os vinhos não eram ruins. Quando comecei, a Argentina produzia vinhos no antigo estilo italiano. O vinho era guardado em grandes tonéis de madeira por três ou quatro anos e sofria uma oxidação gradual, como ainda hoje se faz com o Porto ou o Jerez. Antigamente, o vinho Chianti, por exemplo, era um vinho oxidado, mas a Itália estava mudando. No Piemonte, quem mudou foi o Angelo Gaja. Na Toscana, o (marquês Piero) Antinori. Nos anos 70, no mundo todo, vinho oxidado era considerado o oposto de um vinho de qualidade. O produto argentino continuava com o estilo oxidado. Isso não quer dizer que fosse ruim ou tivesse defeitos como aroma e sabor de vinagre. Pessoalmente, continuo gostando de vinhos oxidados.
No entanto, o senhor pôs fim à era do vinho oxidado na Argentina. Nos anos 80, começou a produzir tintos ao estilo de Bordeaux e brancos ao estilo da Borgonha. Por quê? Foi casual. Em 1982, fui convidado a dar aulas de Economia na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Lá, um dos meus primeiros passeios foi ao Napa Valley, onde visitei a vinícola de Robert Mondavi. Experimentei um cabernet sauvignon e um sauvignon blanc equilibrados, cheios de aromas de fruta, sem oxidação, que pareciam franceses. Foi uma revelação. Eu tinha crescido com a ideia de que ninguém poderia fazer nada nem sequer parecido com o vinho francês, de tão superior que ele era. Na Califórnia, descobri que era possível fazer um vinho tão bom quanto o francês.
Acredita mesmo que o vinho californiano é tão bom quanto o francês? Com minha mulher, Elena, costumo provar bons vinhos de Bordeaux e da Califórnia, para estudar e também por prazer. Sou obrigado a confessar que, na maior parte das vezes, gosto mais dos de Bordeaux. Os californianos, no entanto, queriam tanto imitar os franceses e superar Bordeaux que estudaram tudo sobre a França: como os franceses plantavam, como vinificavam, como amadureciam o vinho. E acabaram fazendo um vinho parecido. Isso me impressionou tanto que decidi fazer um projeto parecido na Argentina.
O senhor se tornou amigo de Robert Mondavi? Ele o ajudou a fazer as mudanças que queria? Amigo, eu não diria. Mas ele era extremamente generoso, revelava o segredo de seu sucesso, ensinava como fazer, sem nunca se preocupar se você era um concorrente ou não.
Hoje, o senhor é conhecido como o pai da malbecPor que decidiu investir nessa casta que os franceses tinham desprezado? Quando voltei da Califórnia, de início, plantei cabernet cauvignon e chardonnay. Não pretendia fazer um malbec no novo estilo, apesar de a empresa da minha família ter vários vinhedos de malbec. O primeiro varietal de malbec veio só em 1994, por insistência de minha filha, Laura (que hoje é presidente da Bodega Catena Zapata). A partir daí, minha ideia deixou de ser fazer algo parecido com um Bordeaux. Resolvi oferecer ao consumidor um sabor e um aroma diferentes e o deixar decidir.
O que levou o seu avô e outros viticultores do fim do século 19 e início do século 20 a escolherem a malbec como casta principal da região de Mendonça? Meu avô Nicola contava que, quando chegou da Itália, não conhecia a malbec. Mas os vizinhos disseram que aquela era a melhor uva tinta, a que dava mais cor ao vinho. Ele plantou malbec, meu pai, Domingo, continuou com a malbec e a empresa foi muito bem. Quando decidi fazer o vinho no novo estilo, sem oxidação, como o francês e o californiano, meu pai, que morreu em 1985, insistia para que eu fizesse uma experiência com a malbec. Não segui seu conselho, mas aquilo ficou na minha cabeça. No início dos anos 90, Laura me convenceu de que valia a pena fazermos uma experiência. No entanto, quando nosso malbec recebeu uma pontuação alta da Wine Spectator, fiquei bastante surpreso. Na época, os grandes tintos, aqueles que mereciam reconhecimento internacional, sempre tinham uma predominância de cabernet sauvignon no seu blend.  Os 92 pontos da Wine Spectator foram uma surpresa muito boa, pois minha família tinha plantações importantes de malbec, muitas vinhas e vinhas muito velhas. Nós aproveitamos essas vinhas.
Mas também plantou vinhas novas com essa uva. Uma noite, jantando com um consultor francês, dei nosso malbec para ele provar e ouvi: “Esse vinho tem algo que me preocupa. Tem sabor e aroma de uma região quente.” Imediatamente, pensei: “Tenho de plantar em zonas frias para conseguir vinhos elegantes”. Depois disso, plantei malbec, cabernet sauvignon e chardonnay numa altura limite, acima da qual há muito risco de geadas, em regiões de Mendonça ainda mais altas do que Rivadavia, onde estavam os vinhedos de meu pai. Em Tupungato, plantamos um vinhedo de 120 hectares de malbec, a 1500 m de altitude.
Fazer da malbec um ícone da Argentina foi consequência do terroir ou uma estratégia de posicionamento no mercado? Quando percebi que o aroma floral da malbec e seu sabor sem nenhum amargor eram tão bem aceitos internacionalmente, decidi concentrar todos os nossos esforços em produzir um grande vinho malbec, porque acreditava que era o que de melhor poderia produzir na Argentina, com o nosso terroir.
Por que a Bodega Catena Zapata, em Agrelo, tem a forma de uma pirâmide maia sendo que os maias não estiveram na Argentina? Quando decidi que queria um novo estilo de vinho, não oxidado, quis construir uma vinícola que representasse essa nova fase da empresa. Pensei em algo em estilo italiano, já que minha família era de origem italiana; francês, porque era o vinho mais famoso, ou espanhol, por causa da nossa colonização. Mas nada disso indicava um terroir diferente. Eu queria algo que marcasse nossa diferença. E arquitetura maia é o que a América Latina tem de mais grandioso. Nossa vinícola se inspirou no grande Templo de Tikal, na Guatemala.

Estamos de olho: Flaubert, Machado e as ‘janelas da alma’


No fascinante romance-ensaio “O papagaio de Flaubert”, lançado em 1984, o francófilo escritor inglês Julian Barnes dedica um capítulo aos olhos de Emma Bovary. Nele faz, em miniatura, uma grande e já célebre crítica à crítica acadêmica na pessoa de Enid Starkie, renomada biógrafa de Gustave Flaubert e professora de Oxford. “Flaubert não constrói seus personagens, como fazia Balzac, por meio da descrição objetiva de traços exteriores”, afirma Starkie, que já tinha morrido quando Barnes escreveu seu livro, lembrada pelo narrador Geoffrey Braithwaite. “Na verdade, ele é tão descuidado com a aparência deles que a certa altura atribui a Emma olhos castanhos; em outra, olhos profundamente negros; e numa terceira, olhos azuis.”
Alter ego do autor, Braithwaite fica muito incomodado com isso. Como é possível que, obcecado pelo romance de Flaubert, nunca tivesse reparado em tão grosseira inconsistência? Voltando ao texto, sua irritação muda de endereço. No fim das contas fica evidente que o escritor francês queria que os olhos de Bovary fossem cambiantes: naturalmente castanhos, pareciam negros sob a sombra dos cílios e podiam adquirir um surpreendente tom de azul escuro quando a luz incidia neles de certa forma. Conclui Braithwaite/Barnes: “Seria interessante comparar o tempo gasto por Flaubert para se assegurar de que sua heroína tivesse os olhos raros e difíceis de uma adúltera trágica com o tempo gasto pela dra. Starkie para subestimá-lo”.
Vou buscar na memória a metamorfose ambulante da íris de Madame Bovary ao ler as curiosas reflexões (sob o título Olhares e faróis) que o crítico literário carioca João Cezar de Castro Rocha dedica ao papel narrativo desempenhado pelos olhos dos personagens em seu recém-lançado “Machado de Assis: por uma poética da emulação” (Civilização Brasileira, 368 páginas, R$ 40). Não se trata do argumento central do livro, dedicado a sustentar que Machado, sobretudo na fase madura, atualizou o recurso clássico da emulação para dialogar criativa e irreverentemente com a tradição literária universal. Ao falar dos olhos dos personagens machadianos, Castro Rocha está interessado em investigar preliminarmente o imenso enigma – o mais repisado da literatura brasileira – do salto de qualidade dado por nosso maior escritor entre o romantismo convencional de “Iaiá Garcia”, de 1878, e a explosão criativa de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de 1881.
Na primeira fase, os olhos dos personagens de Machado conformam-se ao clichê “janelas da alma”. Neles é possível, com frequência e muitas vezes literalmente, “ler” pensamentos e emoções não expressos por palavras – leitura que é feita não apenas pelo escritor, e por meio dele pelo leitor propriamente dito, mas também por outros personagens. Muletas providenciais para o narrador, que tudo explica, por não haver motivação profunda que, bem examinados, sejam incapazes de trazer à tona, esses olhares sempre legíveis não eram uma invenção do escritor carioca, é claro. Pelo contrário: parte de seu efeito canhestro se deve ao fato de que o truque era antigo, ainda que revitalizado pela literatura romântica. “Os olhos aparecem na literatura mais do que qualquer outra parte do corpo”, diz Michael Faber em seu clássico “Dicionário de símbolos literários”, lembrando, entre outros, os olhos que “não se calavam” do poeta latino Ovídio.
Quando enfim tomou posse de sua genialidade, Machado mudou radicalmente o papel dos olhos em sua literatura. Estes passaram a ser um problema a mais – nunca uma solução. Podiam ser enganadores, com as “janelas da alma” dando lugar a um perigoso trompe l’oeil, como são em “Quincas Borba” os de Sofia quando Rubião se encanta com “aquele par de olhos viçosos, que pareciam repetir a exortação do profeta: Todos vós que tendes sede, vinde às águas”. E podiam ser também a própria imagem da indeterminação, da incerteza, como em “Dom Casmurro”.
Numa associação fácil, aqueles olhos multicoloridos de Bovary se refletem nos de Capitu, que eram “de cigana oblíqua e dissimulada” na famosa definição do agregado José Dias – que mais tarde muda de ideia e defende a moça, explicando ter confundido “os modos de criança com expressões de caráter”, deixando de ver que “essa menina travessa e já de olhos pensativos era a flor caprichosa de um fruto sadio e doce…”. Como se sabe, Bentinho prefere concordar com o juízo anterior e não com sua correção.
A diferença, evidentemente, é que sabemos acima de qualquer dúvida que Emma era adúltera, enquanto Capitu, acusada pelo marido pouco confiável, será para sempre diante de nós um ponto de interrogação. A velha transparência dos olhos que Flaubert tinha começado a turvar, ainda deixando uma margem segura para que Barnes falasse em “olhos raros e difíceis de uma adúltera trágica”, adquire em Machado de Assis a mais completa impermeabilidade, devolvendo como um espelho o olhar do próprio leitor, o olhar que perscruta a página – e que afinal, embora todo mundo fingisse não perceber, era desde o início o mais importante dessa história.

The Doors - Wishful Sinful



O melhor enfermeiro do homem

Tratamento

Companheiros do ser humano há 14.000 anos, cães são treinados para dar assistência a portadores de epilepsia. Alguns podem até livrar seus donos da maior angústia causada pela doença: saber quando uma crise vai acontecer

Aretha Yarak
Spencer Wyatt e Lucia
Spencer, com a golden retriever Lucia: cadela oferece assistência e segurança ao americano de 11 anos (Arquivo Pessoal)
Spencer conheceu Lucia quando ela tinha apenas um ano de vida. No terceiro encontro, ela começou a marchar disciplinadamente para frente e para trás, numa tentativa de dizer que algo estava errado. Mas Spencer só entendeu o recado dez minutos mais tarde e, sentado à mesa de jantar, não teve tempo de se deitar no chão para enfrentar mais uma das crises epilépticas que aparecem a cada duas semanas. Spencer Wyatt é um pré-adolescente americano de 11 anos. Lucia, uma golden retriever, tem 4 anos. Ela faz parte do seleto grupo de cães conhecidos como seizure-response dogs e seizure-alert dogs (cães de alerta e de resposta a convulsão), animais treinados por até dois anos para prestar assistência a seres humanos que enfrentam a mesma condição de Spencer. É um novo capítulo na longa história de troca entre cães e homens, que, segundo estudos científicos, começou a ser escrita há cerca de 14.000, quando o ser humano atraiu para perto de si esse descendente do lobo, domesticando-o.
Arquivo Pessoal
“Lucia dorme comigo todos os dias. Ela é a minha melhor amiga e eu não quero nunca me separar dela”, Spencer Wyatt, 11 anos
“Lucia dorme comigo todos os dias. Ela é a minha melhor amiga e eu não quero nunca me separar dela”, Spencer Wyatt, 11 anos
Não bastasse o apoio que os "cães de alerta" dão a quem tem crises – eles podem buscar ajuda ou até deitar sobre o corpo do dono, evitando que ele se machuque durante convulsões –, cerca de 90% desses caninos desenvolvem a capacidade de prever a ocorrência de um ataque com até 15 minutos de antecedência. A ciência ainda tenta entender esse mecanismo. Parte dos estudiosos do assunto acredita que isso se deve ao apuradíssimo olfato dos cães, que dispõem de mais de 220 milhões de receptores olfativos, ante cinco milhões dos humanos. Isso permitiria ao animal farejar o odor de substâncias exaladas pelo homem, mas imperceptíveis a ele, na iminência de uma crise.
Outro grupo aposta na capacidade dos cães de se adaptar ao modo de vida de seu dono e perceber eventuais mudanças de comportamento. "Não temos recursos técnicos para medir o primeiro impulso de uma crise epiléptica, nem quando monitoramos a atividade cerebral dos pacientes. É improvável que um cachorro consiga fazê-lo", diz Adam Kirton, médico neurologista do Alberta Children's Hospital, dos Estados Unidos. Ele é um defensor da tese comportamental: ou seja, os cães seriam capazes de perceber quando seus donos apresentam sintomas que normalmente antecedem crises, como depressão ou euforia súbita.
Apesar de bem-sucedidas, parcerias como a de Spencer e Lucia ainda são raras. Em 2009, apenas 59 cães para epilépticos foram treinados em todo o mundo por instituições credenciadas pela Assistance Dogs Internacional – no Brasil, ainda não há experiências desse tipo. O baixo número reflete a pequena demanda, fruto, por sua vez, do desconhecimento do potencial desses animais e também das dúvidas científicas. Aqueles que adotam os seizure-response dogs, contudo, garantem que o animal pode ter valor inestimável, oferecendo aos portadores de epilepsia a chance de viver livre do maior mistério da doença: determinar quando uma crise vai acontecer.
Arquivo Pessoal
“A primeira vez que acordei com Georgie ao meu lado, olhando por mim, senti uma forte sensação de segurança”, Channing Seideman, 17 anos
“A primeira vez que acordei com Georgie ao meu lado, olhando por mim, senti uma forte sensação de segurança”, Channing Seideman, 17 anos
É o caso da também americana Channing Seideman, de 17 anos, que há dois meses conta a companhia de Georgie, de  um ano, uma labradoodle – cruzamento entre as raças golden retriever e poodle. "É bastante sorte ter a meu lado um cão que pode me alertar sobre as crises. Georgie já me avisou de três", diz Channing. A cadela tem ainda uma função literalmente vital: evitar o quadro de morte súbita, que pode acometer epilépticos. Todas as noites, Georgie fica de prontidão, ao pé da cama de Channing, num sono leve e alerta. Se a dona enfrenta uma crise no meio da madrugada, ela corre para o quarto vizinho e avisa a mãe de Channing que a filha não está bem. As crises noturnas costumam ter relação com quadros de apneia, que afetam a respiração. "Se você estimular a pessoa logo após uma crise, ela consegue voltar a respirar normalmente. Isso pode salvar a vida dela", diz Elza Márcia Yacubian, chefe do setor de epilepsia do Departamento de Neurologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Além do amparo, a companhia dos cães traz segurança. Amy Wyatt, mãe de Spencer, conta que Lucia foi a grande responsável pela inserção social do garoto, antes tímido e retraído. "As pessoas costumam se aproximar ao verem a cadela. Isso ajuda Spencer a se comunicar e até a falar sobre a doença", diz Amy. "Ela é minha melhor amiga", completa Spencer. "Quando eu for mais velho, sei que poderei sair sozinho, porque ela vai estar ao meu lado." Georgie também é companhia frequente de Channing, até no trajeto para o colégio. Para os pais, é a certeza de que a filha terá ajuda, caso precise. "Hoje, posso ir praticamente a qualquer lugar. Georgie diminuiu as restrições que a doença me impunha. Não consigo me imaginar sem ela", diz.
Os epilépticos não são os únicos beneficiados pela atenção dos cães. Uma outra leva de animais vem sendo treinada para ajudar portadores de diabetes, por exemplo. Os diabetic-dogspodem detectar pequenas mudanças no hálito de um paciente com diabetes do tipo 1, decorrentes da alteração do nível de glicose no sangue. "O cão pode dar o aviso de maneira discreta: tocando o dono com a pata, antes que este fique desorientado e não consiga se medicar ou comer algo a tempo", diz Alan Peters, diretor executivo da organização americana Can Do Canines, uma das pioneiras no treinamento dos animais. Em situações de emergência, os cães podem também apertar um botão de alerta, que normalmente avisa um amigo ou parente do paciente, ou até mesmo buscar uma garrafa de suco, telefone ou medicamento.
No Brasil, a prática ainda se resume ao treinamento de cães-guias, que auxiliam cegos e surdos. Nos Estados Unidos e no Canadá, além destes e dos seizure e diabetic-dogs, há a preparação dos animais que irão ajudar pessoas com mobilidade reduzida e autismo. O treinamento, para qualquer uma das modalidades, é caro. Por aqui, de acordo com o Instituto Cão Guia, do Rio de Janeiro, o custo para preparar um cão-guia gira em torno de 30.000 reais. A ética de doação de um animal desses segue os mesmos padrões da doação de órgãos: não se compra um cão treinado. Isso significa que a organização depende diretamente do trabalho de voluntários. Isso torna as filas de espera por um animal longas e demoradas. As doações ainda são limitadas e, muitas vezes, disponíveis apenas em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Grã-Bretanha, países que ganham força no treinamento de seizure-dogs e diabetic-dogs, as organizações contam até com a ajuda de indústrias farmacêuticas, que bancam os custos. Se o treinamento de cães para a assistência à saúde de fato pegar, a milenar amizade entre homens e caninos só tende a se fortalecer.

Cães conseguem detectar câncer de pulmão com o olfato

Câncer

Descoberta pode levar ao desenvolvimento de um "nariz eletrônico", que ajudaria no diagnóstico precoce da doença

Câncer de pulmão: pelo olfato, cães conseguiram identificar com 70% de exatidão pacientes com a doença
Câncer de pulmão: pelo olfato, cães conseguiram identificar com 70% de exatidão pacientes com a doença (Thinkstock)
Os cães têm uma grande capacidade para detectar o câncer de pulmão pelo cheiro do hálito da pessoa doente. De acordo com a descoberta austríaca, o olfato apurado dos cachorros pode levar ao desenvolvimento de um "nariz eletrônico". A ferramenta ajudaria no diagnóstico precoce da doença, possivelmente estendendo a sobrevivência dos pacientes.
"Os cachorros não têm qualquer problema para identificar pacientes com tumores cancerígenos", diz Peter Errhalt, chefe do departamento de pneumologia do hospital de Krems (nordeste da Áustria) e um dos autores da descoberta. Os cães do estudo sentiram o cheiro de 120 amostras de hálito de pessoas doentes e saudáveis, e conseguiram identificar em 70% dos casos as que sofriam com câncer de pulmão.
Segundo Errhalt, o resultado se mostrou tão promissor que foi previsto um novo estudo de dois anos de duração, com amostras de 1.200 pessoas. O estudo austríaco coincide com outros testes realizados nos Estados Unidos e na Alemanha.
"O objetivo é determinar quais são exatamente os odores que os cachorros são capazes de detectar", diz Michael Muller, do hospital Otto Wagner de Viena, que colaborou com o estudo. Se esse objetivo for alcançado, os cientistas poderão construir uma espécie de "nariz eletrônico" para diagnosticar o quanto antes o câncer de pulmão e aumentar, assim, as possibilidades de sobrevivência dos pacientes.


(Com agência France-Presse)

Pesquisa treina cães para detecção do câncer de ovário

Diagnóstico

Espera-se que os animais consigam isolar, pelo olfato, um marcador químico que indique a presença do tumor maligno. Ainda não existe nenhuma forma de diagnóstico precoce desse câncer

Estudo sobre câncer na Filadélfia
A foto, tirada em 1º de agosto deste ano, mostra o pesquisador Jonathan Ball treinando o cachorro Tsunami. É a primeira etapa de um estudo que que encontrar um diagnóstico precoce para o câncer de ovário (AP)
Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, está treinando cães para detectar, pelo olfato, o câncer de ovário. Espera-se que os animais consigam identificar o cheiro de algum componente químico presente em amostras de sangue de pacientes com a doença. Ao encontrar o odor específico desse marcador químico, os cientistas pretendem desenvolver uma ferramenta de alta tecnologia que seja capaz, assim como os animais, de reconhecer o câncer.
O câncer de ovário não é o tumor ginecológico mais frequente entre as mulheres, mas é o mais agressivo. Isso porque ele é muito difícil de ser detectado e é aquele com a menor chance de cura — cerca de 3/4 dos casos desse tipo de câncer já estão em estágio avançado no momento do diagnóstico. Mesmo assim, as principais entidades médicas do mundo não recomendam exames de prevenção para a doença, que incluem uma análise de sangue e a ultrassonografia dos ovários em mulheres saudáveis, pois além de não reduzirem a mortalidade da doença, podem levar a cirurgias desnecessárias.
Segundo os responsáveis pela pesquisa, estudos anteriores já haviam mostrado que o câncer de ovário em estágio inicial altera compostos de odor no corpo. Além disso, outros trabalhos já demonstraram que cães são capazes de detectar outros tipos de câncer, como o de pulmão, por exemplo, pelo olfato.
Treinamento — Três cães estão sendo treinados no Centro de Trabalhos com Cachorros da Universidade da Pensilvânia. Para treiná-los, os pesquisadores estão usando amostras de sangue e de tecido doadas por pacientes com câncer de ovário. A finalidade é que os animais consigam identificar e sentir o odor de um marcador biológico da doença — ou seja, de uma substância química que indique a presença do câncer. Segundo a equipe, se os cães conseguirem isolar esse marcador, será possível desenvolver um dispositivo capaz de identificar o mesmo odor. 
"Se pudermos descobrir quais são esses marcadores químicos, qual é a impressão digital do câncer de ovário no sangue — ou, eventualmente, na urina — então poderemos desenvolver um teste automatizado menos caro e muito eficiente para detectar a doença a partir das amostras (de sangue e tecidos)", diz Cindy Otto, diretora do Centro de Trabalhos com Cachorros da universidade.