Senado
Senadores devem insistir em investigação dos negócios suspeitos da estatal, após ouvirem a presidente da petrolífera repetir justificativas de Dilma Rousseff
Laryssa Borges, de Brasília
A presidente da Petrobras, Graça Foster, durante audiência conjunta no Senado em Brasília, para prestar esclarecimentos sobre denúncias envolvendo a estatal (Fernando Bizerra Jr/EFE)
O longo depoimento de seis horas da presidente da Petrobras, Graça Foster, no Senado expôs, com detalhes ainda inéditos, a malsucedida operação de compra da refinaria de Pasadena, no Texas, e, apesar de a dirigente da estatal ter tentado transferir a culpa pelo aval da transação ao diretor exonerado Nestor Cerveró, a avaliação de senadores é a de que a CPI que poderá investigar a petroleira não foi sepultada. Aos parlamentares, Foster admitiu que a transação “não foi um bom negócio" e que, com o passar do tempo, tornou-se um “projeto de baixa probabilidade de retorno”. Mais: desde que desembolsou 1,25 bilhão de dólares pela refinaria no Texas, a estatal brasileira amargou prejuízo em todos os meses seguintes – os primeiros resultados positivos, ainda que tímidos, na casa dos 58 milhões de dólares, foram registrados no início deste ano.
“Olhando aqueles dados, não foi um bom negócio", admitiu Foster. "Não pode ser um bom negócio quando se tem que tirar dos resultados. Não há como reconhecer na presente data que tenhamos feito um bom negócio. Isso é inquestionável do ponto de vista contábil”, disse.
A oposição cobrou o aprofundamento das investigações: "A presidente Graça Foster reconheceu que a compra da usina de Pasadena foi um mau negócio. É importante reconhecer, mas não basta. É preciso que o governo diga quem pagará por esse enorme prejuízo", disse o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) após a audiência.
Na tentativa de relativizar os prejuízos da Petrobras no investimento da refinaria, Foster adotou o discurso de que o valor real pago pela belga Astra Oil à americana Crown, antiga dona da unidade de Pasadena, chega a 360 milhões de dólares, e não a 42,5 milhões de dólares, cifra que amplificaria o disparate do prejuízo da empresa brasileira. Para senadores que acompanharam o depoimento, Graça projetou o valor de 360 milhões de dólares incluindo também investimentos feitos pela Astra Oil, mas se omitiu propositadamente de falar quanto a estatal brasileira depositou na transação, o que permitiria uma comparação mais justa. Na avaliação dos parlamentares, ela ainda sinalizou que os recursos investidos em Pasadena não deverão ser recuperados.
"Pasadena não tem a prioridade que tinha há seis anos. Hoje temos petróleo no Brasil e não há mais prioridade em Pasadena”, disse ela. Juntos, desde a compra dos 100% da refinaria, apenas janeiro e fevereiro de 2014 deram resultados positivos na refinaria – 58 milhões de dólares. “Esse é o ano melhor para a refinaria de Pasadena por conta do petróleo mais leve. Nos períodos anteriores o resultado negativo foi desde o início”, relatou. De acordo com Graça Foster, a Petrobras recebeu propostas para vender a refinaria, mas diante dos sucessivos questionamentos sobre a transação que levou a estatal a ter 100% do empreendimento, ela não deve se desfazer do ativo por agora. “Essa melhor oferta [de venda] não cobre o que pagamos em Pasadena. Ela está fora do pacote de desinvestimento”, relatou.
Aos senadores, Graça Foster justificou a compra do complexo de Pasadena, como o fato de a refinaria estar localizada em um ponto estratégico de refino e logística nos Estados Unidos, com facilidades no transporte. A refinaria está às margens do Houston Ship Channel, canal por onde circula grande parte da produção do golfo. “É uma refinaria de 100.000 barris por dia, localizada em um dos principais 'hubs' de refino nos Estados Unidos. Pasadena está na beira do Houston Ship Channel, o que favorece o transporte de carga. Tudo isso traduz para a refinaria uma grande importância dentro do maior consumidor de combustíveis, que são os Estados Unidos”, alegou a presidente da Petrobras.
Jargão – Ao depor, Graça Foster adotou linguajar técnico para justificar as operações da Petrobras e evitou comentar a possibilidade de instalação de uma CPI para apurar a gestão na estatal ou as decisões políticas que mantiveram Nestor Cerveró nos quadros da estatal. Assim como a presidente da República, Dilma Rousseff, Foster responsabilizou a antiga diretoria da Área Internacional da petroleira pelo "parecer falho" que omitia as cláusulas Marlim e Put Option na compra de Pasadena. A primeira cláusula previa à belga Astra Oil um lucro de 6,9% ao ano, independentemente das condições de mercado, enquanto a segunda obrigava a empresa brasileira a comprar a outra metade da refinaria caso houvesse desentendimento com a parceira da Bélgica.
“Em nenhum momento do resumo executivo ou da apresentação de power point da Área Internacional foram citadas duas variáveis muito importantes: não se falou no Put Option nem deMarlim. Foi um resumo executivo sem a citação às duas clausulas contratuais completas, importantes”, relatou. “É obrigação de quem leva para a diretoria apontar pontos fortes e frágeis para a operação. Não existe atividade segura 100%”, completou ela. Sobre o destino de Cerveró, realocado na BR Distribuidora e só exonerado após a revelação de que houve um parecer falho, ela limitou-se a dizer que ele, de alguma forma, foi punido porque foi “rebaixado” para uma “diretoria muito mais restrita”.
Quando os debates ganharam contornos mais políticos, com senadores de oposição acusando a Petrobras de ser uma “quitanda” ou estar envolta em um “abismo ético” por ter um de seus ex-diretores, Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal, Graça Foster evitou polemizar e saiu em defesa da petroleira. “A Petrobras não é uma quitanda. [Sobre indicações políticas] Não tenho leitura política e não ouso fazer qualquer interpretação do que não tenho elementos ou experiência para fazer”, disse.
“Faxina, não tem isso na Petrobras, não existe essa proposta. Não é o propósito da Petrobras. O propósito é intensificar a governança da companhia e apurar o que tem que ser apurado. O que a gente ter é ter menos surpresas e menos notícias não positivas para a imagem da nossa companhia”, afirmou ela.