sexta-feira 13 2015

As falas irresponsáveis dos petistas e o “medo do confronto de rua”

Leio na Folha que o governo teme que haja confrontos nas ruas nesta sexta. Entidades paragovernamentais como MST, CUT e UNE marcaram manifestações em 23 Estados em defesa do, deixem-me ver como escrever, statu quo. Elas estão no poder e enxergam nas manifestações marcadas para o dia 15 uma ameaça à sua hegemonia. E qual a razão do temor? Eventuais escaramuças serviriam de combustível adicional para o protesto do dia 15. Tomara que não aconteça nada de excepcional nesta sexta. Os petistas — incluindo o Palácio do Planalto — serão os principais responsáveis por eventuais escaramuças. Já chego lá.
Oficialmente, os manifestantes pró-governo vão marchar em defesa da Petrobras. Que pena que eles não tenham conseguido, no passado, defendê-la dos ladrões que foram postos lá pelo petismo, não é? O que querem mesmo é criar uma rede de proteção para Dilma, o que se mostra a cada dia mais difícil. A presidente iria, por exemplo, nesta sexta a Belo Horizonte. Desistiu da viagem para ficar longe das vaias. Volto ao ponto.
Apostam na violência os que insistem em acusar os organizadores e apoiadores da manifestação de domingo de incitadores do ódio. Apostam na violência os que chamam de golpe uma mera petição ao poder público — impeachment ou qualquer outra coisa. Apostam na violência os que tentam deslegitimar os que protestam, pespegando-lhes a pecha de “elitistas” e de “reacionários”. Apostam na violência os que reivindicam para si o monopólio da representação popular e não reconhecem como legítimas forças que não formem com suas fileiras. A propósito: a única manifestação violenta nessa fase de declínio do PT e de Dilma foi protagonizada por brutamontes à porta da ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Apostam na violência aqueles que convocam exércitos, ou que prometem botá-los na rua, para combater adversários políticos, a exemplo do que fizeram, respectivamente, Luiz Inácio Lula da Silva e João Pedro Stedile.
Pepe Vargas, este inefável ministro das Relações Institucionais, espalha por aí que sente cheiro da “elite golpista”… Ah, entendo! Elite progressista era aquela parceria entre petistas e empreiteiras, não é mesmo?, para o bem geral do… partido!
Num vídeo meio esquizofrênico, Rui Falcão, presidente do PT, defende o direito à livre manifestação (que bom que ele respeita a Constituição!), desde que, segundo diz, não se atinja a autoridade constituída. Ah…  Collor, em 1992, era autoridade constituída, pois não? E o PT foi pra rua. Parece que Rui Falcão tem a ambição de ditar a pauta da oposição. Compreendo: definir a do PT deve estar um inferno.
Ah, sim: repetindo Lula, Falcão afirmou que os petistas não devem “abaixar a cabeça”. Entendo! É preciso, no entanto, um motivo para erguê-la, não é? Qual o presidente do PT oferece? Essa gente, definitivamente, perdeu o eixo e o que lhe restava de juízo.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

Cantora paulista Inezita Barroso tem sua vida corajosa retratada por Arley Pereira



Mário de Andrade de saias”, Inezita Barroso é a estrela rainha da música sertaneja brasileira. Perto dela, Paula Fernandes, Maria Cecília e Roberta Miranda são satélites. A conta bancária pode até ser maior, mas nenhuma dessas “majestades sabiás” é páreo para Ignez Magdalena Aranha de Lima, de 88 anos – apresentadora do programa Viola, minha viola (TV Cultura) há 33. Essa “caipira” filha de quatrocentões paulistas é uma das mulheres mais valentes do Brasil.

No livro Inezita Barroso – A história de uma brasileira (Editora 34), o jornalista Arley Pereira (1935-2007) revela uma desbravadora, que lutou por suas convicções muito antes de o feminismo virar moda. Conta ele que já nos anos 1920 a menininha bem-nascida preferia comandar a turma de garotos ao mundo cor-de-rosa dos laços de fita. Na fazenda, a jovem sinhazinha preferia a companhia da caipirada aos saraus de piano. Só passava as férias no meio dos peões.

Aos 7 anos, Ignezinha – ainda com g – ganhou o primeiro violão. Mas ela gostava mesmo era de viola – coisa proibida para mulheres. Nas suas festas de aniversário, o presente era ouvir o compositor Raul Torres. Amigo de seu pai, Bico Doce vinha tocar para ela. Bom ouvido, a aniversariante aprendia com o mestre as sutilezas da arte caipira.

Bela morena, a adolescente tomava chá das cinco no elegante Mappin, dedicava-se à natação (era aluna de Paul, pai da campeã Maria Lenk). No tradicional Clube Paulistano, conheceu o marido, Adolfo Cabral Barroso. Graças a ele, enturmou-se com estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Ficou amiga dos atores Paulo Autran e Renato Consorte. Cunhada de locutor da Rádio Tupi, a universitária Inezita, estudante de biblioteconomia, juntou-se para sempre às rodas boêmias e artísticas.

A senhora Adolfo Barroso participava de recitais e peças do Teatro Brasileiro de Comédia, o famoso TBC, cantou para o astro Vittorio Gassman (ele quis levá-la para a Europa), tornou-se amiga da fadista Amália Rodrigues. A estreia no rádio veio em 1950. A moça sorridente fez shows na famosa boate carioca Vogue, mas se tornou artista profissional apenas em 1951, em recital em Pernambuco, para onde viajou com o marido. O convite veio do maestro Capiba, o famoso autor de frevos. 

A partir da temporada na Rádio Clube do Recife, a bela morena não parou de deslumbrar plateias. Apresentava-se nos microfones da Record e da Tupi, foi estrela da nascente TV, virou estrela de cinema e levou o Troféu Saci por seu papel no filme Mulher de verdade. Era artista, profissão malfalada, mas jamais lhe botaram cabresto.

De lá para cá, foram mais de 80 discos. Um deles completou seis décadas este ano e dá a medida do quilate de Inezita. De um lado, ela gravou Moda da pinga, aquele clássico do “co’a marvada pinga é que eu me atrapaio”; do outro estava a estreante Ronda, ícone da dor de cotovelo composto por Paulo Vanzolini. Nos anos 1950, a moça fina cantava na noite, criava a filha e se sustentava sem ligar para quem olhava torto para “a desquitada”. Inezita não limitava seu repertório à música de raiz. Aracy de Almeida não gostou de ver a “grã-fininha mascarada”, de quem se tornaria amiga, exibindo a bela voz em clássicos de Noel Rosa.

Microfones e estúdios eram pouco para Inezita: em 1957, ela se entusiasmou pelo jipe Willys. A bordo de um deles, com dois “copilotos” que não sabiam guiar, a estrela dirigiu por mais de seis mil quilômetros entre São Paulo e o Nordeste. Tal qual Mário de Andrade, recolheu melodias, letras, versos, instrumentos musicais e tesouros da cultura popular. Folclorista diplomada na estrada, nunca mais abandonou a lida. Pesquisou a cultura rural, apurou ainda mais o ouvido para o Brasil profundo.

Nos anos 1960, Inezita sentiu o golpe, mas não se deixou abater quando os meios de comunicação se tornaram templo do pop e da cultura jovem. A viola foi desbancada sem dó pela guitarra elétrica. Contratos à míngua, ela chegou a queimar seu querido violão amarelo na churrasqueira de casa. Começou a dar aulas de música – viu-se obrigada a ensinar iê-iê-iês de Roberto –, abriu um restaurante no Brooklin, chamado Casa de Inezita, onde servia comida caseira e cantava para a freguesia. Foi à luta, mas nunca abandonou a sua música.

Em 1980, a cantora passou a comandar uma trincheira da cultura popular brasileira: o programa Viola, minha viola, transmitido pela TV Cultura. Ali, sertanejo universitário e dupla famosa e moderninha não tinham vez. Astros são gente do quilate de Pena Branca e Xavantinho (então desconhecidos, ganharam de Inezita estímulo para prosseguir – e estourar) e da genial Helena Meirelles. A violeira chegou à televisão graças a Inezita – e muito antes de se tornar famosa nas páginas da americana Guitar player, bíblia dos instrumentistas.

No rádio, a apresentadora comandou vários programas dedicados à cultura popular. Almir Sater, Sérgio Reis, Renato Teixeira, Roberto Correia (com quem ela gravou dois discos) e Tonico e Tinoco são alguns de seus companheiros de microfone. Patativa do Assaré deu a Inezita sua última entrevista.

Bibliotecária, ela guarda um verdadeiro museu de folclore em dois imóveis. Aos 55 anos, virou professora do Conservatório de Pouso Alegre, no Sul de Minas, ensinando coisas do Brasil à garotada. Em vez de provas caretas, desafiou: vamos fazer desfile de carro de boi? A moçada teve de se virar, mas aqueles carrões de madeira ressurgiram desfilando pelas ruas e arrancando lágrimas dos antigos. Em Mogi das Cruzes (SP), onde ela ensinou na faculdade, estudantes se desdobraram para reproduzir uma festa de São João como as de antigamente. Com mastro, cartomante e até cigano...

Aos 88 anos, a mestra continua na lida. Dê uma espiada em www.inezitabarroso.com.br: lá está o contato para shows – são quatro números de telefone! Entretanto, quem quiser assistir in loco à gravação de Viola, minha viola vai ter de esperar. A função deste ano já se encerrou, mas em fevereiro começa a temporada 2014. Inezita – a nossa Hebe caipira – estará lá, firme e forte. Com aquele sorrisão do tamanho do Brasil.

INEZITA BARROSO – A história de uma brasileira
. De Arley Pereira
. Editora 34 
. 207 páginas, R$ 44

Ângela Faria - Redação EMPublicação:07/12/2013 00:13Atualização:09/12/2013 14:21

PF vai exigir imagens de hotel para investigar caixa dois de Cabral


Ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB) deve ser interrogado em até 60 dias. Delator do petrolão, Paulo Roberto Costa disse ter levantado 30 milhões de reais em doações clandestinas para campanha de 2010

Por: Daniel Haidar - Atualizado em 
CAIXA DOIS - Ex-governador do Rio, Sérgio Cabral é investigado pelo STJ no âmbito da Operação Lava Jato(Frame/Folhapress)
A Polícia Federal vai solicitar ao Hotel Caesar Park, em Ipanema, Zona Sul do Rio de Janeiro, imagens e registros de entrada e saída do local no primeiro semestre de 2010. O objetivo é localizar provas documentais do encontro do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa com o ex-secretário estadual da Casa Civil do Rio de Janeiro Régis Fichtner. O caso é investigado porque Costa afirmou em depoimento, no âmbito de acordo de delação premiada, que se encontrou com Fichtner no hotel de Ipanema para tratar da arrecadação de 30 milhões de reais destinados a caixa dois da campanha de reeleição do então governador Sérgio Cabral (PMDB), e do vice Luiz Fernando Pezão (PMDB), em 2010.
Os recursos foram angariados com empresas contratadas na construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), da Petrobras.O inquérito para investigar se houve corrupção e lavagem de dinheiro foi aberto nesta quinta-feira por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A vice-procuradora-geral da República, Ela Wiecko, solicitou que a Polícia Federal interrogue em até 60 dias o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-secretário Régis Fichtner e os executivos supostamente envolvidos nas doações clandestinas.
Entre os empresários, devem ser ouvidos Cláudio Lima Freire, da Skanska; José Aldemário Pinheiro Filho, da OAS; Ricardo Pessoa, da UTC; César Luis de Godoy Pereira, da Alusa; Ricardo Ourique Marques, da Techint; e Rogério de Araújo e Márcio Faria da Silva, da Odebrecht. Pessoa e Pinheiro Filho estão presos na carceragem da Polícia Federal de Curitiba desde 14 de novembro.
Já o atual governador Luiz Fernando Pezão pode prestar esclarecimentos por escrito, se tiver interesse. Pezão possui foro privilegiado e qualquer depoimento formal seu precisa ser autorizado pelo STJ, o que não foi requisitado até agora. Se, posteriormente, houver apresentação de denúncia contra ele, só será aberta ação penal se for aprovada por maioria na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde o governador goza de apoio majoritário. Uma eventual blindagem pelos deputados estaduais preocupa o Ministério Público.
Doações de campanha - O Ministério Público também requisitou que a Polícia Federal faça a análise das doações oficiais realizadas para a campanha de Cabral e Pezão em 2010. Como destaca a vice-procuradora-geral da República Ela Wiecko no pedido de investigação, houve contribuições oficiais das empresas, embora, segundo a denúncia do delator, também tenham sido realizadas contribuições clandestinas. Alusa (500.000 reais), Odebrecht (200.000 reais) e UTC (1 milhão de reais) doaram ao comitê financeiro único do PMDB do Rio de Janeiro. Já a OAS doou 400.000 reais ao comitê financeiro da Direção Estadual do PMDB e 1 milhão de reais ao Comitê Financeiro da chapa Sérgio Cabral/Luiz Fernando Pezão.
Mesmo as doações oficiais são investigadas porque recursos desviados da Petrobras eram repassados aos políticos e partidos na forma de contribuições registradas no TSE, de acordo com as revelações dos delatores da Operação Lava Jato.Todas as diligências foram autorizadas em decisão do ministro Luís Felipe Salomão, responsável pelos desdobramentos da Operação Lava Jato no STJ.
De acordo com depoimento de Paulo Roberto Costa, ele foi chamado diretamente pelo então governador Sergio Cabral para discutir contribuições de campanha à reeleição. No encontro, estavam presentes Pezão e o então secretário Regis Fichtner. Depois dessa primeira reunião, Costa disse que voltou a se encontrar com Fichtner no hotel Caesar Park, em Ipanema. Coube ao ex-diretor da Petrobras solicitar dinheiro para o caixa dois do peemedebista com empreiteiras que atuavam no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), como a Skanska, a Alusa e a Techint. Segundo o delator, o consócio Conpar, formado pela Odebrecht, UTC e OAS, desembolsou sozinho metade do caixa dois: 15 milhões de reais.
Em nota, Fichtner nega que tenha se encontrado com Costa para tratar de doações clandestinas. Pezão e Cabral também negam o pedido.