Movimentos que promovem novos atos no domingo, 26, em
defesa da Lava Jato incluem na pauta dos protestos a lista partidária fechada e
novo fundo público
BRASÍLIA - A investida do Congresso e de representantes
do Judiciário pela aprovação de uma reforma política que inclua a adoção de um
sistema de lista partidária fechada e de um fundo público eleitoral entrou na
pauta dos protestos de rua marcados para o próximo domingo, 26, em dezenas de
cidades do País. Os grupos que lideraram as manifestações pelo impeachment de
Dilma Rousseff voltam a promover um ato nacional em defesa da Lava Jato.
As mudanças propostas no sistema eleitoral são
consideradas uma reação ao avanço da operação, na iminência da divulgação da delação
a Odebrecht.
Foto: ADRIANO MACHADO/REUTERS
Maia e Eunício
Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do
Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE)
A discussão encabeçada pelos presidentes da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) – que tem a
simpatia do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar
Mendes –, prevê que o eleitor passe a votar no partido, cuja cúpula definirá
uma lista dos candidatos que serão eleitos. A sigla que tiver mais votos
conseguirá o maior número de cadeiras, que serão ocupadas pelos primeiros da
lista.
Hoje, o eleitor vota diretamente no candidato. Para
valer nas eleições de 2018, novas regras teriam de ser aprovadas no Congresso
até setembro deste ano, pelo princípio da anualidade. A ideia também é criar um
fundo eleitoral com recursos públicos para bancar campanhas. No caso da lista
fechada, a crítica é de que a mudança visa a garantir foro privilegiado a
deputados.
‘Copiar e colar’. “A lista fechada é antidemocrática e
serve para preservar os caciques. Eles estão alinhados com isso, mas as bases
não”, disse ao Estado o líder do Vem Pra Rua, Rogério Chequer. Segundo ele, o
repúdio ao aumento do financiamento público a partidos é ponto convergente
entre os grupos que se reunirão na Avenida Paulista, em São Paulo, e em outras
cidades.
A líder do NasRuas, Carla Zambelli, segue na mesma
linha. “A população não entendeu que vai deixar de votar no parlamentar para
votar na legenda. Isso é uma tentativa de copiar e colar os mesmos políticos.
Vão deixar na lista apenas os que precisam do foro.”
Foto: Nilton Fukuda|Estadão
O líder do Movimento Brasil Livre, Kim Kataguiri
O líder do Movimento Brasil Livre, Kim Kataguiri
Apesar de ser ligado ao DEM, o Movimento Brasil Livre
(MBL) está em campanha contra a lista fechada proposta por Rodrigo Maia. “Com a
lista fechada não conseguimos escolher nossos candidatos. Ela centraliza poder
nos caciques partidários. É retornar ao coronelismo. A proposta é esdrúxula”,
disse, em vídeo na internet, Kim Kataguiri, um dos líderes do grupo.
A última manifestação dos grupos pró-impeachment
aconteceu em 4 de dezembro do ano passado. O número de participantes foi menor
que nas edições anteriores, que chegaram a reunir 2 milhões de pessoas. Atos em
São Paulo, Brasília, Rio e outras capitais defenderam a Lava Jato e protestaram
contra mudanças no pacote anticorrupção.
‘Falido’. Nesta segunda-feira, 20, em Brasília, em um
seminário sobre sistemas eleitorais, líderes políticos e do Judiciário voltaram
a defender mudanças. O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal e
ex-presidente do TSE, disse que o sistema brasileiro “está falido”. Ele
defendeu o modelo de lista fechada como um “teste provisório”.
“Esse (atual) sistema está falido. Ele leva à
possibilidade de compra de votos, a uma fragmentação política cada vez maior no
sentido de um maior número de partidos sendo criados, isso leva a um governo de
cooptação, e não de coalização. Temos de repensar e mudar esse sistema o quanto
antes.”
O relator da comissão da reforma política na Câmara,
Vicente Cândido (PT-SP), disse que deve apresentar relatório em 4 de abril,
propondo lista fechada nas eleições de 2018 e 2022, para uma transição. “É
fortalecer os partidos e acreditar que não há democracia sem partido político”,
disse.
Maia e Eunício, alvos da Lava Jato, reafirmaram ser a
favor de mudanças. “Estamos abertos e com disposição de alterar, se possível,
as leis até setembro, um ano antes (das próximas eleições), como determina a
lei”, disse o presidente do Senado no evento.
“Espero que a gente possa ter um novo sistema eleitoral
para o Brasil em 2018”, afirmou Maia durante agenda em São Paulo. “Defendo e
tenho defendido o da lista pré-ordenada pelo financiamento público.” /
COLABOROU DANIEL WETERMAN
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,reforma-politica-vira-alvo-de-manifestacao-de-rua,70001707574