terça-feira 25 2012

Maria Bethânia - Eu Velejava Em Você

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Fauzi Arap


Fauzi Arap

Aprendiz de feiticeiro
O diretor teatral e escritor Fauzi Arap conta como experiências com LSD e estudos de Jung e de astrologia o ajudaram a chegar mais perto de Deus
MARTA GÓES
Não é comum que o mesmo diretor seja capaz de encenar um show de Maria Bethânia tão bem quanto um drama de Plínio Marcos (Navalha na carne) ou uma comédia de Juca de Oliveira (Caixa 2). E que esse diretor tenha começado a vida estudando Engenharia na Escola Politécnica da USP o torna um tipo ainda mais intrigante. Mas isso é apenas uma parte da história de Fauzi Arap, 60 anos, ex-ator, diretor teatral, dramaturgo, estudioso de astrologia e escritor. Em busca de autoconhecimento, Fauzi, que se define como um aprendiz, viveu experiências com LSD, nos anos 60, estudou Jung obsessivamente e trabalhou com a psiquiatra Nise da Silveira. Embora contemporânea da geração flower power, essa história, contada no livro Mare nostrum (Editora Senac, 265 págs., R$ 28) não é um exemplo do desbunde da época – descreve, em vez disso, um caminho angustiado, místico e profundamente responsável. O LSD saiu de sua vida quando Fauzi quis dar o exemplo a pessoas desestruturadas pelo uso deslumbrado da droga e tentavam aprisioná-lo no papel de guru. Para desgosto dos espectadores que o viram representar nos anos 60, em peças como Pequenos burgueses, de Gorki, Fogo frio, de Benedito Ruy Barbosa, e O inspetor geral, de Gogol, ele deixou para sempre o palco, por não querer ficar reduzido à imagem do ator famoso. O teatro e a astrologia são hoje suas ferramentas. "Conhecer o seu lugar no universo é chegar mais perto de Deus", diz.

ISTOÉ -
Como você classifica seu livro?
FAUZI ARAP -
Inicialmente, pensava em só autorizar a publicação depois da minha morte. Mas quando dirigi A quarta estação, há quatro anos, o Juca (de Oliveira) descobriu que eu escrevia à máquina e me obrigou a escrever no computador. Então comecei a passar o livro a limpo, e achei que estava bom, que estava claro, que podia ser útil a outras pessoas. Menos até àquelas que passaram pelas experiências da contracultura e das drogas nos anos 60 e 70 e mais a quem nunca ouviu falar nisso. Acho que meu livro talvez seja um testemunho de fé. 
 
ISTOÉ -
Fé em quê?
FAUZI ARAP -
Na capacidade do homem de desenvolver a sua espiritualidade, encontrar seu lugar no universo. Para algumas correntes do espiritualismo como a teosofia, criada pela escritora russa Helena Petrovna Blavatsky (1831-91), por exemplo, o mundo seria originalmente um campo energético que se poderia chamar de Deus e o homem seria uma alegoria incorpórea de uma raça. A expulsão do paraíso seria uma necessária condenação à materialidade. A meta de Deus seria que o homem voltasse a conquistar, pela autoconsciência, a sua espiritualidade e a sua integração com o universo. Para os teosóficos, nós estaríamos vivendo um pico de materialismo e prestes a retomar uma ascensão. 
 
ISTOÉ -
Qual a sua afinidade com a Nova Era?
FAUZI ARAP -
Tem muita coisa interessante, talvez ela represente os primeiro passos, a preparação para um salto de consciência grupal, aquariano. Mas talvez pelo meu caminho ter passado pela psicanálise e ter sido tortuoso, nem sempre consigo me sentir identificado... Eu não consigo ser tão puro. Alguns caminhos que vivi não me permitem ser tão inocente. 
 
ISTOÉ -
Qual a sua afinidade com Paulo Coelho?
FAUZI ARAP -
 Eu não tenho lido Paulo Coelho, mas me sinto amigo dele. Quando dei aula de teatro no Rio de Janeiro, em 1965, nós tínhamos muitos amigos comuns. Foi ele, aliás, quem batizou a minha peça Pano de boca. Em 1975, a Hildegard Angel, que era atriz, pretendia produzir minha peça. Eu tinha uns 12 títulos e estava indeciso. Ele escolheu para mim. Eu acompanhei com interesse todo o seu trabalho ao lado do Raul Seixas, e escolhi uma de suas músicas, Gita, para que Bethânia cantasse e faz sucesso até hoje. Li alguma coisa do Alleister Crowley, que era o guru dos dois, Raul e Paulo, à época da sociedade alternativa. Mas depois de algumas experiências que os assustaram, parece que o Paulo voltou ao catolicismo. Não tenho uma plena empatia com sua literatura, mas eu me identifico com o que ele prega e acredito piamente em sua integridade.
ISTOÉ -
Pode-se dizer que você possui uma sensibilidade especial?
FAUZI ARAP -
Eu não nasci bem conectado ao corpo. Desde menino eu tinha uma espécie de consciência meio separada. Às vezes, jogando pingue-pongue, eu saía da competição e me via jogando. Depois vim a saber que a repetição é uma das técnicas da meditação para atingir outros estados de consciência. 
 
ISTOÉ -
Sobre seu livro, a atriz Myriam Muniz resumiu, brincando: "Você tomou ácido e encontrou Deus. Também quero." Isso é verdade?
FAUZI ARAP -
 É uma simplificação, claro. Deus sempre está lá para todo mundo, até para os desatentos. Aprendi que encontrá-lo é só uma questão de chamar corretamente. Pode ser pela oração, pode ser pela meditação, pelo que você preferir. Ele atende por todos os nomes
 
ISTOÉ -
Você pode ser definido como um iniciado?
FAUZI ARAP -
 Eu não passo de um aprendiz. O universo tem seus arquivos, que são chamados de akasha, pelos hindus, e de insconsciente coletivo, por Jung. E para consultá-los você tem que se habilitar para isso, preparar-se. No meu caso, tive alguns contatos esporádicos, facilitados quimicamente pelo LSD. Houve um momento, nos anos 60, em que eu estudava Jung adoidado, tomava ácido e refletia muito e, sobretudo, tentava ajudar os pacientes da Casa das Palmeiras, criada pela psiquiatra Nise da Silveira, no Rio. Naquele período, tenho a impressão que me deixaram dar uma espiadinha. 
 
ISTOÉ -
E você sempre acreditou na existência de Deus?
FAUZI ARAP -
 A certa altura, eu não sabia mais. Embora na infância eu fosse religioso e embora a educação religiosa fosse uma coisa horrorosa, que ameaçava com o inferno o menino que apenas ouvisse um palavrão, mesmo assim eu tentava me enquadrar. Quando eu entrei na faculdade, na época em que Sartre veio ao Brasil, como toda a minha geração, eu aderi ao pensamento marxista, procurava ver tudo só pela dimensão política e econômica. Mas o marxismo até que serviu para me limpar dos resíduos daquela educação religiosa opressiva.
 
ISTOÉ -
E aí alguém lhe falou sobre o ácido lisérgico...
FAUZI ARAP -
Como eu conto no livro, uma amiga atriz me levou a um psiquiatra que trabalhava com ácido no consultório. Eu estava em busca de me conhecer, de procurar o meu próprio centro. E isso tem tudo a ver com se aproximar de Deus, mas eu não sabia. Já da primeira vez, vivi uma espécie de êxtase, como se eu tivesse saído do meu corpo. Embora no começo eu tenha associado esse estado apenas ao fato de ter experimentado o ácido, depois pude me lembrar de que, como ator, em alguns exercícios teatrais dirigidos por (Augusto) Boal, quando eu conseguia me soltar completamente me vinha um bem-estar parecido. 
 
ISTOÉ -
O que é esse bem-estar?
FAUZI ARAP -
 É uma espécie de êxtase, porque parece independer da sua responsabilidade e da sua vontade. E há um sentimento de que tudo está certo, não se duvida de nada nem se critica nada. Esses momentos não duram para sempre, os livros e os sábios nos ensinam, e acontecem poucas vezes na vida. Mas a memória deles permanece como uma referência que te guia e te alimenta. É impossível não sentir nostalgia desse sentimento de plenitude e o desejo de repeti-lo se parece com um vício.
 
ISTOÉ -
De que maneira o teatro pôde lhe proporcionar tamanho êxtase? .
FAUZI ARAP -
 Quando comecei como ator eu era muito tímido e no Oficina eles eram meio reticentes a meu respeito. Nos laboratórios do Boal, eu descobri uma fonte de inspiração e uma estrutura que dava suporte à minha espontaneidade. Numa das peças, Fogo frio, do Benedito Ruy Barbosa, eu conseguia representar cada dia melhor, eu sentia um barato representando. Fui ficando tão afinado, tão pleno que assistia ao meu corpo fazer o gesto correto como se não fosse eu que estivesse fazendo. Passei do último para primeiro da classe. No momento de pico dessa experiência era como se minha consciência estivesse dois palmos acima da minha cabeça, assistindo à representação e por duas ou três vezes me senti fora do meu próprio corpo. Quando vivi com o ácido, esse mesmo estado de dualidade de consciência já era meu conhecido
ISTOÉ -
Então a interpretação também o fez encontrar Deus?
FAUZI ARAP -
Eu não pensava em Deus. Nós éramos marxistas. A gente estudava com o Boal as leis da dialética, comprávamos uma quantidade de livros que eu nem cheguei a ler, Lúkacs de capas lindas. Na verdade, o que esses estudos me deram foi um instrumento de penetração no texto, uma nova ferramenta de compreensão. Só mais tarde, com outras leituras sobre o espiritualismo, eu descobri que o método Stanislávsky (técnica de interpretação criado no começo do século pelo ator russo Constantin Stanislávsky), que era a base do método do Boal, é absolutamente análoga a muitas técnicas da ioga, como a concentração, a visualização. Talvez tenha sido por isso que minha entrega e dedicação plenas tenham resultado algumas vezes naquela sensação de sair do corpo. 
 
ISTOÉ -
E você enterrou para sempre o marxismo?
FAUZI ARAP -
Por muitos anos. Mas percebi que o espiritualismo mais alto recoloca a questão do marxismo ao afirmar que sozinho você não atinge a plenitude. Chegar sozinho ao êxtase é coisa da magia negra, em que você pode chegar ao nirvana, mas não ao infinito. A magia branca é absolutamente altruísta. Os verdadeiros magos são pessoas que agem esquecidas de si e compartilham tudo. Chegam a adiar a própria ascensão para primeiro ajudar aos outros. Esse é o verdadeiro sentido daquela frase "os últimos serão os primeiros".
ISTOÉ -
Você conta em seu livro que ao ler Paixão segundo GH, de Clarice Lispector, teve uma prova de que não era louco. Que tipo de experiência você compartilhou com Clarice?
FAUZI ARAP -
Na época do show Rosa dos ventos, Clarice me levou a uma missa de páscoa Rosacruz que me descortinou um mundo. Era numa casinha modesta, com umas 20 ou 30 pessoas numa sala e os oficiantes. Quando começou, eu senti uma certa opressão, mas logo experimentei um intenso bem-estar. Era como se dali irradiasse algo como um ar-condicionado. Mas Clarice, pelo contrário, pingava de suor a ponto de termos de sair no meio. Eu acho que Clarice era um pouco vidente e ela confundia isso com loucura. Ela devia estar enxergando mais do que eu naquela cerimônia e não suportou a carga. Voltei muitas vezes lá. Para mim, era uma espécie de casa bem-assombrada.
 
ISTOÉ -
Por que você interrompeu a experiência de autoconhecimento via LSD?
FAUZI ARAP -
Meu projeto, ao me mudar para o Rio, na época do Arena, era apenas estudar Jung e trabalhar com a Nise da Silveira. Mas como o primeiro show da Bethânia, Rosa dos ventos, estourou, eu fiquei muito em evidência e caí na armadilha de tentar ajudar as pessoas, de corresponder à expectativa delas de que eu fosse uma espécie de guia espiritual. Minha força eram justamente o isolamento e a reflexão que o LSD me propiciava e eu me deixei invadir pelos anseios dos outros. Assumi uma tarefa acima das minhas forças e fui ingênuo quanto às verdadeiras intenções das pessoas que me cercavam. Às vezes não era nada espiritual o que as fazia se aproximar de mim, era apenas a fantasia de que eu serviria de ponte para um trabalho no teatro ou alguma coisa assim. Olhando de hoje, vejo que eu me comportei como um super-herói.
 
ISTOÉ -
E a gota d'água foi atribuírem a você o papel de vidente, que teria previsto o desastre com o avião de Leila Diniz...
FAUZI ARAP -
 Eu tinha organizado uma reunião para tentar dar alguma referência àquelas pessoas que me procuravam e que estavam muito perdidas. Aí alguém me perguntou se era verdade que eu tinha tido um pressentimento sobre um desastre com o avião em que a Marília Pêra ia viajar nos dias seguintes. Naquele momento eu percebi o quanto tinha me desviado do meu caminho e que, se eu respondesse, nunca mais eu ficaria livre daquele papel de super-herói, e eu tive uma explosão. Foi uma explosão tão violenta e me fez tão mal que acho que nos últimos 20 anos eu não fiz nada além de me recuperar do trauma daquele momento.
ISTOÉ -
E você se recuperou?
FAUZI ARAP -
Fauzi – Eu me reeduquei para caber no mundo como ele é. Mas também caí em outra armadilha, que foi me condenar a uma excessiva caretice, a ficar mais crítico e a duvidar de tudo. Eu parei o LSD para dar o exemplo. Também não fumei mais. E me reencontrei com a minha impaciência, com a minha exasperação. Eu tentei me aproximar de algumas fraternidades, de grupos que cultivam um trabalho espiritual, mas compreendi que sou diferente. As fraternidades são rígidas, fechadas. Descobri que dominando uma linguagem mais aberta, sendo artista, eu posso ser muito mais útil.
 
ISTOÉ -
Hoje a arte é seu único caminho para o autoconhecimento?
FAUZI ARAP -
A astrologia me ofereceu um sistema que atende ao meu anseio de liberdade individual. É uma coisa que eu adoro. Eu sou uma pessoa original e preciso de um espaço individual. Eu era presa de chantagens, do medo de dizer não. Não sabia me proteger. A astrologia é um filtro para me proteger disso e um instrumento de aceitação mais plena do outro.
 
ISTOÉ -
Hoje ainda lhe custa muito ser uma pessoa adaptada às regras da maioria?
FAUZI ARAP -
 Começar a escrever e a dirigir foram maneiras de me adaptar ao mundo como ele é. E aprendi a não criticar superficialmente. Os testemunhas de Jeová, por exemplo, que pagam o dízimo. A gente não paga a sessão de análise para tentar se sentir bem? E análise é tão cara...É claro que pessoalmente eu prefiro o analista ou, sei lá, a ioga àquela aeróbica que passa na televisão, mas eu me digo: aeróbica é bom para um outro tipo de pessoa.
 
ISTOÉ -
Você tem um notório horror a ser fotografado. Por que isso acontece?
FAUZI ARAP -
A luz forte sempre me incomodou e eu detesto me sentir dirigido. Além do que meu ideal é não ser o garoto-propaganda de mim mesmo. Adoraria não ir ao Jô, não aparecer em revistas. Será uma estupidez da minha parte? As coisas, no caso o livro, deveriam ser verdade pelo que elas são, sem necessidade de você ficar falando. Eu sou um apaixonado por um tipo de anonimato, pelo não ser, para poder vivenciar o outro. Isso me dá grande prazer. Sinto mais desejo de sumir, de migrar para o interior de mim
ISTOÉ -
Você tem um notório horror a ser fotografado. Por que isso acontece?
FAUZI ARAP -
A luz forte sempre me incomodou e eu detesto me sentir dirigido. Além do que meu ideal é não ser o garoto-propaganda de mim mesmo. Adoraria não ir ao Jô, não aparecer em revistas. Será uma estupidez da minha parte? As coisas, no caso o livro, deveriam ser verdade pelo que elas são, sem necessidade de você ficar falando. Eu sou um apaixonado por um tipo de anonimato, pelo não ser, para poder vivenciar o outro. Isso me dá grande prazer. Sinto mais desejo de sumir, de migrar para o interior de mim

MARIA BETHÂNIA - SARAU - 2ª PARTE _11-05-2012.avi

Três Brasileiras!

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Dona Canô in memoriam - Caetano Veloso e Dona Canô.

:)

Dois cariocas que deixam São Sebastião do Rio de Janeiro bem feliz


20/01/2011 - 15:35 atualizado
Estão aí dois cariocas que devem deixar São Sebastião do Rio de Janeiro (seu dia é comemorado nesta quinta-feira (20/11) muito feliz por ser padroeiro desta cidade, às vezes tão maltratada, tão falada, tão festejada, tão criticada, tão amada… Millôr Fernandes e Fernanda Montenegro em recente almoço esta semana, no apartamento do humorista, na Rua Gomes Carneiro, em Ipanema. A atriz acaba de embarcar para o Egito, de férias; o escritor deve estar às voltas com algum texto genial. O almocinho contou ainda com mais dois grandes personagens: Luiz Gravatá e Cora Ronai, autora da foto.

FERNANDA MONTENEGRO E MILLÔR FERNANDES - DOIS TALENTOS CARIOCAS QUE DÃO ORGULHO A SÃO SEBASTIÃO DO RIO DE JANEIRO / Foto: Cora Ronai
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Enviado por: Lu Lacerda

Chocolate contra o crack


Drogas

Em São Bernardo do Campo, alimentos calóricos, filtro solar e protetor labial têm funcnionado melhor que as pistolas elétricas nas cracolândias. Cidade mantém 250 usuários em tratamento

Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Dependente de crack durante oficina profissionalizante
Dependente de crack durante aula na oficina profissionalizante (Divulgação )
As levas de usuários de crack que perambulam pelas cidades brasileiras não deixam dúvida: as pedras vendidas por poucos reais são uma ameaça para além do alcance de medidas isoladas de combate ao crime e de assistência social. A proliferação das cracolândias tem característica de epidemia, de sintoma da miséria e de um grave problema de segurança pública – assim como as demais atividades ligadas ao tráfico. Soluções mais radicais, como a internação compulsória, surgem como medida extrema para submeter menores de idade ao tratamento, mas é sabido que dificilmente se consegue manter em uma clínica tanta gente, por tanto tempo.
Governantes não deveriam nem podem cruzar os braços, mas até quando há vontade política e recursos o combate ao crack é complexo. Como um mal relativamente recente, não há uma cartilha para gestores envolvidos no processo.
Algumas iniciativas, no entanto, começam a chamar atenção por seus resultados positivos – ainda que não se possa dizer que há uma vitória contra a droga. Em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, a política de abordagem aos dependentes químicos é apontada como modelo pelo Ministério da Saúde. O inusitado dessas medidas está na forma nada agressiva com que as equipes do município lidam com os usuários da droga.
Em vez de pistolas elétricas, sprays de pimenta e outros materiais fornecidos pelo Ministério da Justiça, através do programa Crack, É Possível Vencer, assistentes sociais, psicólogos e integrantes das equipes multidisciplinares recorrem a chocolate, água de coco e muita conversa. “Em hipótese alguma usamos armas nas abordagens aos dependentes de crack. Tratamos o usuário como um doente, como um problema de saúde e não de polícia”, explica Arthur Chioro, secretário de Saúde de São Bernardo do Campo. O problema, claro, é também – e muito – de polícia. Mas a cidade tem preferido separar as ações junto aos usuários das operações policiais.
“Nossos agentes de saúde chegam ao local onde estão os usuários, sentam, oferecem um chocolate e tentam a primeira abordagem”, explica Chioro. Segundo ele, há no momento cerca de 250 dependentes químicos em tratamento. Esse dado – a quantidade de jovens em tratamento – é um indicativo de que há alguma política em vigor. Na capital paulista, por exemplo, a Secretaria Municipal de Saúde não sabe informar quantos dependentes de crack recebem algum tratamento no momento. O órgão limitou-se a informar que não seria possível fazer o levantamento, a pedido do site de VEJA.

O ponto de virada do que vem sendo feito em São Bernardo, de acordo com David Abdo Benetti, coordenador da equipe do Consultório de Rua, que busca os usuários pela cidade, é a conquista da confiança do dependente – algo dificílimo entre adolescentes fragilizados, subnutridos, muitas vezes com sintomas de problemas psíquicos e em constante estado de “fissura” pela falta da droga.
A tarefa não é simples. Benetti é especialista em dependência química pela Escola Paulista de Medicina e conta com uma equipe formada por médicos, enfermeiros, psicólogos e agentes redutores de dano. Em São Bernardo do Campo, conta ele, o consumo de crack costuma acontecer em locais fechados, sob viadutos. Para entrar nas “cenas de uso”, a equipe pede permissão aos dependentes. Um kit saúde com água mineral, alimentos calóricos e protetores de lábio e pele são oferecidos aos jovens, para reduzir as queimaduras pelo calor produzido pelo cachimbo usado para consumir a droga.

“É gente que se aproxima, pergunta se alguém está com dor, com alguma lesão e oferece ajuda. Médico, psicólogo, todo mundo senta na calçada, na pedra, olha no olho. Nossa tecnologia é a conversa, o convencimento. Nós não exigimos que ninguém pare de fumar o crack de uma hora para outra. O primeiro passo é oferecer saúde para ganhar o dependente aos poucos”, conta David. “E conseguimos tirar muitas pessoas das ruas. Às vezes demora anos, mas acontece”.
Divulgação
Dependente de crack na República Terapêutica
Dependente de crack na República Terapêutica

A lógica é a de redução de danos. O conceito já adotado, por exemplo, em festas rave, onde há grande consumo de drogas sintéticas que levam o corpo a desidratar. A medida, nesse caso, é a simples distribuição de água. Certamente essa medida não impede o consumo. Mas evita o agravamento dos casos e pode ser a diferença entre a vida e a morte.
Atendimento – Todo o esforço de convencimento, no entanto, seria ineficaz sem uma rede de saúde articulada, pronta para manter o dependente em tratamento. Todos os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) funcionam 24 horas. A cidade conta ainda com repúblicas terapêuticas. São casas destinadas a receber dependentes em tratamento que não têm onde morar.
“Nesses locais eles fazem comida, lavam suas roupas , começam a receber a visita de familiares. Tudo é acompanhado de perto por funcionários que se revezam em turnos, mas o funcionamento é como o de uma casa comum. A única exigência é que a pessoa vá às consultas ambulatoriais nos CAPs e participe da atividades de geração de renda. Alguns fazem artesanato, pinturas, outros fazem aulas de culinária para aprender a cozinhar e ter uma profissão. Nosso objetivo é que aquela pessoa seja reinserida na sociedade”, explica Chioro.

O município não realiza a internação de pacientes em clínicas de recuperação. A internação para desintoxicação, quando necessária, ocorre em hospitais gerais do município ou conveniados. Esse é um aspecto a mais da dificuldade de combate ao crack. Receber usuários para desintoxicação na rede pública regular de saúde é uma alternativa viável, desde que, obviamente, essa estrutura comporte o novo fluxo de pacientes. E que esteja preparada para as particularidades desse novo tratamento.
Conselheiro do Ministério da Saúde no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas, o psicólogo Aldo Zaiden defende a política de São Bernardo do Campo. “Tirar a pessoa da droga com uma internação prolongada é mais garantido. Mas isso não garante mecanismos para que no retorno à vida normal a pessoa não volte a usar a droga. O programa de São Bernardo tira as pessoas das ruas, faz com que voltem a estudar, a trabalhar e a conviver com a família. É um bom exemplo”, afirma Aldo, que é contrário à internação compulsória, já adotada para menores no Rio e que poderá ser estendida a adultos.
“A experiência mostra que a internação compulsória não funciona. Mais de 97% dos que são internados compulsoriamente voltam a usar o crack”, afirma.

Neta de Dona Canô lamenta morte da avó: 'Ela era uma menina de 105 anos'



Notícia publicada Hoje, Terça-feira, 25 dezembro 2012 , 12:19

Dona Canô morre aos 105 anos, em 25 de dezembro de 2012. Ju Veloso, sua neta, lamenta a morte

Dona Canô morre aos 105 anos, em 25 de dezembro de 2012. Ju Veloso, sua neta, lamenta a morte


Dona Canô, matriarca da família Veloso, morreu aos 105 anos, na manhã desta terça-feira (25), em sua residência, localizada em Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Ju Veloso, neta da idosa, falou em entrevista à GloboNews que estão todos bastante sentidos com o falecimento.

"É muito dificil para mim perder a minha avó. Estou muito emocionada e muito triste, tudo misturado. Acho que a gente só tem realmente que agradecer", disse. Ela também comentou que toda a família e amigos já estão no local para se despedir de Dona Canô.
Os médicos recomendaram que ela continuasse o tratamento em casa.
A idosa teria pedido um vestido branco para deixar o hospital. Ela voltou para sua residência acompanhada da filha Mabel. Maria Bethânia acompanhou a locomoção da mãe em outro carro.
O aniversário de 105 anos de Dona Canô foi comemorado no dia 16 de setembro de 2012. A família reuniu amigos para a tradicional missa, que foi celebrada pelo padre Reginaldo Mazotti. A festa aconteceu em casa, no município de Santo Amaro. Regina Casé esteve entre os convidados.
No total, Dona Canô teve oito filhos. Clara, Roberto, Caetano, Bethânia, Rodrigo e Mabel eram biológicos. Irene e Eunice foram adotadas. Eunice, também conhecida como Nicinha, morreu de insuficiência respiratória em agosto de 2011, aos 83 anos.
Dona Canô ficou viúva em 1983, quando "Seu Zeca" morreu, aos 82 anos.
Dona Canô, matriarca da família Veloso, morreu aos 105 anos, na manhã desta terça-feira (25), em sua residência, localizada em Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Ju Veloso, neta da idosa, falou em entrevista à GloboNews que estão todos bastante sentidos com o falecimento

Maria Bethânia - Motriz

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Oque voce quer ser quando crescer? +CC Portugues.

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Zeitgeist 2012: Year In Review

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A Model Day at Magic Kingdom - Exclusive Disney Parks Tilt-Shift Video

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Roger Waters - 121212 [Full Concert] HD

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Entrevista com E.L. James, autora do livro mais vendido no mundo no momento: “Experimentar coisas diferentes [no sexo] com o parceiro pode ser um bocado divertido”


veja.com

"As mulheres não querem e não devem ser submissas. Mas estamos falando aqui do que acontece no quarto, a portas fechadas" (Foto: Ni Sindication / Other Images)
"As mulheres não querem e não devem ser submissas. Mas estamos falando aqui do que acontece no quarto, a portas fechadas" (Foto: Ni Sindication / Other Images)
Publicado originalmente em 8 de agosto de 2012.
(Entrevista concedida a Isabela Boscove publicada na edição de VEJA que está nas bancas)
“O SEXO NÃO TEM REGRAS”

Iniciada como uma brincadeira na internet, a trilogia “Cinquenta Tons de Cinza”, da inglesa E.L. James, virou um fenômeno ao combinar romantismo com sadomasoquismo
Mais de 20 milhões de exemplares já vendidos nos Estados Unidos, outros 10 milhões nos demais países de língua inglesa, 500 000 na Alemanha em apenas cinco dias, dezenas de milhares de cópias voando das prateleiras no Brasil, desde a semana passada: a trilogiaCinquenta Tons de Cinza, da inglesa E.L. James, é um fenômeno inqualificável.
Escrita em prosa simples e não muito sofisticada, a história de como o jovem milionário Christian Grey se apaixona pela estudante virgem Anastasia — ou Ana — Steele é um romance tão descabelado quanto a criação que a inspirou, a série  adolescente Crepúsculo — exceto pelo fato de que Christian e Ana protagonizam cenas vívidas de sadomasoquismo, descritas em pormenores.
A combinação curiosa deu até origem a um novo termo, mommy porn, ou “pornô para mamães”. Vai também virar filme, sob supervisão da autora — uma londrina de seus 40 e tantos anos, filha de chilena e escocês, muito simpática e falante.
Casada e mãe de dois adolescentes, Erika Leonard fala de como foi pega de surpresa pelo sucesso, das reviravoltas em sua vida e, claro, de sexo.

O sadomasoquismo é uma fantasia feminina?
Creio que é uma fantasia que as mulheres não sabem ter até deparar com ela. Por razões óbvias, trata-se de algo muito subterrâneo, um tabu. Portanto, a maioria das mulheres não conhece os princípios básicos do sadomasoquismo — e essa novidade, em Cinquenta Tons, acabou se revelando muito atraente para as leitoras.

Mas as objeções que os críticos de Cinquenta Tons fazem à dominação sexual que Christian Grey impõe a Ana Steele são na maioria de caráter feminista — o tabu, hoje, é a ideia de uma mulher se submeter a um homem, não?
As mulheres não querem e não devem ser submissas, mas estamos falando aqui do que acontece no quarto, a portas fechadas. É bem sabido que a sexualidade ignora regras, e experimentar coisas diferentes com o parceiro pode ser um bocado divertido. Não significa que a submissão vai continuar fora do quarto, ora.
Fico ofendida quando alguém diz que estou contribuindo para um retrocesso da condição feminina. Que bobagem! O que Cinquenta Tonsfez, na verdade, foi encorajar as mulheres a voltar a falar sobre sexo — e essa é a razão pela qual a trilogia, antes de ser encampada pelo mercado editorial, foi um fenômeno viral na internet. Isso não é retrocesso. É avanço.
 "Experimentar coisas diferentes com o parceiro pode ser um bocado divertido. Não significa que a submissão vai continuar fora do quarto" (Foto: IStockphoto)
"A maioria das mulheres não conhece os princípios básicos do sadomasoquismo — e essa novidade, (nos três livros da série) 'Cinquenta Tons', acabou se revelando muito atraente para as leitoras" (Foto: IStockphoto)

Existe muita ficção picante feita para mulheres. Por que sua trilogia, especificamente, se tornou um fenômeno?
A maior parte dessa ficção é produzida não sob impulso criativo, mas como um plano de marketing: vamos atender às demandas desse segmento demográfico com um produto talhado para ele. Mas nem que eu quisesse eu seria capaz de conceber um livro como estratégia de marketing. Sou uma diletante que começou a escrever sobre dois personagens que lhe vieram à cabeça e que foi sendo levada pela história deles.
Minha trilogia pode ter defeitos, mas a falta de autenticidade não é um deles. O meu interesse por Christian e Ana é genuíno e, nos termos do mercado editorial, inocente.

O que a levou a trocar sua carreira como gerente de produção em TV pela escrita?
Uma coincidência. Eu estava muito infeliz no último emprego — e, no mesmo momento, vi por acaso o primeiro filme da série Crepúsculo. Adorei. Pedi então ao meu marido que me desse o livro como presente de Natal. Ele me deu a série toda, e eu a li inteirinha, de cabo a rabo, em cinco dias. Antes do Ano-Novo já tinha terminado — e só não a recomecei do início imediatamente porque me sentei ao computador e comecei a escrever. Foi como se alguém tivesse acionado um interruptor em mim.
No princípio, escrevia para me consolar da insatisfação no trabalho. Mas a coisa foi ganhando vulto. Escrevi um romance entre janeiro e abril, e mais outro nos meses seguintes. Nenhum dos dois, aliás, viu a luz do dia até hoje: eu teria de mexer muito neles até deixá-los em condições mínimas de publicação.

O que a seduziu em Crepúsculo?
O fato de ser um romance tão assumido e tão desavergonhado no seu romantismo — feito sem ironia, sem tentar parecer mais do que é. E achei-o também muito erótico, embora seja tão casto.

Como essa brincadeira levou a Cinquenta Tons?
Descobri a fan fiction — sites em que fãs de determinado livro escrevem seus próprios contos ou livros tendo o original como inspiração. Achei que poderia ser um exercício divertido, e das minhas incursões nele me veio a ideia do que viria a ser Cinquenta Tons.
Mas era estritamente um passatempo. Nunca, nem nos meus devaneios mais delirantes, imaginei que a trilogia se tornaria o que se tornou. Mesmo quando o livro começou a fazer sucesso na internet, meu sonho se limitava a ver o livro exposto na vitrine de uma livraria — um único exemplar que fosse. E esse parecia então um sonho distante: Cinquenta Tons foi publicado originalmente por uma pequena editora australiana, em forma de e-book ou de edição impressa sob encomenda, que saía caríssimo para o freguês.

Os dois primeiros romances que a senhora escreveu, aqueles que nunca viram a luz do dia, têm algo em comum com Cinquenta Tons?
O primeiro também é um romance erótico, e o segundo tem elementos sobrenaturais. Embora sejam enredos completamente diferentes do de Cinquenta Tons, são ambos histórias de amor adultas. Isso é o que me interessa, histórias de amor — e o fato é que, quando as pessoas se apaixonam e começam uma relação, elas fazem sexo. Muito sexo, se não me falha a memória.

A senhora nasceu e morou a vida toda na Inglaterra. Por que então Cinquenta Tons se passa nos Estados Unidos, com personagens americanos?
Porque ele nasceu de um exercício de fan fiction de Crepúsculo, e eu não queria mudar o cenário geral nem a idade aproximada dos personagens. É claro que escrever em “americano” não foi fácil: faltam-me as referências culturais, o conhecimento das expressões idiomáticas do dia a dia — coisas que só conheço de filmes e seriados. É bem possível que eu tenha cometido escorregões, mas até agora nenhum leitor americano reclamou.

Crepúsculo, séria inspiradora, é "um romance tão assumido e tão desavergonhado no seu romantismo" (Foto: Divulgação)
Crepúsculo, séria inspiradora, é "um romance tão assumido e tão desavergonhado no seu romantismo" (Foto: Divulgação)

Talvez porque eles estejam mais preocupados com outros aspectos do livro?
O sexo, claro. Tenho estranhado um pouco a reação da imprensa e do público americanos: às vezes eles falam de Cinquenta Tons como se a trilogia fosse escandalosamente pornográfica. Ora, o sexo, inclusive o sexo descrito em termos gráficos, é frequente na ficção romântica.
Eu mesma, nos meus 30 anos, quando tinha de andar horas de metrô todo dia, adorava passar o tempo lendo autores americanos cujos livros pingavam sexo. Eu dobrava o livro no meio, para a capa e a contracapa ficarem encostadas e ninguém perceber com o que é que eu estava tão entretida.
Acho que o que chama atenção em Cinquenta Tons é o sadomasoquismo. Mas a minha versão dele é ligeiríssima se comparada com a coisa real.

A senhora recebe muita correspondência de fãs?
Dezenas de e-mails todos os dias. Eles vão desde congratulações até comentários sobre como a trilogia apimentou a vida sexual da leitora. E, em alguns casos, recebo mensagens de leitores e leitoras que, assim como Christian, sofreram abuso sexual na infância.
Algumas dessas mensagens são de levar às lágrimas. Então, por mais que se comente o sexo explícito do livro, acho que há também outras razões que fazem os leitores envolver-se com ele.

Qual a sua opinião sobre o termo “mommy porn”, que entrou em circulação por causa de Cinquenta Tons?
A mim parece que é uma dessas expressões que jornalistas adoram criar para categorizar coisas novas. Cinquenta Tons trata de uma relação consensual entre dois adultos. Não me incomoda que apliquem a palavra “porn” ao livro, portanto, porque ela perdeu o sentido de designação da pornografia de fato, no seu cunho explorativo e abjeto.
Hoje em dia tudo é “porn”: revistas de arquitetura e decoração são “property porn”, programas de culinária na televisão são “food porn”. Qual a importância de um “porn” a mais ou a menos?

Vir de outra profissão e não ter sido treinada como escritora atrapalhou ou deu à senhora mais liberdade para desprezar as convenções literárias que não lhe interessavam?
Ajudou muito mais do que atrapalhou. Eu tinha uma boa carreira e poderia ter continuado nela até o fim da vida. Escrevia para mim mesma e, portanto, fazia-o livre de angústia e de preocupações. Acho sinceramente que esse prazer na escrita transpira nas páginas dos livros e responde ao menos em parte pelo sucesso deles. O difícil, agora, é compreender essa criatura que a minha vida se tornou.

A senhora já se deu conta de que não há caminho de volta?
Não, não completamente. Até porque haverá: um dia essa comoção vai arrefecer. Por isso me orgulho um tantinho de poder afirmar que sou a mesma pessoa de antes de Cinquenta Tons. Não mudei, e sei que essa integridade me será útil no futuro.

Mas a trilogia a deixou rica, não?
Tento não pensar nisso. Aliás, nem preciso tentar: outro dia fiquei presa no metrô, por causa de um problema na linha, e os amigos com quem eu estava indo me encontrar perguntaram: “Mas por que você não tomou um táxi?”.
Não tomei porque nunca teria tomado, ora. Estava bem no metrô, vez por outra ele atrasa, e é assim que as coisas são. Não pretendo sair torrando dinheiro por aí. A bem da verdade, meu marido e eu fazemos o possível para esquecer que ele está lá, no banco.
Compramos um carro novo e tiramos longas férias em família, nós dois e nossos meninos, de 17 e 15 anos. Não há mais nada em que eu sinta necessidade de gastar neste momento. Depois, veremos.

A senhora saiu, da noite para o dia, de uma vida normal para uma roda-viva de viagens, contratos, sessões de autógrafos e entrevistas. Tem sido difícil lidar com a celebridade súbita?
Aqui na Inglaterra ninguém me reconhece, ou, se reconhece, não demonstra, o que ajuda a manter a aparência de normalidade da vida. As sessões de autógrafos são uma diversão: adoro conhecer as leitoras, e não me conformo com as intimidades que elas me contam. As entrevistas, tudo bem — exceto as de TV. Odeio com todas as minhas forças aparecer na TV.
Passei a vida do outro lado da câmera, e me sinto até meio mal, fisicamente, depois. Suponho que tenha algo a ver com vaidade: se eu fosse jovenzinha, magra e linda, talvez até gostasse. Mas acho que, na maior parte das vezes, essa aversão vem de essa ser uma situação fora do meu controle: não sei como vou aparecer no vídeo, como o material vai ser editado — sabe como é, de alguém Christian Grey tinha de herdar essa obsessão controladora.
Essa, eu diria, é a parte mais difícil da celebridade súbita. Sempre fui uma pessoa organizada, tanto que fiz da capacidade de organização uma profissão na TV. Hoje, quando estou a trabalho, há uma multidão encarregada de “cuidar” de mim: é para lá que a senhora vai, este é o hotel, aqui está o carro, a tal hora viremos buscá-la ou lhe dar de comer. Deve haver quem goste, mas eu acabo me sentindo uma incapaz.

Trilogia Cinquenta Tons de Cinza: um sucesso estrondoso, com mais de 30 milhões de exemplares vendidos somente em língua inglesa
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Seus filhos demonstraram algum interesse na leitura deCinquenta Tons?
Não, não, não. Meus meninos não leem nada, de jeito nenhum. Com a exceção de ameaçá-los com uma arma, já tentamos de tudo, mas parece que, para eles, não ler é uma questão de honra.
Nesse caso em particular, acaba sendo um alívio. Não quero nem imaginar meus garotos lendo Cinquenta Tons. Nem eles, claro: mamãe e sexo são duas ideias que não vão bem juntas.
Eles sabem por alto do que se trata. Sabem que tem um lado salaz, que é gráfico, que está fazendo sucesso — e têm orgulho desse sucesso, por mim. Mas dispensam maiores detalhes.
Outro dia, aliás, uma leitora de apenas 15 anos veio falar comigo. Tive vontade de dar um pito nela: “Sua mãe sabe que você está lendo isto aqui?”.

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