segunda-feira 30 2015

LYA LUFT: Podemos ser mais dignos? Podemos


“Talvez a esperança seja não a destruição de ônibus, a quebradeira de lojas, a insensatez desatada, mas o gesto mais simples, breve, transformador, desde que a gente saiba o que está fazendo: o ‘voto’” (Ilustração: Atômica Studio)
“Talvez a esperança seja não a destruição de ônibus, a quebradeira de lojas, a insensatez desatada, mas o gesto mais simples, breve, transformador, desde que a gente saiba o que está fazendo: o ‘voto’” (Ilustração: Atômica Studio)
Artigo publicado em edição impressa de VEJA
PODEMOS SER MAIS DIGNOS? PODEMOS
Lya LuftDificilmente encontramos alguém, a não ser criança ou adolescente naquela fase de autorreferência compulsiva e natural, que esteja contente com a situação em geral.
Que pense ou diga: “Está tudo bem, estamos tranquilos, o país cresce, o povo é razoavelmente bem tratado, nada a reclamar…”.
Manifestações se agitam no Brasil. Pelos mais singulares motivos, ora surreais, ora convincentes, saímos às ruas, querendo ordem, progresso e paz, mas admitindo entre nós a violência e o crime, tudo organizado e financiado por alguém. Um partido, uma instituição, um grupo… alguém. Pois nada disso acontece aleatoriamente.
Há sincronicidade, combinação, uma teia básica que controla tudo. O que, quem, como, de onde, não sabemos, pelo menos nós, pessoas comuns. Sentimos que algo está no ar, e não é amável, mas perigoso e sombrio. Temos de achar um equilíbrio entre a indignação justa e essencial e o desejo de destruição e violência.
A mim me impressionam centenas de pessoas descendo de um trem quebrado e andando pelos trilhos em busca do seu destino ou de uma condução. Às vezes jogam pedras e quebram vidros ou portas do trem, mas a maioria, mesmo reclamando, não demonstra indignação. Muitos, num meio sorriso resignado, dizem: “É ruim, mas é assim, que fazer?”.
Ou, quando a enchente mais uma vez inundou a casa, matou a criança, destruiu os bens, e ninguém em alguns anos providenciou nada, comentam: “Com a ajuda de Deus, vou mais uma vez começar do zero”.
Manadas de seres humanos apinhados nos ônibus e trens, sem o menor conforto, pendurados naquelas alças, esfregados, amassados por tantos corpos humanos suados e exaustos, dia após dia, ano após ano, consumindo diariamente duas, quatro horas de seu tempo, sua saúde, sua vida, vão para o trabalho e voltam, em condição subumana, e fazem suas reclamações, às vezes com palavras duras e justas, mas acrescentam: “O que fazer? Por aqui é assim”.
Os indignados, e mesmo os mansos, todos quereriam mudar; iriam mudar, se pudessem. Ou melhor: se soubessem o que fazer. Não há autoridade a quem se queixar, pois o máximo que se recebe é a notícia de mais uma comissão, um projeto, empilhado sobre dezenas de outros que há muitos anos mofam em gavetas ou em pastas.
Podemos melhorar de vida? Podemos não ser caçados por bandidos como coelhos pelas ruas dia e noite, podemos viver em morros sem nos enfiarmos embaixo da cama nos frequentes tiroteios, podemos ter água para beber, cozinhar e tomar banho, e energia elétrica para o chuveiro, o ventilador, a luz da casa?
Podemos uma porção de coisas melhores em nossa tumultuada vida? Podemos ser mais dignos e mais altivos? Podemos.
Não sabemos para que lado nos virar, onde procurar, a quem recorrer. Talvez a esperança seja não a destruição de ônibus, a quebradeira de lojas, a insensatez desatada, mas o gesto mais simples, breve, pequeno, porém transformador, desde que a gente saiba o que está fazendo, o que deve fazer: o “voto”.
Porém uma imensa maioria de nós, embora adulta, nem sabe ler. Outra boa parte da população, se sabe ler, não tem energia, interesse, tempo, instrução suficiente para se dedicar a esses assuntos, se informar, debater e descobrir algum nome a quem confiar esse voto.
De modo que, levados pelas corredeiras eleitorais já deslanchadas, provavelmente muitos — que cedo se arrependerão, pois ignoravam a força de seu ato —, por desalento, votem em nomes que não conhecem, que não levam a sério, de que não ouviram falar ou que chegam montados em promessas impossíveis e falações vãs.
Então, por estarmos tão cansados, suados, desanimados ou zangados, mas sem lucidez, eles vão receber, na hora da eleição, o apoio de quem parou um instante no posto da ilusão e digitou um número, um nome, uma sigla, um destino seu, que não acabará significando nada.

LYA LUFT: A morte é algo que precisamos aceitar


(Foto: Imgur)
“O ciclo vida e morte é um duro aprendizado. Nós, maus alunos”, diz Lya Luft (Foto: Imgur)
O CICLO DA VIDA
Artigo publicado em edição impressa de VEJA
Lya LuftRecorro à minha profissão de tradutora, que exerci intensamente por longo tempo, para apresentar aqui versos da poetisa americana Edna St. Vincent Millay, falecida, sobre a morte:
“Não me resigno quando depositam corações amorosos na terra dura. / É assim, assim será para sempre: / entram na escuridão os sábios e os encantadores. Coroados / de lírios e louros, lá se vão: mas eu não me conformo. / Na treva da tumba lá se vão, com seu olhar sincero, o riso, o amor; / vão docemente os belos, os ternos, os bondosos; / vão-se tranquilamente os inteligentes, os engraçados, os bravos. / Eu sei. Mas não aprovo. E não me conformo”.
Conformados ou não, a morte é algo que precisaríamos aceitar, com mais ou menos dor, mais ou menos resistência, mais ou menos inconformidade. E esse processo, mais ou menos demorado, mais ou menos cruel, depende da estrutura emocional e das crenças de cada um.
Podemos escolher a teoria que nos conforta mais: quem morreu se reintegrou na natureza; preserva-se por seus genes em filhos e netos; faz parte de uma energia maior; enveredou por outra dimensão; é uma alma imortal.
A vida inevitavelmente flui: nós somos isso. Ela é um ciclo: ciclos se abrem e se fecham, isso é viver. O fim de cada ciclo nos ajuda a pensar nas vezes em que fomos egoístas, grosseiros, fúteis, infiéis, ou quando não estivemos nem aí. Mas também lembramos os momentos em que fizemos o melhor que podíamos.
Essas águas do fluir da vida não se interrompem quando dormimos ou comemos ou jogamos no iPad ou nos entediamos na fila do banco ou comemos o hambúrguer ou choramos sozinhos no escuro de noite. Tudo isso é natural: mas a nós, sobretudo em mortes brutais ou trágicas, a perda não parece nada natural.
O ciclo vida e morte é um duro aprendizado. Nós, maus alunos.
Não escrevo sobre o tema pela morte de um ou outro, em acidentes, por doença dolorosa, ou mesmo dormindo, morte abençoada. Morrem mais pessoas aqui de morte violenta do que em guerras atuais. A banalização da morte, portanto a desvalorização da vida, é espantosa. Escrevo porque ela, a Senhora Morte, é cotidiana e estranha, ao menos para a maioria de nós.
Há alguns anos, menininha ainda, uma de minhas netas me perguntou com a perturbadora simplicidade das crianças: “Por que eu não tenho vovô?”. Respondi, como costumo, da maneira mais natural possível, que o vovô tinha morrido antes de ela nascer, que estava em outro lugar, e, acreditava eu, ainda sabendo da gente, sempre cuidando de nós – também dela.
Continuei dizendo que a vida das pessoas é como a das plantas e dos animais. Nascem, crescem, umas morrem muito cedo, outras ficam bem velhinhas, umas morrem por um acidente, ou doença, ou simplesmente se acabam como uma vela se apaga.
Falar é fácil, eu dizia a mim mesma enquanto comentava isso com a criança. O drama da vida não se encerra com o baque da morte, mas começa, nesse instante, outra grande indagação. Se a primeira se referia a “o que é a vida, o que estou fazendo aqui, o que significa tudo isso, os encontros, desencontros, realizações, frustrações, a luta constante”, o que indagamos diante da morte é: “E agora, o que significa isso, a morte, o fim, a perda, o ignorado? E quando chegar a minha vez?”.
Então, em geral, temos mais ou menos medo, segundo, ainda uma vez, a nossa crença.
Recordo a frase atribuída a Sócrates na hora em que bebia cicuta, condenado pelos cidadãos de Atenas a se matar: “Se a morte for um sono sem sonhos, será bom; se for um reencontro com pessoas que amei e se foram, será bom também. Então, não se desesperem tanto”.
Precisamos de tempo para integrar a morte na vida. Talvez os mortos vivam enquanto lembrarmos suas ações, seu rosto, a voz, o gesto, a risada, a melancolia, os belos momentos e os difíceis. Enquanto eles se repetirem no milagre genético, em filhos, e netos, ou se perpetuarem em fotografias e filmes. Enquanto alguém os retiver no pensamento, os mortos estarão de certa forma vivos?
Porque morrer é natural, deveria ser simples: mas, para quase todos nós, é um grande e grave enigma.

LYA LUFT e a democracia roída pela corrupção: que Deus nos ajude!


(Foto: imgbuddy.com)
Só rezando: precisamos de uma liderança competente para nos tirar do fundo do poço (Foto: imgbuddy.com)
QUE DEUS NOS AJUDE
Artigo publicado em edição impressa de VEJA
Lya LuftRecentemente celebramos o Dia Internacional da Mulher. Contrariando muitos, talvez mais sofisticados do que eu, gosto de algumas dessas datas “oficiais”. Não acho que basta dizer que “todo dia é dia da mãe, do pai, da mulher, do professor”. Um momento especial traz à tona sentimentos que talvez a banalidade e lutas do dia a dia estejam abafando.
Não considero caretice lembrar certas datas ou pessoas de um jeito diferente, com um abraço mais afetuoso, uma flor, uma lembrança, um almoço que reúne gente querida. Pois o cotidiano apresenta o perigo da banalização: nem nos damos conta da importância daquela pessoa em nossa vida. Mas, se for caretice, que bom às vezes ser careta. E cuidado com o preconceito contra os caretas… Já temos juízes e árbitros demais, moralistas demais, arrogantes demais, cercando todos os setores da nossa vida pública e pessoal.
Volto ao assunto da mulher. Na véspera deste dia 8 de março, duas coisas me deixaram envergonhada de ser mulher brasileira. Uma foi a invasão do exército de mulheres campesinas de rosto tapado e foices e paus nas mãos, destruindo – pasmem! – mudas de eucalipto, fruto de décadas de pesquisas, estudos e esforços de cientistas, que estavam colocando o Brasil – ao menos nisso, pois andamos na rabeira em quase tudo – à frente no mundo científico. Eram mudas de eucalipto destinadas a reflorestamento e produção de papel, para evitar desmatamentos.
Cientistas experientes choraram junto com funcionários calejados: o desconsolo foi geral, como em outras ocasiões semelhantes, inclusive uma invasão e destruição no laboratório de biotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde foram aniquilados, ante os olhos estarrecidos do mundo, resultados de pesquisas preciosas para o progresso do país e menos miséria.
Essas hordas preferem que se desmate a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica para produzir papel? Isso prova como as massas são manipuláveis, caindo na indigência mental que não deixa enxergar a realidade. Se isso faz parte dos exércitos que o ex-presidente Lula andou convocando, que Deus nos ajude.
Outro fato que me preocupou nesses dias foi, mais uma vez, a tentativa de uma figura do governo de banir Monteiro Lobato, o grande e maravilhoso escritor, das escolas (e possivelmente da literatura brasileira). A primeira coisa que me veio à mente foi queimarem na Alemanha hitlerista obras dos mais renomados autores, como parte de purificação “racial”.
Essa tentativa de criminalizar Monteiro Lobato é uma calamidade, um desrespeito à cultura brasileira, uma ignorância dos períodos históricos em que cada obra se situa, um perigoso ataque à liberdade, uma desconsideração com os próprios negros e um inadmissível estímulo a mais preconceito.
Enfatizo que tenho pessoas negras na minha família, como árabes e judias, e que nem me orgulho disso nem me preocupo: para mim, para nós, é apenas natural. É crime instigar o ódio “racial” e de classes, que vemos em afirmações ignorantes como “os brancos de olhos azuis não querem que vocês tenham nada”, ou “as elites odeiam os pobres”. Ignorar a superação das diferenças, desrespeitar a cultura, e a arte, regalar-se no rancor e no preconceito, isso tudo é tão sério como ignorar a realidade atual que envolve corrupção, omissão, mentiras e nossos direitos ameaçados.
A chamada “lista de Janot” revelou dados espantosos sobre o desvio de bilhões que deveriam favorecer o povo tão necessitado. Só investigação e punição rigorosas podem limpar a honra do país e dos brasileiros.
As forças políticas que imperam por aqui permitem muitas dúvidas e receios quanto a isso, mas nem a mais irreal divagação nem a mais doce retórica podem ocultar os riscos que corre a nossa democracia roída pela corrupção. Precisamos de uma liderança firme e competente para que, vencida a dramática situação atual, a gente deixe o fundo do poço e recupere a dignidade que nos roubaram.
E mais uma vez eu digo: que Deus nos ajude!

LYA LUFT: No Brasil, a regra é se esquivar da culpa


(Foto: Thinkstock)
Estamos acostumados a apontar dedos na hora de alguém levar a culpa; o problemaé quando isso acontece na esfera pública (Foto: Thinkstock)
NÃO FUI EU, PROFESSORA
Artigo publicado em edição impressa de VEJA
Lya LuftFatos espantosos na política, que comanda a economia e o resto neste naufrágio lento e grave que precisa ser detido, nos lembram o menino que, fazendo na sala de aula algo reprovável, diante do olhar severo da professora aponta o dedo para um colega e diz depressa: “Não fui eu, profe, foi ele!”. O primeiro impulso de quem comete um malfeito é esquivar-se da culpa e mentir acusando outros. É preciso caráter e honradez para assumir responsabilidades.
Quando isso acontece no segmento público, de governo, sobretudo em altos escalões, é dramático, e envergonha a todos. Merecemos algo mais e melhor, que nos ajude a acreditar nas autoridades que nos governam (ou desgovernam). Pois perdemos essa confiança, o que se compara a uma enfermidade séria ou mutiladora. Como crianças que descobrem que não podem confiar no pai ou na mãe e ficam relegadas ao desalento, ao pessimismo, à confusão.
Nestes tempos de aflição e vexames que nos diminuem aos olhos de outros países, mal se compreende que tudo isso tenha acontecido sem que a gente soubesse – às vezes fingíamos não notar ou nem queríamos saber. O que fizeram com bens, empresas, fortunas quase incalculáveis, que pertenciam afinal ao povo brasileiro e serviriam para construir centenas de escolas, creches, postos de saúde, hospitais, casas e estradas? O que fizeram, aliás, com a confiança de tantos?
Tarde começamos a enxergar, como adultos capazes de questionamentos sérios, e cobranças mais do que justas. Não aceitamos mais as toscas acusações, disfarces, ocultamentos, fatos e atos para desviar a atenção da dura realidade que só os muitos ingênuos, ou interessados em manter a situação, se negam a ver.
É hora de urgentemente mudar, de nos unirmos em nome do direito, da justiça, da honra. Temos entre nós alguém como o juiz Sergio Moro, que, apoiado por homens sérios do Ministério Público Federal, representa homens e mulheres, velhos e jovens de bem atingidos na sua honra pela atitude de governantes, grandes empresários, políticos e até membros do Judiciário que há anos acobertam males que solaparam não só a economia mas a confiança e a honra do país – sombria e real constatação.
O impensável cortejo de ignomínias assumiu tal dimensão que muitos admitem – como se isso os desculpasse – que sem suborno, sem roubo e mentira não conseguiriam nem exercer suas funções e seu trabalho (vejam-se pronunciamentos de vários diretores das hoje malvistas empreiteiras). Muitos milhares de inocentes perderão – e já vêm perdendo – o emprego, começando pelos trabalhadores do gigante Petrobras e de centenas de empresas a ele ligadas que vão fechar ou reduzir dramaticamente seu funcionamento. O iludido povo brasileiro pagará essas contas.
O que dirão, o que farão o funcionário de escritório eficiente, o operário exausto, o professor mal pago, o médico incansável, a dona de casa aflita, o pai de família revoltado, que com seus impostos sustentaram entidades ineficientes que deveriam prover boa saúde, educação, transportes e outros?
Que falha em nosso discernimento nos fez escolher tão mal governantes e representantes? Faltou a base de qualquer nação: educação. Que não deve nivelar por baixo nem facilitar, mas proporcionar a todos a merecida ascensão na sociedade. Alguém bem informado escolhe diferentemente daquele submetido a uma manipulação impiedosa, mantido feito gado impotente longe do progresso que precisa ser distribuído entre todos os brasileiros, até os mais desvalidos – e não haveria mais as multidões de desvalidos que ainda povoam o país.
O que eles, os mais pobres entre os pobres, e todos os que têm acesso a alguns bens recebem neste dramático momento não são desculpas nem projetos reais, mas acusações absurdas, posturas toscas, tentativas desastradas de tapar o sol cruel da realidade. Somos as nossas escolhas: talvez se possa escolher diferente, pelo nosso bem e pelo bem deste país, que não deveria estar tão vexado e afastado da posição que pode ter no mundo civilizado.

BNDES perde R$ 2,6 bi com Petrobras e balanço é aprovado com ressalvas


O banco registrou lucro líquido de 8,594 bilhões de reais em 2014, alta de 5,4% em relação a 2013

 - Atualizado em 
Prédio do BNDES no Rio de Janeiro
O BNDES registrou lucro líquido de 8,594 bilhões de reais em 2014, alta de 5,4% em relação a 2013. Com Petrobras, banco perde 2,6 bilhões.(Vanderlei Almeida/AFP/VEJA)
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou lucro líquido de 8,59 bilhões de reais em 2014, alta de 5,4% em relação a 2013. Mas a KPMG, auditoria independente que aprovou o balanço financeiro, fez a ressalva de que o valor está inflado em 1,6 bilhão de reais. Os dados estão em relatório publicado na edição desta segunda-feira do Diário Oficial da União (DOU).
As ressalvas da KPMG se devem ao registro de perdas de 2,6 bilhões de reais com a participação societária do banco na Petrobras. Contudo, como o banco já havia provisionado perdas de 1 bilhão de reais para os negócios com a estatal, a auditoria apontou que "apenas" 1,6 bilhão foram inflados. O BNDES comenta, em relatório, o investimento na Petrobras: "em 31 de dezembro de 2014, seu valor de mercado, apurado com base na cotação das ações em bolsa de valores, apresentava desvalorização em relação ao respectivo custo de aquisição".
A administração do BNDES estimou os 2,6 bilhões de reais como "perda permanente", mas não abateu o total do valor de seu lucro, valendo-se de uma brecha aberta pela Resolução 4.175, editada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em dezembro de 2012. A resolução isenta o BNDES de fazer a baixa contábil em ações transferidas pela União "para aumento de capital". O artigo abre espaço para que a baixa seja feita somente quando os papéis forem vendidos. Pelas regras contábeis, todo o valor das perdas deveria ser reduzido do lucro.
Diante disso, a KPMG registrou a ressalva de que "o lucro líquido individual e consolidado do semestre e exercício findos em 31 de dezembro de 2014, está inflado em 1,6 bilhão de reais, líquido de efeitos tributários". Além disso, os auditores independentes fizeram a ressalva de que a perda de 2,6 bilhões de reais foi determinada pelo BNDES por intermédio de "avaliação econômico-financeira" e, devido "à falta de divulgação, pelo emissor das ações, de demonstrações financeiras revisadas ou auditadas", não foi possível "obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para algumas premissas utilizadas".
O BNDES encerrou o ano passado com ativos totais de 877,21 bilhões de reais. A carteira de participações societárias, administrada pela BNDESPar, alcançou 63,36 bilhões de reais, queda de 27,8% em relação a 2013. O banco de fomento detém 17,24% de participação no capital da Petrobras. Essa fatia encerrou 2014 valendo 22,48 bilhões de reais, queda de 40,4% em relação aos 37,72 bilhões de reais de 2013 e um tombo de 44,2% ante o valor de setembro do ano passado (40,31 bilhões de reais). Com a queda do patrimônio, o Índice de Basileia do BNDES recuou para 15,9% em 2014, ante 18,7% em dezembro de 2013, ainda dentro dos limites definidos pelo Banco Central (BC).
(Com Estadão Conteúdo)