sábado 09 2014

Oposição quer contadora de Youssef na CPMI da Petrobras

Operação Lava-Jato

Meire Poza relatou a VEJA detalhes da operação do doleiro, que atuou em parceria com parlamentares e arrecadava recursos de prefeituras petistas

Gabriel Castro, de Brasília
Meire Poza – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo."
Meire Poza – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo." (Jefferson Coppola/VEJA)
A oposição quer que Meire Poza, a contadora de Alberto Yousseff, compareça à CPMI da Petrobras e à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara para falar sobre as engrenagens da quadrilha que girava em torno do doleiro pego na Operação Lava Jato da Polícia Federal. Meire revela detalhes do esquema de propina em reportagem publicada por VEJA nesta semana.
A contadora confirma que parlamentares como o deputado André Vargas (PT-PR) e o senador Fernando Collor (PTB-AL) se aliaram ao doleiro em um esquema de lavagem de dinheiro que tinha prefeituras petistas como uma de suas principais fontes de recursos. Ela também relatou como empreiteiras que mantém contrato com estatais e órgãos públicos repassavam dinheiro para o esquema.
O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), diz que o partido vai apresentar os requerimentos na próxima semana, em conjunto com os outros partidos da oposição. O partido promete tratar o tema como prioridade. “É uma testemunha-bomba que atesta todas as evidências, muito claras, do envolvimento de Youssef com a Petrobras, parlamentares e personagens importantes do governo federal”, diz Mendonça Filho.
O PPS também cobra que a contadora seja ouvida pelo Congresso. “Esta mulher conheceu, como poucos, a arquitetura e a operação do sofisticado esquema de lavagem de dinheiro que atingiu 10 bilhões de reais”, diz o líder do partido na Câmara, Rubens Bueno (PR), que também integra a CPMI.
A Câmara dos Deputados faz um esforço concentrado na primeira semana de setembro, quando os parlamentares poderiam tomar o depoimento da contadora na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Já a CPMI da Petrobras não teve os trabalhos interrompidos durante o período eleitoral e, em tese, poderia ouvir Meire Poza antes disso.
O presidente do colegiado, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), calcula que a contadora pode ser ouvida daqui a três semanas: “Temos depoimentos marcados para as duas próximas semanas. Se o requerimento for apresentado, será votado como qualquer outro”, afirma.
Tanto na Comissão de Fiscalização Financeira quanto na CPMI da Petrobras, Meire não seria obrigada a comparecer porque não ocupa cargo público. Ela iria ao Congresso na condição de convidada.
O doleiro Alberto Youssef foi preso na operação Lava Jato, da Polícia Federal. Ele era figura central em um esquema bilionário de lavagem de dinheiro abastecido com recursos públicos desviados.

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Contadora do doleiro Youssef desnuda seu esquema de pagamento de propina

Operação Lava-Jato

Parlamentares notórios, partidos e empreiteiras participavam das tramas reveladas por Meire Poza

Robson Bonin, de Curitiba
Meire Poza – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo."
Meire Poza – "O Beto (Youssef) lavava o dinheiro para as empreiteiras e repassava depois aos políticos e aos partidos. Era mala de dinheiro pra lá e pra cá o tempo todo." (Jefferson Coppola/VEJA)
É um clássico. As organizações mafiosas caem com maior rapidez quando alguém de dentro decide contar tudo. O que se vai ler nesta reportagem é justamente a história de alguém que, tendo participado do núcleo duro da quadrilha que girava em torno do doleiro Alberto Youssef, pego na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, resolve contar tudo o que fez, viu e ouviu. Meire Bonfim Poza participou de algumas das maiores operações do grupo acusado de lavar 10 bilhões de reais de dinheiro sujo, parte desviada de obras públicas e destinada a enriquecer políticos corruptos e corromper outros com o pagamento de suborno. Meire Poza viu malas de dinheiro saindo da sede de grandes empreiteiras, sendo embarcadas em aviões e entregues às mãos de políticos. Durante três anos, Meire manuseou notas fiscais frias, assinou contratos de serviços inexistentes, montou empresas de fachada, organizou planilhas de pagamento. Ela deu ares de legalidade a um dos esquemas de corrupção mais grandiosos desde o mensalão. Meire sabe quem pagou, quem recebeu, quem é corrupto, quem é corruptor. Conheceu de perto as engrenagens que faziam girar a máquina que eterniza a mais perversa das más práticas da política brasileira. Meire Poza era a contadora do doleiro Alberto Youssef — e ela decidiu revelar tudo o que viu, ouviu e fez nos três anos em que trabalhou para o doleiro.
Nas últimas três semanas, a contadora prestou depoimentos à Polícia Federal. Ela está ajudando os agentes a entender o significado e a finalidade de documentos apreendidos com o doleiro e seus comparsas. Suas informações são consideradas importantíssimas para comprovar aquilo de que já se desconfiava: Youssef era um financista clandestino. Ele prospectava investimentos, emprestava dinheiro, cobrava taxas e promovia o encontro de interesses entre corruptos e corruptores. Em outras palavras, usava sua estrutura para recolher e distribuir dinheiro e apagar os rastros. Entre seus clientes, estão as maiores empreiteiras do país, parlamentares notórios e três dos principais partidos políticos. Os depoimentos da contadora foram decisivos para estabelecer o elo entre os dois lados do crime — principalmente no setor tido como o grande filão do grupo: a Petrobras. As empreiteiras que tinham negócios com a estatal forjavam a contratação de serviços para passar dinheiro ao doleiro. Nas últimas semanas, Meire Poza forneceu à polícia cópias de documentos e identificou um a um os contratos simulados e as notas frias, como no caso da empreiteira Mendes Júnior (veja o documento na página 54), que nega ter relacionamento com o doleiro. Os corruptores estão identificados. A identificação dos corruptos está apenas no início.

Três políticos no bolso de Youssef

“O André Vargas ajudou o Beto a lavar 2,4 milhões de reais. Como pagamento, ele ganhou uma viagem de jatinho. Eu mesma fiz o pagamento”

Deputado André Vargas (sem partido)

“O Beto fez os depósitos para o ex-presidente Collor a pedido do Pedro Paulo Leoni Ramos (ex-auxiliar do senador e também envolvido com o doleiro). Ele guardava isso como um troféu”

Senador Fernando Collor (PTB)

“O Vacarezza precisava pagar dívidas de campanha. Um assessor dele me procurou em 2011 para apresentar um negócio com fundos de pensão no Tocantins”

Deputado Cândido Vacarezza (PT)





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