quinta-feira 06 2014

Petistas derrotados nas urnas amargam dívida de R$ 40 mi

Eleições 2014

Somente Alexandre Padilha saiu da disputa com 24,7 milhões de reais em dívidas. Agnelo Queiroz teve o voto mais 'caro': 60 reais por eleitor

Eduardo Gonçalves
Alexandre Padilha (PT-SP), Gleisi Hoffman (PT-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF)
Alexandre Padilha (PT-SP), Gleisi Hoffman (PT-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF) (Ivan Pacheco/VEJA.com/Agência Senado/Futura Press/DAPress/VEJA)
Derrotados já no primeiro turno das eleições, os candidatos do PT aos governos de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Distrito Federal amargam não apenas a rejeição dos eleitores, mas também dívidas milionárias de campanha. Levantamento do site de VEJA com base nas prestações de conta divulgadas na noite desta terça-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que Alexandre Padilha, Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann e Agnelo Queiroz fecharam a corrida eleitoral com saldo negativo superior a 40 milhões de reais. Somente Padilha acumula 24,7 milhões de reais em dívidas – o petista gastou 40,2 milhões de reais, mas arrecadou apenas 15,5 milhões. A fracassada campanha do ex-ministro da Saúde gastou praticamente o mesmo valor que a do governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB), mas arrecadou menos da metade. E resultou em uma histórica derrota para o PT no Estado. Além de garantir mais quatro anos à frente do Palácio dos Bandeirantes, Alckmin saiu da disputa com 621 reais em caixa.
Após quatro anos de uma administração atrapalhada, com denúncias de corrupção sempre rondando o Palácio do Buriti, Agnelo Queiroz nem sequer chegou ao segundo turno da disputa no Distrito Federal: obteve 307.500 votos. Para isso, contudo, gastou 18,4 milhões de reais. Ou seja, cada voto "custou" ao petista 60 reais – o maior valor dentre os quatro. Na sequência está a senadora Gleisi Hoffmann, que gastou praticamente 30 reais por voto recebido. Lindbergh Farias ocupa a terceira posição, com o custo de 24 reais por voto. Já Padilha "gastou" 11,50 reais para cada um dos 3.888.584 votos que recebeu em São Paulo.
Mais da metade do dinheiro arrecadado pelos candidatos foi gasta com empresas de publicidade e gráficas para criação e impressão de material de campanha. Padilha pagou ainda 1,6 milhão de reais com assessoria de imprensa. Lindbergh desembolsou 720.000 reais com consultoria. Gleisi gastou 120.000 reais com uma empresa de contabilidade. Agnelo torrou mais de 3 milhões de reais só com produtoras de vídeos.
E não foram apenas os petistas derrotados que saíram da campanha endividados: o governador eleito na Bahia, Rui Costa (PT), saiu da corrida eleitoral com uma dívida de cerca de 13 milhões de reais. Já na campanha mineira, o cenário foi diferente para o PT: o partido investiu pesado na campanha de Fernando Pimentel ao governo. O petista arrebanhou uma das maiores arrecadações nas disputas estaduais (53,4 milhões de reais) - e derrotou o tucano Pimenta da Veiga no primeiro turno. O candidato do PSDB amargou ainda uma dívida de 2,7 milhões de reais.
Alexandre Padilha
Lançado na disputa ao governo de São Paulo como o terceiro poste do ex-presidente Lula, Alexandre Padilha amargou a terceira colocação nas eleições, recebendo 3.888.584 votos em um Estado com 32 milhões de eleitores.  Além da derrota, Padilha gastou mais do que arrecadou e saiu da campanha com uma dívida de 24,6 milhões de reais. Entre os principais doadores, estão a indústria farmacêutica, a de bebidas alcoólicas e empreiteiras.
Despesa: R$ 40,2 milhões
Arrecadação: R$ 15,5 milhões

Lindberg Farias

Em uma disputa na qual a presidente Dilma Rousseff apoiou os quatro principais candidatos ao governo do Rio de Janeiro, o senador petista Lindberg Farias saiu em desvantagem na largada e ficou escanteado durante toda a corrida eleitoral. Acabou em quarto lugar, com 10% dos votos válidos, e uma dívida de quase 12 milhões de reais. O candidato Anthony Garotinho (PR), que ficou na frente de Lindberg em terceiro lugar, teve parte de suas dívidas quitadas pela campanha de Dilma.
Despesa: R$ 19,3 milhões
Arrecadação: R$ 7,3 milhões

Gleisi Hoffmann

Da Casa Civil para o fracasso na disputa pelo Estado do Paraná, Gleisi Hoffmann obteve 14,87% dos votos válidos. O número não foi suficiente nem para forçar um segundo turno entre Beto Richa (PSDB) e Roberto Requião (PMDB) — o tucano venceu a corrida no primeiro turno.
Despesa: R$ 26,9 milhões
Arrecadação: R$ 21 milhões 

Agnelo Queiroz

Com um mandato mal-avaliado, o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, não conseguiu a reeleição e ainda perdeu a segunda colocação para um candidato lançado no meio da corrida eleitoral — Jofran Frejat (PR) assumiu em setembro a cabeça da chapa, antes pertencente  ao ficha-suja José Roberto Arruda, que na época liderava as pesquisas eleitorais. Com o 'custo' médio de 60 reais por eleitor, Agnelo Queiroz recebeu apenas 307.500 votos. 
Despesa: R$ 18,4 milhões
Arrecadação: R$ 16,6 milhões

Armando Monteiro

Apoiado por Lula, o senador Armando Monteiro (PTB) viu sua candidatura deslanchar no começo da disputa ao governo de Pernambuco. Mas o trágico acidente aéreo, que ceifou a vida do presidenciável Eduardo Campos (PSB), alterou completamente o cenário eleitoral do Estado. O candidato do ex-governador pernambucano, Paulo Câmara (PSB), alçou ao posto de favorito, e ganhou a eleição logo no primeiro turno. Monteiro saiu da campanha derrotado, com 30% dos votos válidos, e uma dívida de 4,7 milhões de reais.
Despesa: R$ 24,5 milhões
Arrecadação: R$ 19,7 milhões

Pimenta da Veiga

Na mais dura derrota sofrida pelo PSDB nas eleições deste ano, o candidato tucano Pimenta da Veiga recebeu 41,89% dos votos válidos e, com o fraco desempenho do terceiro colocado Tarcisio Delgado (PSB), que alcançou 3,9% dos votos, não conseguiu levar a disputa pelo governo de Minas para o segundo turno. A candidatura de Pimenta da Veiga havia sido indicada pelo presidenciável Aécio Neves, que foi um dos mais bem avaliados governadores do Estado. Além de perder as eleições, Pimenta saiu da campanha com uma dívida de 2,7 milhões de reais.
Despesa: R$ 43,1 milhões
Arrecadação: R$ 40,4  milhões

Senador Acaba Com Dilma, Lula e Renan Calheiros





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Dilma gasta 19 mil pra nadar, 55 mil p/ mês com jardim, Petrobrás deve 2...





Senadores eleitos gastaram R$ 131 milhões em campanha

Eleições 2014 

Custo médio foi de 2,65 reais por voto obtido. Campanha com a aplicação mais eficiente de recursos foi a de Romário (PSB-RJ)

Gabriel Castro, de Brasília
Plenário do Senado Federal em Brasília
Plenário do Senado Federal em Brasília (André Coelho/Agência O Globo/VEJA)
Os 27 candidatos eleitos para o Senado nestas eleições gastaram, juntos, 131,1 milhões de reais. O levantamento foi feito pelo site de VEJA com base nas prestações de conta divulgadas na noite desta terça-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em média, a conquista de cada voto custou 2,65 reais. Mas houve grandes disparidades. A campanha mais cara, a da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), teve um custo por voto quase cem vezes maior do que a de Romário (PSB-RJ), que está no extremo oposto.
Antonio Anastasia (PSDB-MG) foi o candidato eleito com maior volume de doações recebidas: 18,3 milhões de reais. Em seguida, estão José Serra (PSDB-SP), com 12,6 milhões, e Ronaldo Caiado (DEM-GO), com 9,6 milhões. 
Na outra ponta da lista estão três senadores eleitos pelo PDT. Telmário Mota (RR) recebeu apenas 240.500 reais em doações. José Antônio Reguffe (DF) obteve 407.000 reais. Em terceiro lugar, ficou Lasier Martins (RS), que obteve 866.138 reais em doações. Nas 27 campanhas, o volume de gastos foi praticamente idêntico ao das doações recebidas.
Levando em conta o número de votos obtidos por candidato, a conta das candidaturas mais caras muda. A campanha de Kátia Abreu gastou 6.971.934 reais para obter os 282.052 que garantiram a vitória na disputa pelo Senado. O custo, na prática, foi de 24,71 reais por voto. Gladson Cameli (PP-AC) gastou 22,46 reais para cada voto recebido. Wellington Fagundes (PR-MT) teve despesas de 13,50 reais por eleitor conquistado.
No outro extremo está Romário (PSB-RJ). Cada voto "custou" 25 centavos. Em seguida, aparecem Lasier Martins (RS), com 40 centavos, e Reguffe (PDT-DF), com 47 centavos. Outro senador eleito fez campanha em que o custo do voto ficou abaixo de 1 real: Alvaro Dias (PSDB-PR).

Eleições do Congresso custam R$ 1 bilhão

Eleições 2014

Deputados arrecadaram 34% a mais do que no último pleito e senadores, 16%; maior parte da fatura da eleição foi bancada por empresas

Congresso Nacional, em Brasília
Congresso Nacional, em Brasília (Gabriela Korossy/Divulgação/Câmara dos Deputados/VEJA)
Não há crise econômica, pelo menos não para os deputados e senadores eleitos. Seus comitês eleitorais arrecadaram 200 milhões de reais a mais do que os atuais parlamentares conseguiram juntar há quatro anos. A campanha dos novos 513 deputados federais saiu 34% mais cara. Já os novos 27 senadores arrecadaram 16% mais do que a média dos seus colegas que foram eleitos em 2010.
O resultado desse novo aumento do custo das campanhas é que, pela primeira vez, o Congresso Nacional angariou uma simbólica cifra de dez dígitos para se eleger. Foram 721 milhões de reais arrecadados pelos deputados federais e 124 milhões de reais obtidos pelos 27 novos senadores. Somando-se os 274 milhões de reais gastos pelos 54 senadores eleitos em 2010 - eles têm mais quatro anos de mandato -, o custo total chega a 1,1 bilhão de reais.
O custo para eleger os novos deputados e senadores cresceu 11% acima da inflação do período. Nunca houve um Congresso tão caro, mas essa constatação se repete a cada quatro anos. Se nenhuma reforma política sair do discurso para a lei, a tendência é que as campanhas de 2018 custem ainda mais do que esta. 
Os dados de 2014 foram compilados com base nas prestações de contas individuais divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na internet. Os dados corrigidos dos pleitos anteriores foram extraídos do site asclaras.org.br, organizado pela ONG Transparência Brasil.
Quem paga - As empresas bancam a maior parte da fatura da eleição para o Congresso. Dos 721 milhões de reais arrecadados pelos deputados federais eleitos, nada menos do que 553 milhões de reais foram doados por pessoas jurídicas, o equivalente a 77% do total. Outros 148 milhões de reais vieram de pessoas físicas - as mais "generosas" são os próprios candidatos -, e os 20 milhões de reais restantes foram financiados pelo Fundo Partidário - ou seja, o Tesouro.
Isso significa que, se o Supremo Tribunal Federal tivesse concluído o julgamento que deve proibir doações de empresas para campanhas eleitorais, 3 de cada 4 reais doados para os deputados em 2014 seriam ilegais. Porém, se e quando a decisão vier a ser publicada, ela não valerá para os recém-eleitos. Mas o Supremo Tribunal Federal estará criando um buraco de mais de 500 milhões de reais para os futuros deputados - fora senadores, governadores e presidente.
Esse deve ser o maior estímulo para os parlamentares aprovarem algum tipo de reforma nos próximos anos. Pode não chegar a ser uma reforma política de fato e ficar restrita ao financiamento de campanha, mas obrigará Câmara e Senado a discutirem o tema. Há chance de que esse custo venha a ser absorvido pelos cofres governamentais, por meio do chamado financiamento público.
Por enquanto, o dinheiro sai dos caixas de empresas como o frigorífico JBS (doou 50,4 milhões de reais a deputados eleitos e 10,7 milhões de reais para senadores), de mineradoras como as do grupo Vale (17,6 milhões de reais no total), de empreiteiras como Andrade Gutierrez (12,8 milhões de reais), OAS (13 milhões de reais) e Queiroz Galvão (7,5 milhões de reais), do setor financeiro como grupo Bradesco (20,2 milhões de reais) e Itaú (6,5 milhões de reais), e de fabricantes de bens de consumo popular, como a Ambev (11,7 milhões de reais).
Há grande concentração nas doações de pessoas jurídicas. Os 67 maiores entre os 4.422 doadores doaram 50% de tudo o que deputados e senadores eleitos receberam de empresas. Ou seja, 1,5% dos doadores deu metade do dinheiro. A concentração aumenta o potencial de influência política dos grandes contribuidores.
Quem gasta - Os 36 deputados federais eleitos pelo PP foram os campeões de arrecadação na média por partido. Angariaram 79 milhões de reais, o que dá 2,194 milhões de reais per capita. Iracema Portella (PI), a que mais conseguiu doações entre os 513 eleitos, é mulher do presidente do partido, Ciro Nogueira - e puxou a média do PP.
O segundo grande partido em custo médio da campanha para a Câmara é o PSDB. Os 54 deputados tucanos eleitos arrecadaram, juntos, 109 milhões de reais, ou 2,022 milhões de reais por cabeça. O mais bem-sucedido deles foi Arthur Bisneto (AM), que conseguiu 5,6 milhões de reais em doações. Ele é filho do prefeito de Manaus e ex-senador Arthur Virgílio (PSDB).
O DEM aparece em terceiro lugar entre os maiores partidos e em quarto no ranking geral, com média de 1,87 milhão de reais por deputado. A seguir vem o PPS, com média de 1,663 milhão de reais.
Os 66 deputados do PMDB ficaram com a sexta maior média de arrecadação: 1,6 milhão de reais cada um. O peemedebista mais rico em doações foi o líder do partido - e favorito para presidir a Câmara em 2015 -, Eduardo Cunha (RJ). Ele angariou 6,8 milhões de reais e foi também o mais votado do PMDB.
O PT aparece em 10º lugar no ranking de arrecadação média por deputado. Seus setenta eleitos formam a maior bancada da nova Câmara e arrecadaram, juntos, 96,8 milhões de reais, ou 1,4 milhão de reais cada. O destaque de arrecadação entre os petistas foi Carlos Zaratini (SP), que conseguiu doações no valor de 6,232 milhões de reais.
No Senado, o mais eficiente arrecadador de recursos foi o ex-governador mineiro Antonio Anastasia (PSDB), com 17,8 milhões de reais arrecadados. Em segundo lugar ficou outro tucano: José Serra (SP), com 10,9 milhões de reais. E em terceiro, Ronaldo Caiado (DEM), eleito por Goiás, com 9,6 milhões de reais.
(Com Estadão Conteúdo)

ONU acusa Venezuela de torturar presos políticos

Direitos Humanos

Membros do Comitê de Direitos Humanos questionaram os representantes venezuelanos apontando fatos e números que comprovam as torturas no país



Luis, estudante de Caracas que foi linchado por soldados da Guarda Bolivariana - 07/04/2014

Luis, estudante de Caracas que foi linchado por soldados da Guarda Bolivariana - 07/04/2014 - Luiz Maximiano/VEJA

(As fotos da galeria acima foram feitas em abril de 2014, quando a reportagem de VEJA visitou a Venezuela e colheu depoimentos de pessoas torturadas pelo regime bolivariano)
Comitê contra a Tortura da Organização das Nações Unidas (ONU) acusou a Venezuela nesta quinta-feira de ser responsável pela tortura, maus-tratos e humilhações em mais de três mil presos detidos após a onda de protestos do início do ano. A equipe da ONU apontou diversos fatos e citou números alarmantes sobre os muitos casos de abuso e a ineficácia do sistema judiciário venezuelano. Pela primeira vez em 12 anos, a Venezuela compareceu ao Comitê, que entre hoje e sexta-feira analisará se o país cumpre com os acordos da Convenção contra a tortura e outros tratos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Para a ONU, a Venezuela atua como se vivesse "em um estado de exceção".
Durante o discurso inicial, o chefe da delegação, José Vicente Rangel Avalos, vice-ministro de Política Interna e Segurança Cidadã, afirmou que a “Revolução Bolivariana é fiadora absoluta do proveito dos direitos humanos de todas e todos”. A afirmação foi rebatida através de perguntas por Jens Modvig, responsável pelo relatório sobre a Venezuela. “Em nosso país contamos com um modelo policial e de segurança humanista que respeita de maneira irrestrita os direitos humanos”, declarou o ministro. “Há denúncias de que, durante os distúrbios de fevereiro, houve mais de três mil detenções e que estas pessoas foram despidas, ameaçadas de violação, não tiveram direito a atendimento médico nem a um advogado, nem puderam ligar para a família, e outras denúncias de tortura. Que medidas foram tomadas para prevenir a tortura', questionou Modvig.
Várias ONGs venezuelanas e internacionais denunciaram as violações, que ocorreram menos de um ano depois que a Lei Especial para Prevenir e Sancionar a Tortura e outros Tratos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes entrou em vigor no país. O relator lembrou que a lei doméstica estabelece a proibição da tortura quando a pessoa está “sob custódia das autoridades”, mas perguntou que normas se aplicam quando a pessoa não está oficialmente detida. “Há investigação quando as pessoas denunciam torturas sem estarem sob custódia?”, questionou. O especialista disse que houve “muitas denúncias” além das 183 violações aos direitos humanos e dos 166 casos de maus tratos oficialmente registrados. A comissão da ONU também apontou fragilidade na justificativa das prisões e informou ter conhecimento de presos que seguem encarcerados mesmo sem nenhuma acusação formal contra eles, num claro indício de perseguição aos opositores do governo do presidente Nicolás Maduro.
Outro especialista, Felice Gaer, lembrou que “só doze funcionários públicos foram condenados por violações aos direitos humanos na última década embora, no mesmo período, mais de cinco mil denúncias tenham sido feitas”. Modvig questionou ainda por que a Comissão Nacional de Prevenção da Tortura não é independente do governo, visto que quase a metade de seus membros são representantes do Executivo. “Dos treze membros, seis são representantes do governo, portanto surgem dúvidas a respeito de sua autonomia”, disse. O relator também questionou a autonomia dos médicos que examinam as vítimas, pondo em xeque a maneira como os profissionais são escolhidos e quem os paga, assim como o trabalho dos legistas.

Além de Modvig, os especialistas Abdoulaye Gaye, Essadia Belmir e Gaer perguntaram sobre o sistema judiciário e questionaram se é possível ser independente quando “pelo menos” 15% de seus membros são contratados como temporários e podem ser substituídos a qualquer momento. “O caso da juíza María Lourdes Alfioni é incrível, é a primeira vez que eu escuto algo assim. Uma juíza detida, agredida e violada por exercer suas funções?”, disse Gaer. María Lourdes Afiuni é uma juíza venezuelana que foi presa em dezembro de 2009, meia hora após conceder liberdade condicional ao banqueiro Eligio Cedeño, que estava há três anos em prisão preventiva acusado de evasão de divisas. A prisão domiciliar da juíza terminou em 14 de junho de 2013, contudo ela foi proibida de deixar o país e dar declarações para a imprensa. 
O especialista Alessio Bruni se aprofundou na grave situação do sistema penitenciário e citou o caso de uma prisão criada para receber 700 pessoas, onde agora vivem 7.000, uma população carcerária dez vezes maior. O presidente do Comitê, Claudio Grossman, perguntou se é correto 60% dos 53.000 réus ainda não terem sido julgados e criticou o atraso do sistema judiciário. Todos pressionaram a Venezuela para que o país convide relatores responsáveis por analisar casos de tortura para uma visita e questionaram o motivo pelo qual os pedidos de visita dos oito relatores não foram aceitos.
A Venezuela enfrentou uma onda de protestos a partir de fevereiro devido à inflação, à falta de emprego e de produtos básicos – como papel higiênico, açúcar, farinha ou leite – e à altíssima violência que provoca em média 65 mortes por dia no país. Os protestos começaram com manifestações estudantis e depois ganharam o apoio da oposição e de outros setores da sociedade. Os confrontos entre manifestantes e forças de segurança resultaram em 43 mortos, mais de 400 feridos e mais de 3.000 detidos.

Dirceu falta ao trabalho depois de ser liberado da cadeia

Brasília

O ex-chefe da Casa Civil não compareceu ao trabalho na quarta-feira. Na terça, foi beneficiado com a progressão para o regime aberto

José Dirceu deixa a VEP (Vara de execuções penais) acompanhado de sua advogada e de um militante do PT
José Dirceu deixa a VEP (Vara de execuções penais) acompanhado de sua advogada e de um militante do PT (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Um dia depois de receber autorização judicial para cumprir pena em casa, o ex-ministro da Casa Civil e condenado no escândalo do mensalão, José Dirceu, não compareceu para trabalhar na quarta-feira no escritório do advogado José Gerardo Grossi, onde dá expediente desde o início de julho, quando obteve direito ao trabalho externo. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo nesta quinta-feira. 
De acordo com as regras do regime aberto, sistema que permite ao apenado cumprir pena em casa, o mensaleiro terá 90 dias para “comprovar que exerce trabalho honesto” ou “justificar suas atividades”. 
De acordo com o jornal, a falta ao trabalho, porém, não foi justificada. O patrão de Dirceu, no entanto, não vê problema e afirmou que “uma eventual mudança de horário” não seria prejudicial. Para Grossi, o importante é que o trabalho seja feito de forma adequada. 
O mensaleiro recebe 2.100 reais mensais para organizar a biblioteca do escritório de advocacia. Condenado a 7 anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa, Dirceu passou menos de um ano encarcerado na penitenciária da Papuda, em Brasília. Agora, com o benefício do regime aberto, terá que cumprir horários fixos, como trabalhar das 9h às 17h, de segunda a sexta-feira.  A obrigação do ex-ministro é estar em casa a noite, entre 22h e 5h da manhã do dia seguinte e permanecer recluso em tempo integral aos sábados, domingos e feriados. O ex-ministro só poderá deixar Brasília com autorização da Vara de Execuções Penais e Medidas Alternativas.
Dirceu recebeu autorização para o regime domiciliar porque, com a soma dos 142 dias subtraídos da pena por ter trabalhado e estudado, completou um sexto de condenação na cadeia, como prevê a lei. 

Fornecedores do governo bancam metade da campanha do filho de Cabral

Rio de Janeiro

Duas doadoras, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez, são também investigadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato

Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ)
Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ) (Reprodução/Facebook)
O filho do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) teve 47% da campanha bancada por empresas contratadas ou beneficiadas pela administração estadual no período em que o Palácio Guanabara foi comandado pelo pai – juntas, as empresas doadoras receberam mais de 33 bilhões de reais do governo do Rio (confira no quadro abaixo). Aos 23 anos, Marco Antônio Cabral (PMDB) foi eleito deputado federal, sem deixar dívidas, com uma arrecadação de 6,79 milhões de reais, de acordo com a prestação de contas entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta terça-feira. Desse montante, as empresas beneficiadas com contratos ou incentivos fiscais contribuíram com 3,17 milhões de reais. 
O herdeiro de Cabral também recebeu doações de fornecedores do estado do Rio de Janeiro e da Petrobras que são investigados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que desvendou um esquema bilionário de corrupção cujos tentáculos atingiram a estatal – Cabral chegou a ser citado em depoimento pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. Investigada pela Polícia Federal pela suspeita de pagamento de propina a políticos, a Queiroz Galvão deu 500.000 reais para a campanha do filho do ex-governador, em doação repassada pelo Diretório Estadual do PMDB. Também alvo de inquérito, a Andrade Gutierrez contribuiu com 200.000 reais. De acordo com o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, as duas empresas faziam parte de um cartel que fechou contratos superfaturados com a Petrobras e desviou dinheiro para o bolso de partidos e políticos. Cabral é um dos três ex-governadores ligados ao esquema, de acordo com depoimento prestado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa em acordo de delação premiada, pelo qual se comprometeu a ajudar na elucidação de crimes em troca de punição mais branda. 
Os bancos Itaú, Bradesco e Santander também receberam pagamentos bilionários do governo estadual e ajudaram o filho do ex-governador. O Bradesco deu 500.000 reais, em doações da Bradesco Capitalização e da Bradesco Vida e Previdência. O Itaú contribuiu com 100.000 reais e o Santander doou 150.000 reais. Figuram ainda como contratadas pelo governo e doadoras do filho de Cabral a Construtami Engenharia e Comércio, que doou 50.000 reais, a Rio de Janeiro Refrescos, fabricante da Coca-Cola no Brasil, que deu 500.000 reais, a Carioca Engenharia, que deu 500.000 reais, e o frigorífico JBS, com 330.000 reais. Além de ter fornecido carne bovina para órgãos do governo, a JBS foi beneficiada por incentivos fiscais concedidos pela administração estadual.
Outras empresas beneficiadas por incentivos fiscais na era Cabral também doaram ao herdeiro do ex-governador. A Gerdau deu 40.000 reais para a campanha e a Ambev contribuiu com 300.000 reais, em doação feita pela CRBS, uma das subsidiárias do grupo.

Empresas doadoras e quanto receberam do governo Cabral:  
ContribuidorRecebido do Estado
GRUPO BRADESCOR$ 19.853.639.276,63
BANCO ITAU S/AR$ 12.788.989.281,64
BANCO SANTANDER BANESPA S.A.R$ 363.791.978,22
CARIOCA CHRISTIANI-NIELSEN ENGENHARIA S.AR$ 217.060.995,16
CONSTRUTORA QUEIROZ GALVAO S/AR$ 3.555.109,93
CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S/AR$ 820.883,14
CONSTRUTAMI ENGENHARIA E COMERCIO LTDAR$ 743.109,56
JBS S/AR$ 420.376,37
RIO DE JANEIRO REFRESCOS LTDAR$ 398.978,20
CRBS S.A - AMBEVR$ 130.566,31
GERDAU S/AR$ 67.770,47
Total repassado pelo governo do RJR$ 33.229.618.325,63
Fonte: Secretaria Estadual de Fazenda do Rio de Janeiro
*Valor total faturado de janeiro de 2007 a setembro de 2014 em contratos fechados com o Estado do Rio de Janeiro

Da tribuna, Aécio condiciona diálogo à investigação sobre petrolão

Senado

Senador voltou nesta quarta-feira a discursar no Congresso. Ele fez duros ataques ao PT e ao governo Dilma Rousseff

Gabriel Castro, de Brasília
Aécio Neves durante discurso no Senado
Aécio Neves durante discurso no Senado (Geraldo Magela/Agência Senado/Divulgação)
Aécio: "Nós assistimos, senhoras e senhores, ao despertar de um novo país. Sem medo, crítico, mobilizado, com voz e convicções, que não aceita mais o discurso e a propaganda que tenta justificar o injustificável"
O senador Aécio Neves completou nesta quarta-feira o roteiro previsto para reforçar seu papel como líder da oposição: em um pronunciamento feito na tribuna do Senado, ele deixou claro que, impulsionada pelos 51 milhões de votos nos tucanos no segundo turno, a postura da oposição deve ser muito mais dura no segundo mandato.
No discurso, Aécio condicionou o diálogo com a presidente Dilma à apresentação de propostas e ao compromisso do governo com a investigação completa dos desvios na Petrobras. "Agora os que foram intolerantes durante doze anos falam em diálogo. Pois bem: qualquer diálogo estará condicionado ao envio de propostas que atendam aos interesses dos brasileiros e, principalmente, tem que estar condicionado especialmente ao aprofundamento das investigações e exemplares punições àqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção da história do país, já conhecido como petrolão".
Em seu pronunciamento, Aécio atacou os métodos usados pelo PT na campanha, com o uso de boatos e ofensas pessoais para atingir os adversários. "Mostraram que não enxergam limites na luta para se manter no poder. A má-fé com que travaram a disputa chegou às raias do impensável, do absurdo e agrediu a consciência democrática do país", disse ele.
O tucano mencionou especificamente a campanha do medo sobre o possível fim do Bolsa Família. "Espalharam o medo entre pessoas humildes, manipularam o sentimento de milhares de famílias negando-lhes o livre exercício da cidadania. Essa intimidação e essa violência só têm paralelo em regime que demonstram muito pouco apreço pela democracia".
Aécio também ressaltou o que, na visão dele, foi o lado positivo da campanha: o crescimento da militância contra o governo. "Nós assistimos, senhoras e senhores, ao despertar de um novo país. Sem medo, crítico, mobilizado, com voz e convicções, que não aceita mais o discurso e a propaganda que tenta justificar o injustificável", afirmou.
O tucano disse que nunca havia subido a uma tribuna no Congresso com tamanha carga de responsabilidade quanto nesta quarta-feira. E prosseguiu: "Quero aqui, do alto desta responsabilidade, reafirmar (...) que, de todas, a mentira foi a principal arma dos nossos adversários. Mentiram sobre o passado para desviar a atenção do presente. Mentiram para esconder o que iriam fazer tão logo passassem as eleições. Fomos acusados de propostas que jamais fizemos. Assistimos a reiteradas tentativas de reescrever a história, sempre nos reservando o papel de vilões que jamais fomos e não somos".
O senador tucano mencionou ainda a resolução que o PT divulgou na quarta-feira, defendendo o controle da mídia, a democracia direta e a construção de uma "hegemonia". "Precisamos estar atentos aos nossos adversários, que, poucos dias depois das eleições, divulgam um documento oficial ao país que mostra sua verdadeira face: a da intolerância, a da supressão das liberdades, a dos ataques às instituições", disse ele.
O tucano continuou: "Nossos adversários de novo não se constrangem em propor um projeto que se pretende hegemônico, o oposto daquilo que a democracia pressupõe: liberdade de escolha, alternância de poder". Aécio encerrou o discurso dirigindo-se a seus eleitores: "Digo em nome dos nossos companheiros de oposição. Agora e a cada dia dos próximos anos estaremos presentes".