sábado 08 2015

Programa do PT ameaça os brasileiros três vezes, reedita campanha eleitoral e hostiliza manifestantes do dia 16. É o esquenta da megamanifestação



O programa do PT, que vai ao ar à noite — panelas à mão! — é um lixo político, moral e estético. Que seja José de Abreu a apresentá-lo até faz sentido. Ocorre que ele estava muito convincente como Nino, o rei do lixão em “Avenida Brasil”, e se mostra um canastrão constrangedor nessa peça que se desenvolve entre o delírio e a ameaça de caráter terrorista. Sim, o programa do PT decidiu ameaçar os brasileiros, muito especialmente os 66% que querem o impeachment de Dilma, segundo o Datafolha, e os 71% que avaliam que seu governo é ruim ou péssimo.
João Santana é talentoso, mas escorregou feio. Admita-se: não dá para fazer milagre. O produto que ele tem de vender é ruim, está bichado, ninguém quer comprar. Começo pelo mais grave.
O programa tem uma tese central: a crise política é pior do que a crise econômica, e fica evidente que ela virá, segundo os companheiros, caso se insista no afastamento de Dilma. E aí o partido radicaliza: ameaça o país com um “final trágico”. É mesmo? Convenham: petistas na cadeia em razão da indústria de assalto ao estado que eles promoveram é um final ruim para os bandidos, mas feliz para o país.
Em três momentos, os petistas ameaçam explicitamente a população:
– entre 20s e 23s – José de Abreu mira o abismo e fala “no final trágico para todos”;
– entre 5min21s e 5min45s – um rapaz pergunta: “será que tumultuar a política traz solução para a economia?” Nesse trecho, o PT chega a falar em golpe militar (ainda que esteja fazendo uma comparação com 1964);
-entre 6min12s e 6min20s – o partido volta a afirmar que é preciso evitar que a crise política ameace a democracia, “pois, sem democracia, tudo iria ao chão”.
Pergunta-se: quem ameaça a democracia no Brasil?
Respondo: os ladrões!
Pergunta-se: quem ameaça a democracia no Brasil?
Respondo: os que pretendem chamar o cumprimento da lei de “golpe”.
Pergunta-se: quem ameaça a democracia no Brasil?
Respondo: quem entende o Brasil como a luta permanente “nós” e “eles”.
Eu sintetizo: hoje, a única força que molesta a democracia, porque não chega a ameaçá-la — e não chega porque não deixamos —, é o PT.
É estupefaciente que o partido que faz um programa que deveria, então, apelar à concórdia e à união nacional recorra, duas vezes, ente 1min02s e 1min06s e 5min46s e 5min51s, a imagens de líderes da oposição, com o carimbo: “Não se deixe enganar pelos que só pensam em si mesmos”. São contemplados, entre as personagens demonizadas, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Agripino Maia (DEM-RN), o deputado Carlos Sampaio (SP), líder do PSDB, e Paulinho da Força (SDD-SP). Atenção! Três deles são presidentes de partidos de oposição: Aécio, Agripino e Paulinho.
Nesta quarta, num apelo candente, tanto Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, como Michel Temer, vice-presidente da República e coordenador político do governo, falaram que alguém precisa “unir e reunir” os brasileiros. Como? Ora, acusando os líderes oposicionistas de egoístas e enganadores.
O PT é uma piada grotesca.
Aos 6min23s, eis que aparece Lula: “Nosso pior momento ainda é melhor que o melhor momento dos governos passados; nosso maior ajuste ainda é menor do que o ajuste que ELES fizeram”.
Seria muito fácil demonstrar a mentira de tal afirmação, mas me dispenso disso. Pergunto apenas se essa é a retórica de quem investe na paz ou na guerra. Lula, que nasceu destituído do senso de ridículo, não tem autocrítica. Julgando-se ainda uma referência acima de qualquer questionamento, diz: “Eu mesmo fiz um ajuste na economia e depois o Brasil ficou muito melhor”. De fato, ele se considera a única referência positiva que pode ter um governante na face da Terra. O PT ainda não percebeu que esse tempo passou.
Aos 7min55s, aparece Dilma, de branco. Afirma: “Sei suportar pressões e até injustiças”. Ela disse rigorosamente isso na entrevista concedida a Jô Soares. Era João Santana lá, é João Santana cá. Não temos uma presidente, mas uma personagem protagonizando um roteiro ruim.
O resto, meus caros, é campanha eleitoral, com a ligeira diferença, desta feita, de que Dilma foi eleita há menos de 10 meses. No oitavo mês do segundo governo, os brasileiros já conhecem todas as mentiras contadas pela candidata Dilma — e isso explica, em boa parte, os 71% de rejeição e os 66% que querem o impeachment, segundo o Datafolha.
Quem achou que era uma boa ideia ridicularizar os panelaços, submetendo-os a uma ironia ufanista e autorreferente? O programa certamente vai ajudar a pôr alguns milhares nas ruas no dia 16.
Finalmente, e não me estenderei a respeito, José de Abreu, um ator mediano, tem um desempenho patético. Fala escandindo as sílabas, mal escondendo a leitura de um texto no teleprompter. Havia, para ficar com referências da arte dramática, algo de distanciamento brechtiano no seu desempenho: ele não nos deixava esquecer, em nenhum momento, que aquilo era uma farsa, uma representação, um discurso sobre a realidade, remetendo-nos, o tempo todo, para a vida real, que hoje rejeita o PT.
Lula e seu partido, na década de 80, eram Stanislavski. Os atores realmente pareciam possuídos pelo papel que encarnavam, diziam coisas críveis, que soavam naturais. Conduziam muitos à emoção. Agora não! É evidente que nem eles acreditam naquela porcaria.
Para encerrar: a ruindade é tamanha que se estampa em letras garrafais, na tela, uma frase que flerta com o incompreensível. Deve ter sido redigida pessoalmente por Dilma. Está lá: “Não é melhor a gente não acertar em cheio tentando fazer o bem do que errar feio fazendo o mal?”.
Do ponto de vista da comunicação, é uma aberração porque:
– a interrogação é longa demais;
– os “nãos” estão muito próximos e tornam a mensagem obscura;
– há uma óbvia desconexão de sentido entre “errar feio” e “fazendo o mal” como relação de causa e consequência: afinal, quem faz o mal não acha que erra; faz uma opção;
– torna as pessoas reféns da melancolia. Não há boa saída: ou se erra tentando fazer o bem ou se erra tentando fazer o mal.
A boa notícia é que o programa é mais uma evidência de que o PT morreu. E ninguém aparece para acender uma vela e encomendar o corpo. Ele fica aí, recendendo a cadaverina, em praça pública.
Por Reinaldo Azevedo

A delação premiada veio para ficar


Com a adoção dessa ferramenta, a lei brasileira segue uma tendência mundial no combate ao crime, mas já há quem queira restringir a conquista

SENTENÇA MAIOR - Léo Pinheiro, ex-OAS, ao ser preso, em 2014: ele calcula que aguentaria até dois anos em regime fechado. Acaba de ser condenado a mais que isso
SENTENÇA MAIOR - Léo Pinheiro, ex-OAS, ao ser preso, em 2014: ele calcula que aguentaria até dois anos em regime fechado. Acaba de ser condenado a mais que isso(Vagner Rosário/VEJA)
Arte quebrando o silêncio
(VEJA.com/VEJA)
​No começo, era apenas um despiste. "Espalhamos que já tinha gente na fila para colaborar, mas a gente ainda não tinha nada." A confissão, divulgada meses atrás, é do procurador Carlos Fernando Lima, considerado o cérebro da força-tarefa de Curitiba, quando lembrava como ele e os colegas conseguiram atrair os primeiros suspeitos da Lava-Jato para inaugurar os hoje tão famosos, tão temidos e tão aguardados acordos de delação premiada. Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, abriu a fila. Seu acordo foi homologado pelo juiz Sergio Moro em 27 de agosto de 2014, uma quarta-feira. Daí em diante, um carrossel virtuoso começou a girar com uma delação puxando a outra, e alguns acusados apressando-se para assinar a delação antes que não houvesse mais novidades a revelar. Na semana passada, a Lava-Jato tinha 25 acordos homologados. Mas, como se tornou habitual nesse escândalo, as expectativas sempre se voltam para o próximo acordo.
Na mira dos procuradores está o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, preso há nove meses. Desde o primeiro contato com o Ministério Público, seus advogados estão negociando os termos de uma delação cujo potencial explosivo é medido em escala atômica. A princípio, o empreiteiro resistia à delação na esperança de pegar até dois anos de prisão em regime fechado, limite que dizia suportar. Na semana passada, o juiz Sergio Moro condenou Pinheiro a dezesseis anos de prisão, dos quais pelo menos dois e meio terão de ser cumpridos em regime fechado. A condenação, um pouco maior do que o esperado, pode quebrar suas últimas resistências a abrir o bico. Outros dois, ambos ex-diretores da Petrobras, ainda não assinaram acordo, mas já estão em estágio avançado conversas para informar os procuradores sobre o que podem oferecer em troca de redução de pena. São eles: Renato Duque, homem do PT na direção da Petrobras, e Nestor Cerveró, o propineiro de Pasadena.
O volume de acordos de delação premiada na Lava-Jato é algo jamais visto em qualquer investigação criminal no país. Resulta da confluência de um acontecimento de 1990 com outro de 2004. Em 1990, o instituto da delação premiada apareceu pela primeira vez na legislação brasileira, na nova lei dos crimes hediondos. Foi ampliado nove anos depois para todos os demais crimes, deixando de se restringir aos hediondos. Em 2004, quando trabalhava no caso Banestado, escândalo de remessa ilegal de dinheiro para o exterior, um jovem juiz homologou uma das primeiras delações feitas nos moldes atuais. Era Sergio Moro. O delator era o mesmo Alberto Youssef de agora, o doleiro que se tornou talvez o único brasileiro a ter feito não uma, mas duas delações premiadas. Juntando a lei de 1990, o juiz de 2004 e a megarroubalheira na Petrobras, produziram-se as condições para o recorde: 25 acordos de colaboração, e a conta ainda não terminou.
A delação premiada surgiu como um antídoto contra a globalização do crime. Com organizações criminosas transnacionais cada vez mais sofisticadas, os legisladores, sobretudo na Itália e nos Estados Unidos, passaram a pensar em instrumentos capazes de chegar aos chefes desses mamutes do crime: as máfias, os cartéis da droga, os grupos terroristas, as quadrilhas de corruptos. A colaboração de um acusado em troca da redução da pena surgiu como o único meio de quebrar o código de silêncio dos criminosos e pôr as mãos no alto-comando. Nos últimos trinta anos, os Estados Unidos acumularam vasta experiência nesse campo. Desde a Operação Mãos Limpas, na década de 90, uma gigantesca ação contra políticos corruptos, a Itália também avançou. O relativo sucesso da delação premiada no combate ao crime organizado levou a ONU a lançar uma convenção anticorrupção cujo texto sugere explicitamente que os países-membros adotem algum tipo de recompensa aos criminosos que denunciam comparsas.
Assim, a delação premiada começou a proliferar pelo mundo. O Brasil assinou a convenção no ano do seu lançamento, em 2003, e promulgou-a três anos depois. A novidade, no entanto, está longe de ser consensual. Os advogados, em geral, e os criminalistas, em particular, consideram a delação premiada um instrumento antiético e imoral porque a negociação da pena corrompe o processo penal, cuja essência é comprovar, ou não, a culpa do réu, e não colocá-la numa barganha. Também lhes desagrada o fato de a delação premiada levar o acusado a renunciar a um direito fundamental - o direito a um processo justo -, pois a sentença é previamente acertada. As reservas são mais fortes em países como o Brasil, cujo ordenamento jurídico vem da tradição romana, em contraposição ao de tradição inglesa. Em 2003, quando o governo da França propôs uma reforma jurídica que copiava parte do sistema dos Estados Unidos, houve uma gritaria geral. Mesmo na pátria mundial da cidadania, os franceses acabaram se rendendo à dureza da realidade do crime. A Assembleia Nacional aprovou as mudanças, inclusive a delação premiada. Hoje, um francês pode ficar até quatro dias preso sem acusação formal, algo impensável até uma década atrás.

Dilma tem de parar de confundir a Constituição e as leis com o DOI-Codi! Ou: Presidente está abatida e deveria abreviar o seu e o nosso sofrimentos


Nesta sexta, militantes petistas foram “abraçar” o Instituto Lula, que teria sido alvo de um “atentado”. Apenas 400 militantes apareceram por lá, embora a convocação tenha sido feita com antecedência e a anunciada presença de Lula. Nem os companheiros levaram o troço muito a sério. Até a eles ocorre que, se alguém quer mesmo praticar um atentado político, não joga uma bomba caseira como aquela. Se joga e se o faz naquelas condições, talvez esteja tentando simular um atentado, entendem? Com que propósito? A lógica responde. Mas sigamos.
O país vivendo em transe, e eis que Lula e seus seguidores se apegam à lógica do “bunker” — também do “bunker” mental. Seria só patético se três ministros não houvessem passado por lá para beijar a mão do Poderoso Chefão do Partido — e três ministros, note-se, que são da cota pessoal de Dilma Rousseff: Aloizio Mercadante (Casa Civil), Edinho Silva (Comunicação Social) e Jaques Wagner (Defesa). Os 403 de Lula se juntaram no dia seguinte a um panelaço que varreu o país em protesto contra o programa do PT no horário político.
O país numa crise gigantesca, e o PT volta a se comportar como grupelho.
Não está melhor, por óbvio, a presidente Dilma Rousseff. Ao participar de um evento do “Minha Casa Minha Vida” em Boa Vista, Roraima, visivelmente abatida, com sinais explícitos de que anda tendo péssimas noites de sono, vociferou em favor da legitimidade do seu governo e anunciou o imperativo das urnas, como se as mesmas leis que a elegeram também não previssem o roteiro da deposição.
E, para não variar, Dilma voltou a apelar a seu passado de membro de grupos que ela chamaria “guerrilheiros”, mas que, sabe-se, eram mesmo terroristas. A atuação lhe rendeu prisão e tortura, num tempo que foi inaugurado com a Constituição sendo rasgada e que foi mantido com arremedos e remendos de legalidade ditatorial.
Em que aquela experiência, por mais traumática e dolorosa que tenha sido, pode instruir a Dilma de agora? A resposta, infelizmente pra ela, é esta: NADA DE POSITIVO PODE TRAZER. Ela não é mais, que se saiba, a militante que queria dar um golpe comunista no país; da mesma sorte, não está sendo perseguida por gente torta em razão de suas ideias tortas. Ao contrário: a presidente da República é chamada a dar uma resposta à legalidade democrática.
Chega a ser desagradável ter de lembrar a Dilma que o fato de um terrorista ou guerrilheiro ter resistido às piores condições do cárcere não o torna inimputável nem o prepara, de modo especial, para enfrentar os rigores das leis democráticas. DILMA NÃO TEM MAIS RESPOSTA NENHUMA A DAR À DITADURA. ELA TEM DE PRESTAR CONTAS É À DEMOCRACIA.
Não obstante, a presidente se apega de um modo que me parece monomaníaco àquele passado, que ela vê, certamente com autocomplacência, como se ele fosse a evidência de sua têmpera de ferro, pronta a enfrentar as maiores adversidades. Ademais, é evidente que ela tenta estabelecer um paralelo entre a tortura que sofreu e as exigências legais às quais têm de responder. Mais ainda: os 71% que acham seu governo ruim ou péssimo e os 66% que querem seu impeachment não são seus torturadores. São apenas brasileiros inconformados expressando a sua contrariedade, muitos deles, dados os números, certamente sufragaram o nome de Dilma há menos de 10 meses.
Sim, é visível que a presidente está sofrendo — o padecimento está estampado em seu rosto de modo inédito. Mas o Brasil não tem o que fazer com o seu sofrimento; ele de nada nos serve. Muito pelo contrário: só empresta uma dramaticidade que mais nos afasta do que nos aproxima de uma resposta. Lula pode voltar lá para o seu cafofo autorreferente e se juntar a seus fanáticos. Dilma não pode. As reminiscências da “guerrilheira” só a farão encontrar os inimigos e os amigos errados.
A crise é, sim, gigantesca. Só não caiam na conversa de que alguma grave ameaça política paira sobre o país — a menos que os vermelhos estejam pensando em fazer coisas feias. Qualquer que seja o desdobramento — impeachment, cassação da chapa ou renúncia —, há uma legalidade sólida que o abriga. Vamos ser claros? A única alternativa que desafia a lei é a permanência de Dilma.
Pense bem, presidente! Mas pense com os olhos em 2015 e no futuro. A ex-presidiária só atrapalha. Não convém confundir a Constituição com o DOI-Codi.
Por Reinaldo Azevedo
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/

Justiça prorroga prisão de irmão de Dirceu e ex-assessor


Juiz Sergio Moro determinou que a Polícia Federal mantenha sob custódia cinco pessoas presas na 17ª fase da Lava Jato, batizada de Pixuleco

José Dirceu e seu ajudante Roberto Marques, conhecido como Bob, deixam o Hotel Braston, no centro de Sao Paulo, após reunião do Campo Majoritário do PT, em 2005
José Dirceu e seu ajudante Roberto Marques, conhecido como Bob, deixam o Hotel Braston, no centro de Sao Paulo, após reunião do Campo Majoritário do PT, em 2005(Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo)
O juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato em Curitiba, prorrogou nesta sexta-feira a prisão temporária do irmão do ex-ministro José Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, e do ex-assessor do petista Roberto Marques, conhecido como Bob. Os dois foram presos no início da semana na 17ª fase da Operação Lava Jato, a mesma que levou o ex-ministro condenado no mensalão de volta para a cadeia.
O advogado Luiz Eduardo, sócio da JD até 2013, é apontado pelos investigadores como a pessoa que pedia propina para o esquema corrupto do irmão. Em depoimento aos investigadores, ele admitiu que empreiteiras repassaram dinheiro para a JD na condição de "auxílio financeiro" a Dirceu. Embora Luiz Eduardo tenha negado ter embolsado propina, o depoimento confirma, segundo Moro, a "aparente interposição fraudulenta de terceiro para receber pagamentos em auxílio da OAS".
Bob Marques é um velho conhecido da Justiça e uma espécie de "faz tudo" do ex-ministro. Os investigadores acreditam que o 'Bob' registrado nas planilhas de propina do petrolão faça referência a Roberto Marques, com o registro da quantidade de dinheiro sujo que deveria ser repassada ao chefe dele. Bob foi carregador de malas, responsável pela agenda e controlador das contas bancárias do ex-chefe da Casa Civil no auge do poder do petista, no primeiro mandato de Lula. Também apareceu no epicentro do mensalão, quando a Polícia Federal apreendeu um documento que dava a ele plenos poderes para sacar dinheiro das contas do empresário Marcos Valério no Banco Rural.
No despacho em que prorroga por mais cinco dias as prisões de Luiz Eduardo e Bob Marques, Moro também decidiu manter sob custódia da Polícia Federal Pablo Alejandro Kipersmit, presidente da Consist Software, empresa que, conforme o delator Milton Pascowitch, simulou contratos para repassar dinheiro de propina ao PT. Em sua decisão, o juiz Sergio Moro determinou, porém, a expedição de alvará de soltura para o ex-sócio de Dirceu, Julio César dos Santos, e para Olavo Moura Filho, suspeito de ter recebido quase 300.000 reais para o irmão, o lobista Fernando Moura Filho.

Dirceu indicou empresas do petrolão para contratos no Peru, diz consultora


Investigada pela Lava Jato por suspeita de integrar esquema de lavagem, Zaida Sisson conta como o ex-ministro intermediou negociações com UTC, OAS, Engevix e Galvão. E afirma: consultoria do petista assumiu a função de cobrar das empreiteiras

A brasileira Zaida Sisson, consultora que trabalhou no Peru para empresas da Lava Jato por indicação de José Dirceu
Zaida Sisson, consultora indicada por José Dirceu no Peru, durante entrevista ao site de VEJA em São Paulo(Felipe Frazão/VEJA.com)
"Eu passei a receber pela JD porque o Luiz Eduardo (irmão de Dirceu) assumiu e disse 'Zaida, em vez de fazer o contrato com as empresas, faz com a JD e a gente te repassa. É melhor porque você não se preocupa. A gente cobra aqui e te deposita'. As empresas sempre atrasavam e isso me incomodava. Como eu ia pensar que era coisa errada ou saber se era propina?"
Na mira da Lava Jato, a consultora Zaida Sisson de Castro diz ter sido indicada pelo ex-ministro e mensaleiro condenado José Dirceu - preso na segunda-feira, na 17ª fase da operação - para buscar negócios no Peru em benefício de três das empresas alvo da investigação: OAS, UTC e Alusa (hoje, Alumini). Em conversa com o site de VEJA, Zaida afirma que se reuniu com o dono da UTC Ricardo Pessoa, apontado como líder do chamado clube do bilhão e um dos delatores do megaesquema de corrupção operado na Petrobras, por intermédio de Dirceu. E que levou Léo Pinheiro e Cesar Uzêda, da OAS, a uma audiência com o ex-chefe da Casa Civil de Lula e o ex-presidente peruano Alan García na sede do governo, em Lima. A consultora diz ainda que prestou serviços para a SPA Engenharia, que consta na lista de clientes de Dirceu. Ela confirmou ter trabalhado ainda para a Engevix e para a filial peruana da Galvão Engenharia, da qual recebeu 180.000 dólares.
O Ministério Público suspeita que Zaida seja o elo no Peru de um esquema de lavagem de dinheiro que teria sido orquestrado por Dirceu por meio da JD Assessoria e Consultoria, sociedade do mensaleiro com o irmão Luiz Fernando de Oliveira e Silva, também preso pela Lava Jato. Os procuradores acusam a JD de ter movimentado dinheiro de forma ilícita, sem prestar serviços às empreiteiras que a contrataram. Eles afirmam que "há elementos de prova de que Zaida tenha recebido recursos de propina dessas empreiteiras para atuar em favor das empresas no Peru".
A defesa do ex-ministro alega que os serviços a empreiteiras foram de fato prestados, inclusive no Peru - e que os vídeos em que o ex-ministro aparece circulando com desenvoltura no alto escalão do governo do país andino seriam um indicativo disso. "Acho que ele menciona fortemente o Peru para desviar a atenção de outros países, porque no Peru ele não ganhou [licitação] de nenhuma obra", diz Zaida. Ao site de VEJA, a consultora afirma que Dirceu pediu a ela reuniões com políticos locais e que abrisse portas no governo peruano a executivos de empreiteiras brasileiras. "Ele foi poucas vezes ao Peru". Zaida tem registro de três viagens de com Dirceu em Lima: em 2007, 2008 e 2009.
Mulher de Rodolfo Beltrán, ex-ministro peruano e amigo de Alan García, Zaida transitava no alto escalão do governo e na burocracia estatal. Não chegou a se filiar ao PT, tampouco ao APRA, sigla do marido no Peru, mas fez campanha para os candidatos presidenciais dos dois partidos no início dos anos 2000. Por ter conseguido um breve encontro de García com Lula, em São Paulo, ganhou a confiança do então chefe do Executivo peruano e era chamada de "Zaidita". Ela foi recebida em audiências pelo ex-presidente aprista três vezes no Palácio do Governo. Em uma delas, em 23 de janeiro de 2007, levou Dirceu e executivos da OAS. "Eles queriam investir no Peru e foi uma reunião de apresentação. Nós fizemos um contato, conversamos. Foram lá o Léo Pinheiro e o Cezar Uzêda e nos reunimos primeiro num hotel. Eles me convidaram para trabalhar, chegaram a mandar cópia de contrato, mas não acertamos. Falavam muito mal da OAS, que era ruim de pagar", disse.
Zaida contou que foi convidada para trabalhar na Câmara de Comércio Bilateral entre os países e que frequentava eventos de negócios e reuniões na embaixada brasileira. Buscava, porém, contato com construtoras interessadas abrir negócios no Peru. A consultora disse que conheceu José Dirceu na véspera da primeira posse de Lula no Planalto. Ela e o marido foram apresentados ao homem-forte de Lula por Keiji Kanashiro, que viria a ser secretário executivo do Ministério dos Transportes. "O Keiji nos apresentou ao Zé num bar chamado Bar Brasília, mas nunca mais o vi. Em 2006, em Lima, pensei: tem tanta obra aqui, será que o Zé conhece alguma construtora? Aí resolvi mandar um e-mail para tentar falar com ele por meio da assessoria e deu certo. Tive uma reunião com ele em São Paulo e perguntei se ele conhecia alguma construtora para me indicar e ele disse 'claro, tenho muitas construtoras, me passa os projetos que se aparecer eu te indico'."
Ela explica que procurava obras públicas que seriam licitadas no país e enviava por e-mail os documentos à JD Assessoria e Consultoria. O ex-ministro e seu irmão, então, ofereciam os projetos às empreiteiras e indicavam o contato de Zaida para o desenvolvimento das propostas. O registro dos e-mails trocados com Dirceu e Luiz Eduardo, no entanto, não existe mais, segundo a consultora: "Quando veio esse escândalo da Lava Jato eu apaguei todos", afirma.
Depois de uma primeira reunião ou contato, Zaida marcava reuniões com autoridades governamentais responsáveis pela obra, buscava empresas peruanas que poderiam formar parcerias, reservava hotéis para os executivos, apresentava advogados e despachava documentos. "Lembro de reuniões em ministérios e diretorias. Geralmente eu identificava um projeto bom e indicava. Mas conversava antes, por exemplo, com o presidente regional [governador] e perguntava se eu podia levar uma empresa para participar da licitação."
Zaida mostrou uma tabela com registros de 35 notas fiscais que somam 500.000 reais emitidas para a JD Assessoria e Consultoria, entre junho de 2008 e setembro de 2011. Cada nota tem valor de 10.000 ou 20.000 reais e, segundo ela, são referentes a consultorias realizadas para a Alusa e a Engevix em solo andino. Ela disse, no entanto, que nunca assinou contrato com a JD. "Quem me levou à Engevix e à Alusa foi o José Dirceu", disse. A JD declarou ao Fisco ter repassado 378.785 reais à Blitz Trading, empresa de Zaida no Brasil.
"Não posso dizer se o Zé [Dirceu] recebia propina e não sei se eles prestavam os serviços. O dinheiro que ele me transferiu era da Engevix e da Alusa, não foi propina. Eu trabalhei honestamente. Se a propina que ele recebia ele repassava para alguém não era para mim", alega Zaida. "Eu passei a receber pela JD porque o Luiz Eduardo assumiu e disse 'Zaida, em vez de fazer o contrato com as empresas, faz com a JD e a gente te repassa. É melhor porque você não se preocupa. A gente cobra aqui e te deposita'. As empresas sempre atrasavam e isso me incomodava. Como eu ia pensar que era coisa errada ou saber se era propina?", afirma. "Eu me senti abandonada agora, porque eles [Dirceu e o irmão] ganharam milhões e sabem que estou desde 2012 sem trabalho e meu marido também".
A UTC foi uma das últimas construtoras indicadas a Zaida. A empreiteira de Ricardo Pessoa pagou à empresa de Dirceu 1,377 milhão de reais em 2012. Segundo ela, mais uma vez, depois dos primeiros contatos, a tratativa não avançou. "Essa UTC eu fui conhecer. O Luiz Eduardo me chamou e eu fui conhecer esse Ricardo Pessoa em 2013 em São Paulo. Ele disse 'Zaida tu quer conhecer uma empresa que quer ir para lá?' Eu disse que tinha muitos projetos, mas que estava ruim de trabalhar com esse governo [Ollanta Humala], que não tinha conseguido contato nenhum, mas falei que que sairia um projeto de metrô grande, o metrô 2, acho até que mandei o projeto para ele [Pessoa]."
Defesa - Zaida manteve um contrato de consultoria de 5.000 dólares mensais com a filial peruana da Galvão Engenharia, encerrado em 2012. Ela disse que rejeitou uma tentativa de aproximação da matriz no Brasil depois da deflagração da Lava Jato. "O Marcos Wanderley, diretor local, me procurou depois que estourou a confusão e o burburinho da Lava Jato. Ele foi lá em casa e me disse que a Galvão brasileira queria que eu viesse aqui ao Brasil para fazer um contrato com data anterior por aqui. Ele mesmo me aconselhou 'Zaida, não vai. O seu contrato é aqui no Peru. Quem te contratou fui eu'. Eu não vim e não cheguei a ver", afirmou.
Segundo ela, o irmão de Dirceu também telefonou há cerca de quatro meses com um convite para reunião em São Paulo. "O Luiz Eduardo me ligou querendo que eu viesse para conversar com o advogado deles. Eu não vim porque achei que se tivesse alguma coisa suja eles iam querer me induzir para outro lado. Eu trabalhei e sei da verdade, não preciso de advogado para dizer 'vai falar isso e isso…"
A consultora confirma informações prestadas em depoimento pelo delator do petrolão e lobista Milton Pascowitch. Ela disse ter acertado uma consultoria para a Engevix, em 2008, durante um café em um hotel de Miraflores, bairro nobre de Lima. Estavam presentes Pascowitch, Dirceu e os executivos da Engevix Gerson Almada e José Antunes Sobrinho. Zaida disse ter trabalhado por cerca de oito meses para que a Engevix ganhasse a supervisão de obras no metro de Lima e na Central Hidrelétrica de Machu Picchu. Mas a empreitada não vingou. "Eles não acertaram a proposta de preço e o projeto, então não ganhei nenhuma comissão. Eles sempre diziam 'se a obra sair alguma coisa você vai ganhar'."
Com a Alusa, o contato era o diretor César Godoy, que tinha interesse em obras de pequenas centrais hidrelétricas e linhas de transmissão, segundo a consultora. "Eu falava com o César Godoy, que era um dos diretores. Muitas vezes ele veio ao Peru. Eu falava também com os gerentes locais, orientava engenheiros."
Zaida não soube dizer o nome de todas as empresas indicadas por Dirceu e Luiz Eduardo. "Ele indicou várias empresas que se comunicaram comigo, mas não foram ao Peru nem me contrataram", disse. Apesar do primeiro contato em 2006, ela afirma que só conseguiu fechar com as primeiras empresas indicadas por Dirceu dois anos depois, a Engevix e a Alusa. Zaida afirmou que chegou a trabalhar por cerca de três meses para a SPA Engenharia, sediada em Belo Horizonte (MG) e especializada em ferrovias e rodovias. Ao Fisco, a JD informou ter recebido 780.000 reais da SPA Engenharia, entre 2009 e 2011. "Quem me indicou para a SPA também foi a JD", disse.

Irmão de Dirceu recebia R$ 30 mil mensais de operador de propina


Preso na Operação Lava Jato junto com o ex-ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Oliveira e Silva é apontado pelos investigadores como a pessoa que pedia dinheiro para o esquema corrupto do irmão

Luiz Eduardo Oliveira e Silva, irmão do ex-ministro José Dirceu, envolvido na Lava Jato, chega ao IML de Curitiba (PR) para exame de corpo de delito - 04/08/2015
Luiz Eduardo Oliveira e Silva, irmão do ex-ministro José Dirceu, envolvido na Lava Jato, chega ao IML de Curitiba (PR) para exame de corpo de delito - 04/08/2015(Suellen Lima/Frame/Folhapress)
O irmão de José Dirceu, Luiz Eduardo Oliveira e Silva, admitiu à Polícia Federal que recebeu "pagamentos mensais de 30.000 reais em espécie" do lobista Milton Pascowitch, apontado como operador de propinas na Diretoria de Serviços da Petrobras. Os repasses, segundo Luiz Eduardo, ocorreram entre 2012 e 2013. O irmão do ex-ministro da Casa Civil afirmou que "não solicitou quaisquer valores a Milton Pascowitch". Preso na 17ª fase da Operação Lava Jato junto com Dirceu, ele disse que o lobista "começou a pagá-lo de forma espontânea, a título de ajuda para despesas variadas".
Diante das declarações, nesta sexta-feira o juiz Sergio Moro prorrogou por mais cinco dias a prisão temporária de Luiz Eduardo. Moro alegou em sua decisão que ele admitiu "que pagamentos efetuados por empreiteiras após a condenação de José Dirceu não teriam sido efetuados a título de consultoria, como anteriormente afirmava a empresa JD em sua defesa, mas a título de 'auxílio'".
O delator Milton Pascowitch é considerado pivô da prisão de Dirceu. Durante muitos anos, os dois foram aliados. O lobista foi preso, firmou acordo de delação premiada e revelou a rotina de pagamentos de propinas de empreiteiras para a empresa de Dirceu, a JD Assessoria e Consultoria. A PF suspeita que a empresa foi criada para captar recursos ilícitos de empreiteiras supostamente favorecidas pelo ex-ministro em contratos bilionários na Petrobras. Em troca da delação, Pascowitch ganhou prisão domiciliar.
Luiz Eduardo declarou que "não sabia a origem do dinheiro, não tendo questionado Milton (Pascowitch) ou Dirceu sobre tal circunstância". Alegou que "não sabe" se seu irmão solicitou que tais valores fossem pagos por Pascowitch. Ele disse que, em 2013, solicitou ao lobista "que cessasse os pagamentos, pois aquela situação não poderia perdurar, ainda mais pelo fato de que seu irmão havia sido preso" - naquele ano, Dirceu foi para a Penitenciária da Papuda, em Brasília, condenado no julgamento do mensalão a sete anos e onze meses de prisão por corrupção ativa.
O irmão do ex-ministro afirmou que a JD Assessoria deve, hoje, entre 1,5 milhão e 2 milhões de reais.
(Com Estadão Conteúdo)

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