sexta-feira 18 2014

MP quer devolução de dinheiro desviado no mensalão

Justiça

Ao longo do julgamento do maior escândalo de corrupção história do país, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) estimaram que pelo menos 173 milhões de reais tenham passado pelas mãos dos mensaleiros

Laryssa Borges, de Brasília
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante sessão no STF para julgar recursos de mensaleiros
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante sessão no STF para julgar recursos de mensaleiros (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta sexta-feira que o Ministério Público planeja entrar com ações na Justiça para tentar recuperar o dinheiro desviado no mensalão. Ao longo do julgamento do maior escândalo de corrupção da história do país, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) estimaram que pelo menos 173 milhões de reais tenham passado pelas mãos dos mensaleiros. Já o operador do esquema, Marcos Valério, chegou a projetar que o caixa para subornar políticos chegaria a pelo menos 350 milhões de reais.
De acordo com o chefe do Ministério Público, a principal tarefa agora é conseguir contabilizar o montante dos recursos que escoaram pelo esquema. “O Ministério Público está trabalhando, mas temos primeiro que saber o tamanho do estrago”, disse. Em 2007, o Ministério Público Federal tentou, por meio de ações de improbidade administrativa na primeira instância, cobrar dos réus do mensalão a devolução dos recursos. Na época, foi pedida a devolução de 55 milhões de reais, montante calculado a partir dos valores recebidos pelos partidos políticos que participaram do mensalão.
Além da dificuldade de mensurar o montante de recursos movimentados no escândalo do mensalão e a quantidade que cada condenado deveria ressarcir aos cofres públicos, os pedidos de recuperação do dinheiro ainda encontram percalços, por exemplo, na própria Lei de Improbidade. O STF não tem uma posição definitiva sobre a instância indicada para julgar esse tipo de processo contra autoridades com foro, como ministros de Estado, deputados e senadores.
Multas – De acordo com Janot, o Ministério Público também trabalha para fazer com que os mensaleiros paguem as multas impostas a eles pelo STF. Embora os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares tenham realizado campanhas de arrecadação online para quitar os débitos, os condenados do núcleo operacional do esquema, como Marcos Valério e seus ex-sócios Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, não pagaram as multas impostas pela condenação. “Por se tratar de uma pena fixada em processo penal, o autor da execução tem que ser o próprio Ministério Público, que é o titular da ação penal. As dívidas que não foram pagas teremos de executar”, afirmou.

Janot, sobre desvios descobertos pela Lava-Jato: 'Nunca vi tanto dinheiro'

Justiça

Para procurador-geral da República, esquema desbaratado pela PF se assemelha, em volume de dinheiro movimentado, ao escândalo do Banestado

Laryssa Borges, de Brasília
Rodrigo Janot
Rodrigo Janot (Sergio Lima/Folhapress)
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta sexta-feira que o esquema desbaratado pela operação Lava-Jato da Polícia Federal se assemelha, em volume de dinheiro movimentado, ao escândalo do Banestado. “A operação Lava-Jato tem dimensão bastante grande. Eu nunca vi tanto dinheiro na minha vida e vou morrer sem ver”, disse. O esquema do Banestado movimentou nos anos 90 cerca de 30 bilhões de dólares por meio do uso fraudulento das extintas contas CC-5. Quando deflagrou a Lava Jato, em março, a Polícia Federal estimava que o esquema de lavagem de dinheiro houvesse desviado ao menos 10 bilhões de reais.
De acordo com o chefe do Ministério Público, que acompanha as investigações do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), os recursos utilizados pela quadrilha liderada pelo doleiro Alberto Youssef serviam não apenas para remessas ao exterior por meio de lavagem de dinheiro, mas também eram utilizados em esquemas de corrupção e financiamento de campanhas políticas. “Trata-se de um esquema enorme de lavagem de dinheiro – e esse dinheiro era utilizado em mais de uma forma: tem campanha, corrupção e vários destinos e destinatários dessas importâncias”, relatou o procurador-geral.
De acordo com Janot, que defendeu no STF a legalidade das investigações conduzidas pela Justiça Federal do Paraná, as apurações sobre o caso vão continuar durante o período eleitoral e, se as investigações forem concluídas antes de outubro, é possível que nomes de políticos venham à tona às vésperas do pleito. “Esses fatos aconteceram todos muito antes do processo eleitoral e foram revelados muito antes também. O que não pode e, afirmo, não faremos é o uso político de uma investigação. Não vou revelar ou deixar de revelar nomes para que se possa deliberadamente interferir nas eleições. O processo eleitoral não dá o tempo da investigação”, disse.
Em março, a Polícia Federal desarticulou quatro grandes quadrilhas de lavagem de dinheiro e prendeu os doleiros Alberto Youssef, Carlos Habib Chater e Enivaldo Quadrado – este último condenado no julgamento do mensalão. Youssef, preso pelos policiais em São Luís (MA), é um velho conhecido da Justiça e foi um dos personagens da CPI do Banestado, em 2003, quando afirmou em depoimento que pagava propina para os diretores do banco do estado do Paraná para ter facilidades na remessa de dinheiro para o exterior por meio das contas CC-5. Ele havia conseguido o benefício da delação premiada e, por isso, estava em liberdade.
As investigações da Lava-Jato revelaram que empresas-fantasma controladas pelo doleiro Alberto Yousseff, apontado como cabeça do esquema, recebiam em suas contas inexplicáveis depósitos milionários de algumas das mais importantes empreiteiras do país. O dinheiro que entrava de um lado, por meio de contratos simulados de consultoria, saía por outro na forma de repasses a políticos e partidos – os mesmos políticos e partidos que indicavam os apadrinhados que contratavam as empreiteiras pagadoras. Indicado pelo PP à diretoria de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa tinha o poder de decidir quando, como e de quem comprar suprimentos, máquinas e serviços. Youssef, por sua vez, decidia quem poderia vender. Para isso, as empresas candidatas precisavam pagar um pedágio.
O ex-diretor da Petrobras foi preso em 20 de março, a partir de acusações de ocultação de provas no âmbito da operação Lava-Jato. Há cerca de um mês, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, havia determinado sua libertação. Em liminar, Zavascki suspendeu também todos os inquéritos relacionados à operação policial e às ações penais abertas na Justiça Federal do Paraná contra os investigados, entre eles o doleiro Youssef. Um dia depois, no entanto, Zavascki recuou de sua decisão e manteve as prisões de Alberto Youssef e de outros investigados. Apenas Paulo Roberto Costa permaneceu em liberdade. Ele voltou à cadeia, porém, em 11 de junho, sob a alegação de risco de fuga para o exterior.

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